As empresas brasileiras do setor de logística estão realizando mais fusões e aquisições (M&A) nos últimos anos, segundo um estudo da Redirection International, consultoria especializada em assessoria de Fusões & Aquisições para empresas locais e internacionais do middle market, divulgado no início de abril.
Entre 2018 e 2022, o crescimento no volume de operações envolvendo empresas do setor foi de 262,5%, passando de 16, em 2018, para 58 no ano passado. Quando comparado a 2021, que teve 67 negociações, o volume caiu 13,4% em 2022. Ainda assim, o relatório aponta para o aquecimento deste mercado, altamente fragmentado e com boas oportunidades de crescimento.
“O ano de 2021 foi recorde para as atividades de M&A em geral no Brasil e, por isso, 2022 foi marcado por um volume menor de deals em praticamente todos os segmentos, inclusive no de logística. Apesar desta queda pequena no ano passado, a representatividade do setor no volume total de transações tem aumentado, chegando à média de 3,4% nos últimos 2 anos, acima da 2,5% entre 2018-2020. Isso demonstra a relevância do setor e a consolidação deste mercado acontecendo, já que em 2023 foram concluídas pelo menos oito transações no setor”, explica o economista e sócio da Redirection, Gabriel Loest Cardoso, um dos responsáveis pelo estudo.
O levantamento mapeou todas as fusões e aquisições de empresas de transportes, serviços portuários e aeroportuários no país e aponta que o segmento de transportes liderou as operações no setor, representando 79% de todas as atividades de M&A no ano passado, bem acima do registrado em 2021 (38%).
Para Cardoso, os dados refletem o aumento da demanda e a necessidade de as empresas terem operações maiores. “O estudo demonstra que um em cada quatro dos operadores de porte médio no Brasil estão ativos ou planejando se envolver em atividades de fusão e aquisição. Este fato e a crescente adesão das empresas brasileiras à terceirização de suas atividades logísticas geram a necessidade de movimentações e grandes investimentos nestes operadores”.
Transformação Digital
O setor de logística foi um dos mais impactados pela pandemia de Covid-19 e teve que responder prontamente ao aumento da demanda gerado pelo e-commerce nos períodos mais críticos do distanciamento social. Com isso, atender o consumidor dentro do prazo esperado deixou de ser um diferencial competitivo e se tornou um pré-requisito para as organizações, o que impactou diretamente as atividades de M&A no segmento. “As empresas de e-commerce passaram a investir na verticalização dos serviços, trazendo esta competência para dentro de suas estruturas. Além disso, este crescimento da demanda criou espaço para que Operadores Logísticos que não atuavam no e-commerce optassem por diversificar suas operações via aquisições e aproveitassem o bom momento”, destaca o economista.
Segundo o relatório, muitas das transações recentes de M&A no setor de logística envolvem empresas voltadas para o e-commerce e rastreamento de encomendas. “Estamos vendo uma aposta em soluções do chamado ‘fulfillment’ para otimizar o armazenamento, manuseio e a entrega de mercadorias de e-commerce, bem como adoção do método ‘digital twin’, que é uma representação virtual atualizada do bem sendo transportado. Estas e muitas outras tecnologias, como Big Data, Inteligência Artificial e Blockchain, devem impulsionar a transformação do mercado e as estratégias de M&A das empresas”, explica o economista e sócio da Redirection, Adam Patterson, também autor da pesquisa.
Com um mercado bastante fragmentado, os economistas acreditam que o setor ainda tem boas perspectivas de crescimento nas atividades de M&A nos próximos anos. “A fragmentação do mercado pode ser atribuída a vários fatores, incluindo o tamanho do país e as significativas disparidades regionais em infraestrutura e desenvolvimento econômico. Isso torna desafiador para qualquer empresa estabelecer uma presença dominante em todo o território nacional. Além disso, o Brasil depende muito do transporte rodoviária em função principalmente da falta de redes ferroviárias”, afirma Adam Patterson. O Brasil possui 878 mil caminhoneiros autônomos registrados e 280 mil transportadores, de acordo com a Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e o Instituto ILOS. O segmento faturou, em 2021, cerca de R$ 166 bilhões, o equivalente a 2% do PIB nacional.
Foto: Freepik