Produtividade brasileira cai. E a infraestrutura logística deficiente tem responsabilidade nesta queda

08/08/2024

A precarização de rodovias e a falta de investimento em modernização das ferrovias, além de nos demais modais, são alguns dos principais problemas logísticos brasileiros, afetando diretamente o suporte necessário para operações eficientes.

O Brasil caiu duas posições no ranking de produtividade divulgado anualmente pelo Institute for Management Development (IMD), localizado na Suíça. Com isso, o país está em 62º na lista que analisa 67 economias, estando pior avaliado do que África do Sul e Mongólia, que subiram um ponto cada, logo acima do Brasil. Dentre os fatores analisados está a infraestrutura, segmento que o país ocupa apenas a 58º colocação, mostrando que perdemos muito com problemas de logística e de suporte.

O índice de competitividade é utilizado para mostrar quais são os países que possuem melhores condições de competitividade e de crescimento com desenvolvimento e sustentabilidade. Ao todo, são mais de trezentos indicadores que procuram refletir, em cada país analisado, questões que estão diretamente ligadas a esses temas.

“Constata-se, inclusive, que alguns dos países que mais se destacaram nesse ranking, via políticas públicas, infraestrutura adequada e moderna, e níveis excelentes na educação, têm obtido facilidade no acesso aos mercados internacionais, posto que operam com altíssimos níveis de produtividade. Lamentavelmente, como todos sabemos, essas não têm sido, principalmente nos últimos anos, propriedades que pudessem caracterizar o Brasil”, aponta Paulo Roberto Guedes, professor de logística em cursos de pós-graduação na FIA (Fundação Instituto de Administração), ENS (Escola Nacional de Seguros) e FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) e membro do Conselho Consultivo da ABOL – Associação Brasileira de Operadores Logísticos, da qual também foi fundador, além de colunista do Portal Logweb.

Depois de um 56º lugar no IMD de 2020, o país caiu para 60º na última edição. “Como alguns dos principais problemas são apontadas a falta de mão de obra mais qualificada, principalmente se levarmos em conta as exigências atuais, seja no campo da inovação, da tecnologia, da ciência ou da pesquisa, a infraestrutura, de qualidade discutível e considerada insuficiente, dadas as dimensões continentais do País, as ações de governo, que além de demoradas e com excesso de burocracia ainda têm baixa eficiência, e, como não poderia deixar de ser, outros fatores já bastante conhecidos, como o excesso de barreiras tarifárias, o desequilíbrio nas contas públicas e os ‘desencontros’ de nossos políticos e classes dirigentes”, acentua Guedes.

Fatores

Arthur Pimentel, ex-diretor do Departamento de Operações de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e presidente do Conselho de Administração da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entidade privada sem fins lucrativos que congrega as empresas exportadoras e importadoras de bens e serviços, bem como as de atividades de apoio ao comércio exterior, também avalia os principais fatores que contribuíram para a queda do Brasil no ranking de produtividade do IMD, destacando, inicialmente, que o International Institute for Management Development elaborou, com a Fundação Dom Cabral, classificações analíticas para comparar desempenho de competitividade entre países, levando em conta crescimento, bem-estar social e infraestrutura. Com foco em crescimento de qualidade, essa análise remete a alguns fatores com baixa pontuação, como barreiras tarifárias, custo de capital, leis trabalhistas, eficiência empresarial e governamental, que afetam negativamente o desempenho do País. Segundo Pimentel, faz-se necessário analisar esse esforço para a produtividade, com pilares baseados em custo de capital, conhecimento, tecnologia e inovação, que ainda estão defasados no País.

“Outros fatores negativos que impactam a posição do Brasil, além da insegurança jurídica, que agrava a situação e afugenta investidores, são: presença significativa do estado na economia, elevada carga tributária e complexidade dos procedimentos legais. Mas, de outro lado, há também uma baixa eficiência das empresas que, de modo geral, não investem em inovação, ciência e tecnologia. O pouco investimento em inovação se reflete diretamente na formação de mão de obra especializada. Há ainda outras variáveis, como educação em gestão e habilidades linguísticas que contribuem para o rebaixamento de posição do País, já que estão diretamente atreladas à mão de obra qualificada. É preciso ter atenção para o mercado internacional que busca por inovação, que é o motor do crescimento dos países, cuja economia é baseada no conhecimento”, diz Pimentel.

Jackson Campos, autor do livro “Venda por telefone sem precisar visitar: Um guia para serviços de comércio exterior”, fellow do CBEXs, especialista em comércio exterior e diretor de relações institucionais da AGL Cargo, operador que que tem como core business o transporte internacional de cargas em diferentes modais, também destaca que tanto a infraestrutura deficiente, por falta de investimentos adequados e sua manutenção, como um ambiente econômico instável, causado por incerteza econômica e inflação alta, contribuíram para a queda do IMD. Além disso, a carga tributária elevada e a burocracia são fatores que sempre prejudicam o país frente a outras nações.

Marcelo Paciolo de Medeiros, diretor de Supply Chain & Logística na AGR Consultores, que atua em toda esteira end-to-end da cadeia de bens de consumo, desde o plano estratégico até operação do negócio, por seu lado, destaca que a baixa qualificação da mão de obra e a falta de investimentos em educação impactam negativamente a produtividade. A exemplo da negligência da educação no orçamento público, o Pisa 2022 aponta que 70% dos brasileiros de 15 anos não sabem o básico de Matemática.  A complexidade burocrática, assim como a regulação excessiva, dificulta o ambiente de negócios, tornando processos mais lentos e ineficientes. Apenas no financeiro, uma empresa deve seguir cerca de 3500 regras.

“Com isso, mais de 90% das indústrias brasileiras alegam serem afetadas pelo excesso de demanda burocrática. Outros pontos de atenção envolvem a corrupção generalizada, que mina a confiança dos investidores e o uso eficiente dos recursos públicos, e a insegurança jurídica, caracterizada pela falta de estabilidade e previsibilidade nas leis, capaz de afetar os investimentos de longo prazo”, aponta Medeiros.

“As principais causas para esta colocação do Brasil no ranking IMD continuam sendo as mesmas: produtividade e eficiência, dívidas corporativas e públicas, educação básica, secundária e universitária e habilidades linguísticas, que por histórico dos últimos cinco anos, sempre vêm penalizando o Brasil neste ranking”, coloca, agora, André Oliveira, diretor-presidente da PX.Center, holding que abrange as marcas Motorista PX, plataforma brasileira considerada pioneira em toda a América Latina na conexão entre motoristas profissionais e transportadoras de cargas, Academia PX, que ajuda na qualificação dos trabalhadores do setor de cargas, e Ajudante PX, responsável por fazer a ponte entre mão de obra de carga e descarga com serviços de galpão.

A estes fatores se juntam, segundo Luiz Sória, CEO da Skymarine – empresa que atua no segmento e agenciamento de carga e logística internacional –, a falta de investimentos contínuos em tecnologia e inovação. Esses elementos combinados resultam em uma eficiência produtiva reduzida e uma menor competitividade global.

Ricardo Mota, mestre em Engenharia de Transportes pela COPPE-UFRJ, vice-presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), câmara multisetorial e multilateral que desenvolve parcerias estratégicas com as três esferas de governo, representações diplomáticas, câmaras de comércio e governos estrangeiros, e membro da CLI – Câmara de Logística Integrada/AEB, destaca que, para entender o 62º lugar do Brasil no Rancking Mundial de Competitividade 2024 IMD – WCR, precisamos conhecer e analisar o Desempenho Geral das 67 Nações, acompanhando seus movimentos como peça de um jogo, no “tabuleiro” econômico da geopolítica global.

A dinâmica das regras de classificação se dá conforme o escopo da metodologia do Anuário de Competitividade Mundial do IMD, que divide o ambiente nacional em quatro fatores principais, que consistem de Performance Econômica, Eficiência Governamental, Eficiência Empresarial e Infraestrutura. Por sua vez, cada um desses fatores é dividido em cinco subfatores que destacam cada faceta das áreas analisadas.

Ao todo, o Ranking Mundial de Competitividade apresenta 20 desses subfatores que compreendem 336 critérios, embora cada subfator não necessariamente tenha o mesmo número de critérios.

Considerando a arquitetura da metodologia apresentada, o resultado da pesquisa nas 67 economias e a Visão Geral dos últimos cinco anos, verifica-se que o Fator Eficiência Governamental foi o que mais contribuiu para a queda do Brasil no Rancking Geral de Produtividade, seguido pelos Fatores Infraestrutura e Eficiência em Negócios, respetivamente, conforme segue:

Numa visão diferenciada, Mário Povia, ex-secretário nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério da Infraestrutura, ex-diretor geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e atual diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI), braço técnico da Frente Parlamentar Mista de Portos e Aeroportos (FPPA) do Congresso Nacional, salienta, em primeiro lugar, que o modelo empregado para a avaliação “não me parece o mais adequado, uma vez que se propõe a comparar diferentes países, que possuem características e desafios distintos, dentro de uma mesma metodologia, o que evidentemente produz distorções no resultado final.”

Agora respondendo à indagação, Povia lembra que temos problemas sistêmicos que nos penalizam e historicamente nos conduzem à parte inferior do ranking de competitividade. São eles: a excessiva burocracia, o nosso ambiente de negócios, o elevado custo de capital, a baixa qualidade dos gastos públicos, a excessiva carga tributária, a baixa qualidade da educação básica e investimentos públicos insuficientes em infraestrutura.

Desafios logísticos

Embora já citados, de forma breve, e considerando a questão da competitividade, vale destacar os maiores desafios logísticos enfrentados pelo Brasil atualmente, desafios estes que, segundo o vice-presidente da Cisbra, são interligados e complexos, requerendo políticas públicas integradas, investimentos significativos e reformas estruturais para melhorar a infraestrutura e aumentar a eficiência logística no Brasil (ver quadro no final desta matéria). Na visão de Povia, do IBI, o baixo investimento público em infraestrutura de transporte por conta de restrições fiscais é um fator que impede o adequado desempenho logístico do país. Tal condição nos leva a uma dependência de investimentos privados em infraestrutura, e ocorre que a burocracia, consubstanciada na morosidade de realização de leilões, de desenho de modelos de parcerias público-privadas, na obtenção de licenciamentos e financiamentos, nos conduz a um descompasso entre o que precisamos construir e o que efetivamente conseguimos realizar em termos de obras para o setor.

Conectar um país de dimensões continentais, que conta com áreas ambientais sensíveis, alerta o diretor-presidente do IBI, sempre será uma questão desafiadora. “Entretanto, temos já endereçadas importantes obras ferroviárias de Norte a Sul e de Leste a Oeste do país, bem como uma política de incentivo à navegação de cabotagem na costa brasileira e, ainda, o desenvolvimento de projetos que visam transformar nossos rios navegáveis em hidrovias, o que nos remete a uma possibilidade real de melhorias logísticas no médio prazo. Vale citar que tanto em âmbito federal como estadual, uma série de rodovias vem sendo estudada com vistas a ser concedida à iniciativa privada, a exemplo do que ocorreu com a maioria dos grandes aeroportos brasileiros em passado recente.”

Por outro lado, a infraestrutura precária, quando combinada à dependência do transporte rodoviário, dificulta os processos logísticos. Sobre isto, diz Bruno Simião, CPO (Chief Product Officer) da MáximaTech, empresa que atua no desenvolvimento de tecnologias que buscam simplificar a rotina de atacadistas e distribuidores;, as rodovias do Brasil estão em condições ruins, têm sinalização insuficiente e, em grandes centros, têm congestionamentos. Ter esse único modal concentrando a maioria das entregas do país dificulta a flexibilidade nas entregas, encarecendo e atrasando os fretes.”

Outro ponto, prossegue Simião, é a questão de segurança nas estradas, que muitas vezes são perigosas, tanto por conta da falta de infraestrutura que pode ocasionar acidentes, como risco de roubo de cargas.

Oliveira, da PX.Center, também lembra que o Brasil concentra quase todo o escoamento em vias rodoviárias, considerando que é um país continental, e isso denota uma falta de planejamento de longo prazo significativo. “Para um aumento de produção e riqueza da população brasileira, é necessária a diversificação dos modais marítimos (cabotagem) e ferroviário (trem)”, diz.

A questão é que, como visto, a dependência excessiva do transporte rodoviário aumenta os custos e os riscos associados ao transporte de mercadorias. A manutenção precária de muitas estradas, que estão em más condições, aumenta o tempo de viagem e os custos de manutenção dos veículos, acrescenta Medeiros, da AGR Consultores.

E ele completa: “a falta de integração entre os diferentes modais de transporte, como rodoviário, ferroviário e hidroviário, dificulta a eficiência logística. Além disso, os portos brasileiros, que frequentemente apresentam infraestrutura inadequada e burocracia excessiva, provocam aumento no tempo e nos custos de exportação e importação. Uma dessas situações críticas caracteriza o porto de Santos, sobrecarregado por 25% de todo o comércio marítimo externo do Brasil: navios de carga costumeiramente atolados e a rigidez na legislação causam filas de até 20 dias.  Neste cenário, a deficiente infraestrutura portuária no Brasil resulta em um custo adicional de US$ 7 bilhões anuais para as exportações industriais, devido a atrasos e custos logísticos extras”.

É sabido que as empresas brasileiras encontram um conjunto enorme de dificuldades para exportar e movimentar suas mercadorias no mercado interno. Além do que aqui já se comentou, o excesso de leis e documentos complexos e conflituosos existentes na enorme burocracia que envolve as atividades empresariais brasileiras também são entraves.

Ainda segundo o professor Guedes, falta de experiência no trato do comércio internacional, excesso de burocracia e a falta de infraestrutura logística adequada, por exemplo, ainda são alguns dos fatores que inibem as exportações brasileiras. Estudo feito pela CNI – Confederação Nacional de Indústria, juntamente com o Banco Mundial, já demonstraram que os atrasos gerados pela burocracia nacional, com consequente aumento dos prazos médios nas operações, representam custos adicionais médios de 13%, tanto nas exportações como nas exportações brasileiras.

Em outra pesquisa, agora do CNI com a EAESP/FGV, ficou demonstrado que, dentre 62 principais itens listados, o mais crítico é o custo do transporte. Elevadas tarifas cobradas nos portos e aeroportos ficaram em segundo. No transporte, segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), uma das explicações é a má qualidade das rodovias brasileiras, nas quais trafegam, calculado com base no TKU (tonelagem por quilômetro útil), mais de 61% do total de cargas movimentadas do Brasil. A própria CNI estima que apenas uma queda de 10% no custo do transporte poderia gerar mais de 30% de acréscimo nas exportações brasileiras! O estudo ainda mostra que a precariedade de nossa infraestrutura logística (rodovias, ferrovias e portos) faz com que cerca de US$ 1,5 bilhão em produtos manufaturados deixem de ser exportados para países vizinhos todos os anos.

Para piorar, conforme pesquisas feitas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), ao avaliar o “Estado Geral das Estradas”, estão classificadas como regulares, ruins ou péssimas, 66% delas. Eram 57% em 2018. Boas e ótimas, somente 34% em 2022, contra 43% em 2018. Principais itens analisados: pavimento (55,5% regulares, ruins ou péssimas), sinalização (60,7% regulares, ruins ou péssimas) e geometria da via (63,9% regulares, ruins ou péssimas).

“Não é à toa, portanto, que o Índice de Desempenho em Logística (LPI) brasileiro, regularmente publicado pelo Banco Mundial, e desde que publicado pela primeira vez, coloca o Brasil na parte do ‘meio’ do ‘ranking’ mundial. O LPI é montado com base na avaliação dos seguintes parâmetros: a) eficiência do processo de desembaraço aduaneiro; b) qualidade do comércio e infraestrutura relacionada com o transporte; c) facilidade para contratar o transporte com preços competitivos; d) competência e qualidade dos serviços logísticos; e) capacidade de rastreabilidade da carga; e f) cumprimento dos prazos de entrega. Posições alcançados pelo Brasil: 2007, 61, entre 150 países analisados; 2010, 41 em 155; 2012, 45 em 155; 2014, 65 em 160; 2016, 55 em 160; e 2018, posição de número 56 em 160 países analisados. Algumas das piores notas do Brasil dizem respeito à infraestrutura e competência logística”, diz Guedes.

Os baixos níveis de investimentos, diretamente voltados à infraestrutura logística e ao transporte, explicam grande parte desse desempenho “sofrível”, continua o professor. E com consequências fartamente conhecidas, pois além dos altos custos operacionais, ainda dificulta a realização de uma eficaz integração operacional, incluindo-se aí, a integração entre os diversos modais de transporte. Como se sabe, o setor de transporte de cargas ainda pouco se beneficia da multimodalidade.

Some-se a tudo isso, o fato de que o Brasil ainda tem uma quantidade muito pequena de estradas asfaltadas – entre 13% e 15% do total –, considerando-se não só o tamanho do País, mas também quando comparado com vários outros países do mundo. Frota com idade média de uso demasiadamente alta é mais uma das consequências. A lista é grande, completa Guedes, citando:

Pesquisa da CNT com relação ao ano de 2020 indica isso claramente: apenas 12,4% das estradas brasileiras estão asfaltadas (213,452 km) e, dentre estas, 61,9% têm problemas, 52,2% no pavimento, 58,9% na sinalização e 62,1% na geometria. E são diversos os motivos: falta de manutenção, erros de projeto e de construção; utilização de material discutível; falta de locais de apoio a motoristas enquanto em viagens, etc.

Dados da ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre indicam que a idade média da frota total (equipamentos com tração própria, reboques e semirreboques) é de 14,6 anos, sendo que a frota “nas mãos” de motoristas autônomos, que representa 36,6% do total, tem idade média de 21,5 anos. A ANTT registra, atualmente, 2,571 milhões de equipamentos, dos quais cerca de 64,5% são de veículos com tração e os 35,5% restantes são reboques ou semirreboques, isto é, dependem de estar acoplados aos veículos com tração. Da frota com tração, os autônomos têm cerca de 45,7%, ainda segundo os dados da ANTT.

Com tudo isto, Daniel Rocha, gerente de Logísticas e Mercadorias Perigosas da Henkel na América Latina – a Henkel Brasil atua nas áreas de Adesivos, Selantes e Tratamento de Superfícies e Consumer Brands, com principais marcas como Cascola, Loctite, Pritt, Bonderite e Schwarzkopf Professional –, ressalta que o maior desafio envolve a produtividade versus custo. “Também existe um custo elevado para uma ausência de tecnologia embarcada. São poucas as transportadoras que fazem investimento constante em tecnologia como Inteligência Artificial, frotas com baixa emissão de CO2, monitoramento e planejamento de rota.”

Consequências

A eficiência da infraestrutura logística é vital para o crescimento da economia, já que pode melhorar a eficiência e o escoamento da produção brasileira. A logística desempenha importante papel no transporte de mercadorias, que se reflete diretamente na competitividade das empresas. “Sem dúvida, o maior obstáculo para o desenvolvimento da infraestrutura é a falta de investimento. Historicamente, o País tem investido abaixo do ideal em infraestrutura, o que resulta em precariedade rodoviária, subutilização ferroviária e congestionamento portuário. Hoje, sem um apropriado investimento, o Brasil fica atrás de países que investem e garantem adequada infraestrutura logística internacional para a distribuição”, aponta Pimentel, da AEB, falando sobre como a falta de investimentos em infraestrutura afeta as operações logísticas no país – “começando por limitar a capacidade de expansão das empresas, aumenta ainda o tempo de trânsito e prejudica a competitividade internacional”, completa Campos, da AGL Cargo.

Povia, do IBI, também alerta que a ausência desses investimentos impede o setor produtivo de expandir, gerando gargalos logísticos e o aumento do chamado “Custo Brasil”. “Precisamos ter recursos suficientes para efetuar a manutenção de nossa malha de transportes (Opex) e ainda arcar com a necessidade de expansão dessas infraestruturas (Capex), para fazer frente ao crescimento econômico, sobretudo em setores como o agronegócio e a mineração, que demandam de forma intensiva a infraestrutura de transportes.”

Mais um fator a se considerar é que a infraestrutura se deteriora sem investimentos contínuos, aumentando os custos operacionais e diminuindo a eficiência. Infraestruturas sobrecarregadas não conseguem suportar o crescimento econômico, limitando o desenvolvimento. Estima-se que, nos países latino-americanos, a falta de infraestrutura adequada é responsável por uma perda de cerca de 2,5% do PIB.

“Além disso, a falta de infraestrutura adequada impede que novos projetos e negócios se desenvolvam, reduzindo oportunidades de emprego e crescimento econômico: empresas em países com infraestrutura inadequada enfrentam custos operacionais até 50% mais altos”, diz Medeiros, da AGR Consultores.

A verdade é que a falta de investimentos em infraestrutura afeta as operações de transporte e logística no Brasil de várias maneiras significativas. Mota, da Cisbra, relaciona:

Congestionamentos e atrasos: Rodovias, ferrovias e portos mal mantidos ou subdesenvolvidos resultam em congestionamentos frequentes e atrasos nas entregas. Isso aumenta os tempos de viagem e os custos operacionais para as empresas de transporte e logística.

Custos elevados: Infraestrutura inadequada aumenta os custos operacionais devido a manutenções frequentes de veículos, maior consumo de combustível devido a condições de estrada ruins e custos adicionais com segurança de carga devido a condições precárias de rodovias.

Baixa eficiência logística: A carência de infraestrutura adequada impede a implementação de cadeias de suprimentos eficientes e integradas, dificultando a otimização de rotas, a consolidação de carga e a sincronização de operações entre diferentes modais de transporte.

Isolamento de regiões: Regiões menos desenvolvidas e áreas rurais podem ser isoladas economicamente devido à falta de acesso adequado por meio de infraestrutura de transporte, limitando o desenvolvimento regional e, por conseguinte, aumentando as disparidades sociais e econômicas no País.

Competitividade internacional: Custos mais altos e menor eficiência de transporte de mercadorias e oferta de serviços reduzem a competitividade dos produtos brasileiros no mercado global, podendo impactar negativamente as exportações e a capacidade de as empresas brasileiras participarem efetivamente das cadeias globais de suprimento.

Impacto ambiental: A infraestrutura inadequada contribui para maiores emissões de poluentes devido a congestionamentos prolongados e maior consumo de combustível por veículos comerciais e de carga, dificultando os esforços para a implementação das estratégias Net Zero.

Segurança: A precariedade das condições de estradas e infraestrutura pode aumentar os riscos de acidentes e de segurança para motoristas e trabalhadores da logística, perda de carga e danos materiais, além de facilitar atividades criminosas de roubo de carga.

Em resumo, a falta de investimentos em infraestrutura de transporte e logística no Brasil não apenas limita o crescimento econômico e o desenvolvimento regional, mas também afeta negativamente a competitividade internacional, a eficiência operacional das empresas e a qualidade de vida dos cidadãos. “É essencial que o país invista de maneira adequada e contínua na modernização e expansão de sua infraestrutura para superar esses desafios e promover um desenvolvimento sustentável e inclusivo”, completa o vice-presidente da Cisbra.

Simião, da MáximaTech, lembra que não contar com investimentos também dificulta a perspectiva de melhoras e planejamentos que poderiam ser mais eficazes, além de deixar a logística e transporte mais suscetíveis a erros, o que atrapalha a operação em aspectos comerciais, financeiros e de satisfação do cliente.

Com estradas em más condições, os itens sofrem por atrasos ou até mesmo falta de abastecimento em regiões mais distantes dos grandes centros, dificultando o acesso a muitos produtos e serviços. Além disso, por ser difícil chegar a uma determinada região, o valor agregado do produto pode aumentar e dificultar a possibilidade de venda.

Outro ponto relacionado à falta de investimento na infraestrutura logística – ainda segundo o CPO da MáximaTech – é a grande dependência ao transporte rodoviário. Em um país com a extensão geográfica que o Brasil tem, é necessário diversificar os modais de transporte para obter resultados mais eficazes e agilidade no transporte. Investir em infraestrutura é o passo fundamental para possibilitar essa estratégia.

“Um dos pontos que mais prejudica o Brasil no índice IMD é justamente a falta de eficiência e isso se dá pelo baixo fluxo de investimento de capital. No Brasil, é muito custoso investir em CAPEX, o que força toda a população a trabalhar mais por menores resultados. O Brasil possui graves problemas de infraestrutura, que são reflexos da modelagem tributária vigente, tanto o governo quanto os empresários são reféns desse modelo tributário de soma zero à sociedade, logo todos nós sofremos. Para resolver essa questão, será necessário mudar outras alavancas de crescimento no país”, expõe Oliveira, da PX.Center.

Já em 2005, ao escrever um artigo para a Folha de Alphaville (“Brasil: Política Monetária ou Política Econômica?”), o professor Guedes concluiu que “a falta de investimentos por um período tão grande pelo qual está passando o Brasil, somente agravará sua situação no futuro, pois já terá comprometido toda uma geração de pessoas, visto que não poderão, em face das carências passadas e atuais, exercerem seus papéis como cidadãos, em seu conceito mais amplo: educado, politizado, solidário, com saúde, moradia, trabalho e consciente de seus direitos e deveres. Além do que, a falta de investimentos em infraestrutura contribuirá para o altíssimo custo e pela baixa produtividade da produção e da economia como um todo”.

Já há algumas décadas – continua Guedes – os investimentos público e privado, especificamente em transportes (rodoviário, ferroviário, mobilidade urbana, aeroportos, portos e hidrovias) têm sido muito aquém das reais necessidades do País. Se na década de setenta do século passado, esses investimentos representavam 2,36% do PIB brasileiro, eles passaram para 0,47% em 2019, 0,50% em 2020, 0,55% em 2021 e 0,55% em 2022. Muito pouco se considerarmos, como indicam diversos estudos, a necessidade de se investir cerca de 1,74% do PIB ao ano, durante 20 anos, para que o País universalize acessos e se modernize. “Vale repetir, os investimentos não têm sido suficientes nem mesmo para a recuperação da própria depreciação. O PAC 2023, para que se tenha em conta, considera investimentos anuais equivalentes a 0,53% do PIB, entre 2023 e 2026. Muito aquém, portanto, das necessidades e exigências nacionais. Mas é um começo.”

Importantíssimo ressaltar que os investimentos do setor privado, previstos no PAC e considerando o valor integral a ser investido em infraestrutura (R$ 1,688 trilhão), representarão significativos 36,3% do total, que incluem participações do Orçamento, das Estatais, de Financiamentos e do próprio setor privado. “Se excluirmos os investimentos das Estatais e dos Financiamentos, o setor privado participará com 62,3% do total. O que se percebe é que a participação do setor privado, que desde 2011 tem sido maior que a do setor público, assim terá que ser mantida, e de forma crescente”, completa Guedes.

Setores mais afetados

As dimensões continentais do País e a constante evolução da produção exigem uma nova concepção de matriz que contemple aumento de investimentos na infraestrutura e de eficiência no sistema de transporte. 

A realidade nas últimas décadas mostra que alguns setores, por suas características logísticas, demandam melhores condições de operação. Sem dúvida, o agronegócio e toda a sua cadeia, apesar da competitividade no custo de produção e do uso de tecnologia, é um dos mais prejudicados quando transforma mais de um bilhão de toneladas de produtos agrícolas em cargas para logística, sem malha ferroviária adequada e com rodovias precárias. 

A mineração, principalmente minério de ferro, também paga caro na sua competitividade pelo alto custo de transporte ferroviário ainda deficiente em função de geometria inadequada, passagens de nível e outros fatores que limitam uma velocidade econômica para o modal.

Pode-se detalhar uma dezena de setores produtivos como, por exemplo, o da celulose, que tem a sua competitiva ameaçada pelas condições logísticas. “Na verdade, todo o setor produtivo do País está seriamente afetado pela inércia dos investimentos em infraestrutura e logística dos modais de transporte”, completa Pimentel, da AEB, falando sobre os setores da economia brasileira que são mais prejudicados pelos problemas de infraestrutura e logística.

“De fato, todos os setores são afetados, assim como o consumidor que acaba pagando um produto mais caro. Entretanto, em alguns setores esta dificuldade é vista com mais facilidade, que são a agroindústria, a indústria de produtos manufaturados e o comércio varejista”, relaciona Campos, da AGL Cargo.

Também Medeiros, da AGR Consultores, destaca o agronegócio, a indústria e o comércio. De acordo com ele, no agronegócio, a logística deficiente aumenta os custos de transporte de produtos agrícolas, afetando a competitividade internacional.

  “A indústria enfrenta dificuldades para receber matérias-primas e distribuir produtos acabados, impactando a produção e as exportações. Já o comércio sofre com atrasos e custos elevados de transporte, afetando os preços e a disponibilidade de produtos. De acordo com o World Development Report de 2020, o custo de transporte de produtos de países com defasagem na infraestrutura pode chegar a representar até 20% de seu preço final”, diz o diretor de Supply Chain & Logística na AGR Consultores.

O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas e exportadores de commodities agrícolas do mundo. No entanto, a falta de infraestrutura adequada impacta diretamente na performance do agronegócio, o que resulta em atrasos na entrega de insumos agrícolas, como fertilizantes e agroquímicos, e no escoamento da safra. Isso impacta negativamente os custos de produção e de armazenagem, reduzindo a competitividade dos produtos agrícolas brasileiros no mercado global.

A indústria manufatureira, continua Mota, da Cisbra, enfrenta desafios significativos devido à necessidade de transportar matérias-primas e produtos acabados por longas distâncias dentro do país. A demanda por atualização de infraestrutura aumenta os custos de produção, afeta os prazos de entrega e limita a capacidade das indústrias de expandir suas operações de forma eficiente e sustentável.

Da mesma forma que as demais atividades produtivas, a mineração é setor crucial para a economia brasileira que depende de uma infraestrutura robusta para transportar minerais e metais de áreas remotas para portos e Centros de Distribuição. A falta de infraestrutura pode resultar em atrasos na produção e exportação, afetando a receita das empresas e a arrecadação fiscal para o governo.

Empresas que operam diretamente no setor de logística e transporte enfrentam desafios diários devido a estradas congestionadas, condições de rodovias ruins e a falta de modais alternativos eficientes, como ferrovias e hidrovias. Isso aumenta os custos operacionais e reduz a eficiência das operações logísticas.

No comércio exterior, a competitividade internacional das exportações brasileiras é diretamente relacionada à eficiência da logística. Atrasos na entrega de produtos aos portos e custos mais elevados de transporte reduzem a competitividade dos produtos brasileiros no mercado global, impactando as exportações e a balança comercial do país.

A infraestrutura deficiente também afeta o setor de serviços. Estradas ruins, carência de malha ferroviária, sazonalidade aquaviária, baixa exploração do potencial da cabotagem e transporte público inadequado podem desencorajar o turismo interno e dificultar o acesso a destinos turísticos, impactando negativamente o crescimento desse setor.

“Precisamos fazer com que os fertilizantes cheguem ao campo e que os grãos e proteínas animais sejam escoados até os nossos portos. Parte do setor industrial também depende muito do transporte de commodities, como, por exemplo, a siderurgia, a indústria química e do cimento, papel e celulose, óleo e gás, o setor automobilístico, fábricas que beneficiam trigo, malte e cevada. Vale destacar, ainda, que uma gama enorme de produtos industrializados é transportada dentro de contêineres, tanto para o mercado interno, como no comércio exterior (importação e exportação)”, complementa Povia, do IBI.

Como se pode notar, os setores agrícolas e a cadeia de abastecimento sofrem muito com os problemas de infraestrutura no Brasil. Por conta da dependência de um só transporte, é comum o prejuízo com a perda de grãos e matérias-primas. Isso dificulta as negociações e a competitividade do setor, além de aumentar o preço dos alimentos, salienta, agora, Simião, da MáximaTech. Na cadeia de abastecimento, principalmente quando se trata de alimentos e bebidas, não ter as melhores condições dificulta o processo de frete, além de encarecê-lo. Isso porque muitos desses itens são delicados, perecíveis e dependem de certas especificidades para transporte, como temperaturas adequadas, paletes, entre outros.

Já o professor Guedes destaca que todos os segmentos econômicos são afetados, pois a movimentação de pessoas e mercadorias é uma característica inerente a qualquer atividade humana. Seja nas operações de inbound – de insumos, por exemplo – ou de outbond – do produto final. “Evidentemente haverá setores mais ou menos impactados, considerando a cadeia logística de cada um e a complexidade que a caracteriza. Produtos que percorrem grandes distâncias e/ou ficarão mais tempo dentro de um processo logístico específico, ou realizado entre países, portanto com culturas, fronteiras, legislações e aduanas diferentes, deverão exigir mais operações logísticas e com graus crescentes de complexidade. ‘Para bem ou para o mal’, deverão ‘sofrer’ maiores consequências, em seus custos (de movimentação, armazenagem, manuseio, seguro, gerenciamento de riscos, documentação etc.), nos prazos de entrega, na vulnerabilidade das mercadorias e nos riscos inerentes.”

Oliveira, da PX.Center, também aponta que praticamente todos os setores da economia são prejudicados devido ao efeito cascata que acontece, mas em primeiro lugar, a indústria brasileira perde sua competitividade, o que acaba afetando não só as finanças públicas, mas também toda a área de serviços a indústria. “Em bom português, tudo no Brasil fica mais caro, desde o nosso churrasco até os móveis e tijolos das nossas casas.”

Perspectivas

Não há como pensar no futuro do setor de infraestrutura sem atrelar medidas inovadoras, adoção de tecnologias, soluções de entrega e sustentabilidade, diz Pimentel, da AEB, falando das perspectivas futuras para a infraestrutura logística brasileira e como isso pode influenciar a posição do país em rankings de produtividade como o do IMD.

Qualquer estudo de tendência deve levar em conta eficiência operacional, redução de custos, aumento de qualidade dos serviços, modernização da gestão, capacitação de profissionais, além de segurança jurídica. A esses fatores devem ser somados aspectos financeiros, sociais e ambientais como requisito básico para incorporar transformações tecnológicas para um futuro sistema logístico que atenda às necessidades crescentes da infraestrutura brasileira.

“Para os próximos anos, aguardam-se investimentos para aumentar a qualidade e a competitividade para as concessões e privatizações. Se houver um estoque de capital de infraestrutura, certamente as perspectivas serão promissoras”, completa Pimentel.

Já para Campos, da AGL Cargo, a melhoria deve ser gradual e constante, para evitar que qualquer alteração grande afete a estrutura como um todo. O aumento do uso da tecnologia deve ser uma constante, tornando possível o crescimento do país em termos de competitividade.

Também para Medeiros, da AGR Consultores, as melhorias deverão ser graduais, impulsionadas por iniciativas governamentais e privadas. No âmbito público, o governo federal anunciou, no início do mandato, um investimento de R$ 1,7 trilhão em infraestrutura de transporte até 2027. Já o setor privado vem investindo significativamente na modernização da infraestrutura logística com aplicações de até R$ 25 bilhões anuais em tecnologias avançadas, como big data e Internet das Coisas (IoT).

“Com essas melhorias, a competitividade global do Brasil pode aumentar, atraindo mais investimentos estrangeiros e impulsionando o crescimento econômico. Tais mudanças, por consequência direta, acarretariam na mudança do atual cenário de rankings de produtividade como o do IMD, refletindo uma economia mais eficiente e competitiva”, acredita o diretor de Supply Chain & Logística na AGR Consultores.

Também otimista, Oliveira, da PX.Center, acredita que devemos melhorar marginalmente o índice de infraestrutura logística brasileira nos próximos anos. “O Brasil colherá alguns frutos dos projetos que estão sendo desenvolvidos, mas é necessário um foco neste quesito, transformar o Brasil em um grande canteiro de obras seria bom para toda a população que mora no País.”

Já para Sória, da Skymarine, as perspectivas futuras dependem de um compromisso contínuo com investimentos em infraestrutura e adoção de tecnologias inovadoras. Melhorias na infraestrutura logística podem aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a competitividade global do Brasil. Se esses avanços forem realizados, é provável que o país suba em rankings de produtividade como o do IMD, refletindo um ambiente de negócios mais favorável e uma economia mais robusta. Certamente, as perspectivas futuras para a infraestrutura logística brasileira são cruciais para determinar a competitividade do país em rankings de produtividade global, como o do IMD.

A seguir, Mota, da Cisbra, tece algumas considerações sobre as perspectivas futuras e seu impacto:

Investimentos Contínuos em Infraestrutura: O Brasil precisa continuar investindo significativamente na modernização e expansão de sua infraestrutura de transporte. Isso inclui melhorias em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e sistemas de logística integrada. Investimentos adequados são essenciais para reduzir gargalos, aumentar a eficiência operacional e melhorar a conectividade entre regiões.

Adoção Permanente de Tecnologias Avançadas: A implementação de tecnologias como IoT, big data, inteligência artificial e automação pode revolucionar a logística no Brasil, aumentando a eficiência, reduzindo custos e melhorando a transparência e segurança das operações.

Sustentabilidade e Inovação: A preocupação crescente com práticas sustentáveis na logística, como redução de emissões e eficiência energética, pode diferenciar o Brasil positivamente em rankings que consideram critérios ambientais e sociais.

Integração de Modais de Transporte: A integração eficiente entre rodovias, ferrovias, hidrovias, transporte aéreo e marítimo pode melhorar significativamente a performance da logística brasileira, reduzindo custos de transporte e desperdício, melhorando os tempos de entrega e aumentando a capacidade de carga total.

Reformas Estruturais e Desburocratização: Continuar com reformas estruturais que simplifiquem processos burocráticos e promovam um ambiente regulatório favorável para investimentos privados é crucial para atrair financiamento e expertise internacional na melhoria da infraestrutura.

Impacto nos Rankings de Produtividade: Uma infraestrutura logística eficiente pode elevar a posição do Brasil em rankings como o do IMD, que avaliam fatores como eficiência dos transportes, qualidade das infraestruturas básicas e preparo tecnológico. Melhorias nas áreas da infraestrutura, dos fatores eficiência governamental, eficiência em negócios e performance econômica podem aumentar a atratividade do país para investimentos estrangeiros e fortalecer sua competitividade global.

“Concluindo, entendemos que o futuro da infraestrutura logística no Brasil está intimamente ligado aos investimentos contínuos em modernização e tecnologia, além de reformas estruturais para promover um ambiente de negócios favorável. Essas iniciativas são essenciais não apenas para melhorar a produtividade e eficiência econômica do país, mas também para posicionar o Brasil de forma mais competitiva nos rankings internacionais que avaliam a qualidade da infraestrutura e logística”, completa o vice-presidente da Cisbra.

Realmente, há que se considerar a necessidade de uma forte retomada dos investimentos para a modernização e a expansão da infraestrutura de transportes (em todos os modos de transporte), de estímulo à multimodalidade, ao melhor equilíbrio dos diversos modos de movimentação e à inovação do setor, com políticas que combatam o desperdício e preservem o meio ambiente, notadamente aquelas que contribuam para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa (GEE).

“Há que se constatar, como é óbvio supor, que as incertezas na política e na economia, atuais, inibem a realização de investimentos privados, nacionais ou estrangeiros e em todos os setores, notadamente naqueles cujos retornos se dão no longo prazo, uma vez que não há confiança suficiente para isso. Consequentemente, os programas de privatização, via concessões, novos leilões e/ou prorrogações contratuais (com processos de contínuo aperfeiçoamento), passam a ter significativa importância para o Brasil. Não só aqueles já previstos ou constantes do PAC 2023, mas outros que poderão ser estudados e implantados no futuro, pois, além de tudo, a participação do setor privado também libera caixa e esforços do governo. E na medida em que o governo ‘abre a mão’ de determinadas atividades e as transfere, com controle, para o setor privado – geralmente com maior produtividade – ele tem melhores condições para focar suas principais atribuições, tais como segurança, saúde e educação”, avalia Guedes.

Ainda segundo o professor de logística, livre de desnecessárias discussões ideológicas que nada têm a ver com a realidade do mundo atual, mantidas as mínimas condições de competitividade (isonomia e transparência), assegurados retornos econômicos compatíveis com os riscos pertinentes, mantidas as estabilidades jurídica, política e econômica e estabelecidos os marcos legais, regulatórios e de controle necessários, haverá, sem qualquer dúvida, clima de confiança para atrair investimentos privados, nacionais ou estrangeiros de que tanto necessita o Brasil. A eficiência e a lisura dos processos de licitações públicas, por exemplo, serão essenciais para que o PAC cumpra seus objetivos.

Também é preciso definir os novos papéis institucionais dos diversos órgãos que “discutem e planejam” a infraestrutura logística e o transporte no país, incluindo-se, aqui, as próprias agências reguladoras, que precisarão desempenhar um papel mais inovador e adaptado à nova realidade que se apresenta, mais complexa operacionalmente e que exige novas relações com as concessionárias. E estas, por sua vez, precisam oferecer, além de tarifas justas, maior qualidade nos serviços prestados.

Será fundamental que se combatam os entraves à modernidade, tais como a fragmentação dos núcleos de gerenciamento e decisão, a desconexão das políticas públicas em suas diversas esferas e destas com as demais áreas envolvidas, a politização dos cargos nas agências, ministérios e departamentos técnicos, as indefinições com respeito aos marcos legais e regulatórios e a falta de políticas claras de investimentos e suas correspondentes garantias.

“Como tenho dito em vários artigos, ao comentar o PNL (Plano Nacional de Logística) e o PILPI (Plano Integrado de Longo Prazo de Infraestrutura), o Brasil já passou pela fase de discussão e conhece as principais causas que mantêm o chamado ‘custo logístico’ como um dos entraves do crescimento e desenvolvimento econômicos. Tratados como prioridade, a efetiva e eficiente execução do PAC 2023, bem como os ajustes futuros, não só contribuirão para a melhoria da logística brasileira, como estimularão a realização de novos investimentos.”

Considerando-se, portanto, algumas das principais tendências mundiais – aumentos nas demandas por energia, alimentos e infraestrutura social, bem como maiores cuidados com a saúde das pessoas, do meio ambiente e da sociedade, de uma forma geral – será fundamental manter políticas que deem ao Brasil uma infraestrutura moderna, de maior qualidade e que contemple a multimodalidade, contribuindo direta e efetivamente para a diminuição de custos e aumento da competitividade do produto brasileiro.

“Mas é muito mais do que isso, pois operações logísticas eficazes contribuem direta e indiretamente para diminuir tensões sociais e a própria desigualdade, na medida em que possibilita menores custos na produção e na movimentação de pessoas, gera crescimento e empregos. Uma logística eficaz contribui, efetiva e concretamente, para o desenvolvimento econômico”, conclui Guedes.

“Volto a citar que tenho uma série de ressalvas quanto à metodologia aplicada no referido ranking. Parece-me mais razoável se concentrar na melhoria de avaliação individualmente dos quesitos do que propriamente se comparar com países com perfis muito distintos, mas o fato é que temos que evoluir na simplificação de procedimentos, na melhoria de nosso ambiente de negócios, na redução do custo de capital, na qualidade dos gastos públicos, na redução e simplificação da tributação, na melhoria da qualidade da educação básica e no incremento do investimento público em infraestrutura de transportes”, completa Povia, do IBI.

Maiores desafios logísticos enfrentados pelo Brasil atualmente

Infraestrutura deficiente: A infraestrutura de transporte no Brasil é frequentemente criticada pela falta de investimentos e pela necessidade de modernização. Rodovias, ferrovias, portos e aeroportos muitas vezes não estão adequados para suportar o volume crescente de carga e passageiros. Também falta manutenção e modernização no modal rodoviário e ferroviário para garantir segurança e eficiência do transporte de carga. Há defasagem entre o valor do investimento necessário em face da necessidade para garantir uma qualidade mínima da infraestrutura;

Custos elevados de transporte: Devido à infraestrutura deficiente, os custos de transporte no Brasil são altos em comparação com outros países, o que afeta a competitividade dos produtos brasileiros no mercado global;

Desigualdades regionais: Existem disparidades significativas na infraestrutura de transporte entre as regiões do Brasil. Regiões remotas e menos desenvolvidas enfrentam maiores dificuldades de acesso, o que contribui para o isolamento econômico e social;

Segurança: A segurança nas rodovias e em áreas de transporte e movimentação de carga é um problema crônico. Roubos de carga são comuns, em todas as regiões, especialmente na Região Sudeste, o que aumenta os custos e atrasa as entregas;

Burocracia e regulamentação: Procedimentos burocráticos complicados e uma carga tributária elevada também impactam a eficiência logística no Brasil, aumentando o tempo e os custos necessários para movimentar mercadorias e oferta de serviços. Processos e liberação alfandegária aumentam custos, prazos de entrega e prejudicam a competitividade no mercado global. Cabe destacar a convergência de esforços dos Poderes Público e Privado para reformar e estabelecer um novo arcabouço fiscal e tributário compatível com a importância do Brasil no cenário Global, dentro da realidade do Século 21;

Sustentabilidade: A preocupação com práticas sustentáveis no transporte, como eficiência energética e redução de emissões, está se tornando cada vez mais importante. Embora o Brasil seja referência Global em matriz energética limpa, ainda enfrenta desafios significativos para a modernização de legislação que estimule investimentos em negócios e prática ESG;

Capacitação profissional: A falta de mão de obra qualificada para operar e gerenciar sistemas logísticos modernos é outro desafio crucial. Intensificar a capacitação adequada é essencial para melhorar a eficiência e a segurança no setor como fatores de inclusão social e melhoria na qualidade do trabalho;

Reajuste constante nos preços dos combustíveis: Impacta diretamente nos custos operacionais das empresas de transporte e eleva o valor do frete;

Logística reversa: A falta infraestrutura adequada para coleta, transporte e reciclagem de materiais impacta o meio ambiente e a saúde pública.

Fontes: AEB e Cisbra

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