Com a implementação da Resolução nº 6.024, de 3 de agosto de 2024, da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, o modelo eletrônico passou a ser o único permitido para o pagamento do Vale-Pedágio Obrigatório por caminhoneiros. Assim, desde 1º de janeiro último, o Vale-Pedágio Obrigatório passou a valer de forma eletrônica, com o uso de TAGs, e os modelos operacionais como cartão e cupom foram descontinuados.
Nesta entrevista especial, Ewerton Caburon e Wellington de Medeiros Lucena falam sobre as principais mudanças introduzidas pela resolução da ANTT, como a obrigatoriedade do uso de TAGs para pagamento de pedágios impactará a rotina dos transportadores de carga, o papel das rodovias nessa transição para o pagamento exclusivamente via TAGs, e como elas estão se preparando, os benefícios que essa medida pode trazer para o setor de logística em termos de eficiência operacional e redução de fraudes, como os caminhoneiros autônomos e empresas de transporte estão se adaptando a essa nova exigência e quais são os principais desafios enfrentados, entre outros assuntos
Caburon é CEO da Emiteaí – startup de logística responsável por facilitar a emissão de documentos e promover o gerenciamento de transportes eficiente, atendendo os principais marketplaces do mercado, com foco em transportadores e embarcadores. Anteriormente, foi diretor executivo de Operações na BBM Logística, liderando projetos de otimização com IoT e Machine Learning. Também atuou em cargos de liderança na Raízen e Ambev, sempre focado em eficiência operacional e gestão de grandes equipes. Graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, Caburon possui MBA em Gestão de Negócios pelo Insper.
Por sua vez, Lucena é CKO da Emiteaí e possui uma trajetória profissional que acumulou mais de 11 anos de experiência na Ambev, onde atuou como especialista em logística, desenvolvendo e implementando soluções para a gestão de pagamentos de transporte de cargas. Além disso, traz em seu currículo uma passagem pela CargoX, no setor de transportes, e pela Hbsis (atual Ambev Tech) e Lincros, onde atuou na área de Tecnologia da Informação. Como empreendedor, também fundou uma startup focada na gestão de pagamentos para o setor de transportes, consolidando sua expertise em criar soluções que otimizam processos logísticos e financeiros. Nessa startup, atuou diretamente na implementação de projetos de gestão de pagamentos de transporte de cargas para a Unilever.
Acompanhe a entrevista com os dois especialistas.
Quais são as principais mudanças introduzidas pela resolução da ANTT em relação ao pagamento do Vale-Pedágio Obrigatório por caminhoneiros, e como isso difere do modelo anterior?
Caburon: A introdução da TAG como única forma de pagamento traz benefícios mensuráveis para as operações, tanto de transportadores, quanto de embarcadores. O transportador passa a ter maior responsabilidade para se adequar à modernidade e gerenciar o Vale-Pedágio Obrigatório, mas com menos complexidade operacional e redução de erros humanos no dia-a-dia. Já o embarcador deve assegurar que a TAG do transportador esteja devidamente abastecida e em conformidade com a legislação vigente. Além de modernizar os processos e trazer maior eficiência, traz transparência e controle, tanto para as transportadoras quanto para os embarcadores.
Como a obrigatoriedade do uso de TAGs para pagamento de pedágios impactará a rotina dos transportadores de carga, especialmente os independentes?
Caburon: O uso das TAGs traz mais agilidade e segurança nas operações, pois o pagamento do pedágio é processado automaticamente, ação que reduz o tempo de espera em filas e melhora o controle financeiro. Para transportadores autônomos, a adequação pode ser um pouco mais custosa, principalmente por conta das despesas iniciais para a adesão das TAGs, e também pela necessidade de se adaptar à uma nova tecnologia.
Qual é o papel das rodovias nessa transição para o pagamento exclusivamente via TAGs, e como elas estão se preparando?
Caburon: As rodovias possuem papel imprescindível para a viabilização deste novo regramento, começando pela comunicação deste processo de transição para o pagamento antecipado e eletrônico, e também garantindo que todas as praças estejam equipadas com os sistemas de leitura automática de TAGs. É necessário que haja investimento em infraestrutura e na digitalização dos processos, para que os sistemas sejam compatíveis com todas as operadoras de TAGS homologadas e não haja nenhuma limitação no momento da viagem.
Quais benefícios essa medida pode trazer para o setor de logística em termos de eficiência operacional e redução de fraudes?
Lucena: A agilidade nos fluxos de caminhões aumenta significativamente com pagamento via leitura de TAGs, reduzindo o congestionamento e, consequentemente, o tempo de viagem. Tudo isso influencia em uma economia com o consumo de combustível e o desgaste de veículos, o que contribui para uma operação mais sustentável. A diminuição da burocracia no dia a dia do administrativo também tem impacto significativo, uma vez que o mesmo tem maior controle e complacência sobre os valores na gestão do vale pedágio, visto que as TAGs relatam detalhadamente os valores pagos, locais e horários, dificultando fraudes como cobranças indevidas e desvios, ou erros manuais, como pagamentos duplicados. Outro ponto interessante a ser analisado é relacionado aos motoristas que, muito visados e expostos à furtos no transporte, agora têm maior segurança quando eliminada a necessidade de manipulação de dinheiro.
Como os caminhoneiros autônomos e as empresas de transporte estão se adaptando a essa nova exigência, e quais são os principais desafios enfrentados?
Caburon: Com necessidade de regularização até o final de janeiro, teve iniciou uma corrida contra o tempo para se adequar à contratação e o uso de TAGs e sistemas para a Gestão de Vale-Pedágio. Além disso, há o desafio de integrar estes dados aos seus sistemas de gestão como ERPs e TMSs, algo imprescindível para o gerenciamento dos valores e controle efetivo da operação.
Existe alguma previsão de impacto no custo operacional das transportadoras devido à implementação dessa medida, especialmente para pequenos transportadores?
Lucena: Além do custo de aquisição e ativação das TAGs, as transportadoras precisam manter saldo o suficiente para cobrir os valores de pedágio, evitando multas e contratempos na viagem. Algumas operadoras de Vale Pedágio Obrigatório também cobram taxas de manutenção e de recarga que, para pequenos transportadores e autônomos, pode ser um custo financeiro significativo na operação.
Quais desafios técnicos ou logísticos podem surgir na implantação e uso massivo de TAGs pelos caminhoneiros, e como essas questões podem ser mitigadas?
Lucena: Alguns desafios técnicos podem permear a implantação deste novo processo de pagamento eletrônico, como, por exemplo, a incompatibilidade e a integração plena entre as praças de pedágio, operadoras de VPO autorizadas, transportadores e embarcadores. Falhas em leituras de TAGs e também a dependência de conectividade são outros dois pontos de atenção. Para mitigar estes problemas, é necessário promover uma integração absoluta entre as praças, junto às instituições de pagamento e as operações de embarcadores e transportadores. O apoio de tecnologia e sistemas para gestão de transportes é essencial nesta etapa. O investimento e a renovação da infraestrutura tecnológica destas praças e, também, garantia de conectividade nas rodovias são imprescindíveis para que não haja contratempos por falhas técnicas.
Há iniciativas ou programas em andamento para facilitar o acesso dos transportadores às TAGs permitidas, especialmente para aqueles com menor acesso à tecnologia?
Caburon: A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está organizando a transição para o pagamento eletrônico em pedágios desde agosto de 2024, estabelecendo regulamentações e orientações para facilitar a adequação dos transportadores. Algumas operadoras de VPO também estão promovendo campanhas para informar sobre os benefícios do pagamento eletrônico.
Como essa mudança pode contribuir para a modernização e digitalização do setor de transporte rodoviário no Brasil, em alinhamento com outras políticas públicas?
Caburon: O Plano Nacional de Logística (PNL) é um instrumento do Governo Federal que busca modernizar toda infraestrutura de transportes do Brasil. Alguns de seus objetivos são reduzir custos, melhorar o serviço para os usuários, aumentar a eficiência dos transportes, diminuir a emissão de poluentes e promover o desenvolvimento regional e nacional. O uso de TAGS digitaliza e integra uma etapa fundamental da logística, pois permite o controle e a gestão do tráfego. A ação também está alinhada a estratégias de Transformação Digital do Governo Federal, que busca digitalizar serviços, como, por exemplo, a Carteira Digital de Trânsito (CDT) e o Documento de Transporte eletrônico (DT-e), que integram informações e reduzem burocracias no setor.
De que maneira o Vale-Pedágio Obrigatório, com pagamento via TAGs, dialoga com outras tendências globais de inovação e regulamentação no setor logístico, como a automação e a sustentabilidade?
Lucena: O mundo passa por uma tendência global de digitalização e automatização de processos, estamos cada vez mais on-line, e aparentemente, não há mais volta. No mundo dos transportes observamos essa automação cada vez mais frequente, e a tecnologia se tornou indispensável para que a cadeia logística possa fluir de forma eficaz. O setor logístico global avança cada vez mais em direção de sistemas totalmente automatizados, onde a emissão de documentos, pagamentos, monitoramento e gestão de transportes ocorrem de forma integrada e em tempo real, em busca de desburocratizar uma área tão complexa como a logística. A gestão de VPO e o uso de TAGs representam mais um avanço para um futuro digital, simples e livre de morosidades.