O crescimento de soluções tecnológicas e a ruptura causada pela pandemia geraram uma nova estruturação do Supply Chain. Não tem mais como não adequar as atividades de transporte, armazenagem e distribuição dos produtos à nova realidade, conforme mostra a pesquisa “Aplicação de tecnologias de Supply Chain no Brasil”, realizada pelo Instituto de Logística – ILOS.
O estudo inédito, apresentado na abertura do 28º Fórum Internacional de Supply Chain, no dia 18 de outubro, em São Paulo, mostra as principais tecnologias adotadas atualmente. “Pegamos a visão de 80 executivos sêniores sobre o uso de tecnologia e as funcionalidades que estão sendo desenvolvidas para suportarem o aumento de nível de serviço e a sua complexidade. O que estamos vendo é uma alteração no status de poucos anos atrás, com adoção antecipada de algumas tecnologias como resultado da pandemia”, destacou o sócio-executivo do ILOS e um dos responsáveis pela pesquisa, Leonardo Julianelli.
Segundo ele, a primeira grande onda de transformação do setor ocorreu na década de 90, devido às mudanças macroeconômicas, como redução de tarifas de exportação e a estabilização econômica com o Plano Real. “A colaboração e a tecnologia são cada vez mais mandatórias para a sobrevivência das empresas”, disse, enfatizando que a crise sanitária é o marco atual para uma nova estruturação das cadeias, cuja busca é pela melhoria no nível de serviço e por novas práticas operacionais.
“Nesse contexto, a tecnologia vem como aliada importante”, mencionou Julianelli. Os investimentos têm foco em atender, principalmente, as expectativas de serviço das gerações Y e Z, que se encontravam perifericamente no mercado de consumo, mas, agora, atingiram idade e poder de compra.
“Eles nasceram multiconectados, com uma percepção diferente da passagem de tempo e exigindo uma agilidade maior de resposta às demandas. Toda informação chega instantaneamente e ele não entende por que uma compra online demora o prazo de 10 dias para ser entregue. Ele quer receber no mesmo dia ou no dia seguinte. Ou seja, as empresas precisam repensar suas estruturas para viabilizar economicamente esse patamar de serviço, pois se o consumidor não for atendido, vai procurar o concorrente”, afirmou Julianelli.
Resultado
De acordo com o sócio-executivo do ILOS, os resultados mostram ainda que muitos sistemas e equipamentos estão em estado embrionário de implementação no Brasil ou são focados em certos tipos de empresa, enquanto outros já são bastante difundidos.
Uma das tecnologias que ganhou destaque nas respostas dos executivos é o RFID (identificação por radiofrequência). Ele faz parte da rotina de quase metade (42%) das empresas, sendo direcionado, principalmente, para o rastreamento dos produtos nos armazéns. A visibilidade alcançada permite, ainda, que as empresas utilizem as informações disponíveis sobre os seus produtos para compartilhar com os clientes.
A pesquisa também revela que o uso de tecnologias avançadas, como Realidade Virtual e veículos autônomos, ainda têm baixo índice de adoção, sendo utilizados por 16% e 6% das empresas respondentes, respectivamente.
Além disso, foi mensurada a utilização de sistemas especializados para gestão das operações logísticas, como o TMS (Transport Management System) e o WMS (Warehouse Management System), usados por 76% e 87%, respectivamente. “Há algumas tecnologias já consolidadas usadas pela maioria das empresas e com espaço para crescer. São ferramentas que vêm sendo desenvolvidas desde a década de 90 para apoiar executivos da área na melhoria da produtividade e performance. Ferramentas amadurecidas, que enfrentam novos desafios”, analisou Julianelli.
Quando se trata das principais práticas operacionais para lidar com as novas exigências, 58% afirmaram que utilizam vendas por meio de marketplaces de terceiros. Já 16% pretendem adotar essa estratégia nos próximos dois anos. “
“Observamos que algumas ferramentas foram necessárias na pandemia e tendem a continuar crescendo. As empresas estão em processo inovativo de práticas, sem a total certeza do que vai funcionar, devido às variáveis a serem consideradas. É natural que experimentem novos serviços logísticos. Alguns vão se provar necessários, enquanto outros vão começar a desaparecer. Há a necessidade de um erro controlado. Fica difícil inovar sem testar”, disse.
A pesquisa também revelou que a Inteligência Artificial está sendo mais utilizada para suportar a previsão de demanda (62%), depois para reabastecimento automático do estoque (45%). Dos participantes, 41% já utilizam a tecnologia e 86% vão aumentar o investimento nela.
Já o monitoramento em tempo real da frota (62%) é a principal funcionalidade da Internet das Coisas, seguida por visibilidade de capacidade de ativos em tempo real (43%). Dos participantes, 32% já utilizam a tecnologia e 84% vão aumentar o investimento nela.
Por sua vez, o blockchain está sendo utilizado na rastreabilidade e visibilidade do produto (62%), seguindo por visibilidade do fluxo do produto na cadeia (58%). Dos participantes, 19% já possuem a tecnologia e 69% vão aumentar o investimento nela.
Os robôs estão sendo testados, destacando-se para movimentação de produtos no armazém. Dos participantes, 41% utilizam essa tecnologia e 78% vão aumentar os investimentos nela. Enquanto os wearables estão sendo utilizados principalmente para atividades de picking. Das empresa consultadas, 23% já usam a tecnologia e 80% vão aumentar o investimento nela.
Drones
O drone foi um dos itens mapeados pelo ILOS, eleito na voz de especialistas como forte tendência para elevar a eficiência operacional no setor de logística, devido às diversas possibilidades de aplicação, como monitorar estoques ou até mesmo realizar entregas na casa de consumidores. Segundo a pesquisa, apenas 18% das empresas consultadas usam drones atualmente.
Destas, 69% lançam mão do equipamento com a principal função de auxiliar a inspeção e o monitoramento de instalações. Quarenta e seis porcento das companhias utilizam a tecnologia para a contagem de inventário. A movimentação de produtos dentro de uma mesma instalação representa apenas 8%, seguido de outros 8% quando se refere a entrega de produtos para o cliente final, a última milha.
“O drone é uma tecnologia em desenvolvimento e que necessita de regulamentação para que possa ser usado com segurança no espaço aéreo das cidades. Então, é natural que a utilização desse equipamento no momento seja mais voltada à inspeção e segurança de instalações, no qual o ambiente é fechado e controlado. Além disso, os drones atuais ainda têm limitação de carga, já os modelos capazes de carregar mais peso são muito caros. Ou seja, o custo da tecnologia ainda é um impeditivo para as entregas”, explicou Julianelli.