A aplicação do modelo SCOR e da metodologia do fulfillment ao processo de logística reversa: é possível essa integração?

27/05/2019

O crescimento acelerado e desorganizado das organizações, a grande necessidade de produtividade e eficácia por resultados, o dinamismo mercadológico e a alta competitividade foram fatores que contribuíram diretamente para as atuais demandas de mercado, gerando reflexos em diversas áreas organizacionais, sobretudo nos processos logísticos das organizações.

Em função deste contexto torna-se necessário um controle ainda maior dos processos logísticos, a fim de garantir a eficácia das operações. E nesta proposta o Modelo SCOR (Supply Chain Operations Reference – Referência das Operações da Cadeia de Suprimentos) e a metodologia fulfillment começam a ganhar destaque na gestão das operações logísticas. Mas, partindo do pressuposto destas metodologias cabe um questionamento: É possível integrar essas metodologias ao processo de logística reversa?

Ao realizar uma pesquisa de caráter exploratório na Empresa Alfa, foi possível demonstrar que essa integração é possível, porém, é constituída de inúmeros desafios. A Empresa Alfa é uma distribuidora de produtos químicos fundada em 1985 e que atualmente trabalha com o Modelo Scor e o fulfillment integrado ao sistema de logística reversa. Os seus principais produtos são: ácidos, solventes, álcool, querosene, hipoclorito, hidróxido de sódio e produtos químicos em geral. O processo de logística reversa da empresa opera por meio da coleta de vasilhames para o reaproveitamento ou descarte adequado. Atualmente a empresa atende toda a região de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

Na proposta desta pesquisa entrevistou-se o gerente de logística da empresa que atua na empresa há 12 anos e está há cinco anos no cargo gerencial. É graduado em Administração e especialista em gestão empresarial e há 19 anos atua no setor de logística, possuindo uma grande experiência, o que credibiliza este processo empírico.

Durante a entrevista foram apontados alguns desafios e dificuldades, evidenciando o risco de se trabalhar com produtos químicos, a dificuldade de atendimento no prazo das coletas de bombonas junto aos clientes, ocasionado a partir da limitação das frotas, o rigoroso controle diário dos indicadores, o desafio de atender com rapidez e atingir as metas e as perdas geradas no ambiente de trabalho.  O relato a seguir evidencia essa proposta: “trabalhamos com distribuição de produtos químicos e isso requer que os nossos processos estejam integrados à segurança de todos. O nosso desafio é que não podemos falhar… a legislação nos exige a coleta das bombonas de produtos químicos. Isso requer um desafio logístico imenso. Por algumas vezes não conseguimos realizar as coletas dentro dos prazos… O SCOR é uma boa referência para nós, mas requer um controle muito incisivo das práticas. Só nesta perspectiva trabalhamos com 10 indicadores que precisam ser acompanhados diariamente”, diz o gerente de logística.

Ainda evidenciaram-se os seguintes relatos: “Atualmente, o nosso maior desafio é atender com rapidez e atingir as metas referentes aos custos operacionais, que muitas vezes são reflexos das perdas… trabalhamos com a logística reversa de nossas embalagens. Uma embalagem de ácido, por exemplo, não pode ser descartada ao ar livre e em lixeiras convencionais. Temos um planejamento de coleta conforme solicitação dos nossos clientes. Um dos problemas que temos aqui é que por algumas vezes recolhemos as embalagens de solventes e ácidos em nossos clientes e as empresas não coletam essas embalagens também no prazo. Isso, além de gerar acúmulo de materiais em nosso depósito, acarreta também perdas e impacta novas remessas de coletas. O SCOR nos ajuda bastante, mas muitas vezes ficamos reféns dos processos”, continua o gerente de logística.

Como última proposta de análise questionou-se o gestor de logística sobre a sua percepção do Modelo SCOR e da metodologia fulfillment aplicados ao sistema de logística reversa da empresa. Os fragmentos a seguir apresentam essas propostas: “O Modelo SCOR é uma grande referência para as operações da logística reversa, pois ele nos dá um direcionamento sobre as práticas operacionais que envolvem esse processo. Em seguida temos a metodologia do fulfillment que nos ajuda, e muito, nas etapas de entrega e pós-entregas. Na minha percepção, a relação entre os modelos é muito nítida. Enquanto o SCOR nos dá um direcionamento, o fulfillment nos oferece o controle dos nossos processos associados à logística reversa. Se, por um lado, precisamos absorver e adaptar as práticas que o SCOR nos apresenta, por outro precisamos ter indicadores que nos ajudam a mensurar a eficácia do nosso processo de logística reversa… As duas metodologias são complementares. Elas ajudam a empresa a mensurar e a avaliar os seus processos. Confesso que a tarefa não é fácil. É um desafio diário articular as duas ferramentas e extrair informações que nos ajudam na tomada de decisão. Mas, confesso que são excelentes ferramentas que nos ajudam muito no dia a dia da empresa”.

A partir dos últimos fragmentos citados observa-se a relação do Modelo SCOR e a metodologia fulfillment aplicados ao processo de logística reversa. Evidencia-se que ambos os processos contribuem diretamente para a otimização dos processos na empresa, porém precisam ser aplicados e acompanhados de forma criteriosa para que os resultados sejam satisfatórios. Não basta ter boas referências e indicadores se não houver um acompanhamento eficaz. Este acompanhamento é fundamental para a veracidade das informações que servirão como base para a tomada de decisões.

 

tabela 01

 

A figura 01 acima evidencia a importância da relação entre as três propostas em estudo. A empresa, ao adotar o Modelo SCOR com suas quatro métricas de avaliação (processos, desempenho, melhores práticas e pessoas) e a metodologia fulfillment com o objetivo de atendimento aos clientes de forma eficaz em seu processo de logística reversa, consegue gerenciar a sua cadeia de suprimentos com maior eficácia, agregando valor.

A partir da pesquisa foi possível evidenciar uma possível integração entre o SCOR e o fulfillment aplicados à logística reversa, porém o desafio é grande e o acompanhamento da rotina a partir da mensuração dos indicadores é fundamental para a gestão e otimização desses processos. O trabalho não é fácil, requer, acima de tudo, um verdadeiro compromisso do empresário, o qual deve estar disposto a envolver toda a equipe e direcionar todo o foco para o cliente final. É fundamental uma cultura de mensuração e análise de cada ponto da cadeia de valor e distribuição das responsabilidades de forma a agregar valor ao processo.

Compartilhe:
615x430 Savoy julho 2025
Veja também em Conteúdo
Pesquisa revela avanço na conscientização dos caminhoneiros e maior identificação de exploração sexual nas estradas
Pesquisa revela avanço na conscientização dos caminhoneiros e maior identificação de exploração sexual nas estradas
Prêmio NTC destaca os melhores fornecedores do transporte rodoviário de cargas do Brasil em 2025
Prêmio NTC destaca os melhores fornecedores do transporte rodoviário de cargas do Brasil em 2025
Grupo Lebes aposta em verticalização e logística avançada para sustentar expansão no Sul do país
Grupo Lebes aposta em verticalização e logística avançada para sustentar expansão no Sul do país
Diagnóstico inédito sobre seguros portuários revela entraves e riscos climáticos em terminais autorizados
Diagnóstico inédito sobre seguros portuários revela entraves e riscos climáticos em terminais autorizados
LTP Capital assume controle da ABC Empilhadeiras e amplia atuação na locação de equipamentos
LTP Capital assume controle da ABC Empilhadeiras e amplia atuação na locação de equipamentos
Fulwood conclui primeira fase de condomínio logístico em Pouso Alegre (MG) 100% locado
Fulwood conclui primeira fase de condomínio logístico em Pouso Alegre (MG) 100% locado

As mais lidas

01

Tendências que vão redefinir a logística em 2026: tecnologia, integração regional, sustentabilidade e novos fluxos globais
Tendências que vão redefinir a logística em 2026: tecnologia, integração regional, sustentabilidade e novos fluxos globais

02

Demanda global por transporte aéreo de carga cresce 2,2% em maio, segundo IATA
Demanda global de carga aérea cresce 4,1% em outubro e marca oito meses de alta

03

Concessões de rodovias em 2026 somam R$ 158 bilhões e ampliam segurança nas estradas, analisa Sinaceg
Concessões de rodovias em 2026 somam R$ 158 bilhões e ampliam segurança nas estradas, analisa Sinaceg