O setor de embalagens de madeira vem sofrendo com uma alta generalizada dos principais insumos usados na fabricação do produto final, que em alguns casos ultrapassa 30% no período de 12 meses. No caso da madeira, uma das matérias-primas mais representativas, o pinus subiu entre 16% e 19%, enquanto o eucalipto está 10% mais caro. Os pregos, por sua vez, tiveram aumento entre 28% e 34%. Esses números foram apurados através de uma pesquisa realizada pela ANAPEM (Associação Nacional dos Produtores de Paletes e Embalagens de Madeira), em um levantamento que ouviu cerca de 20% dos seus associados.
“A situação é momentaneamente complicada e de alguma maneira esses reajustes terão que se refletir nos preços finais,” explica Marcelo Canozo, presidente da ANAPEM.
Além das matérias-primas, outro item determinante para a cadeia de embalagens vem colaborando para aumentar a turbulência: o frete. Desde a greve dos caminhoneiros (realizada entre o fim de maio e o início de junho) os valores cobrados pelo transporte de madeira sofreram um sensível solavanco para cima. A oscilação varia de acordo com a região do país, sendo de 10% a 50% em algumas áreas e atingindo 100% em outras. O impacto para o setor foi tão severo que há empresas decididas a encampar a atividade e estabelecer frotas próprias de caminhões, na tentativa de exercer maior controle sobre seus custos.
AÇO E MADEIRA
A alta de cada insumo tem sua justificativa. O aumento de 34% no valor dos pregos é um reflexo dos recentes aumentos praticados pelas siderúrgicas nos preços do aço, que considerando os reajustes já anunciados para o final de agosto somam cerca de 30% no acumulado do ano. A explicação das usinas passa pela elevação nos preços dos próprios insumos (coque metalúrgico e carvão), pela alta nos fretes rodoviários, pela valorização do aço no mercado internacional e pelo dólar mais caro. Combinados, esses dois últimos fatores tornam menos interessante a importação do produto e consequentemente aumenta a pressão sobre os preços internos do aço.
A desvalorização da moeda brasileira também ajuda a explicar o encarecimento da madeira, insumo fundamental para o setor de embalagens. Como o mercado da construção civil nos Estados Unidos está aquecido, o real mais fraco tem servido de estímulo extra à exportação. Os embarques de madeira serrada, por exemplo, somaram aproximadamente US$ 665 milhões em 2017, um crescimento de 24% em relação a 2016 (US$ 537 milhões) e um aumento de 46% em relação ao que foi exportado em 2015 (US$ 455 milhões). O valor dos embarques nos sete primeiros meses de 2018 já atingiu US$ 411 milhões, o equivalente a 90% das exportações desse item pelo Brasil há dois anos. Os números fazem parte do acompanhamento mensal realizado pelo MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços).
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A isso soma-se uma oferta pressionada, especialmente no que diz respeito ao pinus. Os preços baixos e o fato de investimentos em reflorestamentos terem longa maturação têm feito com que áreas que poderiam estar cobertas pelas árvores sejam direcionadas a pecuária ou agricultura. Os números mais recentes, de 2016, dão conta de uma área plantada de 1,58 milhão de hectares com pinus no Brasil, uma redução de aproximadamente 16% (300 mil hectares) em dez anos, segundo João Carlos Mancini, sócio da Valor Florestal Gestão de Ativos Florestais. Desse total, a maior parte está distribuída pelos estados do Paraná (42%), Santa Catarina (34%), Rio Grande do Sul (12%) e São Paulo (8%).
Na mesma comparação, a área plantada com eucalipto cresceu 31% (1,8 milhão de hectares) em dez anos, totalizando 5,7 milhões de hectares no país em 2016. Nesse caso a maior concentração de reflorestamentos está em Minas Gerais (25%), São Paulo (17%), Mato Grosso do Sul (15%) e Bahia (11%).
Esse movimento se justifica em parte pelos preços baixos do pinus nos anos anteriores. Como o eucalipto tem um rendimento maior por hectare, alguns reflorestadores decidiram substituir uma variedade pela outra. A produtividade média dos reflorestamentos de eucalipto ficou em 35,7 metros cúbicos por hectare em 2016, 17% superior à do pinus (30,5 metros cúbicos por hectare). Os números sobre área plantada e rendimento fazem parte do documento “Florestas plantadas: oportunidades e desafios da indústria brasileira de base florestal plantada no caminho da sustentabilidade”, elaborado pela Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), a associação que representa a cadeia de árvores plantadas no país.
A retração no cultivo do pinus é uma tendência que ainda deve levar algum tempo para ser revertida, na opinião de Mauro Murara Junior, diretor da ACR (Associação Catarinense de Empresas Florestais). “Nos próximos 15 anos ainda teremos baixa disponibilidade de alguns tipos de matéria-prima”, afirma.
Existe ainda um outro fator que vem colaborando para puxar os preços da madeira para cima. Alguns dos grandes fornecedores de toras estão também entre os principais consumidores e vêm priorizando o suprimento das próprias indústrias, o que reduz a oferta ao mercado. “Isso é totalmente compreensível, uma vez que os volumes de produção atuais e os projetos de expansão dessas operações são sustentados pela madeira proveniente dos investimentos florestais anteriores”, explica Mancini. “Em resumo, o que estamos vendo é uma verticalização maior no setor, integrando florestas e indústria.”
Ao lado dos pregos, o insumo que mais subiu foi o OSB, uma chapa composta de fibras de madeira orientada, largamente utilizada tanto no segmento de embalagens quanto na construção civil. Essa matéria-prima teve o preço majorado em 34% no final do primeiro semestre e a explicação para o aumento passa pelo reajuste expressivo dos insumos, em especial a madeira. O aquecimento do setor de construção civil norte-americano também é apontado como justificativa para a pressão sobre os preços do produto no mercado interno.
Outro item que preocupa a indústria de embalagens são os reajustes expressivos nas tarifas de energia elétrica recentemente autorizados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A Cemig, que atende 774 municípios de Minas Gerais, promoveu um aumento de 35% na eletricidade fornecida às indústrias em maio, por exemplo. Já a Elektro, que serve 223 cidades do interior e litoral de São Paulo, reajustou a tarifa para os clientes industriais em 26% em agosto.
PULVERIZAÇÃO DAS COMPRAS
Os fabricantes de embalagens de madeira vêm tentando se equilibrar entre a alta dos custos de produção e um mercado cada vez mais resistente a entender a situação. Empresários têm procurado explicar aos clientes que será necessário repassar pelo menos uma parte dos aumentos de custos ao preço final. Algumas empresas também têm buscado desenvolver novos fornecedores. Além de abrir alternativas, a pulverização das compras amplia a margem de negociação para quem fabrica embalagens de madeira.
A ANAPEM tem se esforçado para manter seus associados informados sobre a conjuntura dos aumentos e recomenda aos fabricantes que mantenham o diálogo aberto, tanto com fornecedores quanto com clientes. “É preciso encontrar o caminho do meio”, afirma Canozo.