Segmento de plásticos envolve cargas frágeis, grandes volumes e alta demanda

20/08/2020

Produtos feitos com esse material exigem cuidado operacional, desde a coleta, passando pelo monitoramento até as entregas ao cliente final. Outra questão importante está relacionada ao descarte e à logística reversa.

 

A cadeia produtiva de materiais plásticos está presente em praticamente todos os setores da economia. Ela compreende desde os produtores de derivados de petróleo até os recuperadores de materiais plásticos.

A logística do setor é composta por produtos geralmente de alto peso, no caso de embalagens plásticas quando em bobinas e paletizadas para acondicionamento de alimentos, e também por produtos de fácil avaria, como no caso de embalagens pet, frascos ou Tapware, entre outros. “Normalmente são produtos de difícil acondicionamento, requerendo um maior cuidado na malha”, explica Anderson Perez, gerente comercial nacional da Alfa Transportes.

Para Igor Teles, gerente comercial da Log-In Logística Intermodal, a logística do plástico consiste em uma operação mais simples, “de prateleira”, como se costuma dizer. A empresa, por exemplo, na maioria das vezes, faz a gestão de toda a operação, desde a coleta até a entrega porta a porta. “Esse tipo de produto não exige um equipamento específico para seu transporte, como o contêiner. Porém, normalmente envolve contêineres com capacidade maior de armazenagem (40HC), em especial no caso de produtos de segunda geração do plástico, como PET, PE e PP, entre outros.”

Para alguns segmentos, a empresa transporta praticamente toda a cadeia, desde a matéria prima até o produto final. “No caso do plástico, não temos grande volume na primeira geração, que são derivados de petróleo, pois, normalmente, são transportados em navios tanque. Temos atuação forte a partir da segunda geração. Transportamos de tudo: baldes, tubos e conexões, vasilhames, garrafas pet, entre outros, e ainda fazemos a logística reversa de alguns produtos”, complementa Teles.

 

Exigências

Os embarcadores no setor de plásticos exigem que os Operadores Logísticos e as transportadoras entreguem a carga com maior eficiência e contem com rastreamento online, bem como tenham cuidado maior com higiene e limpeza, expõe Perez, da Alfa.

Teles, da Log-In, diz que quando se entra nessa cadeia na área de químico e petroquímico, existe a necessidade de atender algumas especificidades para o transporte. Como é o caso da exigência do MOPP, um curso especializado para transporte de produtos perigosos. “O motorista que opera na parte terrestre precisa ter habilitação adequada, além de que o veículo deve ser certificado pelo SASSMAQ – Sistema de Avaliação de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade. Também é importante ressaltar que existem alguns tipos de embalagens mais sensíveis ao calor que, muitas vezes, acabam sendo transportadas em contêineres refrigerados”, conta.

A questão crítica no atendimento ao segmento de plástico é a logística reversa, cuja estrutura atual é precária, comenta Wagner Machado Cardoso, diretor comercial da Maxton Logística e Transportes, que trabalha na operação de armazenagem da matéria prima de polipropileno. “Não poderia ser liberada nenhuma operação que não tivesse a responsabilidade da implantação da logística reversa, visando à manutenção do meio ambiente.”

Segundo Nilson Santos, diretor de Operações do Grupo TGA para Brasil e Mercosul, não pode faltar um bom planejamento estratégico. “Para isso, é fundamental conhecimento amplo sobre a finalidade e a funcionalidade do produto a ser transportado ou movimentado.”

 

Desafios

Para garantir a efetividade desse tipo de transporte é preciso entender bem a necessidade do cliente, salienta Teles, da Log-In. Geralmente, esse segmento transporta grande volume e tem uma demanda forte, em especial os produtos de segunda geração.

“O maior desafio é o cuidado operacional. É preciso ter um planejamento logístico eficiente desde a coleta, passando pelo monitoramento até as entregas ao cliente final. Também, em alguns produtos específicos, são cargas muito leves, o que possibilita melhor produtividade na capacidade dos navios”, acrescenta.

O maior problema de logística no setor, de acordo com Perez, da Alfa, é o manuseio dos produtos na malha de coleta, na transferência e na entrega. “Isso poderia ser resolvido através de treinamentos permanentes com os colaboradores”, conta.

Nesta questão, Cardoso, da Maxton, toca novamente no assunto do descarte e da logística reversa. “Deveria haver um projeto de lei com a obrigatoriedade de implantação com respectivo cronograma de comprometimento.”

 

Pandemia

Devido ao novo coronavírus, houve uma ligeira queda no transporte de plástico. “Por conta dessa baixa de volume, as indústrias, em geral, vão ter de se adaptar. Vamos, sem dúvida, sair desse cenário, e isso inclui todos, de uma forma diferente. Estamos aprendendo com esse momento”, conta Teles, da Log-In.

Segundo ele, a crise em si cria um ambiente propício para as pessoas buscarem oportunidades. “No caso da Log-In, que opera com navegação de cabotagem, movimentação portuária e soluções logísticas, emergimos como uma alternativa vantajosa. As empresas precisarão buscar redução de custos e, talvez, pontos que não estivessem considerando sobre a mudança de modal e da intermodalidade no passado serão agora repensados mais atentamente.”

Na opinião de Santos, do Grupo TGA, a mudança mais acentuada foi o cuidado ainda mais rigoroso com relação à embalagem, tanto no manuseio quanto no transporte. “Isso tem sido uma prioridade. Acredito que todas as mudanças serão agregadas aos serviços no pós-pandemia, pois o setor já tem incorporado essa evolução e a tendência é cada vez mais aprimorar”, expõe.

 

Embarcadores

THR – A empresa oferece sistemas para embalagens industriais, tanto na área de automação (desenvolvimento de projetos e máquinas) quanto no fornecimento de insumos, filme stretch, termoencolhível, fitas adesivas, fitas de arqueação, etc. Sua fábrica e seu Centro de Distribuição, com mais de 3.000 m², ficam em Itatiba, SP.

A THR trabalha com a Transcarga, Operador Logístico que embarca diretamente na unidade de Itatiba e redistribui as mercadorias. Essa operação corresponde a 50% dos embarques da empresa. Já 20% são por frete FOB. No caso, as transportadoras coletam na unidade de São Paulo, principalmente. Os outros 30% são frete CIF, através de motoristas autônomos e algumas transportadoras, como Exata Cargo, Transantos e Transmogi.

“Como distribuímos para todo o Brasil e para diversos segmentos, cada cliente requer uma avaliação de qual opção de transporte será utilizada, sempre levando em conta preço, qualidade da entrega e lead time”, revela Fabio Aparecido de Jesus Nascimento, gerente de logística da THR.

No frete CIF, são movimentados, em média, 10 veículos por dia, que correspondem a 10 viagens. As origens são Itatiba e São Paulo capital. Os destinos são toda São Paulo e Grande São Paulo, região de Campinas e outras regiões do estado, como São José dos Campos e Orlândia. A média diária é de 80 entregas. No frete FOB, são cerca de 20 a 30 embarques por dia. Os clientes são bastante pulverizados, e a empresa só atua com o transporte rodoviário.

O maior desafio logístico enfrentado no segmento de plásticos é conseguir atender à demanda do cliente no prazo e com a quantidade correta. “Hoje em dia, a maioria não faz estoque, ou o estoque é muito pequeno. Quando efetuam a compra, já estão no limite, deixando pouco prazo para a logística trabalhar”, explica Fabio.

Ele conta que a THR, assim como outras empresas, estão se adaptando à realidade: as indústrias utilizam o fornecedor como estoque. “Por isso investimos em ferramentas de controle e estamos continuamente desenvolvendo soluções a fim de atender essa necessidade do mercado. É um caminho sem volta”, expõe.

Por se tratar geralmente de um insumo, a logística neste setor requer acuracidade nos prazos e na quantidade solicitada pelo cliente. “Uma entrega errada pode parar a linha de produção de uma indústria automotiva, por exemplo.”

Para se adequar às exigências do mercado, a empresa utiliza sistemas para automatizar funções, dashboard e indústria 4.0. “O dashboard fornece informações em tempo real do andamento do pedido do cliente, interligando comercial e logística, o que possibilita antecipar alguma situação. Cada setor tem uma ou duas telas com atualização simultânea”, conta Fabio.

De acordo com o gerente de logística, o relacionamento da empresa com suas parceiras de transporte é bom, embora a maioria das transportadoras não tenha sistema TMS. “Quando um cliente solicita posição de entrega, temos de ligar ou mandar e-mail para saber.”

Sobre a Covid-19, Fabio diz que, infelizmente, o quadro de funcionários reduziu muito em decorrência da diminuição da demanda, e foi preciso reorganizar as funções.

Vemplast – Localizada em São Paulo, é uma indústria especializada em utilidades domésticas e peças de decoração feitas em polipropileno e policarbonato, tendo entre seus clientes cozinhas industriais, hotéis, redes de restaurantes, hospitais, escolas e bares. Em 2016, passou a investir também no consumidor final.

Seu Centro de Distribuição tem 2.300 m² e o estoque de mercadoria pós-fabricação fica em um galpão de 1.000 m². Todo o transporte é terceirizado. “Atualmente contamos com mais de 10 transportadoras, além dos Correios e motoboys para entregas urgentes. Todo o nosso atendimento é realizado em território nacional. De acordo com a demanda, as entregas são feitas pelas transportadoras de cada região”, explica Renata Oliveira, diretora administrativa.

Além do transporte rodoviário, a Vemplast usa o modal aéreo FOB para entregas urgentes solicitadas pelos clientes, além de encomendas internacionais com a finalidade de exportação.

O principal desafio enfrentado pela indústria, segundo Renata, é a disparidade de valores de frete e o prazo de entrega nas diferentes cidades e estados brasileiros. Desafio esse que ela acredita ser enfrentado por empresas de outros segmentos.

“Não há um órgão que regule ou controle os fretes, portanto, cada transportadora tem sua forma de cobrar, sem que haja um padrão de referência com custos de transportes por cidade ou região de acordo com peso ou cubagem. Há também uma diferença muito grande entre prazos de entrega, portanto, escolhemos aquelas que atendem nossas expectativas de prazos e custos”, revela.

Renata também diz que algumas transportadoras cobram custos diferenciados para os produtos frágeis. “No nosso caso, o risco que temos é só com manuseio das cargas para evitar possíveis danos às peças, como arranhões, pois nossos produtos são super-resistentes.”

Sobre diferenciais logísticos, a empresa toma todos os cuidados para que os produtos sejam bem acomodados nas caixas, evitando danos no manuseio. “Portanto, as companhias de transporte contratadas têm de atender e entregar as cargas tomando os devidos cuidados para que o cliente receba o produto em perfeitas condições e, caso ele manifeste problemas na entrega, substituímos a transportadora, evitando problemas futuros”, ressalta.

No geral, a Vemplast mantém um ótimo relacionamento com seus parceiros de transporte e logística. “Estamos bem alinhados para que todas as expectativas sejam atendidas. Nos casos em que, infelizmente, isso não ocorre, buscamos outro que possa oferecer o serviço necessário dentro dos nossos padrões”, expõe Renata. Os problemas mais comuns são troca de cargas, extravios de cargas (e/ou caixas), caixas violadas e alguns sinistros.

A empresa tem um departamento que controla todas as entregas, respeitando os prazos e os custos estabelecidos na política de venda, e acompanha o pós-venda, para que o cliente receba a mercadoria dentro do prazo estabelecido na compra.

Com relação à Covid-19, a empresa teve uma queda brusca nas vendas e, consequentemente, o volume de entregas diminuiu bastante. Muitas transportadoras aumentaram seus custos devido à baixa demanda e aumentaram seus prazos de entregas. “Por outro lado, tivemos um grande aumento de envios pelos Correios devido à crescente demanda nas vendas pelo nosso e-commerce.”

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