No terceiro trimestre de 2025, o panorama do roubo de cargas no Brasil passou por uma mudança relevante. A região Sudeste, que havia concentrado 90,8% dos prejuízos no mesmo período de 2024, recuou para 65,5% em 2025, uma queda de 25,3 pontos percentuais.
Apesar do recuo, o Sudeste permanece como a região mais crítica do país. Esse deslocamento, entretanto, indica uma pulverização das ocorrências para outras localidades, como o Norte, que não registrou prejuízos entre julho e setembro de 2024, mas alcançou participação de 12,2% em 2025.
Os dados são do relatório “Report nstech de Roubo de Cargas”, elaborado pela nstech, empresa de software para supply chain. O estudo utiliza informações apuradas pelas gerenciadoras de risco BRK, Buonny e Opentech, que integram o ecossistema da companhia e monitoram ocorrências de segurança no transporte.

Perfis regionais do roubo de cargas e novos estados críticos
No Sudeste, o levantamento mostra que 50,5% das perdas ocorreram em operações com cargas fracionadas e 27,1% envolveram transporte de alimentos. Já no Norte, a maior parte do prejuízo esteve associada ao transporte de eletrônicos, que representou 67,3% das perdas na região. Tocantins foi o estado com maior impacto, acumulando 82,7% dos prejuízos e concentrando a maior parte dos ataques às quartas-feiras (34,1%).
Entre os estados do Sudeste, houve mudanças expressivas: o Rio de Janeiro caiu de 45,2% no terceiro trimestre de 2024 para 21,4% em 2025; São Paulo passou de 38,4% para 22,3%; e Minas Gerais teve alta de 7,1% para 21,7%. Essa movimentação também foi observada em novas regiões afetadas.
“O ponto de atenção identificado pelo estudo da nstech é o surgimento de novos estados com participação relevante, na comparação entre 3T25 e 3T24: Tocantins (TO) aparece com 10,1%, sendo que no mesmo período do ano passado o estado não teve registros de prejuízo e a Paraíba surgiu com 4,7%, enquanto o Pará teve 2,1% de participação nos prejuízos. Esse cenário confirma a tendência de interiorização e expansão para rotas do Norte/Nordeste”, analisa Maurício Ferreira, VP de Inteligência de Mercado da nstech.
Tipos de cargas mais visadas e comportamento das quadrilhas
De julho a setembro de 2025, as cargas fracionadas continuaram como as mais visadas, representando 42,9% dos prejuízos. Entretanto, houve queda de 9,9 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2024. No caso dos eletrônicos, o relatório destaca que terças e quartas-feiras concentraram 78,2% dos prejuízos desse tipo de carga. A maior parte dos ataques contra eletrônicos ocorreu em Tocantins, onde o índice chegou a 71,2%.
Outras categorias, como gêneros alimentícios e itens de higiene/limpeza, também registraram redução nas ocorrências de roubo de cargas. Os índices caíram de 21,9% para 19,9% e de 13,5% para 9%, respectivamente. Para Ferreira, “A ligeira redução nesses segmentos, combinada com o crescimento dos eletrônicos, aponta para uma possível ‘pulverização’ dos riscos e diversificação dos alvos”.
Dias, horários e rotas mais perigosas do transporte
O relatório também revela mudanças significativas nos dias e horários mais críticos. A segunda-feira, que havia sido o dia mais perigoso no terceiro trimestre de 2024, com 24,9%, caiu para apenas 4% em 2025. Em contrapartida, domingo saltou de 12,5% para 21,1% e terça-feira avançou de 16,4% para 23,9%, tornando-se o dia líder em prejuízos.
O período das manhãs foi o mais perigoso em 2025, concentrando 37,2% dos prejuízos, contra 15,1% em 2024. A madrugada, que era o horário mais crítico no ano anterior, recuou de 31,6% para 14,2%. “Essa inversão representa uma mudança tática dos criminosos, que passaram a agir em horários de pico nas operações de distribuição de cargas, explorando rotinas operacionais previsíveis das empresas”, explica Ferreira.
Quanto às rotas, a participação de áreas urbanas caiu de 41,3% no terceiro trimestre de 2024 para 21,7% no mesmo período de 2025. Entre as rodovias mais críticas, a BR-381 liderou com 15% dos prejuízos — mais que o triplo dos 5,4% registrados no período anterior. Outras rotas interestaduais, como BR-050, BR-230 e BR-010, registraram participações entre 4,2% e 5,9%. A PR-323 acumulou 4,9%.
Por fim, o estudo destaca que estratégias de mitigação adotadas pelo ecossistema nstech resultaram em R$ 165 milhões recuperados ou em roubos evitados entre janeiro e setembro de 2025, um aumento de 18% em comparação com 2024. Embora os ataques tenham crescido 13,5%, a taxa de sinistralidade dos clientes recuou 6,5%, indicando maior eficiência nas ações de gerenciamento de risco.






