Fábrica da Braskem no México promete ser mais rentável que no Brasil

18/11/2015

A petroquímica Braskem Idesa planeja iniciar na segunda metade de dezembro a produção de polietileno, um plástico usado em desde sacolas de supermercado até a fabricação de tubulações, em uma nova unidade na zona industrial de Coatzacoalcos, no golfo do México.

O megainvestimento de US$ 5,2 bilhões —com financiamento de US$ 700 milhões do BNDES— deixa na lanterna a rentabilidade da produção da Braskem no Brasil e parte de uma joint venture entre a petroquímica brasileira e a mexicana Idesa.

A Braskem tem 38% de suas ações controladas pelo Grupo Odebrecht, 36% pela Petrobras e 26% por outros acionistas. Além da nova unidade no México, a Brasquem está construindo uma unidade em Houston, nos Estados Unidos.

Ao contrário do que ocorre no Brasil, onde a maior parte da produção da Braskem é feita a partir da nafta, um derivado do petróleo, a fábrica de Coatzacoalcos usará como matéria-prima o etano proveniente do gás de xisto.

É a primeira unidade das Américas construída do zero depois que se iniciou a exploração massiva desse tipo de rocha nos Estados Unidos via técnica do fraturamento hidráulico, que trouxe para níveis historicamente baixos o preço do etano cotado nos EUA.

A Braskem bancou 75% do investimento, enquanto Idesa responde por 25% do valor investido.

“O polietileno produzido [no Brasil] a partir da nafta é menos competitivo e está sempre sendo mais desafiado do que o produzido a partir do etano”, afirma Carlos Fadigas, presidente da Braskem.

Segundo o executivo, a rentabilidade de uma unidade produtora a partir do etano tende a ser no mínimo o dobro do que a de uma unidade produzida a partir da nafta.

“A Europa está fechando fábricas, está em dificuldade. O presidente da maior associação de petroquímicas europeia enviou uma carta para o presidente da União Europeia dizendo ‘nós estamos virando dinossauros, vamos morrer, nosso produto não tem competitividade”.

Apesar de o produto brasileiro ser baseado, hoje, exatamente na cotação europeia, Fadigas afirma que há espaço para ambos os produtos no mercado.

A diferença entre a matéria-prima brasileira e a mexicana se acentua com os termos do contrato firmado em 2009 com o governo do país para fornecimento do gás através da estatal Pemex.

O acordo prevê o suprimento por 20 anos do etano a um preço abaixo da cotação de Mont Beuviel, do Estado americano da Louisiana, atualmente ao redor de US$ 135 por tonelada.

Ele foi fechado após concorrência com outras 31 empresas, em um contexto de abertura do mercado petroquímico do país e quebra do monopólio da estatal Pemex.

“A Pemex não podia fazer tudo e estava usando técnicas rudimentares. Não queremos mais um mercado concentrado, mas um ecossistema empresarial”, afirmou Pedro Joaquín Coldwell, secretário de Energia do país.

A Braskem Idesa não revela o valor do desconto, mas, segundo Cleantho Leite Filho, diretor de relações institucionais da empresa, ele equivale aos benefícios concedidos a grandes produtores do setor nos Estados Unidos.

O etano será fornecido pela Pemex a partir do gás natural obtido junto à extração de petróleo do campo de Campeche, no golfo do México.

A nafta, usada em 68% da produção de eteno (base para o polietileno) da empresa no Brasil tem preço referenciado na cotação europeia ARA (sigla que faz referência aos portos de Amsterdã, Roterdã e Antuérpia), valor três vezes maior do que o de Louisiana.

Fadigas prevê que seja fechado com a Petrobras até o dia 15 de dezembro um acordo com termos mais favoráveis para fornecimento da matéria-prima. O último acordo de fornecimento a longo prazo foi assinado em 2009, mas já expirou.

O fornecimento tem sido mantido com base em cinco aditivos contratuais. O mais recente deles foi assinado no final de outubro, e deve vencer no dia 15 de dezembro.

A queda de braço entre Braskem e Petrobras se acentuou com denúncias de favorecimento ilícito levantadas pela Operação Lava Jato e por um parecer do Tribunal de Contas da União) segundo o qual a Petrobras teria tido prejuízo com o acordo de 2009.

BALANÇA COMERCIAL

A planta mexicana tem capacidade de produção de um milhão de toneladas de polietileno de baixa densidade por ano –no Brasil, a capacidade de produção de polietileno da Braskem, construída ao longo de quatro décadas, é de 3 milhões de toneladas.

Ela servirá para substituir parte do deficit das importações do setor químico no México, que chegam a US$ 20 bilhões, segundo a Aniq (Associação Nacional da Indústria Química). De acordo com a Braskem, a balança comercial terá alívio de US$ 1,5 bi a US$ 2 bilhões com a nova planta.

Além do impacto positivo na balança comercial, a unidade movimentará a indústria petroquímica mexicana, que não cresce há 16 anos, também segundo a Aniq.

Atualmente, a empresa está fornecendo o polietileno, a partir da produção brasileira, para 350 clientes mexicanos, como forma de abrir mercado antes do início da produção da fábrica.
Inicialmente espera-se vender 40% da produção para consumidores estrangeiros e o resto para o mercado mexicano, hoje com forte presença de fornecedores americanos.

Como o polietileno é uma commodity, a disputa não deve ocorrer com guerra de preços, mas sim com ganho de logística.

Além do BNDES, também participaram do financiamento da unidade o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), International Finance Corporation (ligado ao Banco Mundial), Agência de Crédito Italiana, Banco de Desenvolvimento do México (Banco Mext) e Nascinsa.

De acordo com Leite Filho, um dos motivos pelos quais a empresa buscou um sócio nacional foi o objetivo de driblar a resistência nacionalista em um setor cuja abertura se iniciou após quase três quartos de século de controle estatal.

Fonte: Folha de S. Paulo

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