Boas práticas evitam acidentes na movimentação de cargas perigosas e materiais pesados em pátios e armazéns

Elas combinam tecnologia, treinamentos constantes, organização do espaço e uma cultura sólida de segurança. O objetivo é um só: prevenir acidentes e proteger vidas em ambientes logísticos cada vez mais dinâmicos e automatizados.

A segurança nas operações logísticas segue como uma das principais preocupações de empresas, sindicatos e
órgãos reguladores. Dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) revelam que aproximadamente 35% dos acidentes registrados nesse setor estão ligados à movimentação de cargas e à circulação de veículos em pátios e armazéns. O cenário é agravado quando se considera a movimentação de materiais pesados e produtos perigosos.

Entre 2012 e 2021, o Brasil registrou mais de 37 mil acidentes com máquinas e equipamentos, conforme levantamento do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho. Muitos desses casos decorreram de falhas na sinalização e na gestão do tráfego interno, segundo o órgão.

Como evitar acidentes

Os principais riscos

Segundo Adriano Luiz Finotti Bailoni, advogado trabalhista da Hemmer Advocacia, os maiores riscos em ambientes logísticos envolvem tanto os aspectos físicos quanto os ergonômicos. “Há acidentes provocados por colapsos de estruturas de armazenamento, quedas de cargas durante a movimentação ou de altura, em caso de amarração incorreta de caixas e outros materiais armazenados, e atropelamentos, bem como esforços repetitivos e além da capacidade do trabalhador, que podem gerar lesões graves capazes de incapacitar o operador temporária ou definitivamente”, explica.

No que se refere a produtos perigosos – sejam químicos ou explosivos, como combustíveis e gás –, os riscos aumentam. “Derramamentos ou vazamentos de produtos e gases que, em contato com a pele, olhos ou sistema respiratório, podem causar graves lesões, e misturas acidentais de químicos podem ocasionar reações químicas e até explosões ou a produção de faíscas que, em caso de combustíveis, também resultam em incêndios e até explosões, que colocam em risco a integridade física e até a vida do trabalhador”, alerta Bailoni.

A visão é compartilhada por Maicon Freitas, gerente Corporativo de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da ID Logistics Brasil. Ele aponta que derrames químicos, que podem causar intoxicações e reações perigosas; quedas de materiais, geralmente por condições de embalagens, movimentação ou armazenagem inadequada; e colisões entre máquinas e equipamentos com produtos ou infraestrutura, especialmente em áreas com espaços restritos, estão entre os eventos mais recorrentes. “Monitoramos com atenção também os riscos de incêndios e explosões, especialmente com produtos inflamáveis, além da exposição a substâncias tóxicas por falhas de contenção”, detalha.

Já Eros Viggiano, CEO e fundador da LogPyx, lista seis ocorrências críticas em pátios e armazéns:

• Queda de materiais pesados: Acidentes com materiais pesados costumam ocorrer durante movimentações mal executadas com empilhadeiras, paleteiras ou guindastes, apresentando alto risco de esmagamentos e traumas graves;

• Colisões entre veículos e pedestres: A ausência de rotas segregadas, a visibilidade limitada e a distração de operadores ou pedestres aumentam significativamente o risco de atropelamentos e colisões entre veículos;

• Exposição a substâncias químicas perigosas: Vazamentos, derramamentos ou a má manipulação de produtos inflamáveis, corrosivos ou tóxicos podem resultar em queimaduras, intoxicações graves e contaminações ambientais;

• Incêndios ou explosões: O armazenamento inadequado de produtos incompatíveis ou falhas elétricas próximas a materiais inflamáveis podem desencadear incêndios ou explosões com consequências catastróficas, especialmente sem uma resposta rápida;

• Quedas de altura: Quedas de estantes, docas ou plataformas durante empilhamento manual ou inspeções são acidentes frequentes e particularmente perigosos em operações de carga e descarga;

• Lesões por esforço repetitivo ou manejo incorreto: Lesões são comuns no manuseio manual de cargas pesadas sem técnica adequada, resultando em doenças osteomusculares e afastamentos frequentes do trabalho.

Junior Orbolato, diretor Comercial da Netmak Empilhadeiras, explica que a raiz dos acidentes está na ausência de protocolos claros, treinamentos regulares e manutenção preventiva. “Vemos tombamentos de cargas especialmente em pisos irregulares ou mal nivelados; quedas de materiais empilhados por excesso de altura ou paletização incorreta; derramamento de produtos químicos causado por colisões ou embalagens danificadas; atropelamentos e colisões com empilhadeiras e transpaleteiras por falta de sinalização e rotas definidas; e exposição a agentes perigosos por vazamentos ou recipientes comprometidos”, enumera.

Já Humberto Mello, diretor da Tria Empilhadeiras, aponta a tecnologia como aliada da segurança operacional. “Tombamentos de cargas, colisões entre empilhadeiras e estruturas e vazamentos químicos, além de atropelamentos em áreas de circulação compartilhada, são comuns, geralmente causados por uso inadequado dos equipamentos, falta de manutenção, excesso de peso transportado ou má sinalização”, diz. Ele destaca que é por isso que o uso de empilhadeiras modernas é fundamental para uma operação segura, uma vez que elas contam com recursos de segurança como sensores de presença, limitadores de velocidade e alertas visuais/sonoros.

Normas de segurança e regulamentações

Parece óbvio que o manuseio e o armazenamento de produtos perigosos exigem atenção redobrada tanto às normas técnicas quanto às condições físicas e mentais dos trabalhadores. O descumprimento dessas diretrizes pode resultar em acidentes graves, com consequências que ultrapassam os prejuízos financeiros, atingindo diretamente a integridade dos profissionais envolvidos.

De acordo com Bailoni, da Hemmer Advocacia, a segurança, medicina e saúde do trabalho são obrigações da empresa, conforme estabelece o Capítulo V (Da Segurança e da Medicina do Trabalho) da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ele destaca que também há normas específicas que devem ser rigorosamente seguidas, como a NR-11, que trata do transporte e armazenagem de materiais, e a NR-20, que regula o manuseio seguro de inflamáveis e combustíveis.

Entretanto, há um fator silencioso e muitas vezes ignorado nesse contexto: a fadiga e a sonolência dos trabalhadores, especialmente em ambientes de alto risco.

Para Sidnei Canhedo, mestre em Saúde Ambiental e gestor da Optalert, o Brasil possui legislações que tocam indiretamente esse tema, como o artigo 198 da CLT, que limita o peso que um trabalhador pode carregar a 60 kg, e o artigo 199, que determina que é obrigatória a colocação de assentos que assegurem postura correta ao trabalhador, e que evitem posições incômodas ou forçadas, sempre que a tarefa exigir que ele fique sentado. E quando o serviço for executado em pé, os empregados devem ter à disposição assentos para serem utilizados nas pausas que o serviço permitir. “Mas a fadiga vai além da ergonomia. Ela é caracterizada pelo fato de que o trabalhador se encontra em um estado de exaustão, tendo muitas vezes sintomas como falta de energia, dificuldade de concentração, irritabilidade e desmotivação. Resumindo, a fadiga é uma sensação de estar cansado o tempo todo”, explica.

Há ainda a lei 13.103, de 2 de março de 2015, conhecida como a Lei dos Motoristas, que regulamenta, principalmente, a questão das horas ao volante, determinando um tempo de descanso diário dos motoristas estipulado em 11 horas diárias e ininterruptas.

“A Associação Brasileira do Sono recomenda entre 7 e 9 horas de sono por dia, mas a média nacional é de apenas 6,4 horas”, alerta Canhedo. Todo esse somatório de fatores, que unem horas excessivas, falta de descanso e condições de trabalho que exigem muito fisicamente do colaborador, acarreta em fadiga e sonolência. “Muitas vezes, os que manuseiam produtos perigosos, seja manualmente ou atrás de um volante, sofrem acidentes que podem ser fatais.”

Inspeção regular

Mais do uma prática burocrática, as inspeções regulares de equipamentos e áreas de armazenamento são fundamentais para identificar e mitigar falhas antes que elas evoluam para acidentes com alto potencial de dano humano e financeiro.

Segundo Bailoni, da Hemmer Advocacia, a inspeção regular atua como um “check-up preventivo” que identifica e corrige falhas antes que se transformem em acidentes, tendo como objetivos a detecção precoce de problemas em maquinário e infraestrutura; prevenção de acidentes em cascata, ou seja, aqueles que podem desencadear múltiplos acidentes, como, por exemplo, o colapso de prateleiras atingindo produtos perigosos próximos; detecção de perigos não óbvios, que vão se agravando lentamente com o passar do tempo, como degradação de materiais de contenção, corrosão em estruturas metálicas e outros; otimização de processos de segurança, que podem sempre ser aperfeiçoados; e a implantação de uma cultura de segurança ativa capaz de demonstrar e internalizar aos funcionários a importância do procedimento seguro e seus benefícios.

Bailoni destaca também o impacto econômico dessas ações: “A prevenção sempre terá um custo muito menor que a reparação material (estrutura da empresa) ou física (acidentes de trabalhos com perda da capacidade laborativa e até morte) que pode levar à inviabilidade da continuidade do negócio”.

Por fim, a inspeção regular age como um “sistema imunológico” operacional, criando resistência contra acidentes através da identificação e correção contínua de vulnerabilidades. “Quando bem implementada, a minimização de acidentes graves traz reduções de custos significativos para a empresa.”

“Assim, todas as empresas, não somente as do ramos de movimentação de cargas e produtos perigosos, devem estar cientes da importância da implementação e do acompanhamento contínuo quanto à segurança, saúde e medicina do trabalho, pois está devidamente comprovado que um empregado que labora em um ambiente seguro produz mais, com menos afastamentos por problemas físicos e psicológicos, resultando em aumento da produtividade da empresa, provando que valores gastos em segurança, medicina e saúde no ambiente de trabalho não são despesa, mas sim investimento com retorno que pode fazer a diferença na manutenção do próprio negócio”, completa o advogado trabalhista da Hemmer Advocacia.

Na visão de Viggiano, da LogPyx, as inspeções devem abranger todos os aspectos dos pátios e armazéns – especialmente quando envolvem equipamentos pesados e estruturas de armazenamento “A detecção precoce de falhas mecânicas em empilhadeiras, transpaleteiras e pontes rolantes – como desgaste em freios, pneus, sensores e sistemas hidráulicos – permite intervenções antes que ocorra uma falha operacional, evitando colisões ou quedas de carga”, afirma.

Além disso, ainda segundo o CEO da LogPyx, a identificação de áreas com risco de obstrução ou má sinalização é essencial. Estocagens desorganizadas, com paletes fora de posição ou excesso de carga, criam pontos cegos e zonas de risco para o tráfego de pessoas e veículos. Sinalizações apagadas, espelhos danificados e a ausência de demarcações no piso comprometem a visibilidade, aumentando o risco de atropelamentos.

Outro ponto crítico citado por ele é o estado dos sistemas de emergência: extintores, alarmes, iluminação de emergência e sensores de presença. “Garantir que esses itens estejam operacionais é vital para uma resposta rápida em casos de incêndio ou vazamentos.”

O fundador da LogPyx destaca ainda que as inspeções também devem abranger a integridade estrutural de estantes metálicas, plataformas elevadas e docas de carga. Rachaduras, corrosão ou sinais de instabilidade podem indicar risco iminente de colapso ou soterramento, e devem ser tratados preventivamente.

“Por fim, a frequência e a padronização das inspeções contribuem para consolidar uma cultura de segurança no ambiente de trabalho. Com o tempo, os próprios operadores passam a identificar e reportar riscos de forma espontânea, promovendo um ambiente mais seguro, consciente e colaborativo”, completa.

Mesmo com tecnologias mais modernas e equipamentos de baixa manutenção, a inspeção contínua é indispensável. É o que defende Mello, da Tria Empilhadeiras. “Apesar de as empilhadeiras a lítio precisarem de pouca – ou quase nenhuma – manutenção, recomendamos que as inspeções regulares sejam mantidas, pois elas permitem identificar desgastes, falhas ou vazamentos antes que causem acidentes.”

Para Mello, o foco também deve estar na organização do armazém e no estado das vias de circulação. “Revisar a organização do armazém, como a disposição das cargas e o estado das vias de circulação, ajuda a evitar colisões, tombamentos e obstruções que comprometam a segurança de operadores e pedestres.”

Procedimentos de segurança

O transporte interno de materiais pesados em pátios e armazéns exige procedimentos rigorosos para evitar acidentes como quedas, esmagamentos, tombamentos e colisões, procedimento estes previsto, como já citado, na NR-11 – Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais, que traz a regulamentação mínima necessária para um ambiente de trabalho seguro em tais áreas.

Segundo Bailoni, da Hemmer Advocacia, dentre as medidas de segurança essenciais na área de movimentação de carga, estão: 1) definição de rotas seguras para os equipamentos e maquinas e funcionários, com vias sem obstáculos e bem sinalizadas, sinalização adequada, luzes de alerta e sinais sonoros; 2) verificação correta da compatibilidade entre maquinários e o peso da carga; 3) verificação diária dos equipamentos por meio de checklist para avaliação das condições de freios, pneus, cabos, correntes, estruturas de suporte e outros equipamentos para a devida manutenção preventiva; 4) adoção de técnicas seguras de carga e descarga, seja por meio de maquinário ou manual; 5) implantação e uso correto dos EPIs e EPCs necessários para a atividade e ambiente; 6) treinamento e supervisão contínua, com reciclagens periódicas e adaptação as eventuais mudanças no ambiente de trabalho; 7) implantação de planos de emergência em caso de acidentes com rotas de fugas, extintores, kit de primeiros socorros, chuveiros de emergência em caso de produtos químico, dentre outras obrigações previstas na NT-11.

Empresas de grande porte vêm incorporando tecnologia avançada nos seus protocolos internos. Na ID Logistics, por exemplo, todos os equipamentos de movimentação são dotados de dispositivos de segurança, como sinalizações luminosas (blue spot/redzone), sensor anti-start para cinto de segurança, controle de velocidade, inibidores de manobras simultâneas, telemetria, entre outros. E passam por inspeções periódicas.

“Nossas rotas são bem definidas, com separação clara entre veículos e pedestres. Todos os operadores são certificados, recorrentemente treinados e monitorados em relação ao comportamento seguro”, explica Freitas.

O gerente Corporativo de Saúde, Segurança e Meio Ambiente na ID Logistics Brasil também destaca a importância de utilizar equipamentos adequados para cada tipo de carga e piso e a realização de auditorias frequentes para garantir a conformidade com os procedimentos.

Orbolato, da Netmak Empilhadeiras, também reforça a necessidade de compatibilidade entre o equipamento e o tipo de piso, garantindo tração e estabilidade, e o treinamento dos operadores em condução, frenagem e estabilidade da carga.

Sinalização adequada

O tema agora é a sinalização adequada e a organização do espaço físico em pátios e armazéns – fatores muitas vezes subestimados, mas que desempenham um papel crucial na prevenção de acidentes com empilhadeiras, pedestres e cargas perigosas.

Segundo Bailoni, da Hemmer Advocacia, a sinalização do ambiente onde há trafego de maquinários e pessoas precisa ser mais do que uma exigência legal: deve ser clara e intuitiva, com faixas e sinalização escrita e luminosa, para que haja uma fácil compreensão dos empregados, em caso de necessidade de respostas rápidas.

E sempre associada a um programa contínuo de treinamento e supervisão. “Muito acidentes ocorrem por distração do próprio empregado, como uso de celulares, não uso ou falta de EPIs etc. Assim, a empresa deverá sempre estar atenta para as condições de segurança no ambiente de trabalho”, aconselha o advogado trabalhista.

Na ID Logistics Brasil, a atenção aos detalhes visuais e à organização do espaço é parte integrante da cultura de segurança. “Nossos armazéns contam com placas de advertência, faixas de pedestres, espelhos e demarcações no piso, que orientam o tráfego de equipamentos e pessoas, todos com a finalidade de manter nossos times em alerta sobre os principais riscos operacionais”, relata Freitas. “As rotas de fuga estão sempre desobstruídas e bem indicadas, o que é crucial em emergências. Além disso, mantemos os espaços organizados para evitar quedas, tropeços e erros operacionais. A boa organização também melhora a eficiência e reduz o estresse operacional, o que impacta diretamente na segurança”, completa.

“Boa sinalização e organização reduzem riscos como colisões, quedas de carga e atropelamentos”, afirma Orbolato, da Netmak Empilhadeiras.

Entre as ações essenciais, o diretor comercial relaciona:

• Zonas de circulação bem definidas, com pintura no piso e barreiras físicas;

• Placas visíveis indicando fluxo, risco e pontos de parada;

• Iluminação adequada em corredores e áreas externas;

• Layout padronizado, sem obstruções ou acúmulo de materiais;

• Espelhos convexos e alarmes sonoros em cruzamentos e pontos cegos;

• Identificação de produtos perigosos.

Cultura de segurança

Como já mencionado, a cultura de segurança dentro das empresas – mais do que cumprir normas – estabelece um padrão de comportamento coletivo que prioriza a vida, a integridade física e a continuidade das operações.

Segundo Viggiano, da LogPyx, a cultura de segurança “tem papel central na prevenção de acidentes com produtos perigosos e materiais pesados porque define o comportamento coletivo da empresa diante do risco”. Para ele, quando essa cultura é bem desenvolvida, os colaboradores – da diretoria ao chão de fábrica – passam a agir com atenção, responsabilidade e proatividade, seguindo procedimentos, usando EPIs corretamente e reportando situações inseguras antes que virem acidentes.

Essa visão também é compartilhada por Mello, da Tria Empilhadeiras. Para ele, a cultura de segurança é o “alicerce para prevenir acidentes”, especialmente no manuseio de produtos perigosos, combustíveis, substâncias químicas e cargas de grande peso.

“Empresas que tratam a segurança como prioridade, treinam constantemente seus colaboradores e adotam procedimentos claros de operação que reduzem drasticamente os riscos”, afirma Mello.

Não se trata apenas de proteger a equipe interna, mas também de orientar clientes e parceiros com treinamentos operacionais e orientação sobre o uso seguro de empilhadeiras, plataformas e outros equipamentos, sempre em conformidade com a NR-11 e outras normas de segurança, diz o diretor.

Treinamento adequado

Assunto já tratado aqui, mas que merece especial atenção, o treinamento de funcionários na prevenção de acidentes envolvendo produtos perigosos e materiais pesados é, mais do que uma exigência legal, o preparo adequado e um investimento estratégico que protege vidas, patrimônio e reputação corporativa.

Para o advogado trabalhista Bailoni, da Hemmer Advocacia, o treinamento é um dos pilares mais importantes para a prevenção de acidentes com produtos perigosos e materiais pesados em pátios e armazéns. Sua contribuição se dá em várias frentes, desde a conscientização até a aplicação de técnicas seguras.

Ele lembra que é essencial as empresas manterem seus laudos de análise de risco ambiental, segurança e saúde (LTCAT, PGR e PCMSO) atualizados, bem como a efetiva inspeção do técnico ou engenheiro de segurança para acompanhamento e aplicação das medidas de segurança, legais e eventualmente implantadas pela própria empresa. “Normas de segurança devem ser cumpridas por todos os empregados, independentemente do nível hierárquico. A recusa no cumprimento de tais normas, como a utilização correta dos EPIs, dentre outras, pode resultar na aplicação de medidas disciplinares e até a dispensa do empregado por justa causa, pois este coloca tanto a sua vida como a dos outros empregados em risco”, alerta Bailoni. Ele faz questão de ressaltar que o treinamento não é apenas uma obrigação legal, mas uma ferramenta vital para evitar tragédias. “Funcionários bem treinados agem com prevenção, segurança e responsabilidade, protegendo a si mesmos, a equipe e o ambiente de trabalho.”

Na ID Logistics Brasil, o treinamento é considerado um dos alicerces da cultura de segurança. Segundo Freitas, a capacitação dos colaboradores permite identificar riscos antecipadamente e executar as tarefas com precisão.

“Funcionários bem treinados compreendem a importância dos procedimentos, executam a sequência dos procedimentos operacionais com precisão e têm um nível maior de engajamento com os programas e ferramentas de segurança”, destaca. Freitas também enfatiza a preparação para situações de emergência, como vazamentos químicos ou incêndios. Isso não só reduz a possibilidade de os acidentes ocorrerem, mas também fortalece o senso de cuidado e responsabilidade coletiva.

O diretor Comercial da Netmak Empilhadeiras também destaca que funcionários bem preparados reconhecem riscos, seguem procedimentos com precisão e agem corretamente em situações críticas.

Orbolato relaciona que o treinamento adequado deve envolver:

• Identificação e manuseio seguro de produtos perigosos (NR-20, FISPQ);

• Técnicas de movimentação de cargas pesadas;

• Uso correto de EPIs;

•  Capacitação contínua para operadores de empilhadeiras (NR-11).

Mas, a prevenção de acidentes com produtos perigosos e materiais pesados vai muito além do uso correto de EPIs e da sinalização adequada. Em muitos casos, o fator humano é decisivo — especialmente quando envolve fadiga, hábitos de vida e bem-estar físico e mental dos trabalhadores.

Para Canhedo, da Optalert, o treinamento eficaz e contínuo é fundamental, mas ele precisa ser feito de forma atraente e que estimule a conscientização. Não basta repassar informações técnicas. É preciso formar uma nova mentalidade de prevenção, que ultrapasse os limites da empresa e alcance também a rotina pessoal dos colaboradores, destaca.

Segundo Canhedo, durante a implementação dos sistemas de monitoramento da Optalert – que utiliza inteligência artificial para avaliar sinais de fadiga e riscos fisiológicos – a empresa promove treinamentos que envolvem orientações específicas sobre o comportamento que os funcionários devem adotar fora do expediente.

“Dormir ao menos 8 horas, manter alimentação balanceada e leve e evitar o consumo de álcool ou medicamentos que possam causar sonolência antes do trabalho são cuidados essenciais para quem lida com produtos perigosos ou cargas pesadas”, explica.

Uma noite mal dormida ou um desajuste físico grande na noite anterior ao trabalho pode se transformar na causa de um grave acidente. Mudar esse mindset por meio de treinamentos e palestras de conscientização é fundamental e traz resultados significativos, inclusive na vida familiar do colaborador, finaliza.

Melhores práticas

Finalizando, resta saber quais as melhores práticas e exemplos de empresas que implementaram com sucesso medidas para evitar acidentes com produtos perigosos e materiais pesados em seus pátios e armazéns.

Para Viggiano, da LogPyx, os melhores exemplos de sucesso partem da integração entre tecnologia, processos bem estruturados e uma cultura sólida. “Para lidar com os riscos inerentes ao manuseio de cargas perigosas e materiais pesados, muitas organizações têm adotado sensores inteligentes, sistemas de análise de dados, fluxos logísticos organizados, treinamentos realistas e checklists digitais. No entanto, o que realmente diferencia ambientes seguros é a cultura de atenção mútua – um compromisso coletivo em que cada colaborador zela não apenas por si, mas também pelos demais. Alertar colegas sobre falhas, interromper atividades inseguras e garantir o uso correto dos EPIs tornam-se atitudes naturais, reforçando a prevenção em todos os níveis”, afirma.

Entre as práticas mais eficazes e inovadoras, destaca-se o monitoramento contínuo com análise de comportamento. Em diversos armazéns industriais, dispositivos vestíveis detectam comportamentos como corridas, paradas bruscas ou colisões, gerando painéis analíticos com indicadores de risco por área e por turno. Isso permite intervenções corretivas em tempo real e treinamentos baseados em evidências concretas.

“A capacitação com simulações realistas também ganha força. Treinamentos periódicos com realidade aumentada, que simulam vazamentos ou quedas de carga, tornam os colaboradores mais preparados para reagir com rapidez e eficácia em situações críticas”, acrescenta o fundador da LogPyx.

Outro recurso importante são os sensores de proximidade, que emitem alertas automáticos sempre que operadores, pedestres ou máquinas se aproximam de zonas de risco, como rotas de empilhadeiras ou áreas com produtos inflamáveis. Essa tecnologia reduz drasticamente o risco de colisões entre pessoas e máquinas, além de evitar choques entre veículos.

Nos bastidores, prossegue Viggiano, a manutenção preditiva tem se mostrado essencial. “Empresas de e-commerce e Operadores Logísticos, por exemplo, adotam checklists digitais integrados a sistemas de manutenção, priorizando a inspeção de equipamentos com maior exposição a riscos – como empilhadeiras que circulam em áreas com produtos perigosos.”

Por fim, a reorganização de layout e a segregação de fluxos também contribuem significativamente. Algumas indústrias redesenharam seus pátios com zonas dinâmicas, controlando a circulação de pedestres por meio de sistemas de detecção e acesso inteligente. “Além disso, o tráfego de cargas perigosas passou a ser monitorado por alertas automáticos e registros históricos de movimentação, garantindo maior controle e rastreabilidade das operações”, diz o fundador da LoPyx.

A modernização do maquinário também é parte fundamental dessa transformação. Mello, da Tria Empilhadeiras, destaca o avanço das empilhadeiras elétricas com baterias de lítio e sistema BMS (Battery Management System). “Esse sistema garante maior segurança no gerenciamento das baterias, além de oferecer autonomia operacional e eliminar os riscos associados a motores a combustão em ambientes fechados”, explica.

Segundo Mello, empresas que adotaram esse tipo de equipamento também colheram outros benefícios, como redução de ruído, maior controle no manuseio de cargas e um ambiente de trabalho mais saudável.

Participantes desta matéria

Hemmer Advocacia – Tem o propósito de entregar soluções jurídicas a empresas e grupos familiares, acompanhando assuntos legais no nível tático e estratégico. É especialista no atendimento dos setores de construção pesada, construção civil, incorporação, imobiliário, agronegócio, indústria, mineração e nos segmentos dos contratos administrativos e licitações públicas.

ID Logistics Brasil – O Grupo é um dos principais Operadores Logísticos internacionais. Gerencia 375 sites localizados em 18 países, representando 8 milhões de metros quadrados operados na Europa, América, Ásia e África, com uma carteira equilibrada de clientes entre o varejo, a indústria, a saúde e o comércio eletrônico & picking. No Brasil, são mais de um milhão de metros quadrados de armazenagem, destinados à logística de players de grande porte nos segmentos de varejo, industrial, FMCG, cosméticos e e-commerce.

LogPyx – É especializada em soluções tecnológicas para otimizar a intralogística das empresas. Com foco na segurança dos trabalhadores e eficiência operacional, utiliza tecnologia avançada de localização e monitoramento para melhorar a gestão de armazéns, movimentação de veículos e circulação de pessoas.

Netmak Empilhadeiras – É um e-commerce especializado em soluções para movimentação de cargas. Com atuação 100% digital e cobertura nacional, oferece empilhadeiras a diesel, GLP e elétricas, além de transpaleteiras, plataformas elevatórias, peças de reposição e serviços de pós-venda.

Optalert – Biotech australiana, líder mundial em tecnologia de controle de fadigas. Pioneira e líder na detecção prévia de fadiga em trabalhadores em funções de alto risco, no Brasil está presente, desde 2015, em algumas das principais mineradoras. Em outras partes do mundo o sistema também é utilizado em setores como gás e petróleo, transporte rodoviário, automotivo, pesquisa científica, aeroespacial (NASA), testes de drogas farmacêuticas e estudos neurológicos.

Tria Empilhadeiras – Marca de máquinas para manuseio e transporte de cargas.

Compartilhe:
615x430 Savoy julho 2025
ILOS 2025
Logistique Logweb
Veja também em Segurança
Seguro RC-V obrigatório traz mais segurança jurídica e patrimonial para transportadoras e caminhoneiros, alertam Roadcard e Pamcary
Seguro RC-V obrigatório traz mais segurança jurídica e patrimonial para transportadoras e caminhoneiros, alerta Roadcard
Transportadoras sofrem golpes com uso indevido de marca e cobranças falsas, diz Jadlog
Transportadoras sofrem golpes com uso indevido de marca e cobranças falsas, diz Jadlog
Com alta de 19,8% nos registros, São Paulo soma 1.033 ocorrências com produtos perigosos em 2024
ICL afirma que nova medida do Inmetro garante combate ao “golpe do chip” ou “bomba fraudada”
Ituran Mapa de Risco
Ituran libera acesso a Mapa de Risco para ajudar motoristas a evitar áreas de alto índice de roubo em SP
Transportadora implementa programa para aprimorar segurança e reduzir riscos na operação

As mais lidas

01

Faleceu Roberto Schioppa

02

Com cartas de intenção de compra para mais de 100 unidades, Moya eVTOL realiza seu primeiro voo com sucesso

03

Vipal Borrachas concorre ao Recircle Awards 2023 em quatro categorias