Mas, ainda existe pouco entendimento de como a comunicação correta, assertiva e clara ajuda as empresas do segmento a gerarem relacionamento com seu público de interesse – fornecedores, clientes, sociedade civil e autoridades públicas.
N ão é novidade que a adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança – a chamada agenda ESG – é um caminho sem volta para as empresas do setor de logística B2B e offshore. Mas não adianta apenas fazer: tem que comunicar, de modo a promover uma transparência ativa diante dos stakeholders da organização. A comunicação da agenda ESG é, de certa forma, uma prática de accountability, portanto, de governança.
Mas, como essas empresas estão comunicando as suas ações aos stakeholders? Há uma preocupação em transmitir as informações do jeito certo e nos canais adequados aos interessados, sejam eles clientes, fornecedores, governos ou sociedade civil, ou essa comunicação é negligenciada? A resposta é não. “De um modo geral, são muitos os sites ainda não responsivos, portanto não adaptados para o acesso nos smartphones, e poucos perfis devidamente posicionados nas redes sociais. As empresas de logística e offshore não só podem, como devem utilizar as novas tecnologias para a comunicação, desde que do modo certo”, explica o CEO da Agência Titânio, especialista em marketing digital B2B e um dos idealizadores do app Joylist Roberto Gaspar.
Não comunicar a própria agenda ESG é um erro que pode atrapalhar na hora de fechar acordos e celebrar contratos: é preciso tornar acessível ao grande público as boas práticas das organizações. É importante ressaltar que essa comunicação precisa ser estrategicamente planejada e alinhada com as reais ações da empresa. “Jamais tentar comunicar o que não faz. Isso se chama greenwashing – que ocorre quando uma empresa exagera ou engana sobre suas práticas de sustentabilidade – e pega muito mal para a reputação da empresa”, explica Gaspar.
Importância da comunicação
De fato, a comunicação da agenda ESG é essencial para as empresas de logística B2B e offshore, pois envolve transparência e responsabilidade, que são fundamentais para construir a confiança de stakeholders como investidores, clientes e parceiros. No contexto atual, de maior pressão por práticas de descarbonização e sustentabilidade, as empresas de logística devem demonstrar compromisso com essas questões.
Mas, Daniela Klein, consultora ESG e CEO da KICk Group, diretora do Instituto Sustentabilidade Brasil e coautora do livro “Mulheres ESG – Cases na prática”, da Editora Leader, deixa muito claro: não há certificação ESG válida no mercado. “Apareceu muita gente oferecendo este tipo de serviço e selos, mas isso não tem legitimidade. É importante destacar que a agenda ESG é um processo contínuo, que demanda tempo e uma jornada de maturidade da alta governança — diretores e conselheiros — para avançar. Esse processo exige planejamento estratégico e o uso de padrões reconhecidos internacionalmente, como o Global Reporting Initiative (GRI) e o Sustainability Accounting Standards Board (SASB). As empresas que conseguem comunicar suas ações ESG de maneira acessível e alinhada com essas práticas aumentam a confiança e a credibilidade perante o mercado.”
No entanto, prossegue Klein, quando essa comunicação falha ou é insuficiente, as empresas podem enfrentar desconfiança e perda de competitividade. A falta de clareza nas práticas ESG pode gerar crises reputacionais, além do risco de acusações de greenwashing.
É bom perceber também que não se trata de uma “onda”. “Dê o nome que quiser, ESG, Sustentabilidade, entre outros, a base das ações e relatos não é aleatória e segue apresentação de indicadores e evidências pré-estabelecidos e já existem regulamentações globais, como o Acordo Verde Europeu e as diretrizes da SEC nos Estados Unidos, que passaram a exigir maior transparência e controle das emissões ao longo de toda a cadeia de valor.”
Além dessas legislações, ainda de acordo com a CEO da KICk Group, investidores institucionais, como o Climate Action 100+, estão forçando as empresas a considerar as emissões indiretas, conhecidas como Escopo 3, que abrangem desde o transporte de matérias-primas até a distribuição de produtos finais. Outro ponto é que o impacto ambiental das operações logísticas é também uma preocupação crescente dos consumidores, que exigem práticas mais sustentáveis das empresas
“Com a pauta ESG em voga, cada vez mais não só os consumidores B2C estão buscando empresas responsáveis, mas as empresas também buscam se unir a fornecedores que possam gerar impacto positivo na relação. Comunicar as ações de ESG não só valoriza a empresa, mas permite ter um diferencial competitivo adicional em mercados como logística e offshore que, tradicionalmente, olham muito apenas para o aspecto operacional, quando comunicam sobre a empresa”, acrescenta Gaspar, da Agência Titânio.
Emanuel Pessoa, advogado especializado em Direito Empresarial, também destaca ser crucial a comunicação da agenda ESG pelas empresas de logística B2B e offshore, e que ela pode aumentar a confiança de investidores e clientes, especialmente em um ambiente no qual é comum a utilização de palavras vazias para tentar criar uma falsa aparência de ESG, particularmente na área ambiental, com o greewashing sendo um problema real que mina a confiança na seriedade das práticas corporativas ambientais. Pesquisas mostram que investimentos em ESG devem atingir US$ 53 trilhões até 2025. A transparência e a responsabilidade social são fatores que influenciam positivamente a percepção do mercado e podem ser determinantes na escolha de parcerias e contratos.
“Imagine um cliente avaliando duas empresas logísticas: a empresa ‘X’, que implementa diversas iniciativas sustentáveis e mantém rigorosas práticas de compliance, e a empresa ‘Y’, que ignora questões ambientais e sociais, além de ter um histórico de atitudes fraudulentas e restrições operacionais. Um estudo recente indicou que muitos consumidores preferem optar por empresas que seguem práticas sustentáveis, em vez de aquelas que não se preocupam com a responsabilidade social.”
Portanto, continua Guilherme Juliani, CEO do Grupo MOVE3, os clientes tendem a se sentir mais seguros e satisfeitos ao escolherem fornecedores que demonstram um compromisso com a sustentabilidade e a ética. Assim, a comunicação da agenda ESG se torna não apenas uma questão de conformidade, mas uma estratégia essencial para construir relacionamentos de longo prazo e promover o crescimento sustentável.
Mas, além de todos os benefícios trazidos pela comunicação da agenda ESG, como atração de investimentos e fidelização de clientes, Mariana Schilis, diretora Administrativa da Fulwood, aponta ainda a conquista de índices superiores de eficiência, segurança e produtividade, que estimulam o alcance de um posicionamento mais competitivo no mercado, que pode impactar positivamente na receita, seja pela redução significativa dos custos operacionais no longo prazo ou pelo crescimento da carteira de clientes, a partir da retenção e fidelização dos clientes que compartilham os mesmos valores.
Já Fred Lopes, CHRO e CSO do Grupo Elfa, lembra que a comunicação da agenda ESG é necessária para empresas de todos os setores mas que, naqueles em que o transporte em grande escala é comum, tais práticas se tornam ainda mais importantes. As empresas precisam focar na redução de emissões de carbono e no uso consciente de recursos, já que isso impacta diretamente o meio ambiente, tendo ao mesmo tempo quer lidar com a escassa infraestrutura e, curiosamente, com as dificuldades de inovação para o transporte de cargas para longas distâncias, que ainda não conseguiu encontrar alternativas que equilibrem eficiência e custos.
“Otimizar a cadeia logística por meio de tecnologias sustentáveis é, talvez, a única maneira que uma empresa tem para reduzir a pegada de carbono, cortar custos e, ainda, aumentar sua atratividade no mercado e a confiança dos principais stakeholders”, completa Lopes.
Para além do que já foi dito, Samuel Amorim Junior, gerente corporativo de Facilities e CSR da ID Logistics Brasil, destaca que uma empresa de logística que possua uma agenda ESG implementada, obrigatoriamente realizou a análise do impacto de seus negócios na comunidade, meio ambiente e mercado, mas também avaliou os impactos da comunidade, meio ambiente e do mercado em seu negócio. Esta avaliação dos impactos é conhecida como dupla materialidade e é essencial para que a empresa trace planos e metas para mitigar os impactos negativos de forma a manter o negócio sustentável. Logicamente neste contexto, uma empresa de logística que entende os seus impactos e como é impactada, que possui um plano para tratar estes impactos e metas para mitigação dos impactos negativos e maximização dos positivos, será reconhecida como empresa mais confiável para investir, contratar ou trabalhar.
“Os clientes de empresas de logística têm apresentado uma tendência muito alta de engajamento em ações relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) das Nações Unidas (ONU) e, por conseguinte, na agenda ESG, demandando cada vez mais de seus Operadores Logísticos o mesmo engajamento, ou seja, empresas de logística que não possuam uma agenda ESG, muito provavelmente terão dificuldades em manterem-se ativas no mercado”, adverte Amorim Junior.
Na verdade, o mercado, independentemente de exigências legais ou da aplicação de multas, entendeu a importância de se autorregular em matéria de sustentabilidade e passou a exigir de suas contrapartes a adoção de medidas claras neste sentido. É um movimento inédito em que os interesses coletivos relacionados ao clima, ao tratamento das condições de trabalho e do terceiro setor e da transparência dos negócios estão acima dos interesses particulares de melhor preço ou melhores serviços.
Neste sentido, diz Ana Amélia Tormin, diretora Jurídica, de Compliance e CSO da Timbro, a agenda ESG tem se tornado imprescindível para empresas em geral, incluindo as de logística, uma vez que o mercado, incluindo instituições financeiras, tem se mostrado cada vez mais preocupado com o impacto ambiental e social das operações realizadas com seus parceiros de negócios.
Canais de comunicação
São vários os canais que as empresas de logística estão utilizando para comunicar suas práticas ambientais, sociais e de governança. Paulo Morais, diretor da Peers Consulting & Technology e líder de Experiência e Eficiência, cita o que ele considera os principais:
Canais institucionais (Site, Relações com Investidores, Relatórios de Sustentabilidade): canais onde, de forma padronizada e oficial, comunicam o mercado sobre desafios, iniciativas e avanços relacionados à agenda ESG.
Redes sociais: empresas usam suas redes sociais para se comunicar com seus clientes e consumidores de forma mais massificada e focada em gerar awareness das conquistas relacionadas à agenda ou mitigar ruídos gerados por algum fator exógeno à operação.
Eventos especializados (ex.: COP): empresas que buscam negociar investimentos ou iniciativas em determinadas áreas relacionadas à agenda ESG buscam eventos especializados para reunir diversos stakeholders com interesses comuns como uma forma de acelerar pautas específicas.
Cada canal é escolhido de acordo com o objetivo estratégico traçado para cada iniciativa a ser direcionada, sendo possível concatenar todos de acordo com a ambição definida por cada empresa, completa Morais.
“As redes sociais, sem dúvidas, são o principal canal, mas é importante ter no site institucional da empresa (ou ainda no site de RI ou até mesmo um hotsite sobre o tema) para ter os materiais de fácil acesso. O post funciona bem, mas ele ‘passa’ no feed e se perde, além de se misturar com outros temas que a empresa publica. Uma página no site apresentando as ações de ESG permite ter esse conteúdo ‘fixo’ em um endereço de fácil acesso. Empresas como a Porto do Açu, Prumo, Log-In Logística e GNA já possuem áreas em seus endereços online para abordagem específica do tema. Com base nos dados que temos do mercado e dos clientes que gerenciamos, o relatório de sustentabilidade, que é um documento amplo sobre a agenda ESG da empresa, é algo bastante relevante e acessado nos hotsites de ESG”, completa Gaspar, da Agência Titânio. “De toda forma, os relatórios auditados sempre são os melhores veículos, pois transmitem a seriedade necessária para que essas práticas se reflitam em investimentos, aumento do valor de mercado e melhoria da percepção da marca pelos consumidores, acrescenta Pessoa.
Dentre todas as ferramentas, a principal para a propagação das ações com transparência é o Relatório de Sustentabilidade, um documento auditado por empresa terceirizada, que formaliza as metas e indicadores de desempenho determinadas pela empresa, além dos indicadores atuais de sustentabilidade, como emissões de carbono, consumo de água e energia e impacto social, que representa a consciência empresarial acerca dos impactos causados na comunidade no entorno de suas operações.
Ainda segundo Mariana, da Fulwood, há dois públicos fundamentais para a comunicação das práticas ESG: os colaboradores – público interno – e todos os stakeholders externos. No caso dos colaboradores, são usados todos os canais que envolvem o endomarketing, a partir de diversos canais de comunicação, eventos e treinamentos. “Para nos comunicar com o público externo, temos uma assessoria de imprensa, o nosso site e nossas redes sociais.”
Quando falamos em práticas de ESG, mensurar e monitorar os indicadores e projetos relacionados é fundamental. Estes indicadores e projetos deverão estar alinhados com a dupla materialidade da empresa e seus resultados amplamente divulgados de forma transparente. O canal obrigatório de comunicação de resultados – também na visão de Amorim Junior, da ID Logistics – é através do Relatório de Sustentabilidade para o mercado, onde de forma estruturada a empresa emite um relatório auditado demonstrando os seus resultados ambientais, sociais e de governança.
Logicamente, diz o gerente corporativo de Facilities, outros canais de comunicação devam ser usados como: as reuniões de performance operacionais – nas reuniões mensais com o cliente é incluído na pauta o tópico ESG, onde os resultados dos indicadores, planos de ação e projetos são compartilhados e discutidos de forma constante. “Uma outra forma de divulgação muito utilizada são os treinamentos on line e presenciais, onde as políticas relacionadas a ESG são explicadas, compartilhadas e multiplicadas em todas as camadas da empresa, porém, sabendo da importância do engajamento, muito fundamental é a utilização de mídias confiáveis, como revistas do setor, redes sociais ou eventos como o CSR Summit, onde a ID logistics, por exemplo, divide suas práticas de ESG com seus fornecedores, clientes e colaboradores.”
Na verdade, as empresas de logística utilizam diversos canais para comunicar suas práticas ESG, incluindo Relatórios de Sustentabilidade baseados em padrões como o GRI e o SASB, websites corporativos, redes sociais e plataformas digitais de gestão de dados ESG. A escolha dos canais é determinada pela necessidade de transparência e pelo público que a empresa deseja engajar.
“Relatórios formais e auditáveis são fundamentais para atender às exigências de investidores e reguladores, enquanto websites e redes sociais permitem maior interação com clientes e a sociedade civil. Esses canais são selecionados com base na eficácia em transmitir informações verificáveis e acessíveis a todos os stakeholders”, acrescenta Klein, da KICk Group.
Ainda com relação aos canais de comunicação, Lopes, do Grupo Elfa, diz que relatórios anuais continuam a ser um dos principais meios para demonstrar o compromisso com as práticas sustentáveis. Além disso, redes sociais, como o LinkedIn, são usadas para alcançar um público mais amplo, com conteúdos informativos que possam ser consumidos rapidamente. “Manter a atenção do público interno para as temáticas ESG é igualmente importante e, por isso, iniciativas constantes de treinamento e o desdobramento de metas específicas para todos os colaboradores a partir de um dashborad de ESG, por exemplo, podem se mostrar igualmente eficazes”, completa o CSO.
Ana Amélia, da Timbro, também destaca a publicação anual do Relatório de Sustentabilidade, a publicação anual do inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a divulgação das suas políticas e códigos voltados para a sustentabilidade. Além disso, as iniciativas no campo social e de governança corporativa (Código de Conduta de Fornecedores, Políticas de Contratação, Política de Integridade, Código de Ética e Conduta) e a promoção das iniciativas de impactos sociais e ambientais no ambiente corporativo e junto a terceiros podem ser regularmente divulgados nas redes sociais da empresa.
Comunicação clara
Embora haja uma crescente preocupação em comunicar ações ESG de forma clara e acessível, essa prática ainda é frequentemente negligenciada, especialmente entre empresas de médio e pequeno porte. “A falta de profissionais qualificados e de padronização de terminologias dificulta a implementação efetiva e a comunicação clara das ações ESG, resultando em uma disparidade entre as intenções e a realidade”, pontua Pessoa.
Ou seja, apesar de ser necessária, muitas empresas ainda negligenciam essa comunicação. O mercado tem evoluído com a agenda ESG, mas também não são todas as empresas que têm ações concretas sobre o tema, alerta Gastar, da Agência Titânio. Tão importante quanto comunicar, diz ele, é ter ações práticas. Por exemplo, o ESG está se tornando um diferencial entre as pequenas empresas para serem contratadas por gigantes do mercado.
“Apesar de muitas organizações estarem se conscientizando de que uma comunicação aberta sobre suas iniciativas de ESG é fundamental, algumas empresas, no geral, ainda não praticam. E isso acontece por diversos motivos, como falta de recursos suficientes ou estratégias bem definidas para comunicar suas práticas ESG de forma adequada. Mas, embora haja um progresso significativo das ações, ainda há muito espaço para melhoria nas empresas. É preciso estar sempre procurando práticas evolutivas para uma maior disseminação de informações, garantindo que todos os processos ESG aconteçam de forma clara”, diz Juliani, do Grupo Move3.
Com a crescente conscientização sobre a necessidade de realizar e comunicar práticas ESG de forma clara, espera-se das empresas um certo nível de adequação aos parâmetros esperados pelo mercado, como a adesão às agendas ambientais e relativas ao trabalho digno, a adequação dos relatórios de sustentabilidade aos parâmetros internacionais, como o GRI, e ainda a transparência nas práticas de governança corporativa. No entanto, algumas empresas ainda negligenciam a comunicação ou a tornam inacessível, utilizando-se, por exemplo, de linguagem extremamente técnica ou divulgando a informação apenas para grupos específicos de destinatários, diz Ana Amélia, da Timbro.
Lopes, do Grupo Elfa, também nota que várias empresas de logística estão cada vez mais preocupadas em transmitir suas ações ESG de forma clara e acessível, já que essa comunicação é fundamental para atender às expectativas de investidores, consumidores e outros públicos em um mercado que valoriza a sustentabilidade.
Embora ainda existam desafios que precisam evoluir mais rapidamente do ponto de vista prático, a comunicação ESG nas empresas de logística está evoluindo aos poucos, também na ótica de Morais, da Peers Consulting & Technology. As empresas que investem em uma comunicação eficaz e transparente sobre suas práticas ESG estão mais bem preparadas para enfrentar os desafios do futuro e construir um negócio mais sustentável e resiliente, diz ele.
As empresas precisam entender que a agenda ESG não se estabelece do dia para a noite. É um processo que depende de planejamento e da maturidade da alta governança para que a comunicação seja consistente e eficaz. Isso envolve realizar um mapeamento de stakeholders e desenvolver a materialidade, assegurando que as preocupações e expectativas dos públicos-alvo sejam consideradas.
“Uma falha comum é que, muitas vezes, as empresas se limitam a comunicar ações isoladas ou superficiais, sem garantir a verificação dessas informações por meio de auditorias externas. Isso pode gerar desconfiança e prejudicar a reputação da empresa. Portanto, é essencial que a comunicação esteja sempre alinhada com ações concretas e respaldada por evidências verificáveis”, diz Klein, da KICk Group.
Por seu lado, Willian Echeverria Alves, gestor de Cultura e ESG na Multilog, acredita que possuir uma agenda de sustentabilidade não é suficiente. Tão importante quanto os compromissos assumidos e a sua implementação consistente é dar visibilidade sobre o que está sendo realizado, mostrar a progressão em relação às metas e os resultados obtidos. Esta é uma forma de prestar contas a todos os stakeholders. Essa comunicação também ajuda no engajamento com os colaboradores e transmite segurança aos clientes, mostrando que contam com um fornecedor comprometido com as questões relacionadas a ESG.
“Olhando para o mercado, podemos perceber que grande parte das organizações do setor de logística e transportes tem se preocupado com o reporte, criação de estratégias e comunicação das práticas e indicadores. A ABOL (Associação Brasileira de Operadores Logísticos) por exemplo, sendo uma das organizações que reúne e discute os interesses do setor, tem conduzido debates importantes que promovem cada vez mais o engajamento do setor. As discussões recentes sobre Gestão de Carbono e combustíveis, preocupação ímpar, já que o maior impacto do setor logístico no meio ambiente são as emissões, é um exemplo disso”, completa o gestor de Cultura e ESG na Multilog.
Principais indicadores
Em um mercado B2B com vendas complexas, as ações de ESG devem ser vistas não só pelo lado comercial, mas pelo lado de posicionamento de marca. Apesar de ser mais difícil mensurar, indicadores como percepção de marca, engajamento em posts e visualização de páginas do site sobre o tema devem ser medidos e acompanhados, diz, agora, Gaspar, da Agência Titânio, referindo-se aos principais indicadores que as empresas de logística devem considerar ao comunicar suas ações ESG e como esses indicadores podem ajudar a medir a eficácia de suas iniciativas.
Na visão de Pessoa, as empresas de logística devem considerar indicadores como redução de emissões de carbono, gestão de resíduos, diversidade e inclusão e transparência financeira. Eles ajudam a medir a eficácia das iniciativas ESG, permitindo que as empresas ajustem suas estratégias e demonstrem de forma tangível seu comprometimento com práticas sustentáveis e responsáveis.
“Dentro do negócio de logística, consideramos que são indicadores importantes o monitoramento de emissão de CO2, ações focadas na redução de consumo de água e energia, monitoramento de solo e águas subterrâneas, além de campanhas internas e externas para o impacto social”, completa Mariana, da Fulwood.
Já para além das emissões de carbono, Lopes, do Grupo Alfa, aponta ainda eficiência energética, gestão de resíduos e segurança dos trabalhadores. “Esses indicadores ajudam a medir a eficácia das iniciativas e permitem uma comunicação mais clara com todos os envolvidos. Também é uma maneira de engajar colaboradores, que se sentem motivados ao fazer parte de uma empresa que valoriza seu impacto social e ambiental.”
“Os principais indicadores que devem ser considerados ao comunicar as ações ESG incluem as emissões de gases de efeito estufa, o consumo de energia e a segurança do trabalho. Monitorar as emissões tem sido uma questão muito importante, pois permite avaliar o impacto ambiental e a eficácia das estratégias implementadas para reduzir nossa pegada de carbono. Além disso, acompanhar o consumo de energia, especialmente a proporção proveniente de fontes renováveis, demonstra o compromisso com a sustentabilidade e a eficiência energética. A segurança do trabalho, por sua vez, é um indicador que reflete a responsabilidade em proteger a saúde e o bem-estar dos colaboradores”, acrescenta Juliani, do Grupo MOVE3.
Klein, da KICk Group, também ressalta que as empresas de logística precisam considerar uma série de indicadores ESG que abrangem as dimensões ambiental, social e de governança. Entre os principais, em sua opinião e baseada na sua experiência de relato, estão:
• Emissões de gases de efeito estufa (GEE): As empresas devem monitorar suas emissões diretas (Escopo 1), indiretas (Escopo 2) e aquelas geradas ao longo da cadeia de valor (Escopo 3), que incluem tanto fornecedores quanto clientes. A redução dessas emissões é essencial para atingir metas de descarbonização e alinhar-se às exigências globais.
• Trabalho decente e condições justas para os trabalhadores: As empresas devem garantir emprego decente, o que inclui remuneração justa, saúde e segurança ocupacional, carga horária compatível e acesso à educação e qualificação. Essas ações reforçam o compromisso com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8, que visa o trabalho decente e o crescimento econômico.
• Impacto na cadeia de fornecedores: As empresas precisam garantir que suas parcerias com fornecedores sejam justas e responsáveis. Não devem usar sua força econômica para pressionar fornecedores com preços injustos ou práticas exploratórias. Além disso, é fundamental que as empresas promovam parcerias sustentáveis que respeitem os princípios ESG e ajudem a garantir que toda a cadeia de valor esteja alinhada com as metas de sustentabilidade.
Ana Amélia, da Timbro, lista mais alguns indicadores:
• Inclusão e diversidade (ações adotadas pela empresa para a melhoria e fortalecimento do indicador);
• Impacto social (como número de empregos locais gerados e apoio na comunidade local);
• Transparência administrativa e financeira (publicação de relatórios auditados de maneira independente);
• Ter metas de aprimoramento de métricas;
• Uso de energias renováveis (percentual da matriz energética); e
• Governança (número de práticas de conformidade implementadas).
O desempenho operacional e financeiro, a inovação e a sustentabilidade, a ética e a integridade, ao lado do cuidado com as pessoas, o respeito ao meio ambiente e a qualidade dos serviços são indicadores fundamentais de uma agenda ESG para o setor de logística, relata Alves, da Multilog. “Demonstrar como eles estão avançando e os resultados obtidos têm contribuído para lidarmos melhor com a realidade do nosso mercado, o que inclui riscos ambientais, implicações sociais, sustentabilidade econômico-financeira e obrigações regulatórias.”
No tema ambiental, gestão de emissões, frotas, combustíveis, energia renovável, resíduos e impacto no meio ambiente são temas cada vez mais em alta. No “S”, falando de social, gestão de pessoas, práticas de inclusão da diversidade, garantia de direitos e a promoção dos direitos humanos são eixos fundamentais, continua o gestor de Cultura e ESG na Multilog. Chegando na governança, a estruturação de políticas e práticas para consolidar os compromissos da organização, estrutura de governança, ética, compliance e gestão de indicadores com controles internos concluem as práticas ESG essenciais para o setor.
“Normalmente, empresas de logística têm metas relacionadas à redução das emissões de carbono. Nesse sentido, iniciativas que enderecem esse objetivo devem ser priorizadas na comunicação. Indicadores relacionados à diversidade e inclusão e condições de trabalho são exemplos de outras temáticas que podem ser priorizadas e comunicadas pelas empresas. Os indicadores ESG servem como verdadeiros termômetros para as empresas de logística, permitindo medir o impacto real de suas iniciativas de sustentabilidade. Ao acompanhar esses indicadores ao longo do tempo, as empresas podem: quantificar o progresso, demonstrar transparência, comparar com benchmarks, ajustar estratégias e comunicar resultados”, completa Morais, da Peers Consulting & Technology.
Tendências
Como o segmento logístico é muito dinâmico, é preciso estar sempre atento às tendências futuras no que se refere à comunicação da Agenda ESG. Uma dessas tendências, por exemplo, é a crescente demanda por relatórios ESG mais transparentes e detalhados, com dados em tempo real. Stakeholders estão cada vez mais exigentes quanto à precisão das informações, e as empresas que adotarem tecnologias digitais para fornecer relatórios interativos e acessíveis estarão à frente na construção de credibilidade.
Outra tendência, ainda segundo o CEO do Grupo MOVE3, é a ênfase na colaboração e cocriação com stakeholders. As empresas de logística estão começando a engajar mais ativamente clientes, fornecedores e comunidades na definição de suas metas ESG, promovendo um diálogo aberto e um senso de responsabilidade compartilhada. Essa mudança pode transformar as relações com os stakeholders, tornando-as mais colaborativas e baseadas em confiança. Ao adotar essas abordagens, o setor se tornará mais responsivo às expectativas sociais e poderá impulsionar inovações que beneficiem a sustentabilidade e a eficiência operacional, impactando positivamente a sociedade em geral.
Também para Pessoa, as tendências futuras incluem uma maior demanda por transparência e relatórios detalhados e auditáveis sobre práticas ESG, bem como o uso crescente de tecnologias digitais para engajamento e comunicação. Essas mudanças podem resultar em relações mais colaborativas entre empresas de logística e seus stakeholders, promovendo um ambiente de negócios mais responsável e alinhado com as expectativas da sociedade, que busca consumo consciente e sustentável.
Amorim Junior, da ID Logistics Brasil, também prevê o envolvimento cada vez maior dos stakeholders na estratégia ESG das empresas, forçando-as a se especializarem em reportes de sustentabilidade, uma vez que indicadores de sustentabilidade passarão a ser considerados itens contratuais de atendimento ao nível de serviço, ou seja, a tendência é de que o não atendimento de um indicador ambiental, social ou de governança impacte em penalidades contratuais ou até mesmo quebra de um contrato. Empresas de logística que não seguirem uma agenda ESG, perderão negócios.
Alves, da Multilog, também aponta uma comunicação ESG cada vez mais clara, frequente, auditável e acessível a todos, por meio de Relatórios de Sustentabilidade que apresentem os desafios e os avanços obtidos nesta área. A realização de parcerias com ONGs, poder público e outras empresas com viés colaborativo também deve se acelerar.
A adoção de tecnologias inovadoras emergentes impulsionadas pela Inteligência Artificial e Big Data, por exemplo, devem fortalecer a comunicação entre todos os entes que compõem o ecossistema logístico, melhorando a eficiência global do setor, ao mesmo tempo que ajudará a monitorar os indicadores ESG, reduzir o greenwashing e trazer mais confiança ao mercado.
Para além disso, conclui o gestor de Cultura e ESG na Multilog, alinhar-se a práticas inovadoras de mercado, criar áreas dedicadas nas organizações com foco em inovação, ESG e sustentabilidade, bem como em eficiência energética, redução, comparação com evolução dos indicadores em seus relatórios devem ser cada vez mais frequentes. Olhando mais fundo, análise das frotas, eficiência, inovação, certificações de uso de fontes renováveis estão entre os temas mais comentados em fóruns do setor.
“As empresas de logística devem intensificar a comunicação de suas iniciativas ESG, com foco na digitalização, transparência e rastreabilidade das operações para reduzir impactos ambientais. A adoção de tecnologias como IoT e blockchain facilitará o monitoramento sustentável da cadeia de suprimentos. Relatórios detalhados sobre emissões de carbono e eficiência energética serão cada vez mais comuns, enquanto parcerias com fornecedores responsáveis ganharão destaque. Essas tendências reforçam a confiança dos stakeholders, melhoram a imagem do setor e promovem um relacionamento mais ético e transparente com a sociedade, além de atender à crescente demanda por operações logísticas mais sustentáveis”, diz Morais, da Peers Consulting & Technology.
As tendências na comunicação da agenda ESG no segmento logístico, ou em qualquer outro, devem refletir as crescentes demandas por transparência, responsabilidade e inovação, também para Daniela, do Grupo SADA.
Segundo ela, as organizações deverão estar mais focadas em contar histórias reais sobre suas iniciativas ESG, incluindo experiências de colaboradores e impactos que suas ações nesse tripé geram na sociedade. A autenticidade se tornará um diferencial importante, reforçando a conexão com stakeholders e resultando em relacionamentos mais fortes e duradouros.
“O presente e o futuro apontam que a comunicação ESG se tornará cada vez mais central na estratégia das empresas, influenciando não apenas suas operações, mas também suas interações com todos os stakeholders e a sociedade em geral”, diz a vice-presidente executiva do Grupo SADA.
Para Mariana, da Fulwood, além da divulgação dos Relatórios de Sustentabilidade e da prestação de contas devida dos impactos, uma importante tendência é a determinação de metas dentro de uma jornada que visa o Net Zero.
Gaspar, da Agência Titânio, acredita que a maior tendência é que a comunicação de ESG deixará de ser algo pontual e passará a estar presente em toda a comunicação. Um post sobre um case de logística vai ter dados sobre a redução de impacto de CO2 de forma natural, sem necessariamente ser um post sobre “case ESG”. Assim como um post sobre a expansão de uma operação, apresentar os impactos positivos para a sociedade relacionados à geração de empregos e melhoria dos moradores ao entorno, por exemplo.
Participantes desta matéria
Agência Titânio – É especialista em marketing digital B2B, com vasta atuação nos mercados de logística e offshore.
Emanuel Pessoa – Além do já citado, é mestre em Direito pela Harvard Law School, doutor em Direito Econômico pela USP e professor da China Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.
Fulwood – É uma das principais empresas do setor de condomínios logístico-industriais do Brasil. Além de incorporar galpões, faz a locação e administração dos projetos logísticos-industriais.
Grupo Elfa – É a rede que conecta serviços para todos os stakeholders da saúde – indústria, hospitais, clínicas, profissionais e pacientes. É considerado um dos líderes em distribuição de medicamentos e serviços e soluções logísticas para o ecossistema de saúde no Brasil e referência em distribuição de medicamentos e materiais para hospitais, clínicas e consultórios médicos e de materiais especiais e cirúrgicos, além de serviços para pesquisa clínica.
Grupo MOVE3 – É considerado referência em logística no Brasil. Entre as empresas que fazem parte do grupo está a Flash Courier, líder no setor bancário, além da Sequoia, Drops e Frenet, Moove+, Moove+ Portugal, a gráfica JallCard, as transportadoras Rodoê, Carriers e Levoo.
Grupo SADA – É composto por mais de 30 empresas de diversos segmentos de mercado, sendo o principal o de logística e transporte de veículos zero quilômetro, e forma o maior conglomerado desse negócio na América Latina, atuando nas áreas de transporte e logística, indústria de componentes automotivos, usinas de etanol, distribuição de combustíveis, reflorestamento, comunicação, esporte, fundação social e concessionárias de veículos pesados.
ID Logistics Brasil – Com uma carteira equilibrada de clientes entre o varejo, a indústria, a saúde e o comércio eletrônico & picking, oferece soluções tecnológicas comprometidas com o desenvolvimento sustentável.
KICk Group – Consultoria brasileira liderada por mulheres, com quase 15 anos de experiência em comunicação institucional e socioambiental. A alta governança possui certificação pelo Global Reporting Initiative (GRI) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), conferindo credibilidade às soluções de planejamento ESG, mapeamento de stakeholders e relatórios de sustentabilidade oferecidas pela KICK.
Multilog – É considerada uma das maiores operadoras de logística integrada do País. E líder na administração de recintos alfandegados no Brasil, incluindo os pontos de fronteiras secas no Mercosul. Possui certificação de Operador Econômico Autorizado (OEA) para atuar em cinco centros logísticos industriais e aduaneiros e dois portos secos.
Peers Consulting & Technology – Consultoria brasileira de negócios e tecnologia com foco em estratégia de curto e médio prazo, análise e desenho de soluções, planejamento e implantação com potencialização digital. Atua na solução de desafios corporativos de grandes empresas, nacionais e internacionais, e junto às principais organizações do terceiro setor.
Timbro – É uma plataforma de negócios internacionais que traz soluções ideais para seus clientes e parceiros – seja na comercialização de commodities dentro e fora do Brasil, na importação de itens diversos para terceiros por encomenda ou conta e ordem, na distribuição de produtos e em serviços financeiros em comércio exterior.