Com olhar crítico sobre o setor, Antonio Wrobleski fala sobre os desafios da logística e a nova fase da AWRO

Nesta seção do Portal Logweb, o ILOG – Instituto Logweb de Logística e Supply Chain, representado por sua presidente, Valéria Lima, abre espaço para entrevistas com os principais gestores do setor logístico. A ideia é compartilhar, de forma direta e relevante, o que essas lideranças têm feito, as novidades que estão colocando em prática e como suas empresas vêm atuando no mercado.

Antonio Wrobleski Logweb
A mensagem de Antonio Wrobleski para os empresários no Brasil é: sempre há espaço para melhorar, para otimizar. “A melhoria contínua não pode ser só discurso, ela tem que estar aliada ao negócio da empresa.”

Nesta entrevista, ouvimos Antonio Wrobleski, especialista em logística e sócio-fundador da AWRO Logística e Participações. Ele foi sócio e conselheiro da Pathfind, além de ser ex-presidente da BBM Logística, tendo liderado o processo que levou a empresa ao mercado em 2017. Engenheiro de formação, possui MBA pela New York University (NYU).

Além de falar sobre a nova fase da AWRO, Wrobleski faz uma análise do atual momento da logística no Brasil, no qual os desafios estruturais, a necessidade de investimentos intensivos e a baixa rentabilidade média do setor se somam à ausência de planejamento de longo prazo no país como um todo.

Valéria Lima: O Brasil precisa de um plano nacional para a logística. Mas temos maturidade institucional e visão de longo prazo para construir isso?

Antonio Wrobleski: Sim. Não adianta sermos uma organização — e o Brasil pode, sim, ser visto como uma grande organização — sem ter um plano nacional de logística ou algo parecido. Sem isso, a gente fica sem direção, sem metas claras a cumprir e, no fim, seguimos à deriva, presos a promessas que ou não foram cumpridas ou sequer foram medidas. Agora, se temos maturidade institucional? Acho que ainda não, mas precisamos começar a construir essa maturidade. Já está claro que o Brasil carece de um plano estruturado de infraestrutura e, mais especificamente, de logística. Existem ideias, propostas, modelos… mas o plano mesmo, na prática, não existe. A nossa maturidade institucional vai começar a aparecer quando passarmos a cobrar, a pressionar o governo, a mostrar o quanto um plano nacional de logística é necessário e urgente.

Valéria Lima: Estima-se que mais de 80% das empresas logísticas estão em “recuperação branca”. Falta gestão, crédito ou visão estratégica no setor?

Antonio Wrobleski: Primeiramente, gostaria de explicar que recuperação branca é aquela situação em que a empresa basicamente vive para pagar juros, empréstimos, folha de pagamento e por aí vai. Existem estudos no Brasil que analisam o setor logístico e mostram que muitas dessas empresas até têm a necessidade de estruturar um plano, de investir, mas não conseguem porque falta recurso — e aí, simplesmente não fazem. Falta gestão? Sim, falta. Falta crédito? Com certeza, falta muito crédito, o Brasil praticamente não oferece. E falta visão estratégica também. Falta se perguntar: onde estamos, para onde queremos ir? Aquela pergunta clássica do planejamento estratégico que literalmente não é feita e nem praticada.

Valéria Lima: Como você vê a atuação dos fundos de investimento no setor logístico atualmente? Eles estão preparados para os desafios estruturais que vão encontrar?

Antonio Wrobleski: A atuação dos fundos no setor logístico ainda é muito tímida. Falando em logística de terra, mar e ar ainda não há um interesse real dos grandes fundos em investir nesse segmento. E essa é uma preocupação que precisamos ter: como tornar o setor visível e atrativo para investimentos em nível global. Os desafios estruturais são grandes demais. Fazer logística no Brasil não é simples. Não gosto da expressão “o Brasil não é para amadores”, mas, nesse caso, ela se aplica. O país exige estudo, análise, trabalho com dados, interpretação de cenário… é um ambiente desafiador e que exige preparo.

Valéria Lima: Durante anos, falamos em transformação digital na logística. Por que, na prática, o setor continua tão analógico?

Antonio Wrobleski: A transformação digital na logística no Brasil ainda é incipiente. Está começando, sim, mas o setor é, majoritariamente, analógico. Conheço algumas poucas empresas que estão dando passos nessa direção — são exceções, e não a regra. Os motivos são muitos, mas um deles é simples: como cobrar ESG ou transformação digital de uma empresa que está lutando para sobreviver? A prioridade, muitas vezes, é manter a operação funcionando, pagar as contas, manter a equipe. Só depois — se der — é que se pensa em inovação. Pode parecer um contrassenso, até uma utopia… mas é a realidade de boa parte do setor.

Valéria Lima Logweb
Valeria Lima pergunta sobre recuperação branca das empresas, transformação digital na logística, fundos de investimento, desafios estruturais e os maiores erros dos empresários

Valéria Lima: Há espaço para inovação logística fora dos grandes marketplaces como Amazon e Mercado Livre? Como as empresas médias podem competir?

Antonio Wrobleski: Há muito espaço para inovação logística no Brasil, muito mesmo. Amazon e Mercado Livre são ótimos exemplos de empresas que ocuparam bem esse espaço e vêm transformando isso em algo real e monetizável. Elas conseguiram estruturar um modelo sistêmico, com tecnologia de ponta, e isso tem impulsionado o crescimento delas no país. O Brasil, como um país carente, naturalmente tem espaço para crescer em muitas frentes. 

Valéria Lima: Qual o maior erro que você vê empresários do setor cometendo repetidamente? 

Antonio Wrobleski: O maior erro ainda é não olhar estrategicamente para o próprio negócio, para o país em que se está inserido e para as contingências mundiais. Quando isso acontece, os erros se acumulam. 

Valéria Lima: Agora vamos falar sobre a AWRO de volta ao jogo. O que motivou essa retomada agora e qual é o foco estratégico da nova fase?

Antonio Wrobleski: A AWRO tem uma trajetória de 20 anos e agora estamos entrando numa nova fase, baseada no conceito de “célula da inteligência”. A ideia é trabalhar em ecossistemas — reunir pessoas de diferentes áreas, com diferentes experiências, que, juntas, formam essas células de inteligência. Não é fazer consultoria tradicional. Consultoria já tem muita por aí, nacional e internacional. O que queremos é praticar a inteligência aplicada nas operações e finanças tendo um olhar para tecnologia em um movimento voltado para o futuro. 

Valéria Lima: Com sua vasta experiência no setor, que mensagem deixaria para quem está pensando em investir ou empreender em logística no Brasil hoje?Antonio Wrobleski: A principal mensagem é: sempre há espaço para melhorar, para otimizar. A melhoria contínua não pode ser só discurso, ela tem que estar aliada ao negócio da empresa. Não é fácil, mas é possível. Conheço, por exemplo, algumas empresas que estão muito bem, que conseguiram crescer nos últimos anos, apesar dos pesares. Elas têm investido em tecnologia e, principalmente, em pessoas. Porque o investimento no ser humano — como o próprio nome já diz, ser humano — é uma das principais ferramentas para garantir crescimento e manter a empresa conectada com o mundo atual, tão marcado pela tecnologia e por restrições financeiras. Existe, sim, espaço. O segredo está em observar bem, trabalhar com os recursos disponíveis e manter uma visão — mesmo em tempos difíceis — um pouco mais objetiva, tanto para o futuro próximo quanto para o de longo prazo.

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