O crescimento destas áreas de negócios impacta positivamente por dois fatores: pela demanda, que gera um constante aumento no volume de produção de implementos, e por acelerar transformações e processos.
A indústria de implementos rodoviários poderá emplacar em 2020 aproximadamente 114 mil produtos. Se a expectativa for confirmada, esse volume representará queda de 5% com relação ao comercializado em 2019. Esses dados são da Anfir – Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários e incluem reboques, semirreboques e carrocerias sobre chassis, compondo mais de 20 famílias de itens.
Felizmente, segundo Norberto Fabris, presidente da entidade, a economia brasileira já dá sinais de reação constante. “O momento atual é diferente daquele que enfrentamos de 2014 a 2018 e, por isso, a recessão poderá ser mais curta. A crise anterior nos fez melhorar nossos processos, reduzir nossos custos e racionalizar nossas operações. Na prática, quando a desaceleração da economia chegou, provocada pela Covid-19, coincidentemente estávamos preparados.”
Esta matéria especial, além de contar com a participação de empresas que oferecem reboques, semirreboques e carrocerias sobre chassis dos mais diversos tipos, também inclui aquelas que atuam no mercado de plataformas elevatórias, plataformas pantográficas, plataformas reboques, lanças elevatórias, caçambas estacionárias, niveladoras de doca, docas elevatórias móveis e rampas rebocáveis, entre outros implementos.
Os entrevistados analisam os efeitos da pandemia no setor e apontam as tendências e perspectivas, principalmente considerando o crescimento do agronegócio e do e-commerce.
No foco
Sem dúvida, agronegócio e e-commerce estão nos holofotes de cases de sucesso em um ano tão desafiador, ressalta Marcos Noma, CEO da Noma do Brasil. De forma geral, eles chamam a atenção para a necessidade de investir em infraestrutura no Brasil, com melhores estradas, ampliações de conexões, renovação e modernização das frotas de caminhões.
Segundo ele, é preciso ter equipamentos mais eficientes, que consumam menos combustível e mais seguros para motoristas e usuários das estradas. “O agro tem mostrado sua força em todas as áreas, do florestal à graneleira, com transporte de soja, milho, feijão e tantas outras culturas. O e-commerce também tem feito com que as transportadoras se modernizem e consequentemente invistam em novos caminhões. Toda a cadeia é beneficiada com este aquecimento.”
Segundo Rafael Bett, diretor comercial da Librelato, o agronegócio se manteve resiliente em meio à pandemia devido à sua alta produtividade e competitividade no mundo. O Brasil é um celeiro mundial de alimentos. O sucesso do setor de implementos está diretamente relacionado ao êxito do agronegócio no país.
“Esperamos um crescimento de mais de 30% na produtividade brasileira de grãos nos próximos 10 anos, e o setor de implementos deverá acompanhar estes números. Os implementos mais demandados para o agronegócio são o rodotrem graneleiro e o rodotrem basculante, ambos diretamente relacionados com o transporte de grãos e insumos para o agro”, conta.
Em relação ao e-commerce, o profissional diz que o setor de implementos foi fundamental para interligar toda a cadeia, desde a matéria-prima até a entrega dos produtos na casa do consumidor.
Fabio Alexandre Xavier, diretor comercial e industrial da Nivelartec, acrescenta que o agronegócio é um setor que tende a utilizar mais implementos rodoviários e estacionários. “Em função do crescimento constante junto com o agronegócio, o e-commerce tem um grande potencial de consumo dado à quantidade crescente de novas construções de Centros de Distribuição. A tendência é de maior consumo em 2021 nestes setores da economia, suprindo, assim, a queda de consumo de implementos por outros setores”, expõe.
Com o aumento principalmente no e-commerce, o setor de transportes precisou de mais caminhões nas ruas para dar conta da grande demanda de entregas. O mesmo aconteceu com o setor do agronegócio, que desde o início da pandemia está em crescimento. “Nossos produtos mais vendidos são o bitrem rebaixado e o semirreboque furgão dois eixos, que demonstram o comportamento do mercado atual”, cita Julio Cesar Skowasch, diretor da Joinville Implementos.
Para Sandro Trentin, diretor da divisão Montadora das Empresas Randon e diretor-geral da Randon Implementos, o crescimento do agronegócio e do e-commerce impacta positivamente: pela demanda, que gera um constante aumento no volume de produção de implementos, e por acelerar transformações e processos. “Uma tendência que já se apresentava ainda antes da pandemia, e que vem se consolidando, é a de oferta de produtos mais tecnológicos e sustentáveis. Entre os implementos mais fornecidos pela Randon estão as linhas Graneleiro e Basculante, além das linhas de Tanque, Frigorífico, entre outras”, expõe.
Ainda segundo ele, o e-commerce já está refletindo na recuperação de um setor ainda adormecido no país, que são as entregas urbanas e de curto prazo, o chamado last-mile. “Diferente do segmento pesado, o segmento de leves (carrocerias sobre chassi) ainda enfrenta um período recessivo nos últimos três anos e é percebível que o aumento do consumo online com entregas urbanas em domicílio favorece esse negócio”, destaca.
No caso da Tailtec & Docktec, as plataformas elevatórias de carga veiculares são cada vez mais utilizadas no segmento de entregas urbanas, “com uma firme tendência de crescimento, principalmente com a sua aplicação em caminhões de pequeno porte”, diz o engenheiro Edison Salgueiro Jr., diretor da empresa.
Efeitos da pandemia
O mercado de implementos rodoviários sofreu os impactos da pandemia e reagiu negativamente, com uma significativa diminuição de produção e consequente queda de receita, o que levou várias empresas a se readequarem à nova realidade. Demissões foram inevitáveis, já que economicamente o mercado não reagia. A análise é de Eduardo Simas dos Santos, presidente da Kabí.
“O ramo da indústria metalúrgica foi bastante impactado e continua sendo, já que estamos amargando elevados aumentos no preço da matéria- -prima principal, que é o aço, sem conseguir fazer o repasse ao consumidor final”, continua.
A Nivelartec, por exemplo, teve queda de aproximadamente 30% no faturamento de abril a junho. “Neste período, bancos, factorings e fundos diminuíram a injeção de capital, construtoras pausaram obras e clientes solicitaram prorrogações de pagamentos e entrega de equipamento já em produção, afetando diretamente o fluxo de caixa e a liquidez”, conta Fabio.
Ele explica que esse impacto demandou atitudes urgentes, pois, diferentemente de qualquer crise, em que há adaptação às mudanças, esta exigiu gestão, controle emocional e decisões dentro de uma semana, como colocar no mercado projetos de equipamentos diversificados que estavam parados ou engavetados, possibilitando a diversificação de vendas.
“Foi necessário também muita negociação e aumentar o relacionamento com fornecedores essenciais, sempre em busca de preservação da margem de lucro e liquidez. Além disso, aumentamos o atendimento na prestação de serviços que terceirizávamos antes da pandemia e fechamos parcerias para fabricar outros produtos fora de nossa linha, terceirizando produção de outras indústrias”, acrescenta Fabio.
O diretor comercial e industrial da Nivelartec acredita que todos os segmentos foram impactados, porém, equipamentos ligados à indústria aeronáutica, construção civil e indústria automotiva tiveram um resultado pior, de forma geral.
De fato, de acordo com Marcos, da Noma do Brasil, o ano começou com um resultado muito bom, mas a pandemia naturalmente freou o ritmo de crescimento por alguns meses. “O mercado de implementos apresentou uma queda no primeiro semestre, mas, já no final do período, pudemos enxergar uma recuperação. Tanto que a Noma conseguiu manter seu market share em equilíbrio entre alguns setores que vivenciaram retrações e outros que apresentaram crescimento, como siders (cargas paletizadas e bebidas), tanques e florestal. Este último subiu mais de 16%”, expõe.
Trentin, da Randon, analisa que o mercado de implementos rodoviários teve um período muito adverso no mês de abril, época em que foram sentidos os efeitos mais negativos da pandemia nos negócios, com quedas nos volumes de produção e vendas. No entanto, a partir de maio, os volumes passaram a apresentar uma recuperação gradativa, que se intensificou ao longo do mês de junho. “Um fator fundamental para esse cenário foi o fortalecimento do agronegócio, com as condições cambiais favoráveis, de safra e de demanda.”
O efeito mais notório, para Denis Rocha, gerente comercial de Implementos Rodoviários da Truckvan, foi a volatilidade da demanda. “Tivemos uma cessão na demanda no primeiro semestre, e já no início do segundo semestre houve uma retomada acentuada em praticamente todos os segmentos, trazendo dificuldades aos fabricantes na reacomodação da carteira e devido aos reajustes nos custos em toda a cadeia de fornecimento, muito em função do cambio pressionado, o que elevou os custos e gerou escassez de matéria-prima no mercado interno. Contudo, favoreceu as exportações, principalmente no setor agrícola e de itens primários”, relata.
Rocha ressalta que toda mudança abrupta no mercado traz traumas e incertezas no planejamento, no entanto, o setor já vem de grandes crises, fazendo com que as empresas estejam mais preparadas, sendo ágeis e aptas a entender o novo. “As que melhor executaram isso, neste momento, estão se beneficiando da mesma maneira, seja na expansão ou renovação de portfólio, seja nas melhorias e otimizações produtivas e de gestão”, complementa.
Por sua vez, Bett, da Librelato, diz que houve muita incerteza e consequente impacto nos negócios. As previsões negativas chegaram a mais de 40% de queda no mercado, sendo que antes da pandemia estimava-se um mercado 10% superior a 2019.
“Tudo isso exigiu que as decisões fossem tomadas de forma célere, sempre com viés de preservação da saúde de nossos funcionários e respeitando todos os protocolos de saúde divulgados na época e que se mantêm até os dias de hoje”, revela.
Naquele período, a empresa promoveu férias coletivas de 20 dias e depois adotou uma escala de trabalho flexível para a indústria e home office para os setores administrativos. Para Bett, os segmentos mais afetados foram aqueles que não tinham ligação direta com o agronegócio, como o de consumo, por exemplo.
Skowasch, da Joinville Implementos, reconhece que não é possível mensurar, ainda, os efeitos causados pela pandemia. Ele conta que o segmento de implementos rodoviários iniciou 2020 com crescimento de aproximadamente 6,72% em relação ao mesmo período do ano anterior, porém fechou o primeiro trimestre com uma queda de 13% em relação ao ano anterior, segundo dados da Anfir. “Neste período, estamos enfrentando os desafios da instabilidade do mercado e da alta na procura por implementos rodoviários sem as implementadoras estarem preparadas.”
Por outro lado, segundo Salgueiro Jr., da Tailtec & Docktec, a área responsável pela distribuição urbana teve reflexo positivo, pois houve um significativo aumento no volume de cargas na área de supermercados (alimentos) e no e-commerce.
Reflexos
“A pandemia trouxe uma necessidade muito grande de gestão para as empresas do setor, tirando todos da zona de conforto e de uma forma muito abrupta, com a necessidade de maior controle de custos, tornando as empresas mais enxutas”, comenta Fabio, da Nivelartec.
Ele acredita que, com a retomada de economia ainda de forma gradativa, em seis meses haverá um consumo próximo ao que a empresa tinha antes da pandemia. E, em 2021, de acordo com a projeção e a percepção do mercado, a Nivelartec crescerá pouco, mas crescerá.
Skowasch, da Joinville Implementos, diz que com o advento da pandemia de Covid-19, os hábitos de compras dos brasileiros se transformaram. Por exemplo, o e-commerce cresceu 71% em 2020, em relação ao mesmo período do ano anterior. O setor de alimentos no geral também teve aumento de 3% e as exportações de alimentos em torno de 12,8% em relação ao mesmo período de 2019. “Isso gerou o aquecimento do setor de transportes e, consequentemente, dos implementos rodoviários, devendo se manter nesta crescente pelos próximos meses.”
Na opinião de Santos, da Kabí, se for possível “frear” os constantes aumentos do aço, haverá uma boa perspectiva de crescimento. “O setor de coleta seletiva e concessões de rodovias se mostram promissores”, acrescenta.
Na análise de Rocha, da Truckvan, como o Brasil tem o agronegócio pujante e consolidado, o segmento basculante tem ganhado bastante espaço no setor, em função das otimizações dos produtos em oferta pelos implementadores, com ganho de tara e com a sua característica de descarga mais ágil, levando produtividade e eficiência nos portos e, assim, maior giro do equipamento. “Também houve retomada do segmento da linha de semirreboque furgão, impulsionado pela alta do e-commerce e retomada do consumo, apoiada no auxílio emergencial do governo”, adiciona.
Também fala do agronegócio Bett, da Librelato. “Com o agronegócio brasileiro novamente sendo a locomotiva da retomada econômica, com uma safra recorde, valor das commodities em alta e mercado chinês comprador, todos os implementos relacionados a este setor, principalmente a linha graneleira, acompanharam o viés positivo do mercado”, diz.
Além disso – continua o entrevistado –, com a economia gradativamente voltando a crescer, o setor como um todo voltará a apresentar desempenho positivo, seja pelas demandas geradas através da infraestrutura, seja pela volta do consumo, entre outros, como a construção civil.
O que se verificou como reflexos da pandemia, na opinião de Trentin, da Randon, foi a manutenção e o fortalecimento da demanda do setor do agronegócio, impulsionados pelo aumento da demanda por grãos e o câmbio favorável. Mas outros setores também se destacaram, como aqueles relacionados a produtos essenciais e o transporte de mercadorias para atender o crescimento do comércio eletrônico de itens variados.
“Entendemos que, mesmo considerando as oscilações sazonais do período, as demandas desses setores tendem a se manter em níveis mais altos, alavancando toda a cadeia econômica envolvida”, declara o profissional.
Por sua vez, Marcos, da Noma, revela que a empresa está bastante otimista, apostando em uma retomada responsável, em linha com as necessidades do país, que envolve a melhoria da cadeia logística das estradas e dos equipamentos que nela circulam. “Acreditamos que o agro, que foi o grande motor que segurou a economia neste semestre e que é a vocação do país, deve manter um aquecimento importante”, expõe.
De acordo com Salgueiro Jr., da Tailtec & Docktec, principalmente os hábitos adquiridos com o e-commerce não vão mais regredir, gerando, pelo contrário, um aumento cada vez maior no volume de cargas.
Perspectivas
É fato que todos os setores da economia brasileira utilizam implementos rodoviários em sua cadeia, em menor ou maior intensidade. Isso é reflexo de uma matriz de transporte predominantemente rodoviária, com taxa superior a 60%, como comenta Trentin, da Randon.
Ele enxerga duas tendências distintas. No segmento de pesados (trailers), é cada vez mais crescente a massa transportada. O Brasil vem evoluindo nas duas décadas com aumento do peso bruto total transportado, também em tamanho e dimensões das combinações de veículos de carga.
No segmento de leves (sobre chassi), devido às restrições de acesso aos centros urbanos e ao fracionamento crescente das mercadorias de consumo transportadas, há um ingresso de veículos menores para atender esse setor, muito ligado ao conceito do last-mile.
“A perspectiva que se apresenta, para além de novos setores que possam demandar desses produtos, é a constante transformação dos nossos portfólios, agregando inovação, tecnologia e novas soluções para os produtos e processos em desenvolvimento”, salienta Trentin.
Sem dúvida que o e-commerce aparece como força surpreendente e, neste segmento, Marcos, da Noma, destaca os siders e os furgões. “Também estamos apostando em setores já tradicionais, com potencial de ampliação, como o florestal e o agro como um todo, que representam quase 70% de todo o nosso portfólio”, conta.
Ainda segundo ele, há também crescimento na demanda da indústria em geral, tanto que a empresa lançará, em breve, um carrega tudo, que transporta, por exemplo, máquinas agrícolas. “Também deveremos enxergar mais aplicações de alumínio e aço inox nos implementos e investimentos em soluções que gerem segurança e menos parada para manutenção”, conta.
Com o aumento exponencial do e-commerce, diversos setores que até então não forneciam serviços de entrega tiveram de se adaptar ao novo comportamento dos consumidores. “E vemos este comportamento refletir no setor de implementos rodoviários, que desde julho está com o mercado superaquecido”, observa Skowasch, da Joinville Implementos.
Realmente, o crescimento do setor de transporte, impulsionado pelo e-commerce, trará aumento na venda de veículos leves e pesados, como aposta Santos, da Kabí.
“As empresas de e-commerce e de logística estão mais próximas e sensíveis ao setor do transporte em si, haja vista que uma parte do ‘produto’ reconhecido pelo cliente é o recebimento do item no tempo e da forma adquirida. Desse modo, elas movimentam o segmento de implementos, assim como o de locação”, opina Rocha, da Truckvan
Para Bett, da Librelato, a tendência são implementos cada vez mais inteligentes com muita eletrônica embarcada e conectividade. Já para Fabio, da Nivelartec, empresas de porte médio no setor alimentício podem gerar consumo de implementos rodoviários em 2021.
Soluções oferecidas
Joinville Implementos: sobre chassi furgão de alumínio e lonado, semirreboques furgão de alumínio e lonado, linha isotérmica sobre chassi e semirreboque. Serviços de reformas, reparos, etc.
Kabí: poliguindastes, roll on off e caçambas estacionárias (coleta de resíduos), guinchos-socorro, plataformas reboques, lanças elevatórias (cestos aéreos) e plataformas pantográficas, entre outros.
Librelato: semirreboques, bitrens, bitrenzões, rodotrens e tritrens, nos modelos: graneleiro, basculante, tanque, furgão alumínio, furgão lonado, portacontêiner, carrega tudo, florestal, canavieiros, entre outros.
Nivelartec: niveladoras de doca, doca elevatória móvel, rampa rebocável, plataforma pantográfica e plataformas ergonômicas.
Noma do Brasil: linhas graneleira, siders, portacontêineres, smart floor, basculantes, furgão, carga seca, bobineiro furgão frigorífico e tanques.
Tailtec & Docktec: plataformas elevatórias de cargas veiculares em vários modelos e capacidades de carga.
Truckvan: semirreboque, reboque, bitrem e rodotrem, modelos graneleiro, sider, furgão, carga seca, piso móvel, transporte de valores e inloader, além das tradicionais carrocerias roll-up para transporte de bebidas.