Com o incremento da informática, o consumidor se digitalizou e impulsionou o crescimento do e-commerce no país, gerando uma transformação, também, do segmento logístico.
Por outro lado, o transporte de cargas, concentrado em sua grande parte no modal rodoviário, precisou se adaptar para trabalhar com um volume, cada vez maior, de cargas fracionadas. E aqui surgem os desafios.
“Os desafios da gestão da carga fracionada são vários, desde aqueles que passam pela adoção de tecnologia até os que só poderiam ser tratados com a implementação de políticas públicas de incentivos, melhorias na infraestrutura rodoviária e adoção de outros modais de transporte, como fluvial, aéreo e ferroviário”, afirma Rafael Loth, gerente de logística da Benner (Fone: 11 2109.8500).
Segundo pesquisa feita em parceria com a Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, o especialista destaca que a defasagem do frete nas operações de transporte rodoviário de cargas é de 20,89%. Quando se olha especificamente para o transporte de cargas fracionadas, o índice de defasagem é relativamente menor, mas igualmente preocupante, tendo sido observado um déficit de 7,72% nos preços praticados. Com números como esses – comenta Loth –, toda a cadeia logística das empresas é afetada, assim como os seus índices de produtividade, já que é preciso reduzir os custos de produção ao máximo para tentar equilibrar as perdas observadas com os valores de frete cada vez mais abaixo da média ideal. “Algumas medidas são fundamentais: o planejamento de rotas, por exemplo, para a carga fracionada é um diferencial de eficiência. Ele contempla todos os pontos de atendimento, ao mesmo tempo em que se otimiza os custos do frete. Deve-se ter como objetivo principal a redução da quilometragem a ser rodada, mas sem desconsiderar os custos do transporte, como pedágios, segurança e, hoje em dia, o trânsito em tempo real”, diz o gerente de logística da Benner. Outro ponto é definir uma gestão do custo bem alinhada. Sabemos que os custos são vários dentro de uma única viagem: custos diretos, indiretos, de riscos e segurança, embalagens, depreciação do veículo, manutenção do veículo, pedágio e impostos, entre tantos outros. “Saber realizar um rateio de custos entre as mercadorias transportadas, visando à lucratividade em cada viagem e em cada volume transportado, é um cálculo que diferencia negócios rentáveis daqueles que não dão certo! Já que no transporte fracionado temos diversos itens, de diversos clientes, em um mesmo veículo.”
A segurança da carga também merece atenção redobrada! De maneira geral, pode-se dizer que o transporte fracionado oferece menos segurança para as cargas, dada a quantidade de etapas intermediárias e o excesso de manuseio. Por isso, essa modalidade requer um cuidado maior para evitar perdas e outras ocorrências que podem afetar a satisfação dos clientes. Ter uma forma de comunicação colaborativa e o mais próximo possível do tempo real diminui riscos de prejuízo. Loth lembra que também é preciso ter atenção ao controle de redespacho, redespacho intermediário e subcontratação! “Sabemos que o Brasil é um país com distâncias continentais e, para atender a uma entrega que sai do Rio Grande do Sul até o Pará, por exemplo, a mercadoria pode passar por várias etapas, sendo manuseada por vários parceiros de uma transportadora. Fazer a gestão dessas etapas é um desafio gigantesco, assim como manter a informação com o cliente e os parceiros.” Após a entrega ainda há outro importante desafio: nada menos do que manter a lucratividade esperada da viagem, analisando os possíveis desvios de cobrança dos parceiros de transporte.
Diversidade
O fracionamento de carga é geralmente utilizado para atender às demandas do segmento de mercado B2C. Dentro do varejo, há outros nichos que também geram um grande volume de viagens fracionadas. As empresas de varejo que trabalham no formato Omnichannel – do físico para o online e/ou vice-versa, também devem se preparar para transportar cargas fracionadas, pois, existe neste formato, em especial, uma demanda por transferências regionais de mercadorias entre filiais, lojas e CDs.
“Outros setores que possuem uma alta demanda são os de cosmético e fármacos, pois são lojas pequenas, geralmente sem estoques, situadas em regiões centrais das cidades, onde se tem um difícil acesso, geralmente por restrições de trânsito”, coloca Loth. Também há a questão das cargas fracionadas em outros modais. Neste aspecto, o gerente de logística da Benner diz que a cabotagem tem sido uma opção eficiente em estados como Rio Grande do Sul, Ceará e Bahia.
“O Brasil possui 8.000 km de costa. Podemos citar algumas vantagens em utilizar a cabotagem na movimentação de cargas dentro do país: é um modal que compensa em distâncias mais longas (acima de 1.500 km); redução no tempo de entrega; menores riscos de avarias e de sinistros (acidentes e roubos).”
Naturalmente, existem diferenças entre transportar com caminhão e transportar com navio. Uma delas é que a cabotagem ainda sai mais cara em relação à carga de projeto – aproximadamente, 30% a 40% mais cara que o transporte rodoviário, destaca Loth. Quanto ao transporte aéreo de cargas, o Brasil ainda peca na estrutura, mas alguns pontos devem ser levados em conta, continua o especialista: é um sistema modal ágil, recomendado para mercadorias de valor agregado mais alto e para encomendas urgentes. Em relação às desvantagens do transporte aéreo, Loth elenca: incapacidade de transporte de carga a granel, como minério, químicos, petróleo e grãos; valor do frete com um custo maior, se comparado aos demais modais; possibilidade de carga muito menor que os modais marítimo e ferroviário, ficando na frente apenas do rodoviário; valor elevado da sua infraestrutura; existência de diversas restrições no tocante ao transporte de itens perigosos; e não viabilidade de absorção do alto valor das tarifas aéreas por mercadorias de baixo custo unitário, como matéria-prima e produtos semifaturados.
Tecnologia
A tecnologia também se faz presente na gestão de cargas fracionadas. Por exemplo, a IoT (Internet das Coisas) já é uma realidade neste segmento. Celulares e rastreadores fixos e móveis integram um pool de tecnologias atualmente quase que indispensáveis para uma boa prática de transporte de carga fracionada. Essas tecnologias proporcionam integração em tempo real de informações e permitem mudar planejamentos de forma ágil, além de proporcionar uma comunicação efetiva com parceiros e clientes de forma automática, fidelizando os clientes. “As API´s de integrações possibilitam compartilhar informações e tomar decisões de forma rápida e, também, disponibilizar e descentralizar dados. A roteirização possibilita fazer um planejamento diário, semanal, quinzenal ou qual for a periodicidade necessária da operação de transporte. Também se pode planejar a distribuição de mercadorias, levando em consideração gastos com combustível, obstáculos na estrada, entre outros fatores. O roteirizador permite encontrar rotas mais vantajosas e calcular a quilometragem, o que é feito para mensurar custos de fretes e analisar valores pagos às transportadoras terceirizadas”, ressalta Loth. O TMS é um tipo de software aplicativo voltado para o planejamento, controle e gestão de todos os processos relacionados ao transporte de cargas. Com ele, controlamos e monitoramos a lucratividade por serviço, operação e viagem, controlamos gastos e recebíveis. Um dos grandes facilitadores para o aprimoramento da gestão logística é a facilidade de acesso a informações estratégicas proporcionada pelo Business Intelligence (BI). Ele possibilita antever problemas, correlacionar causas e auxiliar no processo de tomada de decisões.
“O Blockchain, o IoT, a IA (Inteligência Artificial), Machine Learning, Big Data e a Cloud Computing são as grandes tendências do setor da Logística 4.0. Existem já vários experimentos e conceitos sendo testados no Brasil e ao redor do mundo”, enfatiza o gerente de logística. É importante salientar – continua ele – a aplicabilidade de cada uma dessas inovações. Por exemplo, o Blockchain pode ser utilizado para pagamento e conciliação de pagamentos de fretes, bem como rastreamento de mercadoria da produção até a entrega final. A implementação da Inteligência Artificial promove o aumento da produtividade por uma série de fatores. Em primeiro lugar, isso é resultado da diminuição das falhas: com a automatização de tarefas, erros mínimos que atrapalham o desempenho serão identificados e, assim, novas ações serão traçadas para eliminar os problemas. Portanto, as funcionalidades da IA promovem uma base mais eficiente para o planejamento das ações e a tomada de decisões no dia a dia das empresas. A Internet das Coisas tem impactado o dia a dia dos profissionais da área de logística. Com o conceito, é possível aperfeiçoar o monitoramento em tempo real de processos e atividades, além de tornar mais simples o gerenciamento de processos e o rastreamento de mercadorias e melhorar a detecção de falhas. Isso se dá por meio da fácil integração de devices, como celulares, rastreadores, sensores, coletores, transponders e RFID, entre outros. Além de tudo, estas novas tecnologias apresentam importante papel na segurança da carga, tanto na questão de manuseio quanto de roubo. “Para minimizarmos os furtos, desvios e ou roubos de carga temos alguns passos a serem observados, como a conferência por meio de um aplicativo móvel das mercadorias, que diminui o risco de desvio e aumenta a segurança nos pontos de manuseio. O rastreamento minimiza os riscos durante a transferência da mercadoria entre filiais e durante a viagem até o cliente final.” A aplicabilidade dessas tecnologias visa aumentar o nível de serviço do prestador de serviço de transportes, atrair a confiança e fidelização do cliente. Atualmente não existe como em uma operação de alto volume ter um alto nível de qualidade de prestação de serviço sem a aplicação e o uso de tecnologia, enfatiza o gerente de logística.
O papel do embarcador
Outro elo importante, o embarcador logístico também está adotando processos mais inteligentes e automatizados. Isso significa que a operação dos transportadores deverá ser baseada, cada vez mais, nas melhores práticas do mercado e com atualizações constantes, para garantir uma comunicação integrada e evitar expor seus clientes a qualquer tipo de falha.
Loth argumenta que a tendência da logística, de forma mundial, é ser mais colaborativa, tanto na relação do embarcador com transportador, tanto nas relações embarcadores com outros embarcadores e transportadores com outros transportadores. Ele acredita que nos próximos anos iremos viver uma era de compartilhamento de informações, de aumento de sistemas colaborativos para atendimento das necessidades, diminuição dos custos e, de forma geral, muito menos conflitante.
Gestão de volumes
Sabendo a importância deste processo, principalmente para o ganho operacional do transportador, a Benner, desenvolvedora de software de gestão e serviços de BPO, apoia as empresas com um módulo específico, o “Gestão de Volumes”. Ele foi desenhado para viabilizar uma entrega segura e ágil das cargas com muitos itens. Assim, assegura os carregamentos, respeitando os prazos de liberação dos veículos, e prioriza, sempre, a qualidade do serviço do transporte, diz Loth.
A solução oferece recursos completos para evitar possíveis atrasos nas entregas, gerados por extravios de produtos. Isso porque todos os volumes carregados são devidamente registrados, nada passa sem documentação. E, ainda, a tecnologia é totalmente mobile, proporcionando flexibilidade e autonomia para os gestores.