Raquel Serini – Economista do IPTC – Instituto Paulista do Transporte de Carga
Em face do importante papel socioeconômico exercido pelo transporte rodoviário de cargas, traremos aqui informações substanciais para estimular discussões sobre o planejamento estratégico das empresas, as políticas de representatividade do setor e, acima de tudo, sobre os impactos gerados por fatores externos.
De modo geral, mesmo diante de vários momentos de crise, a economia apresenta melhora, porém a passos lentos. O Produto Interno Bruto – PIB brasileiro cresceu 0,8% no 3º trimestre de 2018, na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao 3º trimestre de 2017, a alta foi de 1,3%, o que representa, em valores correntes, R$ 1,716 trilhão no trimestre.
Seguindo a tendência de recuperação da economia, o setor obteve resultados favoráveis na variação do volume transportado, que aumentou em média 16% em 2018 com relação a 2017, acompanhado por um aumento de 21% no faturamento das empresas e consequentemente com um incremento nas tarifas, pois 74% das empresas apresentaram um aumento na lucratividade.
Diante disso, existe a perspectiva de alavancagem nos negócios e, assim, aumento na contratação de mão de obra, investimentos na área tecnológica e na renovação da frota. Além dos indicadores financeiros positivos, uma onda de otimismo no cenário político para os próximos quatro anos influencia, e muito, nos resultados. Isso se deve à confiança de 92% dos empresários entrevistados, que acreditam no novo governo e nas mudanças já propostas por ele. Mas muitos acreditam ainda que a concorrência desleal, as políticas públicas e a demanda por carga são fatores que podem limitar o crescimento de suas empresas.
Observou-se, também, que as empresas que mantinham 5% da frota exclusivamente terceirizada, em dados apresentados no estudo anterior (2017-2018), esse ano mudaram de estratégia, adquirindo mais veículos próprios ou então adotaram uma frota mista. Esse movimento se deve também à “Manifestação dos Caminhoneiros Autônomos” no final de maio/2018, que gerou grande insegurança no mercado de transporte, ou seja, correr o risco de uma nova paralisação, não atender aos prazos dos clientes, enfim ficar cativo de uma única opção não seria viável.
PRINCIPAIS RESULTADOS
– Cenário Otimista: 92% dos entrevistados acreditam no governo e nas mudanças propostas por ele.
– O aumento médio foi de 16% no volume transportado.
– 85% das empresas tiveram aumento no faturamento em 2018 se comparado a 2017.
– O aumento médio do faturamento foi de 21%.
– O lucro médio das empresas foi de 12%, um aumento de quatro vezes em relação à pesquisa anterior.
— 59% das empresas pretendem ampliar o quadro de funcionários em 2019.
– Investimento: as empresas pretendem investir 10% do faturamento na renovação da frota e 4% do faturamento em novas tecnologias.
– Frete: 52% acreditam que o valor do frete irá melhorar em 2019.
Outro ponto relevante discutido é a dificuldade de as empresas se adequarem à nova “Política Nacional de Piso Mínimo de Frete”, não no momento do repasse para o motorista autônomo, mas, sim, na reformulação do seu preço de frete. Renegociar todos os contratos não deve estar sendo uma tarefa fácil.
Digo isso porque apenas 24% das empresas entrevistadas conseguiram se adequar totalmente a essa nova prática, 42% delas se adequaram parcialmente, 13% ainda não se adequaram, ou outros 21% não aplicam a tabela por atuar em segmentos não contemplados no decreto. Analisando mais a fundo, percebe-se também que as categorias com maior entrave nas negociações comerciais com embarcadores são: carga perigosa e carga a granel.
Diante de tudo o que foi dito, o setor de transporte rodoviário de cargas demanda por melhorias na infraestrutura rodoviária; equilíbrio nos preços dos insumos – principalmente do óleo diesel, que esteve em debate durante todo o ano passado; acesso ao crédito para compra de equipamentos; redução da carga tributária; combate à concorrência desleal; capacitação especializada da sua mão de obra, ou seja, o desejo é que o setor seja visto pelo novo governo de forma mais valorizada.
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