Em que pese ser encarado como “primo rico” dos modais, o aéreo vem tendo um crescimento significativo, em função das novas necessidades do mercado. Mais precisamente em 2018, o setor também foi afetado, negativa e positivamente, pela greve dos caminhoneiros.
O ano de 2018 chega ao fim marcado por uma pequena recuperação econômica – segundo os economistas, tecnicamente a recessão terminou no ano passado –, pela greve dos caminhoneiros, que alcançou proporções não estimadas pela mais competente das videntes, e pela fixação de uma tabela de fretes para o setor rodoviário, que ainda é motivo de polêmica.
Qual o reflexo de tudo isto num modal que, por um lado, é tido como caro e, por outro, foi afetado, positiva e negativamente, pelas mazelas que acometeram o rodoviário neste ano que termina: o transporte aéreo de cargas? Ou seja, como foi o desempenho do transporte aéreo no ano de 2018?
“O ano de 2018 veio a consolidar o crescimento do mercado nacional como um todo e denotar 2019 como um ano promissor. Nossa percepção é de que o ano termina melhor do que iniciou, com cada vez mais possibilidade de novos negócios e crescimento interno da empresa. Fato a ressalvar deste 2018 foi o impacto causado pela greve dos caminhoneiros que, inevitavelmente, causou retardo nas movimentações produtivas e comerciais do país inteiro, não somente do setor aéreo de cargas. A formalização da tabela de fretes da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres ainda não é algo praticado na íntegra por todo o mercado rodoviário, por conta da concorrência e da falta de fiscalização. Por isso entendemos que não há demasiada interferência na movimentação de cargas via modal aéreo”, comenta Smiderle Boff, gerente geral da Cargocenter Agência de Cargas (Fone: 54 3218.5840).
Também para o diretor de cargas da GOLLOG – Unidade de Cargas da Gol Linhas Aéreas Inteligentes (Fone: 0300 101 2001), Eduardo Rodrigues Calderon, o ano de 2018 tem se mostrado muito bom para o setor aéreo de cargas. “Depois de uma queda bastante expressiva do volume transportado pelo modal aéreo, em 2016, e da manutenção dessa fraca demanda em 2017, neste ano temos observado um crescimento acentuado da demanda, embora ainda não suficiente para fazer com que o volume transportado volte aos patamares de 2014.”
Ainda de acordo com Calderon, a greve dos caminhoneiros, ocorrida no final de maio, embora tenha levado a um aumento pontual do volume de cargas transportadas por este tipo de modal, causou um desbalanceamento na relação oferta x demanda no transporte aéreo de cargas que somente foi corrigido no final do semestre.
René Genofre, diretor de Produto Aéreo da Panalpina Brasil (Fone: 11 2165.5500), também ressalta que, em 2018, apesar do cenário econômico ainda retraído, perceberam uma alavancada do transporte aéreo de cargas, em parte pela retomada do consumo e outra em decorrência das consequências da greve dos caminhoneiros. “A realidade atual do mercado aéreo de cargas está dentro da faixa projetada de crescimento, que é por volta de 4% mundialmente e entre 4% e 5% para a América Latina, previstas pela Associação Internacional de Transporte Aéreo – IATA”, diz.
Ainda segundo Genofre, a greve dos caminhoneiros causou dois impactos contrários no transporte aéreo de cargas. O primeiro foi negativo, com a escassez de caminhões para realizar o transporte terrestre das cargas na chegada e saída de aeroportos, o que causou atraso no fluxo das exportações e nas importações. Entretanto, ao mesmo tempo, houve um aumento na conversão para o modal aéreo no transporte de cargas internacionais e domésticas, que são predominantemente movimentadas pelo rodoviário, para suprir as demandas de mercados e a regulação de estoques, entre outros fatores.
“Na Panalpina Brasil, já atingimos um crescimento no volume de transporte aéreo de 8,0%, o que significa o dobro do previsto no inicio do ano, que foi estimado acompanhando o indicado pelo mercado”, comemora Genofre.
Já a Dachser Brasil (Fone: 19 3312.6200), aproveitando que as exportações aéreas foram positivamente impactadas pelo cenário econômico brasileiro estável, bem como o câmbio, apresentou um crescimento de mais de 50% na tonelagem de exportação pelo segundo ano consecutivo. Tal resultado não foi ainda melhor em razão do problema no fluxo de descarga nos aeroportos, principalmente em Guarulhos, SP, que já vinha sofrendo alguns impactos principalmente em razão da greve na Receita Federal: havia acúmulo de cargas trânsito aguardando autorização e que também afetavam as exportações diretas.
“A greve de caminhoneiros veio piorar essa situação, a ponto de durante muitas semanas algumas companhias aéreas operarem com suas aeronaves praticamente vazias. Esperamos que este ano o peak season seja novamente forte para o aéreo, não somente pelo aquecimento do mercado, mas também pela falta de espaço no modal marítimo”, pontua João Paulo Caldana, diretor executivo da Dachser Brasil. Também na contramão dos efeitos remanescentes da crise econômica, a Azul Cargo Express (Fone: 4003.1118) cresceu 62% em seu faturamento no terceiro trimestre deste ano, comparado com o mesmo período do ano passado. “Nossa empresa conquistou novos clientes corporativos no segmento de comércio eletrônico e abriu 35 novas lojas ao longo de 2018”, pontua Enio Rabelo Frota, gerente de planejamento de cargas da empresa.
No cenário geral, 2018 vem sendo positivo para o modalidade de transporte aéreo de carga doméstica também na visão de Wanderley Soares, diretor da Unicargo (Fone: 11 2413.1700). Ele destaca que, após dois anos de crise, 2018 está se aproximando dos patamares apresentados em 2015. Segundo a ABEAR – Associação Brasileira das Empresas Aéreas, em 2015 foram transportadas 388 mil toneladas de carga doméstica, já em 2016 foram 321 mil toneladas e em 2017, 348 mil. “Se aplicarmos o índice de crescimento apontado pela ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil acumulado até outubro de 2018 de 11,9% comparado ao ano anterior, projetamos uma estimativa de fechar esse ano por volta das 383 mil toneladas, número bem próximo ao atingido em 2015”, comenta Soares.
O transporte aéreo de cargas da UPS do Brasil (Fone: 11 5694.6600) também teve um 2018 positivo. “Ainda não temos números fechados, mas atualmente atuamos nos principais aeroportos do país em mais de 20 cidades em todo o território nacional.”
Ainda de acordo com Silvio Silva, gerente nacional de Freight Forwarding da UPS do Brasil, em relação à greve dos caminheiros, ela afetou suas operações por conta dos problemas de atraso na entrega de combustível e, também, no posterior congestionamento dos aeroportos.
No Brasil, o ano foi bom também para a American Airlines Cargo (Fone: 11 2445.6565). Considerando todos esses acontecimentos, a empresa conseguiu cumprir a meta para o período. “Também tivemos um aumento na procura pelo transporte aéreo de cargas devido ao aumento do tempo de transit time dos navios de carga, assim como pela diminuição no número de embarcações”, diz Dilson Verçosa Jr., diretor regional de vendas da empresa no Brasil;
Ruim, mas bom… – Otimismos à parte, várias outras empresas atuantes neste segmento não se sentiram confortáveis em 2018. Mas, mesmo assim, muitas delas apontam crescimento mesmo em meio à tempestade.
No caso da Allink Neutral Provider (Fone: 11 3254.9766), Elias Sader, gerente da filial Curitiba e do Produto Aéreo, diz que o segmento de cargas aéreas em 2018 não mostrou recuperação nos níveis de 2014, pois mundialmente os exportações diminuíram e também um fator importante foi que os prazos de entrega das mercadorias aumentaram, fazendo com que a necessidade do transporte aéreo não fosse a prioridade de transporte.
“Aqui no Brasil – continua Sader –, devido à greve dos caminhoneiros tivemos um cenário de muita carga que seria embarcada por via marítima e terrestre sendo embarcada por via aérea, para que o prazo de entrega fosse cumprido, fazendo com que tivéssemos um ‘boom’ de carga aérea na exportação e as superlotações dos aeroportos e a nítida e cruel realidade de quanto necessitamos de investimentos em infraestrutura em nossos setores de logística, pois com este cenário os principais aeroportos do país que movimentam a maior quantidade de cargas quase vieram a colapsar e parar suas operações. Nítidos sinais que precisamos urgente de investimentos nesta área.”
Francisco Seixas, managing director da Avanti Logistics (Fone: 41 3372.6079), também diz que o ano de 2018 foi realmente difícil até as eleições, tanto na importação quanto na exportação para o setor aéreo, porém, após a definição do novo presidente, perceberam que o mercado reagiu de uma forma bem significativa, quando houve aumento no número de cotações em todos os setores da indústria para o transporte de cargas aéreas internacionais.
“Um dado interessante que ocorreu – prossegue Seixas – foi o aumento da participação dos embarques aéreos provenientes da China na indústria de máquinas, transformação e têxtil, mesmo sendo eleito Jair Bolsonaro. E, um terceiro fator importante foi o reposicionamento da China nos mercados da América Latina como um todo, devido às sobretaxas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.”
Por outro lado, continua o managing director da Avanti Logistics, a aproximação do presidente eleito das diretrizes comerciais e econômicas do presidente Trump, bem como a busca de novas tecnologias em outros mercados, mostram um governo mais disposto à abertura de mercado e a consolidação de um Comex mais forte e atuante.
Na visão de Jefferson Stahelin, diretor da JTT Soluções Logísticas (Fone: 47 3037.4550), ainda como reflexo da crise econômica enfrentada no Brasil nos últimos anos, 2018 ficou marcado por uma redução no volume de movimentação da carga aérea tradicional. A greve dos caminhoneiros acabou por afetar também o segmento aéreo, uma vez que gerou o desabastecimento de combustível na maioria dos aeroportos.
“Tivemos clientes que, por necessidade, queriam fretar aeronaves para garantir o escoamento de sua produção, porém as companhias negavam, priorizando o combustível para aeronaves de passageiros. O aumento da tabela de fretes rodoviários ajustada com o governo ainda está longe da tabela aérea, na comparação do frete-tonelada, o que não influenciou numa migração de modal. A grande virada do segmento aéreo para 2018 está no fracionamento das cargas, atingindo o e-commerce, um mercado em franca expansão, o que representou um crescimento acima de 40% em nosso faturamento este ano”, diz o diretor da JTT Soluções Logísticas.
Apesar de ter registrado aumento de receita, os resultados já divulgados pelo Grupo LATAM em 2018 demonstraram os impactos da valorização do dólar e o aumento do preço do petróleo.
De acordo com Diogo Elias, diretor geral da LATAM Cargo Brasil (Fone: 0300 115 9999), o segundo trimestre de 2018 também foi especialmente difícil em virtude da greve dos caminhoneiros e de eventos como os problemas no radar do aeroporto de São Paulo. “Apesar disso, as receitas de carga aumentaram 16,8% no segundo trimestre de 2018 em comparação ao mesmo período do ano passado, atingindo US$ 299,7 milhões, impulsionadas por um aumento de 6,7% nos rendimentos de carga, principalmente devido ao melhor ambiente de demanda na região. Além disso, o load factor (capacidade de carga) atingiu 54,9%, um aumento de 1,0 ponto percentual em relação ao segundo trimestre de 2017. As importações da América do Norte e da Europa para o Brasil e Chile apresentaram um crescimento em termos de receita por ATK (volume de Tonelada Quilômetro Oferecida), impulsionado por maiores importações de produtos eletrônicos e bens de capital.
“Os mercados de exportação mostram uma recuperação ano após ano, impulsionada principalmente pelas exportações de salmão do Chile. Como resultado, as receitas de carga por ATK aumentaram em 8,7% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, consolidando e aumentando ainda mais a tendência positiva apresentada desde o início do ano passado. A capacidade de carga, mensurada em ATKs, aumentou 7,5% no segundo trimestre de 2018”, completa Elias.
Outra empresa que colheu bons resultados em 2018, apesar das dificuldades apontadas, foi a MODERN Logistics (Fone: 11 4063.9338).
O CEO da empresa, Gerald Blake Lee, diz que, se para o setor do transporte aéreo de carga foi um ano difícil e incerto, para a MODERN Logistics foi um ano bastante favorável. “A empresa registrou um crescimento orgânico expressivo em 2018. Problemas há anos sem solução, como preços de frete, greves e demais ineficiências em infraestrutura, não serão resolvidos de forma tradicional, mesmo no melhor cenário econômico. A crise dos caminhoneiros em 2018 evidenciou a forte dependência no modal rodoviário e o déficit logístico que existe no Brasil. Por isso, a MODERN aposta em alternativas inovadoras e investe em novas tecnologias.”
Rodoaéreo – Numa mistura de modais aéreo e rodoviário, duas empresas também expõem sua visão nesta matéria especial. Uma positiva, outra negativa.
“Desde novembro de 2017 sentimos o mercado respondendo positivamente no nosso segmento (rodoaéreo), e o ano de 2018 foi muito bom, tivemos no acumulado janeiro/outubro os melhores números, tanto de faturamento como de performance operacional desde nossa inauguração, em 1998.”
A comemoração é de Guilherme Picolli, diretor comercial da CCA Express – Caxias Cargas Aéreas (Fone: 0800 603.0011). Ele também destaca que, durante a crise, identificaram muitas oportunidades de negócio em segmentos que não foram afetados (ou sentiram menos o impacto) pela retração de mercado – como o de tecnologia de energia alternativa, startups e franquias. “Estes novos segmentos aumentaram nosso mix de clientes, otimizando a estrutura que tínhamos, incremento este que se somou neste ano à retomada de clientes de segmentos tradicionais que sempre atendemos, como o automotivo, o que resultou em um 2018 com ótimos números”, diz Picolli.
Por outro lado, Jacinto Souza dos Santos Júnior, superintendente da Aeropress – Divisão Rodoaérea da Braspress Transportes Urgentes (Fone: 11 2177.1400), aponta que ano de 2018 foi de muita dificuldade para a especialidade rodoaéreo – a persistência da crise econômica, que impossibilitou o crescimento do pais, bem como as eleições presidenciais que monopolizaram as pautas geraram muitas dúvidas quanto a investimentos futuros e o país praticamente parou. “A greve dos caminhoneiros também prejudicou muito a economia, e isto também se refletiu no modal aéreo. Apesar de todas estas dificuldades, na Aeropress conseguimos reverter este cenário trabalhando dobrado e iremos, ao final do ano, comemorar um crescimento de dois dígitos”, completa Santos Júnior.
E 2019?
Diante desta retomada do setor, como seria o ano de 2019 para o segmento de transporte aéreo?
Sader, da Allink Neutral Provider, diz que ainda não conseguem cravar um avanço da carga aérea no próximo ano no cenário mundial, principalmente com as políticas protecionistas adotadas pelos EUA, que podem afetar diretamente a trade Ásia Pacifico, um dos principais da carga aérea mundial. Para o Brasil, o gerente da filial Curitiba e do Produto Aéreo da Allink Neutral Provider diz que pode ser uma oportunidade esta guerra comercial entre USA & China, pois, por sermos um dos principais parceiros da China, e também por termos proximidade com os USA nas relações comerciais, podemos nos beneficiar de ambos os lados e refletir em crescimento em nossas exportações aéreas em 2019.
Já Verçosa Jr., da American Airlines Cargo, está confiante que o mercado brasileiro vai continuar a se desenvolver em 2019, mas também há uma dependência da demanda pelo transporte aéreo das exportações e do valor do dólar, “que para nós é melhor quando está alto, incentivando outros países a comprarem produtos brasileiros”.
Também otimista, Seixas, da Avanti Logistics, lembra que, mediante a abertura de mercado teremos um crescimento financeiro mais significativo e a reafirmação do Brasil perante o mundo para um combate mais efetivo contra a corrupção, contra a pirataria e evasão de divisas.
“Esperamos que o novo governo termine de uma vez por todas com o viés ideológico que dominou o Comex do Brasil em relação a outros países nos últimos anos. Percebemos que há um interesse por parte dos investidores internacionais de voltar a apostar no país, o que abre a possibilidade de investimentos em novas fábricas, aumento no consumo interno e diminuição do desemprego, porém teremos grandes desafios a serem enfrentados devido a nossa falta de infraestrutura e investimentos no setor: há problemas sérios de falta de espaço nos terminais em Guarulhos, um dos principais hubs do país para recepção das cargas, e problemas sistêmicos, e também há a necessidade de muitos investimentos em tecnologia. Apostamos no crescimento econômico, do PIB e do saldo da Balança Comercial. A verdade é que o cenário econômico que se desenha tem trazido muita esperança e perspectivas de melhoras, porque a nova equipe de governo e seus ministros estão sendo formados na maioria por técnicos, e não políticos”, explica o managing director da Avanti Logistics. Calderon, da GOLLOG, completa: “acreditamos que o virtual crescimento do PIB e do consumo deverá levar ao aumento do transporte de cargas através do modal aéreo.” Stahelin, da JTT Soluções Logísticas, também aponta que, com a mudança de governo, a euforia começa a tomar conta da economia, o que deve impactar gradativamente de forma positiva no segmento nos próximos anos. Da mesma forma o e-commerce, que cresce muito além das taxas de crescimento anual da economia, tende a fortalecer o segmento e fazer com que o ano de 2019 seja positivo.
Elias, da LATAM Cargo Brasil, também ressalta que o comportamento da demanda de carga aérea está intimamente correlacionado com o do PIB, e que, em momentos de instabilidade econômica, a busca por esse tipo de transporte tende a oscilar.
Há, no entanto, ainda segundo o diretor geral, um grande potencial para crescimento do setor dentro do país, quando comparado a outros modais, tendo em vista a capacidade do avião de realizar a entrega de forma rápida e segura em todo o território brasileiro, fazendo o transporte de matéria prima e produtos já industrializados entre os estados que concentram a atividade industrial e agronegócio e as demais regiões do país. “A retomada do crescimento da infraestrutura poderá ajudar no aumento da atividade no país. Esse incremento beneficiaria não só o transporte aéreo, como os demais modais, que funcionam, várias vezes, como parceiros quando há a possibilidade de utilização do transporte intermodal.”
Por seu lado, Santos Júnior, da Aeropress, destaca que o Brasil precisa entrar novamente na rota do crescimento e do pleno emprego, só isso poderá fazer com que retornemos ao ciclo virtuoso necessário ao crescimento do setor. “Acreditamos que este será o caminho que o novo governo traçará e estamos confiantes que 2019 seja um ano de excelentes resultados.”
Boff, da Cargocenter, também tem uma boa expectativa para 2019, entendendo que o pior período de retração em nosso cenário econômico já passou. “Estimamos não perceber mais os efeitos da crise econômica iniciada em 2015, entendendo que os clientes embarcadores estão produzindo e vendendo em maior escala. Os avanços na volumetria do mercado brasileiro serão refletivos no setor de transporte, que serve como termômetro de nossa economia. Esperamos aumento de movimento de carga aérea, maior produtividade das empresas e possibilidade de crescimento de nossa empresa para atender esta crescente demanda. Consideremos ainda que o resultado das eleições presidenciais de 2018 estimulará o investimento de grandes corporações em nosso país, gerando mais emprego e renda, aumentando o consumo e a procura pelo serviço de transporte aéreo de cargas”, explana o gerente geral da Cargocenter.
Soares, da Unicargo, também acredita que, com a eminente retomada do crescimento econômico do pais no próximo ano, a tendência é de aumento da procura pelo transporte aéreo, motivada por alguns fatores: a necessidade em alguns segmentos de se reorganizar para atender ao aumento da demanda, a necessidade de opção frente aos riscos de dependência do modal rodoviário, que após a última greve elevou seus preços através da nova tabela de fretes, e o efetivo reconhecimento desse modal, evoluindo da simples comparação pelo preço com o modal rodoviário para a consideração de suas vantagens estratégicas de segurança, prazo e confiabilidade.
A UPS do Brasil é outra empresa que tem excelentes perspectivas para 2019, à medida que o país gradativamente apresenta uma melhora em sua economia, o que impacta positivamente os volumes de exportação e importação. “Com a recuperação econômica, a expectativa é de um aumento no volume de cargas importadas pelas pequenas e médias empresas brasileiras”, comenta o gerente nacional de Freight Forwarding da empresa.
Iniciando sua análise sobre como será 2019, Genofre, da Panalpina Brasil, cita que, para 2019, em relação às projeções do mercado, a IATA e o Fundo Monetário Internacional estimam um aumento por volta de 4,7% no volume de quilos transportados pelo modal aéreo, o que está alinhado com a previsão da média do Produto Interno Bruto (PIB) nacional de 3,8%, de 2017 a 2022.
“Então, a perspectiva para o ano é otimista e acredito que deve ser cumprida ou até mesmo superada em razão de alguns anúncios em investimentos no Brasil, o que deve acarretar em demandas por matéria prima, bens de capital, estoque e até por produtos importados.” A expectativa na Panalpina Brasil para 2019 é novamente uma taxa de crescimento ligeiramente superior à apresentada pelo mercado.”
A previsão de crescimento para 2019 da CCA Express é de pelo menos 60%, visto que muitos clientes já sinalizaram grandes investimentos em seus parques fabris, consequentemente ampliando a demanda pelos seus serviços.
“Outro ponto que nos deixa otimistas – complementa o diretor comercial da empresa – é que o mercado tem visto o transporte rodoaéreo como um grande aliado, pois favorece a atuação nacional com prazo de entrega ágil e seguro. Os investimentos em aeroportos e terminais de carga e a ampliação de malha aérea fizeram com as tarifas ficassem mais competitivas.”
Mais otimista ainda, o CEO da MODERN Logistics diz que, para o próximo ano, a previsão da empresa é atingir um crescimento acima de 100%. “Com o aquecimento econômico, a nossa meta é fechar novas parcerias, em atendimento às demandas da indústria. Também planejamos adquirir novas aeronaves, expandir a frequência de voos e implantar novos Centros de Distribuição pelo País.”
Tendências
Com tudo o que foi exposto, quais seriam as tendências para o setor de transporte aéreo de cargas, considerando novas tecnologias, novos nichos de mercado, etc.
Sader, da Allink Neutral Provider, destaca que a tendência do setor aéreo mundial tem sido os investimentos massivos em tecnologia da informação, como plataformas on-line de tarifas, sistemas de reservas on-line junto a companhias aéreas, sistemas de vendas e CRM´s voltados para a carga aérea como nunca tínhamos visto anteriormente. Isso com certeza já está gerando impactos positivos no setor em relação a maior acesso e abrangência da carga aérea para todos os níveis de empresas e clientes, e também a criação de networks mundiais especializados no setor de carga aérea, que conseguem competir frente a frente com as gigantes mundiais do setor.
Para Verçosa Jr., da American Airlines Cargo, a maior tendência é o eAWB, ou seja, uma versão eletrônica do manifesto ou AWB manifestada da carga, que vai facilitar e agilizar os processos no transporte de mercadorias. “Alguns clientes da American Airlines Cargo já implementaram esse sistema, mas como a mudança exige um investimento da parte das empresas contratantes também, ele ainda está sendo estudado por companhias de pequeno e médio porte. Sistemas de rastreamento de carga cada vez mais tecnológicos e precisos também devem ser uma tendência do setor.”
Ao alegar que o setor de transporte aéreo é um dos principais modais da cadeia logística mundial, Silva, da UPS do Brasil, diz que ele caminha em direção à tecnologia e automação. “Nossos clientes querem mais do que o transporte físico dos seus bens e mercadorias, querem informação, visibilidade e previsibilidade. Por outro lado, observamos com otimismo as mudanças no mercado e acreditamos que os próximos anos guardam grandes oportunidades de crescimento em segmentos como os da indústria da saúde e tecnologia.”
De fato, Seixas, da Avanti Logistics, diz que os desafios importantes a serem considerados para o setor serão o investimento em novas tecnologias e sua aplicação para modernizar e agilizar os processos de trabalho dos intervenientes do Comex. “Podemos citar alguns exemplos, como a inserção do conhecimento eletrônico sendo uma das tendências do transporte aéreo em 2019, e a tendência de modernização tecnológica principalmente com o funcionamento do Portal Único de Comércio Exterior no Brasil, que gradativamente vem sendo implementado.”
E Caldana, da Dachser Brasil, completa: a empresa já iniciou a implementação no Brasil do sistema global de operações, o Othello, “que trará ainda mais visibilidade aos nossos embarques e, uma vez implementado, permitirá maior agilidade nas cotações aos nossos clientes. As possibilidades de interação são infinitas, em linha com a tendência de e-commerce que hoje é um dos principais nichos do mercado aéreo.”
Já quando aos novos nichos de mercado que despontam como promissores para o setor de transporte aéreo de cargas, o managing director da Avanti Logistics cita o comércio eletrônico internacional, as telecomunicações, a biotecnologia, health food industry e 3-D printers.
Elias, da LATAM Cargo Brasil, diz que para os próximos anos, a tendência é que o setor de transporte aéreo de cargas direcione suas atenções para criação de ferramentas tecnológicas que tornem os serviços cada vez mais rápidos, eficientes, produtivos e globalizados. “Dessa forma, a empresa segue atenta aos movimentos de mercado em outras regiões, mas entende que há um grande potencial para crescimento do setor dentro do país. No Brasil, o modal aéreo ainda é subutilizado, com uma representatividade de aproximadamente 0,05%, quando comparado aos modais rodoviário, ferroviário, fluvial e por oleoduto, enquanto nos Estados Unidos essa participação é de quase 1%. No caso brasileiro, a própria dimensão territorial do país é um incentivo a ser explorado dentro do modal aéreo.”
Um ponto a destacar – ainda segundo o diretor geral da LATAM Cargo Brasil – é que o mercado voltado para o setor de entregas rápidas, geradas pelo incremento do e-commerce nos últimos anos, tornou-se um importante cliente, juntamente com as encomendas de pessoas físicas e micro e pequenas empresas, nichos que estão sendo explorados pela LATAM Cargo Brasil.
Frota, da Azul Cargo Express, também coloca como tendências o foco no desenvolvimento de tecnologias de integração com clientes – desde a emissão dos documentos de transporte até o retorno de rastreamento, principalmente nas plataformas de comércio eletrônico; Investimento em informação real time – aplicativos para baixas de entregas para motoristas; transporte aéreo como parceiro chave de clientes do e-commerce para cumprir o objetivo de atender a grande maioria dos municípios brasileiros em até dois dias (curtíssimo prazo).
“Entendemos que a estrutura das companhias aéreas vem sendo aprimorada para oferecer ao agente de carga melhor atendimento. O uso de novas tecnologias de tráfego de dados, por exemplo, é um diferencial neste mercado, onde a informação no tempo certo tem valor imprescindível. O uso de algumas ferramentas, como smartphones, softwares e rastreadores, melhora e acelera o tráfego de informações entre os players deste dinâmico mercado. Melhor atendimento refletirá cada vez mais na preferência dos consumidores por este modal de transporte de cargas, já que os novos mercados se desenvolvem num ambiente on-line e que exigem uma contrapartida justa entre o valor investido e o benefício conquistado. Novas empresas crescem no Brasil com um controle orçamentário cada vez mais rigoroso, onde não se permite o erro de estratégia, inclusive sobre o transporte de suas mercadorias”, completa Boff, da Cargocenter.
Em sua análise, Picolli, da CCA Express, também observa que o Brasil está muito longe dos EUA, da Europa e Ásia na proporção do uso do modal aéreo na composição logística, porém tem amadurecido muito nos últimos 10 anos, principalmente pela necessidade de o mercado acelerar cada vez mais o processo de transporte do ponto de industrialização até o cliente final. Ele observa, também, que muitas empresas vêm encurtando os canais de distribuição, ou seja, é uma tendência para alguns segmentos de mercado o transporte cada vez mais intenso da indústria para o cliente final. Operações de e-commerce costumam utilizar este formato, pois normalmente apenas um ponto de distribuição realiza a venda para o Brasil todo, gerando transportes fracionados de pequenas e grandes distâncias.
“Para o transporte rodoaéreo, essa tendência é muito favorável, visto que oferece grande capilaridade, prazos reduzidos e valores competitivos em cargas fracionadas”, conclui o diretor comercial da CCA Express.
Calderon, da GOLLOG, também cita o e-commerce em sua análise. Segundo ele, o transporte aéreo de cargas deverá crescer principalmente em função do crescimento do e-commerce. Hoje, esse tipo de comércio corresponde a cerca de 4% das vendas do varejo, enquanto nos EUA e na China, por exemplo, os percentuais são de cerca de 12% e 20%, respectivamente. Stahelin, da JTT Soluções Logísticas, também salienta que o investimento em tecnologia de informação, voltada principalmente ao rastreamento, informação de entrega, com uso de aplicativos para baixa de entrega, e roteirização on-line fazem com que o segmento venha a oferecer uma ótima relação custo-benefício ao mercado virtual, que compra cada vez mais e é sedento por informação em tempo real, na velocidade que a tecnologia avança.
“O usuário do transporte aéreo tende a ser cada vez mais exigente, principalmente com os meios de informação. Não se trata apenas de informação de entrega, pois já contamos com o registro fotográfico do comprovante no momento em que ela ocorre, mas sim, de cada indicador que possa oferecer opções de controle e melhoria contínua, como, por exemplo, os índices de avaria, inversão de uma possível recusa para entrega efetiva e o nível de satisfação dos destinatários”, aponta, agora, Soares, da Unicargo.
Lee, da MODERN Logistics, acredita que cada vez mais as empresas serão pressionadas a obter mais produtividade, a expandir seus mercados e ter mais eficiência em toda a cadeia. Desde a escolha da matéria prima, até a entrega do produto final aos seus consumidores. Esses desafios não são exclusivos das empresas, pelo contrário, é o desafio que o Brasil precisa enfrentar para se tornar competitivo no âmbito internacional.
“As oportunidades estão por todo lado, em todos os mercados, em todos os setores da economia. Os estudos elaborados pela MODERN Logistics mostram que muito do impulso em infraestrutura que o país precisa virá da plataforma que criamos. Modelo de negócio baseado em frota área própria, serviços customizados, tecnologia de ponta, agilidade e eficiência na entrega. Por meio da tecnologia empregada em todos os processos, é possível garantir a precisão de estoque; estabelecer controle por lote e data de validade; garantir a segurança em todos processos; rastrear os produtos em todas as etapas; monitorar o desempenho do transporte; fornecer ao cliente informações confiáveis e com rapidez”, completa o CEO da MODERN Logistics.
Genofre, da Panalpina Brasil, cita duas tendências para o setor de transporte aéreo de cargas: a utilização de blockchain na cadeia de suprimentos para uma comunicação mais direta entre clientes e fornecedores e outras ferramentas de visibilidade que visam ao acompanhamento de processos em tempo real. “Há uma indicação crescente das empresas para manter a maior parte possível do estoque em trânsito em prol da eficiência no fluxo de caixa. Tanto na modalidade de importação ou exportação, as tendências estão convergindo para sistemas que possibilitam a troca de informações cada vez mais rápidas de um ponto para outro da cadeia, no ciclo de todo o processo entre Ooperadores Logísticos de cargas, companhias aéreas e autoridades aduaneiras”, finaliza o diretor de Produto Aéreo da Panalpina Brasil.