Logística sem tecnologia faz parte do passado. Embarcador, transportador ou Operador Logístico precisam dos recursos da TI

14/10/2019

Mas, essa ainda não é a realidade do Brasil. É comum encontrar empresas com baixo nível de digitalização da logística, o que gera falta de visibilidade dos processos, atraso na tomada de decisão e demora na identificação das causas dos problemas, aumentando os custos da operação.

 

Há uma unanimidade entre os participantes desta matéria especial: é impossível pensar em logística, hoje, sem o uso da tecnologia.

Gerenciar os processos logísticos sem a ajuda dos recursos de TI – alegam – se torna uma tarefa impraticável, desde para uma pequena empresa que realiza o controle manualmente por planilhas até processos mais complexos, como os que envolvem medicamentos.

De fato, comenta Ricardo Gorodovits, diretor comercial da GKO Informática, dificilmente se pode dissociar operações logísticas do suporte oferecido pela tecnologia da informação atualmente. Código de barras, RFID, o trânsito da informação via web, sistemas de gestão, todos estes recursos são hoje largamente utilizados por ampla gama do mercado, gerando significativos ganhos de qualidade, redução de custos e até viabilizando modelos de negócio que antes não eram viáveis. Isso para não entrarmos na tecnologia de ponta, ainda não disseminada, mas já disponível, como drones, veículos autônomos, entrega sem deslocamento (por meio de impressoras 3D), o largo uso de ambiente de Big Data, e assim por diante.

“É fato afirmar que transportadores atualmente não entregam apenas produtos, mas também informação, e isso é inviável sem o uso intensivo de tecnologia. Dentro da logística, são muitas as áreas que se beneficiam de sistemas tecnológicos, como WMS (Sistema de Gerenciamento de Armazém), TMS (Sistema de Gerenciamento de Transporte), roteirizador, sistema para gestão de entregas, etc.”, completa Gorodovits.

Sob o ponto de vista de sistemas de rastreamento e monitoramento, Gustavo Klygo, diretor de Operações & Tecnologia do Grupo Tracker, salienta que a TI tem uma relevância muito significativa dentro do processo logístico. “O monitoramento eficiente, seja de veículos ou cargas, é naturalmente dependente do processo logístico. Assim como novas estratégias dificilmente escapam de adequações logísticas. E o processo natural destes sistemas se apoia não só na melhoria de performance, como também na prevenção e redução de prejuízos. Além disso, não podemos descartar que hoje estes sistemas já são totalmente integrados ao dia a dia de uma transportadora. Por exemplo, um controle de jornada existente em uma plataforma de monitoramento já pode ser integrado automaticamente com o módulo de folha de pagamento do ERP da transportadora, evitando assim, retrabalhos ou erros humanos na hora de transferir os dados.”

A Pollux atua, principalmente, na chamada intralogística, logística do armazém para linha de produção. “Conduzimos projetos que otimizam toda a movimentação interna da fábrica, como processos de abastecimento de linha, transporte de materiais e transporte de paletes com produtos acabados. Assim, podemos ver, no caso da intralogística, dois níveis bem diferentes em termos de grau de integração. Tudo relacionado com armazém é relativamente bem integrado com TI, tendo algumas variações.”

Geralmente – continua Cedric Craze, diretor de Logística e Digital da Pollux – as empresas possuem um sistema que faz o recebimento do material e permite indicar onde este material deve ser colocado para retirada futura. Quanto maior a empresa e maior sua movimentação de material – tanto matéria prima como material acabado –, maior a chance de ter um sistema de TI com grau de sofisticação mais evoluído.

“Sobre a parte de alimentação de linha de produção e retirada de material acabado, podemos constatar um grau bem baixo de integração com a TI. No máximo, algumas empresas fazem requisição de material para reabastecimento usando um sistema próprio que gera etiquetas no armazém. Fora isso, observo um processo extremamente manual e dependente de intervenção humana do começo ao fim”, completa Craze.

Philippe Minerbo, diretor executivo da Cosin Consulting, ressalta que a TI está cada vez mais presente em todas as atividades logísticas. Desde uma plataforma de agendamento de entrega dos fornecedores até a digitalização de um comprovante de entrega na casa de um consumidor. “Mas, apesar de a tecnologia estar presente em todas as funções logísticas, o grau de integração entre as diferentes tecnologias ainda é baixo. Ou seja, elas otimizam uma determinada função sem impactar na otimização da cadeia como um todo. A função de transportes, pelo alto custo que representa dentro das empresas, é a mais abraçada do ponto de vista tecnológico, desde os roteirizadores, otimizadores dinâmicos de rota, rastreamento de carga até assinaturas de recebimento digitais.”

De uma maneira geral, as empresas ainda estão no início da transformação digital da área logística. “O Brasil tem 61% da malha logística no modal rodoviário com a complexidade dos impostos e das distâncias continentais. Pressionadas por esse ecossistema complexo, pouco a pouco as empresas começam a utilizar tecnologia, porém não conseguem contratar uma empresa que resolva o processo do pedido até a entrega. Ao contratar pedaços de ferramenta ou desenvolver internamente esses sistemas, as empresas que já avançaram em tecnologia possuem uma colcha de retalhos, com grau de integração baixo e ainda muito ineficiente”, afirma Diogo Louro, Head of Logistics da Nimbi.

Como se pode notar, se, por um lado, é impensável pensar em logística sem tecnologia, por outro essa ainda não é a realidade do Brasil.  É comum encontrar empresas com um baixo nível de digitalização da logística, o que gera falta de visibilidade dos processos, atraso na tomada de decisão e demora na identificação das causas dos problemas, aumentando os custos da operação.

Ao adotar novas tecnologias, as empresas resolvem todos esses problemas e passam a ter controle do processo. Consequentemente, criam um ciclo positivo de eficiência, entregando um melhor nível de serviço para o cliente final e reduzindo os custos para as empresas.

 

Consequências

Afinal, se a TI é fundamental, hoje, para a logística, quais as consequências de não usá-la?

Rafael Rubie Loth, gerente de Mercado e Produtos da Benner Sistemas, diz que elas são diversas: perda de clientes, de faturamento e de nível de serviço, mau dimensionamento da produção, número elevado de Headcount. “Somente através de ferramentas de TI, como WMS, TMS, ERP, HR, roteirização, otimização de carga, podemos dimensionar com exatidão os recursos necessários para a operação de nossas empresas, sejam elas uma indústria, varejo ou um prestador de serviço logístico.”

Halley Takano, CEO da Comprovei, também diz que sem a tecnologia no processo logístico não há como ter eficiência da malha de entregas e, consequentemente, o custo para a empresa aumenta. Não ter controle sobre a gestão da operação logística impacta diretamente a qualidade do serviço prestado e a relação de confiança com o cliente. Uma boa gestão, no final das contas – diz o CEO da Comprovei – se traduz no aumento da satisfação dos clientes e em um maior foco na estratégia do negócio para embarcadores, transportadores e demais empresas do setor.

Mais enfático ainda, Minerbo, da Cosin Consulting, adverte que não usar tecnologia nas atividades logísticas é como usar um telefone fixo de fio, enquanto outros usam um smartphone. “Controlar uma operação logística no papel ou usando só planilhas Excel só acontece em empresas ainda muito pequenas ou no início de suas atividades. Hoje, a logística é diferencial competitivo. Vamos falar de e-commerce, por exemplo. Se como vendedor você não souber onde está em tempo real a mercadoria comprada se o cliente perguntar, provavelmente esse cliente não fará outra compra com esse fornecedor. O e-commerce já nasce com tecnologia embarcada. Vamos pegar outro externo – commodities a granel, como açúcar e ferro. Até a balança que pesa o veículo é eletrônica e integrada aos sistemas de controle. Os próprios vagões de trens já possuem rastreadores para passar a informação da localização da carga.”

Leonardo Moura, coordenador de Tecnologia da Informação da Multilog, também exemplifica. “Poderia comparar a tecnologia no segmento logístico com a utilização de e-mail e aplicativos de mensagens instantâneas na comunicação entre pessoas versus modelos tradicionais. Podemos usar cartas em papel? Sim podemos, bem como alguns ainda gostam e usam, mas o mercado, de forma geral, já não aceita mais essa opção lenta e insegura. Não usar tecnologia te retira totalmente de qualquer disputa nesse setor. Tenho visto muitos BIDs onde especificações técnicas são maiores que o próprio objeto de serviço logístico que está sendo avaliado.”

Segundo a managing diretor e sócia da Pluscargo Brasil, Soraya Magdanelo, hoje todos os processos de logística estão sendo automatizados. “Precisamos nos adequar. Há pouco mais de 20 anos usávamos a máquina de escrever para preencher as guias de importação e exportação. Hoje tudo é cada dia mais automatizado. Existe uma nova geração de pessoas que consome tecnologia a todo tempo: para se locomover, pedir comida, ouvir musica etc. Na área de logística não é diferente. A empresa que não acompanhar a tecnologia e atender a essa demanda da nova geração ficará para trás.”

Não usar TI na logística indica um nível de operação pequeno o suficiente para funcionar em uma folha de papel e ocupar algumas estantes de um galpão, diz Craze, da Pollux. Ele continua: “A partir do momento que uma operação logística cresce, começam a surgir muitas necessidades por parte do processo logístico e a única alternativa é investir em tecnologia para suportar a complexidade das operações. Tais como: integração do sistema de compra para reposição automática de estoque baseada em nível mínimo e lead time de fornecedor; controle de estoque; controle de custo de matéria prima; controle de demanda por parte da produção; entrada/saída de material (movimentação de estoque)”.

Na verdade, como diz Klygo, do Grupo Tracker, hoje o mercado não permite mais erros primários. E tentar atuar nos processos logísticos sem a inteligência artificial a seu favor significa “flertar” com o insucesso. “Até os procedimentos mais simples do passado já sofreram mudanças com o uso da tecnologia na logística. Imagine se não existissem sistemas de atualização de transito nos dias de hoje? É claro que no passado, estes problemas eram bem menos frequentes, mas hoje, não imaginamos a nossa vida sem eles e todo o processo logístico também não pode ficar ‘no escuro’.”

Com as demandas crescentes, a fim de melhorar as experiências do cliente, cliente este que a cada dia mais se torna mais exigente e requisita um atendimento personalizado, independente de qual produto ou serviço a empresa comercialize, aplicar as soluções de TI na cadeia de logística se torna peça fundamental para garantir um relacionamento duradouro com seu cliente e, consequentemente, possibilitar a sustentabilidade da empresa, aponta Alexandre Kuba, diretor de Automação e Software da Brint Intralogistica.

A quantidade de informações que trafegam hoje em dia entre variados sistemas e a sua complexidade exige que soluções de TI sejam empregadas para otimizar resultados, sob pena de inviabilizar qualquer tipo de operação.

É mandatório, por exemplo, informar a todas as partes de um processo logístico, desde embarcadores, passando por transportadoras, e chegando ao cliente final, o andamento de uma entrega. E isso é apenas um exemplo. “O desafio de gestão somente poderá ser superado com a adoção de tecnologia adequada e com o suporte de empresas que tenham a experiência e a criatividade para gerar as soluções necessárias”, acrescenta Gorodovits, da GKO Informática.

Ivan Jancikic, diretor de Serviços da LLamasoft Brasil, lembra que na era da transformação digital, a logística e o Supply Chain são áreas com enormes mudanças. Desde as automações com robôs nos armazéns até entregas da Amazon sendo feitas em apenas algumas horas, dependendo de onde o cliente vive. No Brasil – prossegue o diretor de Serviços da Llamasoft Brasil – estamos ainda mais atrás de países como Estados Unidos e China com relação ao uso da tecnologia, porém mesmo aqui sua utilização já não é mais um diferencial e, sim, uma obrigação para atuar no mercado.

“Portanto, a tecnologia traz, de um lado, eficiência e, do outro, a possibilidade de tomar decisões baseadas em uma grande variedade de dados internos e externos para atingir melhores resultados, tanto para as organizações como para melhor atender os consumidores.”

 

Mais aplicadas

Mas, afinal, quais são as tecnologias e os conceitos tecnológicos mais aplicados à logistica?

Loth, da Benner Sistemas, ressalta que a Internet das Coisas – IoT já é uma realidade dentro do segmento de carga fracionada. Celulares e rastreadores fixos e móveis integram um pool de tecnologias atualmente quase que indispensáveis para uma boa prática de transporte de carga. Estas tecnologias proveem integração em tempo real de informações e permitem mudar planejamentos de forma ágil e ter uma comunicação efetiva com parceiros e clientes de forma automática, fidelizando os clientes.

As API´s de integrações, através de EDI, JSON ou até REST, possibilitam integrar informações e tomar decisões de forma rápida e também possibilitam disponibilizar e descentralizar informações.

A roteirização permite fazer um planejamento diário, semanal, quinzenal, ou seja qual for a periodicidade necessária da operação de transporte.

“Também dá para se planejar a distribuição de mercadorias, levando em consideração gastos com combustível, obstáculos na estrada, entre outros fatores.”

Ainda segundo Loth, o roteirizador permite encontrar rotas mais vantajosas e calcular a quilometragem, o que é feito para mensurar custos de fretes e analisar valores pagos às transportadoras terceirizadas.

O sistema de rastreamento de volumes através de celulares, que fazem também parte da tecnologia chamada IoT, permite o rastreamento completo em toda a viagem de um volume – pode-se entender quais foram os prazos entre os transbordos até a chegada ao cliente final.

“O Machine Learning, unindo-se a uma roteirização, permite incrementar melhoria constante nas rotas, entendendo os gaps entre o planejado e o executado. Aqui então teremos a união de dois conceitos muito fortes na logística 4.0, IoT e I.A.”

O Sistema de Gerenciamento de Transportes (TMS) é um tipo de software aplicativo voltado para o planejamento, controle e gestão de todos os processos relacionados ao transporte de cargas. Nele controlamos e monitoramos a lucratividade por serviço, operação e viagem, controlamos gastos e recebíveis.

“Um dos grandes facilitadores para o aprimoramento da gestão logística é a facilidade de acesso a informações estratégicas proporcionada pelo Business Intelligence (BI). Elas possibilitam antever problemas, correlacionar causas e auxiliar no processo de tomada de decisões”, completa o gerente de Mercado e Produtos da Benner Sistemas.

O conceito mais básico dentro de um processo logístico é o controle e a gestão das entregas. E isso pode ser feito através de plataformas de monitoramento e roteirizadores, aponta, agora, Klygo, do Grupo Tracker. “Sem este advento tecnológico, a entrega deixa de ser otimizada e corre ainda o risco de não ocorrer por falhas processuais. Mas este é apenas um dos conceitos que podemos exemplificar, onde vários outros são aplicados, como, por exemplo, um controle da temperatura do baú a distância para garantir que a entrega de um produto refrigerado não seja feita fora das condições ideais de comercialização.”

Pelo seu lado, Kuba, da Brint Intralogistica, cita que a Computação em Nuvem, também conhecida como Cloud Computing, é bastante aplicada não somente em processos de logística, como em diversas outras soluções de TI. “O valor de investimento inicial baixo, comparado ao valor de aquisição de servidor e toda a infraestrutura necessária, possiblidade de ampliação da capacidade conforme demanda, alta disponibilidade e acessível globalmente pela World Wide Web são motivos que fazem diversos provedores de soluções em TI buscar oferecer aos clientes possibilidade de arquitetura em Cloud. O link de internet da companhia deve ser observado nesse tipo de implantação, pois todas as soluções dependerão de conexão com a internet – redundância de link ou link exclusivo são possibilidades a serem consideradas, e dependendo do processo, caso exista solução de equipamentos de alta performance na logística – por exemplo, Sistema de Transporte para Sorteamento e Roteirização de Volumes – a latência do link de internet deve ser observada”, diz Kuba.

Em se tratando do mercado B2B, Takano, da Comprovei, avalia que, sem dúvida, tecnologias mais recentes, como geolocalização, mapas on-line, processamento em nuvem e Internet das Coisas, que permite o envio de alertas e notificações em tempo real, são cada vez mais adotadas e procuradas por empresas de logística. “Elas ajudam a otimização de rotas e a reduzir custos de combustível, além de possibilitarem uma gestão do serviço de entregas mais proativa. Isso vai ao encontro do conceito de Logística 4.0, que implica em melhorar a eficiência e deixar o cliente satisfeito.”

Já o diretor executivo da Cosin Consulting aponta que, hoje, as tecnologias mais aplicadas na logística têm a ver com softwares específicos, como WMS, TMS e roteirizadores tradicionais que otimizam rotas de entrega. Em relação à movimentação e armazenagem, o código de barras e a radiofrequência são as tecnologias mais usadas nos armazéns. “Temos também alguns Centros de Distribuição que operam com transelevadores, que são robôs que armazenam e separam mercadorias. Existem, ainda, softwares de otimização de carga para uma melhor ocupação do veículo, gerenciadores de movimentação no pátio e agendamento de fornecedores. Também temos técnicas de movimentação usando Voice Picking e Picking by Light. A aplicação de cada uma dessas tecnologias depende do tipo de operação e do grau de maturidade do desenvolvimento logístico de cada empresa”, explica Minerbo, da Cosin Consulting. Ele é completado por Moura, da Multilog: “Ouvimos muito sobre conceitos como WMS ou TMS na logística. Porém, eles sozinhos não são mais tão eficientes se você não for capaz de ser dinâmico o suficiente para atender as demandas dos seus clientes com ferramentas de integração flexíveis, análise de dados e gerenciamento.”

Diogo Louro, Head of Logistics da Nimbi, aponta que a tecnologia é fundamental ao longo de toda a cadeia logística, com destaque para os processos de armazenagem e transportes. Soluções de WMS são necessárias para garantir o controle e a assertividade de informações da operação logística, contemplando os processos de entrada, movimentações e saídas de mercadorias, trabalhando de forma integrada ao ERP das empresas.  Soluções de TMS são essenciais para proporcionar maior controle sobre o planejamento das viagens a serem realizadas, integrar os diversos players do processo (embarcador, Operador Logístico, transportador, etc.), fornecer visibilidade das cargas em trânsito, agilizar a tratativa de eventuais problemas na coleta, deslocamento e entrega e permitir a gestão ativa de custos da operação.

Para Luiz Rodrigues, diretor sênior de TI da DHL Supply Chain Brasil, há três grupos principais de tecnologias aplicadas à logística. Primeiro, o big data, com a utilização dos dados da cadeia de suprimentos para conhecer melhor o consumidor e fazer previsões de demanda mais acuradas. A segunda é a Internet das Coisas, que permite uma gestão mais ativa e em real time da armazenagem e transporte. A terceira é a utilização da tecnologia RPA – Robotic Process Automation. Nela, um programa específico automatiza processos repetitivos, como lançamento de notas ficais.

“Wi-fi, Internet das Coisas, automação da operação de movimentação (veículos e processos autônomos), chatbot, Blockchain, big data, data analytics, robótica… são inúmeros os termos que definem tecnologias que avançam a passos largos para dominar o cenário logístico, tecnologias que são a base para a evolução do transporte, tanto sob a ótica operacional quanto nos aspectos relacionados à gestão”, completa Gorodovits, da GKO Informática.

Na análise de Jancikic, da LLamasoft Brasil, um conceito que está muito em alta neste mercado está ligado à transformação digital. “Porém, notamos que ainda existe um ‘gap’ entre a teoria e a prática sobre este tema. E recentemente fizemos uma pesquisa com por cerca de 150 clientes das maiores empresas do Brasil, onde perguntamos qual era o significado de transformação digital, e pudemos constatar que transformação digital para estas empresas significa ‘uma oportunidade para inovação através de dados, análises e insights do negócio’.”

Com uma análise mais centrada, Craze, da Pollux, lembra que na parte de intralogística, é possível ver o uso maciço de etiquetas e códigos diversos. Isso permite identificar, via sistema, um material a partir da leitura deste código. “Podemos citar os códigos de barras tradicionais (chamados de 1D), e mais recentemente os códigos 2D (tal como Datamatrix e QR-Code) que possuem uma capacidade maior para armazenagem de informações sobre o produto.”

Algumas empresas usam tecnologia RFID para identificar seu material, mas, geralmente, quando o produto tem valor agregado maior, já que a tecnologia RFID ainda é um investimento caro.

Ainda de acordo com o diretor de Logística e Digital da Pollux, existe uma tentativa das empresas de automatizar o processo de inventário usando várias tecnologias, como de drones, mas ainda dependem de uma pessoa para rodar e não trabalham de forma 100% automática ou autônoma.

 

Tendências

Por tudo o que foi colocado, quais seriam as tendências em termos de TI na logística?

O relatório do Gartner de março de 2019, em que fala sobre as tendências das melhores tecnologias no Supply Chain, traz recomendações aos líderes da Cadeia de Suprimentos: “Os líderes do Supply Chain precisam adotar um novo mindset e novas práticas que aceitem as mudanças contínuas. Neste contexto, o papel da tecnologia é fundamental, considerando que a escolha daquela que auxilia nestas mudanças tem um ingrediente crítico para a melhor tomada de decisão”.

Ainda segundo este relatório do Gartner, “pelo menos 50% das maiores empresas globais estarão utilizando Inteligência Artificial, Analíticas Avançadas e Internet das Coisas em suas operações de Supply Chain até 2023”. As principais tendências de tecnologias que o Gartner considera tendo grande impacto na indústria e um significativo potencial de disrupção incluem: Inteligência Artificial, Analíticas Avançadas, Experiência Imersiva, Blockchan no Supply Chain, Internet das Coisas, Automação Robótica de Processos, Digital Twin da Cadeia de Suprimentos e Automação das Coisas.

Para Kuba, da Brint Intralogistica, com os novos conceitos da Indústria 4.0, possibilitando implementação de “fábricas inteligentes”, há a tendência de incorporar também na logística os conceitos da I4.0, possibilitando tornar os processos logísticos mais integrados, inteligentes e otimizados. “O uso de tecnologias como computação em nuvem, big data, automação industrial, redes 5G, entre outras, garantidas por uma segurança da informação robusta, possibilita um gerenciamento com informações em tempo real e uma resposta a qualquer necessidade com tempo de atuação reduzido. Decisões estratégicas pela companhia podem ser feitas embasadas em informações pertinentes geradas por insight, podendo prever tendências de mercado antecipadamente.”

Takano, da Comprovei, lembra que as empresas estão buscando tecnologias para melhorar a gestão de suas operações logísticas de forma a obter, usar e fornecer informações em tempo real.

No setor logístico, diz o CEO da Comprovei, a guerra dos preços é muito intensa e isso, claro, não é interessante para as empresas. Então, a eficiência logística pode ser um importante diferencial competitivo.  A empresa que aprimora o serviço de entregas, por exemplo, fornecendo informações precisas ao cliente sobre as mesmas, agrega valor ao negócio e fideliza o cliente. Ou seja, o cliente não quer mais apenas a entrega em si, ele quer também informações atualizadas sobre a sua entrega.

A tendência é levar a logística para o foco no cliente. Com essa visão, aliada à eficiência logística no que diz respeito à gestão aprimorada, otimização do tempo, redução de perdas e diminuição de estoque, os prazos de entregas serão cada vez menores, haverá menos erros e as empresas do setor serão cada vez mais competitivas.

“Arrisco-me a dizer que em 10-15 anos já veremos CDs onde os humanos estarão presentes somente na sala de controle, orquestrando os softwares, máquinas e robôs. Vários veículos de entrega já operarão sem motoristas. Isso valerá tanto para recebimentos quanto para entregas. A tecnologia também permitirá uma economia logística compartilhada. Em um futuro próximo todos os estabelecimentos comerciais e veículos poderão funcionar como centros de apoio de mercadorias e os veículos como entregadores. Já existem diversas startups que estão pensando nisso. Veremos muitas transformações nas próprias cadeias por conta da tecnologia”, completa Minerbo, da Cosin Consulting.

Além das já citadas, o radar de tendências tecnológicas da DHL também aponta a utilização de equipamentos autônomos e semiautônomos como uma forte tendência. “Aqui não me refiro apenas a caminhões e carros, mas, principalmente, a empilhadeiras, carrinhos e outros equipamentos de movimentação de carga dentro dos Centros de Distribuição. A aplicação de soluções de Inteligência Artificial também tem crescido de forma significativa. Elas nos ajudam a interpretar os dados colhidos na cadeia logística e até podem tomar algumas decisões mais simples, agilizando processos. Outra tecnologia emergente são os digital twins, uma espécie de modelo virtual que tende a replicar as características da operação real para o desenho de cenários e busca constante de melhorias“, diz Rodrigues, da DHL Supply Chain Brasil.

Moura, da Multilog, também tem notado cada vêz mais uma tendência para dispositivos autônomos. Neste item, ele cita desde empilhadeiras e drones a veículos de cargas pesadas (caminhões). “Além disso, tecnologias como Inteligência Artificial, Blockchain e realidade virtual estarão cada vez mais presentes na vida dos Operadores Logísticos e de seus clientes. Também não podemos esquecer que a tecnologia terá grande impacto na privacidade e no sigilo, principalmente para atender requisitos legais como a LGPD e GPDR”, diz o coordenador de Tecnologia da Informação da Multilog.

Para o diretor Comercial da GKO Informática, as tendências também passam pelo aumento da intensidade do uso das tecnologias já citadas anteriormente. E ele frisa que, com desafios cada vez mais complexos, cabe ao gestor de logística suprir suas necessidades com a combinação de ferramentas disponíveis.

Em uma visão mais futurista, a identificação da carga será permanente ao longo do trajeto, com o tracking se beneficiando de um fluxo contínuo de dados. Fruto do IoT, a informação para o gestor ou destinatário sempre estará disponível. O fluxo financeiro do mercado do transporte será impactado pela tecnologia de Blockchain (que também envolverá o POD – Proof of Delivery), que em conjunto com as plataformas compartilhadas permitirá que o processo se dê sem intervenção humana e sem erros, diz Gorodovits.

Roger Cesar, gerente de tecnologia da NewPost, aposta, como principal tendência, no uso de locker para o recebimento e envio de encomendas. Com eles, o cliente pode fazer um envio de forma descomplicada e rápida sem a necessidade de enfrentar grandes filas ou dispor de tempo para se deslocar a uma agência dos Correios em horários comerciais.

E Louro, da Nimbi, cita três tendências: redução da necessidade de participação de pessoas no processo logístico através da ampliação das integrações com os participantes da cadeia; tecnologias mais completas que contemplem todo o processo logístico, minimizando a quantidade de sistemas a serem utilizados pela empresa; e encurtamento da cadeia com maior aproximação dos players chave e a eliminação de intermediários no processo.

Finalizando, Klygo, do Grupo Tracker, alega que é impossível prever quais rumos a tecnologia irá tomar nos próximos anos, até mesmo porque ela evolui com uma rapidez sem precedentes. “E nós, envolvidos com este tema, não podemos ficar alienados sem acompanhar suas tendências. Até alguns anos era impossível prever um aplicativo de celular para contratação de fretes pontuais a qualquer momento em qualquer lugar do país. O que podemos afirmar é que cada vez mais a Inteligência Artificial tomará espaço e que a intervenção humana será cada vez menor, fazendo com que a logística que hoje conhecemos mude freneticamente – basta ver toda a robotização de Centros de Distribuição ou da possibilidade de entregas via drones.”

 

As empresas

Veja a seguir o que fazem as empresas que participam desta matéria especial.

Benner Sistemas – Sua carteira de produtos inclui TMS, WMS, ERP, RH, roteirizador e solução de tracking, entre outros.

Brint Intralogística – Desenvolve e implanta soluções de software WMS e PLC aos projetos de intralogistica de seus clientes.

Comprovei – Logtech (startup de tecnologia para logística) focada no B2B.

Cosin Consulting – Consultoria de negócios e tecnologia especializada na concepção, desenvolvimento e implantação de soluções customizadas.

DHL Supply Chain Brasil – Operador Logístico global que está usando carros elétricos para a distribuição de produtos.

GKO Informática – Possui três unidades de negócios: GKO FRETE, sistema TMS para gestão de fretes contratados por embarcadores; GKO Plus, unidade de negócios em nuvem que conta com o Confirma Fácil; e a LogPartners, empresa de terceirização dos processos da gestão de fretes (Outsourcing).

Grupo Tracker – Empresa multinacional de rastreamento e monitoramento de veículos e cargas.

LLamasoft Brasil – Seu foco principal está direcionado para a Tomada de Decisões Estratégicas no Supply Chain.

Multilog – Operador Logístico que tem investido constantemente em tecnologia nos últimos anos.

NewPost – Rede interligada que tem como premissa facilitar e agilizar a entrega e logística de produtos comprados via e-commerce e enviado pelo locker para o Brasil e para o mundo.

Nimbi – O Transporta é a sua tecnologia de TMS que faz a gestão dos processos de logística desde a criação de viagens até a entrega de produtos numa plataforma intuitiva.

Pluscargo Brasil – Parte do Grupo Ras, oferece um conjunto de serviços integrados de logística internacional que inclui armazenamento, distribuição, consolidação, seguro de carga, entre outras soluções personalizadas.

Pollux – Oferece soluções de Manufatura Avançada, Robótica Colaborativa, Logística 4.0, Sistemas de Visão e Internet Industrial.

 

A TI na logística na visão da GS1 Brasil

A GS1, como entidade global, mulissetorial e sem fins lucrativos atuante em mais de 150 países, tem papel fundamental na integração da cadeia de suprimentos. Ela é responsável por criar e administrar padrões utilizados na identificação, captura e compartilhamento de dados como, por exemplo, o código de barras dos produtos (conhecido como GTIN ou EAN), códigos Datamatrix e QRCode, além da tecnologia EPC/RFID. São esses padrões que permitem a integração da cadeia produtiva e logística. Num universo cada vez mais integrado, que conta com players variados e espalhados pelo mundo, a interoperabilidade se torna fundamental, sendo uma linguagem única, o alicerce para a integração da cadeia.

A Entidade abrange mais de 20 setores da economia e oferece serviços e soluções para as áreas de varejo, saúde, transporte e logística.

Assim, em se tratanto da TI na logística, Alessandra Parisi, executiva de Desenvolvimento Setorial da GS1 Brasil, diz que as ferramentas tecnológicas acabam se tornando essenciais atualmente, considerando o crescente volume transportado, o crescimento da variedade de produtos e materiais, a exigência por parte das empresas e consumidores por menor tempo gasto para a entrega, além de altos níveis de qualidade e eficiência.

“Dentre as várias tendências no segmento, podemos apontar o Blockchain, com foco no compartilhamento de informações e segurança de dados, monitoramento em tempo real dos produtos, níveis de estoque e cadeia de distribuição, além de dispositivos autônomos como aqueles que estão cada vez mais perto da plena adoção”, completa, agora, Ricardo Melo, executivo de Desenvolvimento Setorial.

Sobre as consequências de não se usar a TI na logística hoje, Melo diz que gerir a imensa quantidade de dados gerados diariamente, processar todos os fluxos de entrada, saída e distribuição se tornam tarefas muito mais suscetíveis a erros quando não apoiadas pela tecnologia.

Por outro lado, tecnologias avançadas requerem mão de obra capacitada. “A explosão do e-commerce, por exemplo, abre novas oportunidades para profissionais nesse ramo, desde desenvolvedores de software com conhecimento do assunto, para criar melhores ferramentas, a operadores treinados para utilizá-las”, completa, agora, Alessandra.

Ainda com relação à mão de obra dentro da logística, a executiva de Desenvolvimento Setorial da GS1 fala sobre como a TI pode ser uma aliada: sistemas de apoio computacional são importantes ferramentas para todos os envolvidos nas operações, controlando e assegurando a qualidade do trabalho. O funcionário, com a ajuda da tecnologia, tem a possibilidade de focar os seus esforços e conhecimento na parte relevante do seu trabalho e assim deixar de despender energia com atividades secundárias.

Já falando sobre o que ficou obsoleto na logística com a chegada da TI, o executivo de Desenvolvimento Setorial relata que é a ideia de implantação de soluções proprietárias de tecnologia, pois silos tecnológicos não são capazes de integrar a cadeia de consumo.

“A integração de IoT, Blockchain, Business Intelligence e outras ferramentas se dá por meio de dados padronizados. A falta de padronização impõe retrabalho sobre o dado antes de sua inserção e plataformas como BI. Sensores precisam que processos e produtos trabalhem na mesma linguagem. Não conseguir identificar o objeto medido impede a coleta de dados confiáveis, o que leva a tomadas errôneas de decisão”, completa Melo.

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