Transporte de cargas fracionadas cresce em diversas regiões do Brasil, principalmente para a Região Norte

O aumento da demanda do comércio eletrônico é um dos principais fatores que contribuíram para este crescimento. Além disso, o governo tem realizado constantes investimentos em infraestrutura, o que melhora a capilaridade das operações.

A Região Norte experimentou um crescimento de 15,89% nas consultas de transporte de cargas fracionadas entre 2023 e 2024, saltando de 72.721 para 84.278, segundo dados do Transvias, o principal guia de transportes do Brasil. O aumento reflete os avanços em infraestrutura viária e portuária, que têm ajudado a superar os desafios históricos da região, caracterizada por sua extensão territorial e dificuldades de acesso.

A integração com grandes projetos de mineração e agroindústria, especialmente nos estados do Pará e Amazonas, tem estimulado a demanda por transporte de cargas fracionadas. Isso inclui pequenos embarques de insumos e produtos acabados, essenciais para o abastecimento de mercados locais e internacionais. Além disso, programas federais de infraestrutura viária como o BR-319 vêm facilitando a conexão entre centros urbanos e áreas remotas, ampliando a eficiência logística.

“A Região Norte é estratégica para o transporte de cargas no Brasil. As melhorias na infraestrutura estão permitindo maior agilidade e eficiência na movimentação de mercadorias, o que se reflete diretamente no aumento das consultas por soluções de logística compartilhada”, explica Célio Martins, gerente de novos negócios do Transvias.

Fatores-chave

Ainda segundo Martins, o crescimento do transporte de cargas fracionadas no Brasil, especialmente na região Norte, é impulsionado por uma combinação de fatores-chave, além dos já citados. Primeiramente, a expansão do e-commerce tem um papel crucial. O aumento das compras online gera uma demanda crescente por entregas de mercadorias de menor volume para diversas localidades, incluindo a região Norte. Além disso, a necessidade de otimização de custos logísticos leva empresas de todos os portes a buscar alternativas mais eficientes, como o compartilhamento de espaço em veículos de carga, que é a essência do transporte de cargas fracionadas. Esse modelo permite que empresas enviem mercadorias para a região Norte de forma viável, sem a necessidade de arcar com os custos de um transporte exclusivo.  

A logística, por si só, já é uma área considerada com altos custos. O uso de cargas fracionadas faz com que empresas consigam pulverizar seus produtos para diferentes regiões nas quais ainda não há uma quantidade de clientes grande o suficiente para uma carga total. Além disso, continua, agora, Bruno Simião, CPO (Chief Product Officer) da MáximaTech, como a região Norte tem um acesso mais difícil devido às condições de estradas, conexão e localização de diferentes cidades, o aumento da organização da operação de transporte multimodal se torna um impulsionador do trabalho com carga fracionada na região, permitindo o acesso a novas áreas e a manutenção do controle de qualidade do serviço.

O aumento da demanda do comércio eletrônico também é um dos principais fatores que contribuíram para o crescimento do transporte de cargas fracionadas na região Norte na ótica de Ronny Victor, gerente Regional Norte, Nordeste e Centro-Oeste da Jamef. Além disso, completa ele, o governo tem realizado constantes investimentos em infraestrutura, que melhoram a capilaridade das operações e otimizam os prazos, aumentando a confiabilidade das entregas, lembra o gerente.

Em paralelo a estes fatores, é preciso lembrar que a região Norte é uma importante produtora que abastece todo o Brasil, através da Zona Franca de Manaus. Por outro lado, a região não tem uma indústria de base desenvolvida e, portanto, é dependente de produtos industrializados de bens de consumo, que têm origem principalmente na região Sudeste. Isto gera um fluxo de transporte forte em direção à região. “Além disso, o desenvolvimento do e-commerce ajudou a população local a ter acesso a qualquer produto de forma muito fácil, com baixo custo, impulsionando esse fluxo. Foi gerada, também, uma melhora na infraestrutura logística, tanto terrestre, com a pavimentação da rodovia BR-163, quanto a marítima, o que possibilitou uma redução expressiva no preço do frete”, completa Marcelo Arantes, diretor de Operações do Grupo Elfa.

Também para Silvio Rossetti, diretor comercial e de marketing da TAFF Brasil, o crescimento do transporte de cargas fracionadas na região Norte do Brasil está sendo um fenômeno multifacetado, impulsionado por uma combinação de fatores econômicos, logísticos, tecnológicos e sociais. “A melhoria da infraestrutura, o crescimento do e-commerce, a diversificação da economia local e a adoção de tecnologias inovadoras são alguns dos principais elementos que têm contribuído para esse crescimento. Além disso, políticas públicas e iniciativas privadas têm desempenhado um papel crucial na integração da região Norte ao restante do país”, diz ele, concordando com os outros participantes desta matéria especial. Rossetti também lembra que, à medida que a região continua a se desenvolver, é esperado que o transporte de cargas fracionadas desempenhe um papel cada vez mais importante na economia local, atendendo às necessidades de empresas e consumidores e contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região.

Descentralização da produção

Como já mencionado, a expansão do e-commerce é um dos fatores a expandir a operação com cargas fracionadas em todo o país, fortemente no Norte. Mas, como esta expansão, aliada à descentralização da produção, estão impactando a logística com estes tipos de carga?

A verdade é estes fatores têm um impacto significativo na logística de cargas fracionadas em todo o Brasil, e na região Norte não é diferente. O e-commerce impulsiona a necessidade de entregas mais frequentes e em menor quantidade, o que favorece o transporte de cargas fracionadas. Esse modelo permite que produtos de grandes centros cheguem a consumidores em áreas mais remotas da região Norte, de forma eficiente e econômica. Já a descentralização da produção, ainda segundo Martins, do Transvias, também contribui para esse cenário, com empresas buscando diversificar suas operações e alcançar novos mercados consumidores. Isso gera um fluxo de mercadorias mais distribuído pelo país, com o transporte de cargas fracionadas sendo a solução ideal para atender a essa demanda diversificada.  

O que se pode inferir, na visão de Arantes, do Grupo Elfa, é que a descentralização da produção tem forçado um incremento considerável de hubs logísticos de consolidação que, obviamente, demanda transportes de cargas fracionadas. Aliado a isso, o surgimento de uma concorrência maior entre grandes players de e-commerce traz escala suficiente para tornar esse canal cada vez mais acessível a todos, principalmente na região Norte, que antes enfrentava uma restrição maior para as chegadas de produtos devido às grandes distâncias e infraestrutura precária. “Com esse avanço, as operações precisam ser cada vez mais ágeis e seguras. No Norte, especificamente, há a necessidade de Centros de Distribuição bem posicionados que otimizam prazos e custos. Esse cenário exige investimentos contínuos em infraestrutura e tecnologia para garantir um fluxo logístico eficiente”, acrescenta Victor, da Jamef.

Rossetti, da TAFF Brasil, também lembra que o e-commerce, impulsionado pela pandemia e pela digitalização, aumentou a demanda por entregas rápidas e eficientes, mesmo em áreas remotas. Isso tem levado a investimentos em hubs logísticos regionais, como em Manaus e Belém, e à adoção de tecnologias como rastreamento em tempo real e sistemas de gestão de transporte, que otimizam rotas e reduzem custos. A descentralização da produção, por sua vez, tem incentivado a instalação de Centros de Distribuição estratégicos na região Norte, permitindo que empresas atendam mercados locais e emergentes com maior agilidade e menor custo. O potencial de crescimento é enorme, com oportunidades como a integração de modais de transporte e o desenvolvimento de soluções logísticas mais sustentáveis. “Acredito que, com investimentos contínuos em infraestrutura e tecnologia, a região Norte pode se tornar um polo logístico ainda mais estratégico para o país”, crê o diretor comercial e de marketing da TAFF Brasil.

Resumindo, com o crescimento constante do e-commerce, surge a necessidade de se pensar em uma logística cada vez mais eficiente, principalmente na região Norte. O e-commerce possibilitou pequenos envios, o que faz com que as cargas fracionadas sejam uma boa alternativa de entrega sem custos elevados.

Além disso, com prazos mais curtos e necessidade de uma operação cada vez mais competitiva, uma alternativa crescente é a descentralização da produção ou até mesmo da entrega. “Isso significa que as empresas estão contando com hubs e Centros de Distribuição estratégicos para otimizar a logística na região, além de operações de terceirização de trechos, transbordo e last mile. Também é fundamental contar com a tecnologia para digitalizar os processos logísticos, superando desafios e garantindo melhores resultados”, completa Simião, da MáximaTech.

Desafios

Com relação aos principais desafios logísticos enfrentados pelas transportadoras no escoamento de cargas fracionadas para o Norte, Victor, da Jamef, lembra que, em muitos trechos, a malha rodoviária na região é limitada, especialmente nas temporadas de chuvas e secas, quando estradas, pontes ou rios ficam comprometidos, dificultando a fluidez dos acessos. Neste cenário, o modal aéreo torna-se um complemento essencial para o transporte, especialmente em áreas de difícil acesso.

Por outro lado, a necessidade de integração entre diferentes modais, como rodoviário, aéreo e hidroviário, também influencia a logística. “É importante ressaltar que um planejamento estratégico para longas distâncias entre polos consumidores garante uma distribuição de qualidade, otimização operacional e, ao mesmo tempo, redução de custos.”

Enquanto aponta as grandes distâncias e os custos elevados devido à baixa densidade populacional como desafios, Rossetti, da TAFF Brasil, destaca que as hidrovias, como as dos rios Amazonas e Madeira, são alternativas importantes, especialmente para cargas de maior volume, mas ainda carecem de integração eficiente com outros modais. Terminais logísticos em cidades como Manaus e Belém ajudam a consolidar e distribuir cargas, mas precisam de mais investimentos para ampliar sua capacidade e modernização. “As melhorias na infraestrutura, como a pavimentação de rodovias estratégicas e a expansão de terminais intermodais, podem transformar a logística na região, reduzindo custos e aumentando a eficiência do transporte de cargas fracionadas.

O diretor comercial e de Marketing da TAFF Brasil também lembra que o retorno das cargas é complicado pela falta de volume suficiente para preencher os veículos, gerando viagens ociosas ou subutilizadas. A sazonalidade de setores como o agronegócio e a falta de integração entre modais também são obstáculos. “Com planejamento e parcerias, é possível superar esses desafios e tornar o transporte mais viável e sustentável.”

De fato, o gerente de novos negócios do Transvias pondera que a distância geográfica e a vastidão da região Norte impõem desafios como a necessidade de planejamento logístico detalhado para consolidar cargas e otimizar rotas, evitando viagens com veículos ociosos. A conectividade multimodal também é um ponto crítico: a integração entre rodovias, hidrovias e outros modais de transporte ainda precisa ser aprimorada para garantir um fluxo de cargas mais eficiente. Neste contexto, Martins destaca que a infraestrutura de transporte é um fator determinante para a eficiência do transporte de cargas fracionadas na região Norte.

Rodovias: Rodovias em boas condições são essenciais para garantir o fluxo contínuo e seguro de mercadorias. A BR-163, por exemplo, que liga o Centro-Oeste ao Pará, tem passado por obras de pavimentação que têm impacto direto na logística da região, demonstrando como a melhoria rodoviária pode influenciar positivamente o transporte de cargas.

Hidrovias: A região Norte possui uma vasta rede hidrográfica, com rios como o Amazonas, o Solimões e o Madeira. As hidrovias representam um modal de transporte com grande potencial para o transporte de cargas de grande volume a longas distâncias, com custos relativamente menores. No entanto, a infraestrutura hidroviária ainda precisa de investimentos em sinalização, dragagem e terminais de carga e descarga para ser plenamente utilizada no transporte de cargas fracionadas, especialmente na conexão com outros modais.

Terminais Logísticos: Terminais logísticos bem localizados e equipados são cruciais para a consolidação, armazenagem e distribuição de cargas fracionadas. Eles funcionam como pontos de conexão entre diferentes modais de transporte, facilitando a transferência de mercadorias e otimizando a logística. Mas, a região Norte ainda carece de terminais logísticos em algumas áreas, o que dificulta a organização das operações de transporte e aumenta os custos.

No que se refere ao retorno das cargas, diz Martins, um desafio comum é a assimetria na demanda. Muitas vezes, o volume de cargas que segue para o Norte é maior do que o volume que retorna, o que dificulta o aproveitamento total da capacidade dos veículos e eleva os custos do frete de retorno. As transportadoras precisam desenvolver estratégias para atrair cargas de retorno, como buscar parcerias com produtores locais e utilizar plataformas digitais para conectar a oferta e a demanda de fretes.

“Além disso, as mudanças climáticas inserem uma complexidade a mais para a principal via de transporte da região, que é a fluvial”, acrescenta Arantes, do Grupo Elfa.

Ainda na questão do transporte fluvial, o diretor de Operações ressalta que, além do tema da seca, que restringe o transporte, existe o quase monopólio dos portos em Manaus, o que gera o maior custo de handling de containers do Brasil e, provavelmente, do mundo. “Uma operação de handling na Argentina custa em média U$ 50, enquanto em Manaus pode superar os U$ 250 dependendo da época.”

Inovações tecnológicas

O uso de apoio tecnológico é fundamental para uma logística eficiente. Quando falamos de carga fracionada, contar com soluções desenvolvidas especialmente para o segmento é ainda mais importante. Isso porque é preciso planejar estrategicamente todas as etapas desse processo, desde a organização da cubagem no caminhão até a rota de entrega. 

Portanto, adotar tecnologias de gerenciamento de entregas (DMS) é uma forma de superar os desafios logísticos. Afinal, essa tecnologia é capaz de criar as rotas a partir do melhor custo-benefício e, com isso, também auxiliar na montagem de carga dentro do veículo, guiando quais itens devem ser colocados primeiro de acordo com a ordem de entrega, evitando retrabalho, diminuindo custos e otimizando tempo.

Além disso, continua expondo Simião, da MáximaTech, ao trabalhar com carga fracionada, vários clientes diferentes são atendidos. Portanto, é importante ter transparência do processo para fazer melhor gestão e comunicação com as pessoas envolvidas na prestação e contratação de serviços. Com o apoio de sistemas que trazem relatórios e status de pedido em tempo real, isso também é facilitado. Ou seja, mesmo em uma operação com terceiros envolvidos, a tecnologia permite que se tenha controle para se analisar a efetividade das entregas.

Na verdade, o transporte de cargas fracionadas está passando por uma transformação impulsionada por diversas inovações tecnológicas, que buscam otimizar as operações e superar os desafios logísticos, especialmente na região Norte.

Neste contexto, Martins, do Transvias, cita:

Sistemas de Gestão de Transporte (TMS): Os TMS permitem otimizar rotas, consolidar cargas, gerenciar frotas e acompanhar o desempenho dos motoristas, contribuindo para a redução de custos e o aumento da eficiência.

Rastreamento e Monitoramento em Tempo Real: Tecnologias como GPS, telemetria e Internet das Coisas (IoT) permitem rastrear a localização das cargas e monitorar as condições da viagem em tempo real. Isso proporciona maior visibilidade da cadeia logística, aumenta a segurança das cargas e permite identificar e corrigir problemas de forma proativa.

Otimização de Rotas com Inteligência Artificial (IA): Algoritmos de IA analisam dados de tráfego, clima, restrições de circulação e outros fatores para determinar as rotas mais eficientes, reduzindo o tempo de viagem, o consumo de combustível e as emissões de poluentes. A IA também pode ser utilizada para prever a demanda de fretes e otimizar a alocação de recursos.

Plataformas Digitais de Frete: As plataformas online conectam embarcadores e transportadoras, facilitando a negociação de fretes, a busca por cargas de retorno e a gestão da documentação. Elas aumentam a transparência do mercado, reduzem os custos de transação e agilizam o processo de contratação de serviços de transporte.

Tecnologias de Armazenagem e Distribuição: A automação de armazéns, o uso de sistemas de gestão de armazéns (WMS) e a adoção de tecnologias de picking e packing contribuem para otimizar a movimentação de cargas nos Centros de Distribuição, agilizando a separação e o despacho de mercadorias.

Veículos Autônomos e Drones: Embora ainda em fase de desenvolvimento, veículos autônomos e drones têm o potencial de revolucionar o transporte de cargas no futuro, especialmente em áreas remotas ou de difícil acesso na região Norte.

“É importante ressaltar que a adoção dessas tecnologias deve ser adaptada às particularidades da região Norte, considerando as limitações de infraestrutura e conectividade em algumas áreas”, aconselha o gerente de novos negócios do Transvias.

É preciso acrescentar, ainda, os aplicativos e marketplaces digitais que conectam transportadoras e clientes, facilitando a contratação de fretes e melhorando a utilização da capacidade dos veículos. “Essas tecnologias, combinadas com investimentos em infraestrutura, estão ajudando a superar os desafios logísticos, tornando o transporte de cargas fracionadas mais ágil, econômico e confiável”, Rossetti, da TAFF Brasil.

Arantes, do Grupo Elfa, acrescenta, ainda, a utilização de portos móveis, que ajuda as companhias a enfrentarem os períodos de seca. E, obviamente, a maior adoção da multimodalidade tem sido fundamental para as empresas superarem todos os problemas. “Para enfrentar os desafios logísticos na região, a Jamef investe em inovações tecnológicas, como sistemas de roteirização e monitoramento em tempo real de veículos e cargas, permitindo gerenciamento e precisão durante as entregas. A integração digital entre filiais e a área Torre de Controle também facilita a comunicação, tornando-a eficiente durante a coordenação das operações. Com o uso de rastreamento, análise de dados e automação de processos aumentamos a transparência, a produtividade e a eficiência das operações”, diz Victor.

Cargas nos dois sentidos

Também é interessante notar quais os principais produtos e setores que movimentam o transporte de cargas fracionadas no Norte e no sentido inverso e como as empresas estão se adaptando a essa demanda específica. Afinal, como lembra Victor, da Jamef, na região estão concentrados três tipos de atividades: comercial, agropecuária e industrial, sendo esta última a mais forte. Existem mais de 600 indústrias no polo e uma geração de mais de 500 mil empregos, diretos e indiretos, de acordo com a Suframa – Superintendência da Zona Franca de Manaus. “Nas áreas de produção industrial se destacam: eletroeletrônicos (celulares, TVs), duas rodas (motocicletas) e química, especializados na produção de matéria-prima para refrigerante.”

Arantes, do Grupo Elfa, também lembra que, além dos já citados, do Norte para o Sul são transportados produtos da Linha Marrom e, no sentido oposto, produtos de bens de consumo e indústria em geral. “Há diversos segmentos que movimentam as cargas fracionadas rumo à região Norte, dentre eles estão alimentos e bebidas industrializados; medicamentos e itens hospitalares; produtos pet e veterinários; cosméticos; e produtos de moda. Já no sentido inverso, o Norte exporta bastante matéria-prima para o restante do país, como pescados e alimentos regionais; minérios e borracha. “Para atender a essa demanda, as empresas estão investindo em apoio de tecnologias especializadas, como sistemas de gerenciamento de entregas (DMS), além de fazer parcerias com outras empresas e transportadoras regionais, de modo a aumentar a área de atuação sem gastos excessivos”, completa Simião, da MáximaTech.

E Martins, do Transvias, conclui quase que com os mesmos dados: no transporte de cargas fracionadas para a região Norte, destacam-se produtos como eletrodomésticos, móveis, eletrônicos e materiais de construção, impulsionados pelo consumo das famílias e pelo desenvolvimento da infraestrutura. No sentido inverso, podem ser transportados produtos agrícolas, extrativos e industrializados da região. De acordo com ele, as empresas estão se adaptando a essa demanda específica investindo em logística de distribuição, com centros de armazenamento e transferência estrategicamente localizados. Além disso, a busca por parcerias com transportadoras especializadas em rotas para a região Norte e a utilização de tecnologias de otimização de rotas são estratégias importantes para atender a essa demanda de forma eficiente.  

Variações nos custos e competitividade

A variação nos custos logísticos, como combustíveis, impacta diretamente a competitividade do transporte de cargas fracionadas, especialmente na região Norte, onde as distâncias são maiores e a infraestrutura pode ser mais precária.

De acordo com Rossetti, da TAFF Brasil, o aumento desses custos pressiona os preços dos fretes, reduzindo as margens das transportadoras e encarecendo o serviço para os clientes. Para lidar com isso, as empresas estão adotando estratégias como a otimização de rotas, utilizando tecnologias de gestão logística (TMS) e sistemas de rastreamento para reduzir distâncias e tempos de viagem.

A consolidação de cargas também tem sido uma solução eficaz, maximizando a capacidade dos veículos e diluindo os custos fixos. Além disso, muitas empresas estão investindo em frota mais eficiente, com veículos modernos e menos poluentes, que consomem menos combustível. Parcerias com outras transportadoras para compartilhamento de custos e a renegociação de contratos com fornecedores de combustível também são práticas comuns.

“Por fim – completa Rossetti –, algumas empresas estão buscando alternativas modais, como a integração com hidrovias e ferrovias onde possível, para reduzir a dependência do transporte rodoviário e seus custos associados. Essas estratégias ajudam a manter a competitividade, mas exigem planejamento constante e adaptação às flutuações do mercado.”

O problema é que o custo do combustível representa 40% do custo total de transporte e, portanto, as variações de seu preço afetam mais a região Norte, onde é preciso percorrer maiores distâncias. A infraestrutura precária e o custo de manutenção também são fatores representativos na equação, prossegue analisando Arantes, do Grupo Elfa. As estratégias utilizadas para minimizar esses impactos são adoção de modais mais baratos, como o fluvial, uso de combustíveis alternativos, menos expostos à variação do preço do petróleo, e, ultimamente, o compartilhamento de cargas ajuda a aumentar a escala e reduzir o custo unitário. “As estratégias devem focar na otimização da roteirização e investimentos em eficiência operacional para ajudar a reduzir impactos financeiros. Nesse sentido, o uso de tecnologias específicas para o gerenciamento e monitoramento também contribui para mitigar os custos operacionais e manter a competitividade no setor”, acrescenta Victor, da Jamef.

Por outro lado, Simião, da MáximaTech, destaca que não conseguir mensurar efetivamente os custos logísticos é um problema que afeta a competitividade de muitas empresas. Afinal, isso pode acarretar em oscilações nos preços que podem desorganizar o caixa ou até mesmo serem repassados para os clientes, o que afeta a satisfação e fidelidade dos consumidores.

Para superar esse desafio, ensina o CPO, é fundamental que empresas que trabalham com cargas fracionadas tenham um planejamento logístico bem estruturado, com análise e cuidado das questões fiscais e de transporte, além do apoio tecnológico, com soluções que automatizam os processos e auxiliam a operação a ter mais previsibilidade e estabilidade nas ações, de maneira a analisar sempre os relatórios, avaliar performance periodicamente e contar com informações em tempo real para que a equipe responsável possa evitar erros ou corrigi-los com agilidade, reduzindo danos.

Tendências e oportunidades

O futuro do transporte de cargas fracionadas no Brasil, com foco nas particularidades e necessidades da região Norte, apresenta tendências e oportunidades promissoras. A expansão do e-commerce e a crescente demanda por entregas rápidas e eficientes continuarão impulsionando o setor. A tecnologia terá um papel cada vez mais importante, com o uso de inteligência artificial, big data e outras ferramentas para otimizar a logística e a gestão de cargas. A sustentabilidade também será um fator relevante, com a busca por soluções de transporte mais limpas e eficientes.

“Na região Norte – continua Martins, do Transvias –, o desenvolvimento da infraestrutura de transporte e a integração de diferentes modais serão fundamentais para superar os desafios logísticos e aproveitar as oportunidades de crescimento.”

Também para Rossetti, da TAFF Brasil, o futuro do transporte de cargas fracionadas na região Norte é promissor, mas depende de superar desafios como infraestrutura precária e grandes distâncias. A expansão do e-commerce e a descentralização da produção estão impulsionando a demanda, enquanto a integração de modais (rodovias, hidrovias e ferrovias) e o uso de tecnologias como IoT e IA podem otimizar a logística. A sustentabilidade também ganha destaque, com veículos mais eficientes e práticas verdes.

Ainda na visão do diretor comercial e de marketing, a região tem oportunidades únicas, como o agronegócio e produtos regionais (açaí, castanhas, pescados), que exigem logísticas especializadas. Investimentos em infraestrutura, como pavimentação de rodovias e modernização de portos, além de parcerias público-privadas, serão essenciais para consolidar a região. “No geral, acho que o futuro é promissor, mas depende muito de como esses desafios serão enfrentados. Com planejamento, inovação e investimentos, a região Norte pode se tornar um hub logístico estratégico, não só para o Brasil, mas também para o mercado internacional”, completa Rossetti.

Seguramente, como também apontado por Arantes, do Grupo Elfa, a melhoria da infraestrutura de transporte, de uma maneira geral, o incremento da utilização da multimodalidade, o maior compartilhamento de cargas e o uso de tecnologia ajudam a superar barreiras. “O Norte é promissor para o setor de transporte de cargas no país devido ao alto índice de crescimento da região, mas há a necessidade de continuidade no desenvolvimento de infraestrutura logística, de modo a permitir avançarmos com investimentos em nossa expansão de atendimento”, finaliza Victor, da Jamef.

Além do Norte, o transporte de cargas fracionadas cresce em todo o Brasil, segundo consultas ao Transvias 

O Nordeste brasileiro se destacou como a região com o maior crescimento no transporte de cargas fracionadas, registrando um aumento de 90,46%, de 201.060 consultas em 2023 para 382.942 em 2024, conforme o Transvias. Esse desempenho reflete a expansão econômica da região, que tem se tornado um polo logístico estratégico para atender o crescimento do varejo e do agronegócio.

Os principais estados da região, como Pernambuco, Ceará e Bahia, lideram os investimentos em hubs logísticos e Centros de Distribuição. A ampliação dos portos de Suape, PE, e Pecém, CE, além de melhorias nas rodovias BR-101 e BR-116, têm facilitado a circulação de mercadorias tanto para o mercado interno quanto para exportação.

“Esse crescimento não acontece por acaso. O Nordeste está cada vez mais integrado à logística nacional, com operações mais eficientes e conectadas a uma economia que não para de crescer. Isso torna o transporte de cargas fracionadas uma solução viável para pequenas e médias empresas na região”, afirma Martins, do Transvias.

Por sua vez, a Região Centro-Oeste apresentou um crescimento de 6,38% nas consultas por transporte de cargas fracionadas, passando de 78.499 em 2023 para 83.506 em 2024, também de acordo com o Transvias. Embora o crescimento seja mais tímido comparado a outras regiões, o resultado reflete a robustez do agronegócio e sua importância para o mercado nacional e global.

Com estados como Mato Grosso e Goiás concentrando grande parte da produção agrícola do país, o transporte de cargas fracionadas tem sido uma solução eficiente para movimentar insumos, peças e equipamentos necessários às operações do setor. Além disso, melhorias em rodovias como a BR-163 vêm reduzindo custos logísticos e atraindo novas demandas por transporte compartilhado.

“O Centro-Oeste é essencial para a logística brasileira. Embora o volume de consultas não tenha crescido tão rapidamente quanto em outras regiões, a estabilidade do agronegócio e os investimentos em infraestrutura garantem sua relevância no cenário nacional”, destaca Martins.

A Região Sudeste registrou 298.691 consultas em 2024, um aumento de 22,82% em relação às 243.192 do ano anterior. Esse desempenho reflete o papel central da região na economia brasileira, que concentra grande parte das indústrias, Centros de Distribuição e operações logísticas do país. São Paulo e Rio de Janeiro são os principais motores do crescimento, com investimentos em logística urbana e no escoamento para outras regiões. A infraestrutura avançada, incluindo as principais rodovias e portos como Santos e Itaguaí, facilita a movimentação de cargas e promove maior eficiência nos processos de distribuição. “Sem dúvida, o Sudeste continua sendo o coração logístico do Brasil. É aqui que encontramos o maior volume de operações e a maior demanda por soluções personalizadas de transporte, como as cargas fracionadas”, ressalta Martins.

Finalmente, a Região Sul cresceu 24,26%, passando de 97.732 consultas em 2023 para 121.441 em 2024, ainda conforme os dados do Transvias. A proximidade com países do Mercosul e a forte integração com o agronegócio e a indústria local são os principais fatores que impulsionaram o setor de transporte de cargas fracionadas na região.

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul lideram em volume de operações logísticas, com investimentos contínuos em portos como Itajaí, SC, e Rio Grande, RS. Esses avanços têm garantido maior competitividade e eficiência no transporte de pequenas cargas para mercados internacionais e nacionais. “A Região Sul tem uma localização estratégica e uma economia diversificada que a tornam única no cenário logístico brasileiro. O crescimento nas consultas reflete a importância de soluções flexíveis para atender às demandas locais e globais”, finaliza Martins.

Empresas participantes

Grupo Elfa – É a rede que conecta serviços para todos os stakeholders da saúde – indústria, hospitais, clínicas, profissionais e pacientes. É um dos líderes em distribuição de medicamentos, serviços e soluções logísticas para o ecossistema de saúde no Brasil e referência na distribuição de medicamentos e materiais para hospitais, clínicas e consultórios médicos e de materiais especiais e cirúrgicos, além de serviços para pesquisa clínica.

Jamef Transportes – É uma das maiores empresas do Brasil, com soluções personalizadas para transporte de encomendas e atuação nos modais rodoviário e aéreo em todo o território nacional.

MáximaTech – Especializada no desenvolvimento de soluções que simplificam processos de vendas, logística de entrega e trade marketing para o atacado distribuidor, desenvolve soluções que facilitam o planejamento de rotas logísticas.

TAFF Brasil – É um dos principais integradores logísticos para a cadeia fria de alimentos perecíveis.

Transvias – É considerado o principal guia de transportes do Brasil. Com a missão de facilitar o redespacho de carga em todo o território nacional e no Mercosul, é uma ferramenta que conecta indústrias, comércios e transportadoras.

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