O transporte rodoviário de cargas, responsável por movimentar mais de 70% da economia brasileira segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), continua sendo um dos setores mais impactados pela criminalidade. Em São Paulo, que concentra a maior frota e os principais corredores logísticos do país, os números mais recentes revelam avanços importantes, mas também evidenciam novos desafios.
A Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo (FETCESP) divulgou, por meio de sua Diretoria de Segurança, o levantamento estatístico semestral sobre roubo de cargas, furto e receptação. Os dados, compilados junto à Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) e ao sistema SPCarga, indicam quedas expressivas entre janeiro e junho de 2024 e 2025: roubo (−25,9%), furto (−19,2%) e receptação (−41,1%).

Apesar da redução no número absoluto de ocorrências, o relatório aponta aumento de 22,5% no valor médio das perdas por crime, que passou de R$ 72,4 mil em 2024 para R$ 88,7 mil em 2025. Isso demonstra que os criminosos estão priorizando cargas de maior valor agregado, como alimentos, eletroeletrônicos e outros produtos de alta demanda no mercado paralelo.
Segundo Roberto Mira, Diretor para Assuntos de Segurança da FETCESP, os resultados positivos estão diretamente ligados à cooperação entre o setor e as forças policiais. “A intensificação do monitoramento logístico, o investimento em tecnologias de rastreamento e a integração entre transportadores, embarcadores e forças policiais foram decisivos. A entidade tem desempenhado um papel de articulação, fornecendo dados técnicos e aproximando todos os atores do setor e da segurança pública. Os resultados são positivos, mas precisamos manter a vigilância, porque os criminosos já estão se adaptando e escolhendo cargas mais valiosas”, explicou.
Entre as ações desenvolvidas estão o fornecimento contínuo de relatórios técnicos às autoridades, a promoção de fóruns especializados, a criação de grupos de trabalho em regiões críticas e o apoio direto a transportadores com informações estratégicas de prevenção. No interior do estado, os impactos foram ainda mais significativos, com queda de 40,4% nos roubos registrados.
O relatório também indica que os índices de recuperação de mercadorias permanecem baixos: apenas 8,7% das cargas roubadas e 10,8% das furtadas foram recuperadas no semestre. Além disso, a maior parte das ocorrências segue concentrada entre terça e sexta-feira, com pico no período da manhã. As situações mais comuns envolvem a interceptação em movimento (35,7%) e ataques durante a entrega (47,2%).
Para Mira, os impactos vão além da questão de segurança pública. “Cada ocorrência representa não apenas a perda da mercadoria, mas também o aumento do custo do seguro, atrasos em toda a cadeia de suprimentos, a necessidade de reposição de frota e o impacto psicológico nos motoristas. Estamos falando de um prejuízo estrutural que compromete a competitividade do setor e, em última instância, o bolso do consumidor final”, destacou.
Diante desse cenário, a FETCESP recomenda que transportadores e embarcadores fortaleçam parcerias estratégicas, adotem protocolos comuns de segurança e ampliem o uso de tecnologias como rastreamento em tempo real, planejamento de rotas seguras, escolta em áreas críticas e treinamento contínuo de equipes. “O setor está mostrando que, quando atua de forma coordenada, os resultados aparecem. Agora, o desafio é consolidar essas práticas e avançar na recuperação de cargas, para que os prejuízos não recaiam sempre sobre quem produz e transporta”, concluiu Mira.









