Por isso mesmo, só os OLs e as transportadoras que têm condições de seguir as normas rigorosas, oferecer treinamento constante e específico e operações seguras, sem comprometer o meio ambiente, podem atuar neste segmento.
O segmento de químicos e petroquímicos é de suma importância para a vida econômica de um país, com a produção de insumos elementares que permeiam por outros segmentos, como de fertilizantes, plásticos, fibras, inseticidas, explosivos, produtos farmacêuticos e outros.
“Por outro lado, também é o ramo industrial de maior mutação tecnológica, sendo cada vez mais necessária a concentração de capital e baixa intensidade do fator trabalho, com elevada automação e investimento de recursos.”
Por fim – continua Manoel Bonfim Brito de Souza Júnior, gerente de Segmento de Oléo, Gás e Petroquimico da TPC Logistica Inteligente –, também é preciso destacar que neste setor, um dos fatores importantes, quando comparado a outros segmentos, é a segurança, pelas características dos produtos, sendo preciso, sempre, reduzir os riscos de incidentes e acidentes nas operações de armazenagem, movimentação e, principalmente, distribuição.
“É um segmento que exige um tratamento bem diferente em relação aos outros, pois estamos falando do transporte de produtos químicos, e isso, por si só, já exige cuidados especiais. Fatores como incompatibilidade de produtos, utilização de identificações nos veículos conforme as classes de risco dos produtos transportados, bem como as credenciais exigidas dos motoristas (por exemplo, curso MOPP – Movimentação Operacional de Produtos Perigosos), uso de kits de emergência, entre outros requisitos legais, precisam ser muito bem geridos e fazem toda a diferença, quando comparados com o transporte de outros produtos”, completa Giovani Viana Lopes gerente de Distribuição Corporativo do Expresso Nepomuceno.
Neste mesmo caminho vai a análise de Nilson Santos, diretor de operações e logística da TGA Logística Transportes Nacionais e Internacionais, quando aborda as características da logística no segmento. De acordo com ele, quando falamos de químicos e petroquímicos, estamos falando de carga perigosa. Só por este aspecto, o transporte desses produtos já se diferencia dos outros segmentos, por ser de alto risco humano e ambiental.
“Transportar esses insumos exige expertise no seu manuseio, capacitação especial dos motoristas, além de licenças e certificações diversas de órgãos controladores, como as emitidas pelo IBAMA, pelas polícias civil e federal, entre outras. Provavelmente, nenhuma outra mercadoria é capaz de causar danos ambientais graves como esta em questão, se não for transportada com os devidos cuidados e precauções”, adverte Santos.
André Luís Façanha, diretor presidente do Grupo Toniato, é outro profissional a alertar que o segmento químico e petroquímico como um todo exige muita especialização dos seus Operadores Logísticos e transportadoras, uma vez que, além das exigências normais de nível de serviço de excelência com entregas no menor prazo possível, elevada confiabilidade e previsibilidade, ainda há o cuidado com a carga – seja no sentido de assegurar a compatibilidade da mesma em toda cadeia, sobretudo na etapa de distribuição, seja na competência para zelar pela prevenção de eventos que possam ocorrer. O Operador Logístico e a transportadora – ainda de acordo com Façanha – deve ter estrutura para lidar com casos de qualquer adversidade, investir muito em treinamento, licenças e certificações, como o SASSMAQ – Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade. Além disso, existe a preocupação com o gerenciamento de risco de roubo, onde investimentos relevantes são adotados para atender às exigências das apólices das seguradoras.
“Para a operação de transporte e armazenagem neste segmento é necessário adequação de armazém, certificação SASSMAQ, seguro ambiental, licenças municipais, estaduais e federais, enfim, há uma série de itens necessários para a realização deste tipo de operação. A maioria destes produtos não é distribuída para o consumidor final, o que diferencia também o segmento. Outra questão é que o transporte de produto químico qualifica o transportador, pelas exigências e certificações, principalmente pela SASSMAQ, que possibilita a avaliação do desempenho das empresas que prestam serviço à indústria química. O motorista que conduz este tipo de produto também precisa possuir o curso MOPP, que o habilita a transportar produtos perigosos, sendo um programa preventivo onde o motorista aprende primeiros socorros, como evitar acidentes, direção defensiva e como conduzir no caso de um acidente com produtos químicos. Os veículos para transportar este tipo de produto também precisam ter no máximo 10 anos de fabricação. É necessário, ainda, ter contrato com uma empresa especializada para limpeza de solo, no caso de derramamento de produtos no meio ambiente.”
Todas estas características da logística no segmento são citadas por Renê Mesquita, diretor presidente, Rice Fagundes, diretor de Operações, e Roberto Luft, gerente Nacional de Vendas, todos da Modular Cargas – Modular Transportes.
E, apontando que os produtos químicos e petroquímicos são, muitas vezes, classificados em um perfil de carga perigosa e, por isso, exigem cuidados e elevados padrões de segurança por parte do Operador Logístico, além de uma estrutura adequada de sistemas de tecnologia e profissionais treinados e capacitados para operar este tipo de carga, Mauricio Alvarenga, diretor comercial da Log-In Logística Intermodal, faz a sua análise com uma visão da navegação.
“Este segmento está entre os mais representativos em volume transportado na navegação pela Log-In, que opera com os principais players do setor. Atualmente, a Log-In possui quatro serviços com rotas regulares que integram os principais portos do Brasil e Mercosul, sendo eles Atlântico Sul, Amazonas, Shuttle Rio e Manaus, atendendo a três mercados diferentes: cabotagem (todas as cargas que circulam entre portos brasileiros); Mercosul (cargas transportadas entre Brasil e Argentina) e feeder (direcionado aos armadores estrangeiros que não podem operar cabotagem no Brasil).”
Desafios
“Como se pode notar, o principal desafio na logística neste segmento é manter um controle rigoroso no transporte, de forma a evitar qualquer tipo de avaria, uma vez que, em se tratando de produtos químicos, pode causar um grande impacto ambiental”, aponta, agora, Anderson Perez, gerente comercial da Alfa Transportes.
Também falando em desafios, Lopes, do Expresso Nepomuceno, faz questão de destacar que este é um segmento cuja caraterística não favorece quando há a necessidade de se fazer sinergia. “Por exemplo, se temos ociosidade em algum outro segmento e pensamos em utilizar os equipamentos no segmento químico, há necessidade de verificar a compatibilidade do veículo (kits de emergência) e do motorista devido aos itens mencionados. Por outro lado, em caso de sinistro com derrame de carga, o tratamento da situação geralmente é caro, pois exige remoção de salvados por empresa credenciada junto aos órgãos ambientais. Encontrar motoristas qualificados para esta modalidade de transporte também é um desafio, pois é sempre um fator restritivo nas contratações.”
A estes desafios, Marcus Vinicius Budel, diretor da Budel Transportes, acrescenta a dificuldade perante novos entrantes, que não sabem o custo do transporte de produtos perigosos, trabalham sem os devidos cuidados e com um custo desconexo da realidade.
“Para fazermos a carga perigosa chegar em segurança, sem danos e contaminação e com qualidade operacional, consideramos aqui na TGA dois desafios principais: 1. Segurança para todas as partes envolvidas no processo de transporte – desde a coleta e o embarque, passando pelo transporte propriamente dito, até a entrega final. Isso exige equipamentos de proteção individual (EPI) adequados para os operadores, controladores e motoristas, bem como a capacitação frequente desses condutores e avaliações periódicas que garantam uma melhoria contínua desse atendimento; 2. Garantir a qualidade da operação por meio de constantes avaliações e análises de riscos e de rota feitas antes de cada embarque de produtos perigosos, além de um gerenciamento operacional que elimine ou minimize os impactos ao meio ambiente durante o transporte”, aponta Santos, da TGA Logística.
Já Façanha, do Grupo Toniato, coloca como desafio a parte regulatória que não segue padrões em todas as unidades federativas e, muitas vezes, existem legislações próprias em algumas cidades, gerando complexidade e perda de produtividade para lidar com tudo isso, sobretudo pela característica da carga que não pode, de forma alguma, seguir com outros produtos incompatíveis. Tudo isso faz com que a escala no segmento seja mandatária para assegurar elevado nível de serviço a um custo competitivo, respeitando os requerimentos legais e dos clientes.
Por sua vez, Mesquita, da Modular Cargas, considera que os maiores desafios no transporte deste tipo de carga envolvem os riscos ambientais que podem ser gerados por alguma avaria. As exigências legais e de qualidade que os transportadores necessitam para transportar e armazenar este tipo de produto, conforme já destacado, também podem ser citadas como um desafio. “É relevante o alto custo para manusear, armazenar e transportar esse tipo de produto em sua totalidade de exigências, porém as certificações necessárias qualificam todos os demais serviços da empresa”, completa o diretor presidente.
Alto custo operacional também é citado como desafio por Thiago Veneziani, sócio diretor da Terra Master em Logística e Transporte Eireli. Aqui, os altos custos envolvem licenças, certificações, seguros, treinamentos de equipe, adequação de veículos e planos de atendimento.
“Vejo como um dos principais desafios da logística neste segmento não só as questões inerentes aos avanços tecnológicos, mas, pensando em questões de segurança, é necessário que se conheça bem o cliente, as suas necessidades, o produto a ser manuseado, seja armazenado, movimentado, transportado e, principalmente, como ele se comporta em ambientes diferentes, buscando sempre negociar uma proposta que tenha como premissa não apenas as questões financeiras, mas esteja em acordo com os fatores regulatórios exigidos nacional e internacionalmente. Os fatores acima, com o que há de mais moderno em tecnologia, farão com que as grandes empresas que prestam serviços para o segmento de químicos e petroquímicos se destaquem neste mercado competitivo e ansioso por grandes volumes de cargas”, completa Souza Júnior, da TPC Logística Inteligente.
Exigências
Pela complexidade das operações neste segmento, é de se esperar que os embarcadores façam inúmeras exigências junto aos OLs e às transportadoras.
“Os mais corretos exigem certificações, fazem auditorias e acompanham os processos”, diz Marcus Vinicius, da Budel Transportes.
Lopes, do Expresso Nepomuceno, concorda. Primeiramente, exige-se o atendimento aos requisitos legais, o que envolve licenças específicas junto aos órgãos ambientais para o transporte destes produtos. Além disso, os programas internos de treinamento e capacitação de motoristas são pontos requeridos dos grandes embarcadores. Também a idade da frota e uma gestão preventiva e preditiva das manutenções dos veículos são fatores relevantes, pois isso está diretamente relacionado ao índice de sinistros e avarias de produtos.
“Os embarcadores deste segmento são extremamente exigentes, indo muito além da legislação local, sobretudo pela característica dos produtos que comercializam. Muitos deles, por se tratarem de grandes multinacionais, nivelam seus requerimentos pelo que encontram de melhores práticas ao redor do mundo”, acrescenta Façanha, do Grupo Toniato.
Mesquita, da Modular Cargas, também coloca que os embarcadores exigem o controle de qualidade (SASSMAQ) para transporte de produtos químicos, seguro ambiental e todos os itens exigidos para este tipo de transporte e operação logística em relação à preservação do risco ambiental. “É importante ressaltar que os clientes de armazenagem exigem a avaliação de barreiras e bacias de contenção necessárias nos armazéns, para conter eventuais vazamentos de produtos e, também, a análise prévia do solo, onde o material estará armazenado, feita por um engenheiro ambiental. Além disso, são exigidas todas as licenças federais, estaduais e municipais para o transporte e manuseio deste tipo de produto. Os embarcadores também exigem utilização de frota própria por parte do transportador”, completam Fagundes e Luft, também da Modular Cargas.
Souza Júnior, da TPC Logística Inteligente, pontua as exigências de uma forma mais ampla. Começa por explicar que os embarcadores, clientes, dentre todos os que necessitam de demandas para uma prestação de serviço no segmento de químicos e petroquímicos, devem exigir requisitos legais, com validações regulatórias, licenças operacionais em todas as fases do processo logístico, buscando não só o preço final do serviço e, sim, estar protegido dentro da esfera legal, evitando acidentes ambientais incalculáveis e irreversíveis para a natureza.
“O demandante do serviço também precisa conhecer os prestadores de serviços e suas diretrizes de segurança, qualidade e tecnológicas aplicadas, sejam eles Operadores Logísticos e/ou transportadoras, a fim de que se certifiquem de que estão colocando o seu produto aos cuidados de empresas reconhecidas para tal serviço.”
A forma como o produto é acondicionado e transportado – ainda segundo o gerente da TPC Logística Inteligente – é de suma importância e precisa seguir a ficha de segurança que cada produto determina. Desta forma, derramamentos, contaminações e explosões serão evitadas e a carga seguirá por todo o fluxo logístico atendendo ao SASSMAQ.