OLs e transportadoras do segmento de calçados seguem se adaptando às mudanças causadas pela pandemia

09/09/2021

Agora em menor escala, o setor de calçados foi bastante afetado pela pandemia, o que levou os prestadores de serviços a criarem alternativas para se adaptarem à falta de mercadorias para transporte e às mudanças que ocorreram.

 

No ano passado, com as restrições ao mercado físico doméstico, o setor calçadista sentiu fortes efeitos, especialmente no primeiro semestre.

“Encerramos 2020 com uma queda de mais de 18% na produção de calçados, isso porque o segundo semestre ensejou alguma recuperação. Alcançamos a produção de 763,7 milhões de pares, o pior resultado em 16 anos. Nas exportações, que respondem por cerca de 15% das vendas do setor, registramos uma queda de 18,6%, para 93 milhões de pares, o pior resultado em quase quatro décadas.”

Os dados são fornecidos por Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados – Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (veja a entrevista nesta edição).

E, embora neste ano de 2021 o setor apresente uma recuperação, estes “efeitos” da pandemia atingiram muito os Operadores Logísticos e as transportadoras que atuam no segmento.

Isto aconteceu, principalmente, durante as fases mais críticas de isolamento social, quando os comércios estavam fechados e não podiam receber seus pedidos.

“Tivemos um grande problema, pois tanto recebedor quando embarcadores permaneceram fechados e precisamos adequar os armazéns que antes eram utilizados somente para cross docking para realizar o armazenamento por tempo indeterminado”, comenta Thiago Menegon, diretor Comercial da TDB Transporte e Distribuição de Bens.

Com a queda das operações – continua Menegon – foi necessária a ampliação para outros nichos antes explorados com menos intensidade, como as entregas B2C. “Mas, em nosso caso, em outros mercados, e não o calçadista, pois nosso nicho sempre foi o B2B e no B2C priorizamos operações condizentes com nossa estrutura de frota e operação. No segmento calçadista a operação de entrega em pessoa física é totalmente diferente, pois há um fracionamento muito maior do pedido, o que aumenta consideravelmente o número de entregas. Enquanto na entrega em loja descarregamos no mesmo local a quantidade de 36 a 48 pares, por exemplo, na operação do e-commerce esta uma entrega é transformada em 36 a 48 entregas. Raramente uma pessoa física compra mais de um par de calçado pela internet.”

Giuseppe Lumare Júnior, diretor Comercial da Braspress, também destaca esta questão. “Ainda que se possa imaginar uma queda de vendas nos comércios tradicionais, o que tem ocorrido é a instauração do omnichanel, processo de integração de múltiplos canais de vendas que passam a se inseminar mutuamente. Não cabe mais pensar em vendas presenciais ou por meios eletrônicos, já que ambas passaram a ocorrer sob a égide da integração de processos”, diz o executivo, destacando que a queda de movimento no setor ocorreu no início da pandemia, mas no último trimestre de 2020 se recuperou, ressurgindo diferente e mais diversificada.

Assim – prossegue – os Operadores Logísticos e os transportadores passaram a um novo nível de integração, no qual as vendas cresceram. Do ponto de vista dos processos de transporte, houve necessidade de transformar os processos operativos de modo que se tornasse viável a oferta de serviços diferenciados, ou multisserviços demandados por clientes, seja para atender expedidores, seja para responder aos anseios dos compradores. “A pandemia afetou não somente o mercado calçadista, mas o varejo todo, acelerando o processo de penetração do serviço de e-commerce”, acrescenta Gustavo Kras Borges Ferreira, gestor de Qualidade da Transportadora Minuano.

Cesar Luis Alves, gerente Nacional de Vendas, e Roberto Mira Junior, diretor Geral, ambos do Grupo Mira, explicam que o impacto da pandemia da Covid-19 no mundo é imenso e pode ser notado em praticamente todos os setores da economia.

“No setor logístico, exigências de trabalho e consumo fizeram com que as empresas se mobilizassem e, rapidamente, reorganizassem suas formas de trabalho, como: descentralização dos centros produtores; maior integração entre empresas e fornecedores; crescimento do e-commerce; gestão do trabalho remoto; e adoção de tecnologia e inteligência artificial”, diz Alves.

Altamir Cabral, diretor presidente da Via Pajuçara, também expõe que foi necessário muito diálogo em torno de se flexibilizar prazos de entrega, KPIs e, em alguns casos, até mesmo os pagamentos. “Nessas horas a parceria precisa prevalecer.”

 

Mudanças

Como se pode notar, a pandemia trouxe mudanças na atuação de OLs e transportadoras que atuam no setor de calçados.

“As mudanças mais significativas durante esses quase dois anos de pandemia foi a diminuição da concentração de entrega em shoppings e o aumento da venda por e-commerce, fracionando cada vez mais a carga, devido aos estabelecimentos fechados por restrição.”

Roberto, do Grupo Mira, coloca que outra grande dificuldade que os transportadores encontraram foi lidar com esta carga nos destinos, acondicionando em espaços para que pudessem aguardar a retomada e a abertura do comércio. Isso gerou gargalos em momentos difíceis, o que levou cada empresa a montar sua estratégia e conduzir de forma assertiva o êxito e sucesso da sua operação.  Menegon, da TDB Transporte, também lembra que, durante os períodos de lockdown em vários municípios, o contato com o lojista foi fundamental para programação das entregas. “Em muitos casos foi necessário o agendamento de entregas para minimizar os insucessos e retorno de mercadorias, sem considerar o risco de termos diversas mercadorias em nossos terminais aguardando para serem entregues.”

Já na opinião de Ferreira, da Minuano, atualmente o e-commerce tem mudado a forma de compra dos clientes, gerando maiores custos de distribuição devido ao formato de entrega física.

“O que temos notado é o maior fracionamento das cargas destinadas ao varejo em geral, muito pela mudança no perfil dos pedidos, além, é claro, do crescimento das entregas B2C”, complementa Cabral, da Via Pajuçara.

 

Peculiaridades da logística

Embora a carga fisicamente não seja perecível, por tratar-se de moda, o calçado se torna uma carga tão urgente quanto uma perecível. Hoje é uma tendência entre as fábricas de calçados possuírem várias “minicoleções” dentro da coleção. Ou seja, o calçadista está preocupado em criar diferenciais dentro da sua própria coleção, isso num período mensal ou até mesmo a cada semana, por isso, a redução do prazo de entrega e, portanto, a entrega acurada da mercadoria é tão importante.

“As diferenças no setor calçadista estão na diversidade de SKU´s, nos pontos de distribuição concentrados em áreas de restrição, como shoppings centers e lojas de rua, no alto valor agregado, na necessidade de entrega aos sábados e na baixa rápida, assim como o risco eminente de ser uma carga visada para roubo”, explicam Alves e Roberto, do Grupo Mira.

A análise de Menegon, da TDB Transporte, vai pelo mesmo caminho. Ele lembra que em operações tradicionais B2B o que era mais considerável era a assertividade do prazo, pois o calçado, assim como vestuário, tem coleção por estação do ano – por exemplo, em termos de calçados femininos, botas são vendidas no outono/inverno e calçados mais leves, como sandálias, são vendidos na primavera/verão.

“Algumas indústrias acabam tendo problema de atraso de produção, o que reflete no transporte para tirar esta diferença no atraso. Outro ponto de desafio é que grande parte das entregas é direcionada a lojistas em shoppings centers, que possuem restrição de recebimento em horário e tamanho de veículos em algumas cidades.”

Cabral, da Via Pajuçara, por seu lado, coloca que este é um segmento muito disputado pelas empresas de transportes.

De forma geral, a maioria são entregas muito fracionadas, para o comércio em geral, uma a três caixas por pedido. Dependendo do embarcador, existem também entregas agendadas e entregas em grandes CDs, com grande metragem cubica envolvida. As embalagens são de fácil manuseio e acomodação, geralmente bem identificadas, garantindo processos rápidos nos terminais e nas entregas.

E Lumare Júnior, da Braspress, coloca que esta logística, do ponto de vista prático, não apresenta diferenças dignas de nota, apenas se podem melhor tratar as operações de transporte de calçados conforme crescem e evoluem os processos de roteirização de cargas. Quer dizer, à medida que estes sistemas passam a armazenar as experiências de campo, o que se percebe são usos cada vez mais frequentes de sistemas de inteligência artificial que afetam sobremaneira a eficiência das entregas.

 

Exigências

As exigências do segmento de calçados aos OLs e transportadores seguem a mesma tendência geral, quais sejam, a de proverem eficiência nos prazos de entrega e concomitantemente de rastreabilidade de informações, além, é claro, de eficiência de custos, cujo efeito ideal é a calibragem das tarifas de frete segundo as expectativas dos embarcadores.

A esta avaliação de Lumare Júnior, da Braspress, Menegon, da TDB Transporte, acrescenta que a maior exigência é o cumprimento dos prazos acordados e os Operadores estarem adequados para absorver os períodos de sazonalidade – neste mercado não há operação linear. “Datas comemorativas, por exemplo, puxam a demanda e muitas vezes ‘corremos’ até o último segundo para realizarmos as entregas até antes dos prazos.”

Cabral, da Via Pajuçara, também alega que, como qualquer segmento, o ramo calçadista espera o cumprimento de prazos, integridade das mercadorias, informação precisa, tudo aliado, é claro, a preço competitivo. “Nenhuma novidade, portanto.”

Alves e Roberto, do Grupo Mira, finalizam esta questão apontando que as empresas de transporte buscam cada vez mais otimizar custos.

“Para nós, transportadores, e os Operadores Logísticos, a expansão calçadista tem grande importância na economia do Brasil. A consequência desta alta é o número cada vez maior de empresas que trabalham com o frete calçadista. O setor tem como características o grande volume de baixo peso, o nível de fracionamento ao qual a carga é submetida e o menor índice de avarias, em função de não ser um produto frágil. As grifes de calçados habitualmente lançam novos produtos em espaços de tempo cada vez mais curtos para mudar suas coleções, assim, fomentam a todo momento as trocas de coleção.”

 

Roubo de carga

O roubo de carga sempre foi o “calcanhar de Aquiles” no setor. As empresas investem pesado em gerenciamento de risco em prol da segurança dos clientes – algumas chegam a investir até 13% do seu faturamento em gerenciamento de risco, em toda a questão de segurança que envolve uma empresa de transporte e seus clientes.  No Grupo Mira se investe quase 10% do faturamento em gerenciamento de risco e segurança em geral. “Para minimizar o roubo de carga, o Grupo Mira tem frota 100% rastreada, controle efetivo de isca de carga, todas as filiais são altamente seguras em vigilância e vigilância eletrônica 24h, portarias e seguranças armados e o seguro obrigatório de carga”, explicam os representantes do Grupo.  Lumare Júnior, da Braspress, também coloca que o roubo de carga se mantém um problema sério, mas os processos de gerenciamento de risco têm evoluído bastante.

Segundo ele, a criação de protocolos de enfrentamento aos roubos passou a incorporar práticas de inteligência preditiva e preventiva, cujo efeito mais notável foi a capacidade de antecipar eventos pelo conhecimento histórico das ocorrências de roubo, seguido de procedimentos que visam a impedir as entregas em certas áreas de risco ou de fazê-las segundo critérios de proteção armada, estas últimas sempre em último caso, uma vez que sempre se deve optar pelo uso da inteligência que evita o enfrentamento com os criminosos. “Na prática, na medida em que o crime tem se aperfeiçoado, as gestões de risco têm evoluído a fim de se manterem à frente dos criminosos”, completa o diretor Comercial da Braspress.

Cabral, da Via Pajuçara, é outro profissional do setor de transporte a colocar que o roubo de cargas continua sendo um problema dos mais sérios. De acordo com ele, o segmento de calçados, pelo seu apelo comercial, acaba sendo bastante visado pelas quadrilhas e até mesmo por roubos de oportunidade, em entregas fracionadas. “A prevenção dos eventos é feita com a utilização de variadas tecnologias, processos de gerenciamento de riscos e treinamento do pessoal.”

Já na visão de Menegon, da TDB Transporte, este indicador está em queda desde o ano passado – “apesar de todo problema social agravado pela pandemia, nosso índice de roubos diminuiu mais da metade. Vale ressaltar que continuamos praticando as regras de gerenciamento de risco vigentes em nossa apólice”.

Ferreira, da Minuano, é mais direto: “Em nossa transportadora não temos índices de roubos.” Ele lembra que o calçadista é um segmento com alto consumo e uma carga que requer certos cuidados, como conferência de lacres em caixas, conferências de caixas e volumes, além de sinais de furtos por baixo da caixa.

 

O que as empresas oferecem

Braspress – Faz transportes fracionados com destinos frequentes em comércios, seja em redes próprias dos fabricantes, seja em franquias, ou ainda em lojas multimarcas.

Grupo Mira – Trabalha com distribuição fracionada de calçados, fazendo capitação de carga nas regiões Sul, com expertise na distribuição no Centro-Oeste e Norte do país.

Minuano – Atua com diversos tipos de calçados: slip, sapatênis, bota, coturno, sandália, tênis e chinelo. E faz identificação das notas fiscais X volumes; separação por estados; e distribuição nos estados.

TDB Transporte – Também opera somente com produto acabado, tanto masculino, como feminino e infantil. Os processos são muito parecidos com os do mercado de moda e vestuário, aliás muitos pontos de entrega são os mesmos, como shoppings e comércio de rua em geral. “Basicamente realizamos a separação física das mercadorias e seguimos para entregas conforme roteirização, respeitando horários de funcionamento e demais restrições governamentais, como de tamanho de veículos e horários”, explica Menegon.

Via Pajuçara – Calçados e artigos de couro estão entre os principais segmentos de interesse comercial da empresa. Executa coletas, distribuição fracionada, entregas agendadas e logística reversa.

 

Abicalçados – Apoiando os produtores

A logística do setor de calçados se dá, sobretudo, no modal rodoviário, para o mercado interno (que absorve mais de 85% das vendas de calçados), e no modal marítimo, pelo qual são embarcados mais de 70% dos calçados vendidos ao exterior.

Ainda falando sobre a logística neste segmento, o presidente executivo da Abicalçados – Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, Haroldo Ferreira, coloca que os desafios são comuns aos demais setores: estradas em péssimas condições e burocracia, sobretudo para exportação. “Pensamos que são custos extras que fazem parte do Custo-Brasil e nos tiram a competitividade diante dos nossos concorrentes internacionais.”

Ferreira lembra que temos uma infraestrutura logística cara e ineficiente no Brasil. São estradas abandonadas, em péssimas condições físicas, além da falta de segurança. Para a exportação, o que mais atrapalha é a burocracia e, atualmente, o aumento vertiginoso dos preços no frete marítimo.

“Hoje, pesquisas apontam que os custos para exportação no Brasil são, pelo menos, três vezes superiores aos custos médios dos países membros da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.” 

Sobre as tendências logísticas no setor de calçados, o presidente executivo da Abicalçados aponta o maior uso da cabotagem, a partir da possível aprovação da BR do Mar, que irá aumentar a concorrência do setor e, portanto, diminuir os custos do transporte marítimo. 

A Associação – A Abicalçados foi criada em 1983 com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento do setor calçadista brasileiro, por meio de projetos e representação, tanto no mercado interno quanto internacional.

Seu braço internacional é o Brazilian Footwear, que trabalha pelo incremento e qualificação das exportações de calçados por meio de ações comerciais – feiras, rodadas de negócios, plataformas digitais internacionais etc. – e de imagem no exterior.

Outro destaque da entidade é o programa “Origem Sustentável”, a única certificação de sustentabilidade para a cadeia calçadista nacional e que tem o intuito de acreditar empresas que adotam processos produtivos sustentáveis. Atualmente, as empresas associadas à Abicalçados respondem por mais de 70% da produção nacional do setor.  

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