De vital importância para o comércio internacional, o Canal do Panamá virou assunto após o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, falar publicamente sobre o desejo de retomar o controle sobre o ponto por considerar as tarifas de uso injustas. O presidente panamenho, José Raul Mulino, respondeu que elas são essenciais para a manutenção da operação do canal e reforçou a soberania do Panamá.
Estratégico para o tráfego de cargas entre os oceanos Pacífico e Atlântico, com aproximadamente 6% do comércio mundial transitando por essa rota, cerca de 423 milhões de toneladas de carga, uma disputa pelo canal pode prejudicar enormemente diversos países. O especialista em comércio exterior Jackson Campos – diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo –, alerta que muitos países vão sofrer grandes prejuízos se houver uma grande redução de tráfego na região.

“É um canal vital para o comércio de muitos países e é estratégico para os EUA ter o controle desta área, especialmente quando pensamos no crescimento da economia chinesa. Mas, uma redução muito grande do trânsito de navios comerciais, especialmente para países do continente americano, pode significar prejuízos imensos na balança comercial. É preciso estar atento a esta situação que, somada ao que acontece no Mar Vermelho, pode transformar o comércio exterior, exigindo o uso de rotas cada vez mais longas, perigosas e demoradas”, analisa Campos.
Para o Brasil, problemas nesta região poderiam significar dificuldades em exportar e importar cargas dos EUA e Ásia, sendo a China o nosso principal parceiro comercial. Os setores que mais se beneficiam da rota são os grãos, minérios, automobilístico e de carnes, e a paralisação causaria prejuízos bilionários para empresas e para o país.
“Para nós seria um desastre, causaria um aumento de custo muito grande para enviar e trazer mercadorias de certas partes do globo. Iriamos ver preços aumentando e a balança comercial sofrendo por conta da paralisação da área. É um tema que devemos ficar atentos, pois pode ser um fator negativo e que pode desestabilizar a economia do Brasil”, afirma o especialista.
Concluída no ano de 1914, a construção da passagem começou muito antes com os franceses, no século XIX. Os europeus tentaram construir o canal, mas enfrentaram sérias dificuldades financeiras e as doenças tropicais, como Malária e Febre Amarela, devastaram a equipe francesa. Os americanos retomaram a obra no início do século XX e o canal ficou sob domínio dos EUA até 1999, quando passou para a mão dos panamenhos.
Entretanto, Campos avalia que uma retomada americana é “difícil de ser concluída, pois estremeceria a relação dos EUA com o resto do globo e enfrentaria sanções pesadas de vários países, causando o aumento de tarifas em cargas norte-americanas e sufocando diversos setores que dependem diretamente da exportação e importação de produtos”.
Aquecimento Global
Além das recentes declarações de Trump, o canal vem sofrendo com a seca, que tem forçado a redução do tráfego de cargas entre os oceanos e a quantidade de navios que conseguem realizar a travessia, como aconteceu em 2024, quando houve a redução de 17% no volume de carga transportada em relação ao ano anterior.
Pelo formato em que a travessia é feita via um sistema de eclusas, todas às vezes que uma embarcação passa, um pouco de água do Lago Gatún, que abastece o canal, é jogada no oceano. Em situação normal essa perda não é sentida, mas, com a falta de chuvas, o lago começa a dar sinais de seca e demanda redução de uso deste sistema. “É um momento de seca no Panamá e o Lago Gatún tem tido dificuldades para manter seu nível. A operação teve que ser reduzida para preservação a bacia hidrográfica e diversos navios precisaram aderir a rotas mais longas para poderem chegar aos seus destinos. O aquecimento global tem causado estragos e isso afetará diretamente o comércio internacional”, conclui o especialista.