A crise de saúde impactou na forma de comprar, trabalhar, se divertir e estudar, e algumas mudanças vieram para ficar. Os varejistas investiram ainda mais em automação, como em leitores de código de barras e coletores de dados no processo de recebimento de mercadorias.
O mercado de leitores de código de barras conheceu, em 2021, os dois lados da moeda, na opinião de Igor Froiman, diretor comercial da Eletro EPI. Segundo ele, com a pandemia em curso, muitos nichos de mercado passaram a atender remotamente seus clientes para que não fechassem as portas de vez. Dessa forma, a utilização dos leitores de código de barras aumentou ainda mais em relação à expedição de materiais, controle de estoque, controle de inventários, etc.
“Em contrapartida, muitos fabricantes de leitores também deixaram de inovar, devido ao medo que havia se instalado no mercado por conta da pandemia”, explica.
Contudo, ainda continua Froiman, na própria indústria farmacêutica os leitores foram ainda mais utilizados, mas agora já em sua versão 2D, com possibilidades de utilizar a tecnologia do QR Code. “Acredito piamente que grande parte das mudanças que se fizeram necessárias durante a pandemia vieram para ficar ou serão aprimoradas, dando novas perspectivas ao setor. Uma uma coisa é certa, todos nós aprendemos muito com esse vírus que assolou o mundo”, expõe.
Também na análise de Simone Abade, gerente de projetos da TI Tech Solutions, o uso da tecnologia para captura de dados foi ainda mais intenso durante a pandemia. Os leitores de códigos de barras e os coletores de dados fizeram diferença nesse período, pois ajudaram no processo de automação na leitura de código de barras.
Por exemplo, na área da saúde, ao passar pela triagem, o profissional da saúde “bipa” código de barras o tempo todo para rastrear o paciente. No varejo, todos os produtos possuem código de barras e a leitura nos caixas torna os processos de vendas ainda mais ágeis. Na indústria, a matéria-prima também precisa ser rastreada, e o leitor ou coletor possui papel importantíssimo no processo de manufatura.
“Não poderíamos deixar de lado os operadores e o e-commerce, setor que precisa de agilidade na entrada e no recebimento de mercadorias. As tecnologias de captura automática de dados são importantíssimas para aumentar a acuracidade e a produtividade dessas operações”, expõe Simone.
Para Mario Auricchio, diretor comercial da Auricchio Etiquetas, 2021 foi um ano atípico. “Com a pandemia, ficamos sem referências. O mercado tornou-se muito instável. Com a população se adaptando para comprar pela internet, os comerciantes tiveram de se ajustar e investir em leitores de códigos de barras.”
E esse maior uso, motivado pelo crescimento do e-commerce, culminou na falta de leitores de código de barras, como comenta José Antônio Cantero Lopez, CCO da Syscontrol. De acordo com ele, a retomada mais acelerada das economias mundiais, principalmente da indústria automobilística, que cada vez mais produz veículos com eletrônica embarcada, repercutiu negativamente na disponibilidade de semicondutores.
“Os fabricantes mundiais desse produto não estavam preparados para suprir as necessidades do mercado mundial, o que tem afetado drasticamente os prazos de entrega de artigos que utilizam tais componentes, como os leitores de código de barras”, ressalta.
Incertezas
É muito difícil prever o que pode acontecer em 2022, principalmente no Brasil. Por ser um ano eleitoral, com inflação em alta e a eminência de uma possível nova onda de Covid-19, as incertezas para 2022 no mercado de leitores de código de barras são muito altas, opina Lopez, da Syscontrol. “Entretanto, se não houver muitas interferências internas e externas, podemos esperar um ano de rápida recuperação, com um crescimento acima de 30%”, acrescenta.
Mario, da Auricchio Etiquetas, tem a mesma opinião sobre a incerteza. “A política atrapalha também, mas acredito que o mercado mudou. Com a facilidade de compra na internet, acredito que 2022 será um ano de retomada dos negócios. Apesar da crise mundial, acredito que o setor irá crescer.”
Segundo Simone, da TI Tech Solutions, o Brasil não vai parar de investir em tecnologia, e a pandemia acelerou bastante esse processo, a exemplo das empresas que tiveram de correr para colocar seus colaboradores em home office. Muitas companhias não tinham notebooks e investiram pesado em mobilidade.
“Os hospitais, as indústrias, ou seja, toda a cadeia logística vai continuar investindo em tecnologias que melhorem a produtividade de suas operações e maximizem seus lucros. O aumento na venda de leitores de código de barras, coletores de dados, soluções de voz, sistemas de WMS e tantas outras tecnologias gera grandes expectativas para os provedores dessas soluções”, acrescenta.
Impactos
De fato, a pandemia acelerou muito a transformação digital das empresas, e isso veio para ficar e continuar a evolução constante, acredita Lopez, da Syscontrol. “Entretanto, acredito que, uma vez que a pandemia esteja controlada, as pessoas irão voltar ao mercado de contato, pois isso é uma característica do ser humano: a necessidade de se socializar, diminuindo a dependência quase única, durante a pandemia, da internet”, relata.
Realmente, para Simone, da TI Tech Solutions, a pandemia impactou na forma de comprar, trabalhar, se divertir e estudar, e algumas mudanças vieram para ficar. “As compras pela internet eram tímidas, até que o brasileiro se viu em meio à situação de ter de comprar online, pois as lojas estavam todas fechadas. Com isso os varejistas investiram ainda mais em tecnologia, e alguns itens tiveram destaque nesses investimentos”, diz.
Entre esses itens, ela cita o self checkout, que permite aos clientes fazerem suas compras de forma autônoma, os leitores de código de barras e os coletores de dados para automação no processo de recebimento de mercadorias, entre outros.
Durante a pandemia, a Auricchio Etiquetas cresceu 15% e Mario acredita que o setor deve evoluir ainda mais em 2022. A expansão no mercado de etiquetas de identificação se reflete no mercado de leitores de códigos de barras.
RFID
Entre as novas tecnologias que estão sendo aplicadas ao setor, os entrevistados citam o RFID (radio frequency identification – identificação por radiofrequência). “Ele é tendência principalmente no segmento de varejo e logística. Inventários que antes levavam dias agora levam horas e até minutos para serem concluídos”, explica Simone, da TI Tech Solutions.
Mario, da Auricchio Etiquetas, cita o preço alto da implantação do RFID, mas acredita que essa tecnologia será o futuro.
Na lista de Lopez, da Syscontrol, estão, ainda: leitores capazes de identificar QR Codes e códigos 1D simultaneamente, Internet das Coisas (IoT), self-checkouts, smart carts, identificação facial e tecnologia de imagens para identificação de produtos.
Código 2D
Os processos logísticos acompanham as mudanças rápidas que a tecnologia proporciona há alguns anos. Assim como as necessidades da indústria, do varejo, dos produtores e dos próprios consumidores, o código de barras 2D chega para atender um mercado cada vez mais exigente, trazendo muito mais informação, segurança e modernidade.
Ana Paula Maniero, gerente de Engajamento Setorial da Associação Brasileira de Automação – GS1 Brasil, explica que o código bidimensional possui a capacidade de armazenar muito mais informações que o código de barras linear, como data de validade, lote, número de série e dados nutricionais.
Enquanto o código de barras tradicional carrega 13 dígitos, o bidimensional pode conter milhares de dígitos, além de permitir a impressão em uma área muito menor na embalagem. “Estamos falando de uma verdadeira revolução tecnológica, possibilitando à indústria e ao varejo, seja físico ou digital, simplificar processos, melhorar a gestão e controle de estoques, monitorar a data de validade, além de prevenir perdas. Para os consumidores, permite garantir a autenticidade dos produtos e melhor experiência de compra. Essa mudança nas embalagens vai permitir que todos os elos da cadeia de suprimentos se conectem de forma rápida, segura, transparente e sustentável”, destaca Ana Paula.
A GS1 está apoiando as empresas em todo o mundo para fazer a transição do código linear para o bidimensional e explorar as novas possibilidades de negócios agora e no futuro. No mercado interno, a entidade já incentiva o uso dos códigos bidimensionais GS1 DataMatrix, que ganharam projeção no setor da saúde, e o GS1 QR Code. Além disso, trabalha em parceria com diversas entidades que entenderam a oportunidade de desenvolvimento dos seus setores nesse processo de transição, como ABAD – Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados, ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados e ANAMACO – Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção.
A GS1 Brasil orienta as empresas que pretendem adquirir um leitor de códigos que já invistam em uma tecnologia 2D. Apto a ler também os formatos convencionais dos códigos de barras (códigos lineares, ou códigos 1D, que exigem apenas um feixe para captar os dados do produto), os leitores bidimensionais podem fazer a varredura das informações tanto na horizontal quanto na vertical.