Afinal, são vários os desafios de infraestrutura para o escoamento da produção do agronegócio brasileiro, como alta participação do modal rodoviário na matriz do transporte brasileiro, com passagem por estradas deficitárias, e baixa conectividade entre os diversos modais.
A safra brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas deve somar, em 2025, 322,6 milhões de toneladas, uma alta de 10,2% em relação a 2024, com 29,9 milhões de tonelada a mais, de acordo com o 3º prognóstico do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Porém, o Brasil sofre com um déficit crônico de armazenagem que, segundo a ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, cresceu de 59 milhões de toneladas em 2017 para 119 milhões em 2023.
Isso implica na necessidade de escoamento da produção imediatamente após a colheita, aumentando a demanda por frete agrícola e encarecendo este custo. Neste ano, os fretes devem ficar ainda mais caros em razão do aumento esperado para o diesel e no preço dos pneus.
Frederico Favacho, sócio da área de agronegócios, contratos, mediação e arbitragem do Santos Neto Advogados, vai mais além e destaca que os principais desafios de infraestrutura para o escoamento da produção do agronegócio brasileiro podem ser assim resumidos: alta participação do modal rodoviário na matriz do transporte brasileiro, com mais de 62% da produção sendo transportada da produção ao destino por meio de estradas que, em sua maioria, não são sequer pavimentadas – segundo levantamento da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), 67% das estradas enfrentam situações que variam de péssima a ruim e menos de 12,5% das estradas são pavimentadas –; baixa malha ferroviária para um país com a extensão territorial do Brasil; poucas alternativas de hidrovias operando; e baixa conectividade entre esses diversos modais. “Há muito investimento privado em novos portos, como vimos no chamado Arco Norte, mas ele ainda é insuficiente para fazer crescer a disponibilidade de espaço nos portos na mesma proporção do aumento da produção do agronegócio brasileiro, indicando que novos investimentos precisam ser feitos para abrir novas alternativas para as exportações, acompanhados de projetos de extensão da rede ferroviária para servir a estes novos portos. Também vale lembrar que já há algum tempo as grandes embarcadoras têm investido em frota própria ou em participação em empresas de transporte de forma a garantir estabilidade na oferta e no preço dos fretes e buscado aumentar a participação de outros modais, como o ferroviário e o aquaviário, nas suas matrizes logísticas”, explica.
Outro ponto relevante, ainda segundo Favacho, é o fato de o Brasil ser um país tomador do serviço de transporte marítimo que depende de armadores estrangeiros, na medida em que não temos uma indústria naval nacional relevante. Assim, alternativas como navegação de cabotagem e navegação interna por hidrovias também ficam prejudicadas, ao mesmo tempo em que as rotas marítimas que servem ao Brasil competem com outras rotas e podem ser afetadas ao sabor das conjunturas econômicas globais – como agora, no Governo Trump (veja matéria especial nesta edição).
Antes de também apontarem os principais riscos logísticos e desafios enfrentados no transporte de commodities na safra 24/25 e como as empresas estão se preparando para mitigá-los, Priscila Ban Lourenço, diretora Administrativa e Financeira, Cristiane de Lima, analista de Qualidade e Meio Ambiente, e Rafael Henrique da Silva, analista de Monitoramento, todos da Lourenço Transporte, lembram que, embora o agronegócio brasileiro seja responsável por 22% do PIB e 47,6% das exportações totais do país, ele enfrenta desafios logísticos críticos que incluem desde infraestrutura deficiente até riscos climáticos, passando por oscilação dos custos operacionais e ameaças à segurança das cargas.
A infraestrutura logística brasileira apresenta diversas fragilidades que impactam diretamente o escoamento da safra, sabem bem os representantes da empresa de transporte. O país depende majoritariamente do modal rodoviário, que sofre com estradas malconservadas, congestionamentos e falta de investimentos adequados. A sobrecarga nas principais rotas de escoamento gera atrasos, aumenta os custos operacionais e reduz a competitividade do agronegócio no mercado internacional.
Os gargalos logísticos também afetam o desempenho de ferrovias e portos, comprometendo o fluxo eficiente da safra, destaca, agora, Priscila. “A infraestrutura ferroviária brasileira ainda é limitada e, em muitos casos, inadequada para atender à crescente demanda do setor agropecuário. A insuficiência de ramais ferroviários interligados às principais regiões produtoras limita a capacidade de transporte e encarece a movimentação das cargas. Nos portos, a falta de modernização e os congestionamentos nas operações de embarque aumentam o tempo de espera dos navios, elevando custos e reduzindo a competitividade das exportações brasileiras”, diz a diretora Administrativa e Financeira.
Segundo levantamento da CNA, o custo do frete da soja no Brasil é cerca de 82% maior do que nos Estados Unidos e 46% maior do que na Argentina. Para enfrentar esses desafios, as empresas estão investindo em terminais intermodais, ampliando a utilização de hidrovias e buscando novos corredores logísticos que permitam maior eficiência no escoamento da produção. Além disso, medidas como a digitalização dos processos aduaneiros e a ampliação da capacidade de armazenamento portuário também estão sendo implementadas para reduzir os gargalos existentes. Investimentos em ferrovias e hidrovias também vêm sendo discutidos como alternativas mais eficientes e sustentáveis. “Parcerias público-privadas e um planejamento estratégico mais robusto são essenciais para viabilizar melhorias estruturais e garantir maior previsibilidade no transporte de commodities”, completa a analista de Qualidade e Meio Ambiente da Lourenço Transporte.
“Apesar de se ter observado um aumento no uso de ferrovias para o transporte de grãos, especialmente em percursos mais longos, ainda é necessário expandir para que haja maior integração entre as modalidades, atendendo às demandas do agro”, também aponta a direção da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio.
A infraestrutura portuária brasileira já opera próxima ao limite, e a alta demanda da safra adiciona pressão às operações – aponta, com sabedoria, a direção da entidade. Em relação à armazenagem, a falta de silos e armazéns faz com que os caminhões levem mais tempo para descarregar os grãos. Como há filas para esse descarregamento nos terminais, os produtores de algumas regiões precisam contratar uma quantidade maior de caminhões do que o necessário, transformando a carroceria em um instrumento pouco adequado de armazenagem. Há ainda a questão de roubo de cargas nas estradas. Na Baixada Santista são flagrados, diariamente, marginais roubando produtos agrícolas nos vagões ferroviários ao se aproximarem vagarosamente do terminal portuário. A direção da ABAG entende que há a necessidade de mais investimentos em asfalto, ferrovias, hidrovias e em linhas de financiamento para a construção de armazéns.
De fato, como também lembra Marcelo Anacleto, diretor de Sinistros da Albatroz MGA, o Brasil enfrenta há muito tempo um problema crônico de infraestrutura no transporte. “Estimativas de mercado apontam que cerca de 18% das mercadorias transportadas são perdidas ao longo do percurso devido a esses problemas. Isso gera um enorme prejuízo para o setor logístico e segurador, além de impactar diretamente o custo do seguro de transporte.”
Relacionados à sua área de atuação, Anacleto cita outros tipos de riscos de segurança no transporte de commodities, como os roubos, apropriação indébita e acidentes – fatores que resultam em grandes perdas financeiras para o setor e dificultam a aceitação desse tipo de risco por parte das seguradoras –; a falta de regras específicas para identificação e análise de profissionais, veículos e implementos – o controle rigoroso sobre motoristas, caminhões e equipamentos é essencial para minimizar riscos –; e a deficiência nos procedimentos operacionais e no atendimento de sinistros nas estradas – a falta de políticas estruturadas para o salvamento de mercadorias compromete a recuperação de cargas sinistradas. Para enfrentar esse desafio, investimentos são essenciais – os desafios de infraestrutura e as alternativas buscadas pelas empresas incluem o desenvolvimento de soluções logísticas próprias e parcerias estratégicas. “O governo anunciou um pacote de R$ 4,5 bilhões para melhorias na cadeia logística, incluindo a entrega de obras e concessões nas principais rotas de escoamento da safra.” O diretor de Sinistros da Albatroz MGA também ressalta que o transporte ferroviário, ainda subutilizado, poderia ser uma solução viável, mas requer investimentos significativos. Além disso, a deficiência de mão de obra qualificada contribui para um aumento no número de acidentes, agravado pelo estado precário de muitos caminhões, que percorrem longos trajetos – muitas vezes de três a quatro dias – em condições adversas.
Como representante de uma empresa que engloba ferrovias e terminais intermodais, Jandher Carvalho, gerente de Estratégia do Negócio da VLI, diz que o grande desafio da infraestrutura é antecipar a capacidade necessária para o escoamento das crescentes safras brasileiras. Projetos de infraestrutura demandam tempo para serem desenvolvidos e demandam expressivas fontes de financiamento, regulares e confiáveis, bem como estabilidade macroeconômica e segurança jurídica.
Além disso, mudanças repentinas de natureza tributária, como a criação de taxas sobre exportações, podem alterar materialmente os fluxos logísticos, desestabilizando cadeias e desincentivando investimentos. “Costuma-se dizer que as exportações brasileiras crescem um porto por ano, mas não temos observado o desenvolvimento de portos nessa velocidade, assim como de novas ferrovias ou grandes movimentos de capacitação em hidrovias e rodovias. Será sempre um desafio acompanhar a capacidade do produtor brasileiro, mas estamos cientes da oportunidade que temos pela frente. Por isso, também é muito importante melhorar a produtividade dos ativos, garantindo uma capacidade adicional nos já existentes”, diz Carvalho.
Fatores climáticos
O impacto dos fatores climáticos no transporte de commodities é outro desafio significativo, alerta Silva, da Lourenço Transporte. Eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, podem comprometer tanto a produção quanto a logística de escoamento. A instabilidade climática afeta diretamente a navegabilidade dos rios, a conservação das estradas e até mesmo a qualidade dos produtos transportados.
“Para minimizar esses impactos, empresas do setor estão investindo cada vez mais em análises avançadas de riscos climáticos, na diversificação de rotas e em tecnologias que permitem a previsão mais precisa de intempéries. O fortalecimento da colaboração entre produtores, transportadoras e seguradoras também tem sido uma estratégia fundamental para aumentar a resiliência do setor diante das mudanças climáticas”, aponta o analista de Monitoramento na Lourenço Transporte.
Também segundo a direção da ABAG, as mudanças climáticas já afetam o transporte de commodities. Em tempos de muitas chuvas, a operação portuária é afetada. Por exemplo, não é possível realizar a movimentação de granéis sólidos, de origem vegetal, o que significa que os caminhões acabam por esperar um tempo maior para fazer a descarga. Uma solução é os terminais diminuírem as cotas programadas em períodos chuvosos, para mitigar esse gargalo. A questão das chuvas também afeta o transporte rodoviário, especialmente em locais onde há riscos para alagamentos, erosões, deslizamentos e até de pontes caídas, obrigando os caminhões até triplicaram a rota para chegar ao seu destino.
“Enchentes, como as registradas recentemente, comprometem não apenas a safra, mas também a logística rodoviária. Diante disso, empresas estão adotando a diversificação de rotas e investindo em tecnologia para monitoramento e proteção ao longo da cadeia logística. O mapeamento de ocorrências permite a análise preditiva e a criação de modelos de prevenção, antecipando possíveis problemas, tanto na plantação quanto no transporte”, explica, agora, Anacleto, da Albatroz MGA.
Na verdade, como ressalta Favacho, da Santos Neto Advogados, há várias ameaças que as mudanças climáticas trazem para o transporte de commodities. “Em 2024 pudemos assistir a alguns desses eventos extremos impactando o setor: as chuvas no Rio Grande do Sul, isolando áreas produtoras, impactando nas operações dos portos daquele Estado, enquanto a seca no Norte prejudicou o funcionamento da hidrovia do Tapajós, reduzindo em cerca de 40% o volume dos grãos transportados em barcaças por aquele rio.”
A longo prazo, o deslocamento das áreas produtivas pode tornar o acesso às ferrovias hoje utilizadas no escoamento das principais commodities brasileiras mais custoso e demorado, com impacto nos fretes, reduzindo a vantagem econômica que esse modal hoje representa. “Apesar disso, não temos visto estratégias específicas serem adotas. Investimentos em infraestrutura, especialmente em novas concessões de linhas férreas e novos portos, não contemplam necessariamente os cenários futuros que as mudanças climáticas indicam”, diz o sócio da Santos Neto Advogados.
Carvalho, da VLI, completa lembrando que o agronegócio tem no clima um dos fundamentos para o desenvolvimento das culturas. “Historicamente, cada safra possui suas especificidades e nos traz novos desafios. O principal deles é saber quando será o início da movimentação dos grãos no sentido ao porto, seja por variações na janela de plantio, veranicos ao longo do desenvolvimento das lavouras ou excesso de chuva no período da colheita. Temos investido em tecnologia e parcerias para acompanhamento dos movimentos climáticos, buscando entender com mais precisão a jornada das commodities, desde o plantio até a colheita, o que nos ajuda a estimar com mais assertividade seus fluxos logísticos. Temos tido bastante sucesso, tanto em melhorar essas previsões quanto em rapidamente nos adaptar a essas especificidades”, conclui.
Volatibilidade dos preços
A todos estes “empecilhos” citados, soma-se a volatilidade dos preços de combustíveis, commodities e câmbio, que influenciam os custos de transporte, visto que impacta diretamente no “basis” ou “prêmio” de um produto agrícola. Ou seja, a diferença entre o preço internacional negociado em bolsa das commodities e o seu valor no mercado local é impactado por essa volatilidade, ressalta Priscila, da Lourenço Transporte.
O frete é um dos mais importantes componentes precificadores e, quanto maior o custo logístico, menor o prêmio (basis) e, portanto, menor será o valor recebido. O diesel, que representa uma parcela significativa dos custos de frete, segundo a ANP, atingiu R$ 6,10 por litro em janeiro de 2025, pressionando ainda mais as margens do setor. Para enfrentar essa variação de custos, empresas vêm adotando estratégias como a manutenção preventiva da frota, que reduz o consumo de combustível e melhora a eficiência operacional. Além disso, o uso de tecnologias de otimização de rotas, softwares de gestão de frotas, treinamento de motoristas em melhores práticas de direção e o incentivo à adoção de biocombustíveis aparecem como alternativas sustentáveis para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e minimizar os impactos financeiros decorrentes da volatilidade do mercado”, completa a diretora Administrativa e Financeira.
Também na ótica da direção da ABAG, o preço do diesel é um item que compõe uma grande fatia do custo do frete, o que significa um impacto direto nos custos de transporte. Outros dois itens que aumentam os custos logísticos são a manutenção de rodovias e tarifas portuárias. Exportadores e importadores enfrentam margens mais apertadas, destacando a necessidade de planejar com precisão os embarques para minimizar despesas adicionais.
“Além dos combustíveis e da variação cambial, os pedágios impactam diretamente o setor. Para lidar com essas oscilações, muitas empresas adotam contratos de hedge, que ajudam no planejamento financeiro e permitem que seguradoras precifiquem melhor os riscos envolvidos nas operações de transporte”, ensina Anacleto, da Albatroz MGA.
Embora as empresas exportadoras e até mesmo alguns produtores estejam familiarizados com a ferramenta do hedge como meio de mitigar os riscos de preço e de câmbio, seu uso aplicado aos preços de frete é muito difícil, contrapõe Favacho, da Santos Neto Advogados. A alternativa utilizada pelas empresas e produtores que não dispõem de frota própria ou de meios de armazenagem para aguardar o melhor momento de contratar o frete tem sido fixar o preço com as transportadoras a partir de um valor médio anual com a celebração de obrigação da movimentação de um volume mínimo garantido (cláusula Take or Pay – ToP). O mesmo vale para as ferrovias.
No caso destas, que têm insumos críticos como o diesel e os lubrificantes, na definição de preços de referência são colocados gatilhos de ajuste que variam conforme o custo desses itens. Já a volatilidade do câmbio e o aumento de carga tributária são fatores detratores difíceis de serem compensados, gerando riscos significativos para a capacidade de escoamento das safras, tanto no curto quanto no longo prazo, completa Carvalho, da VLI.
Roubos e acidentes
A segurança no transporte de commodities continua sendo uma das maiores preocupações para o setor. O roubo de cargas representa um risco significativo, especialmente para produtos de alto valor agregado, como grãos e defensivos agrícolas. As quadrilhas especializadas se aproveitam de falhas na segurança para desviar mercadorias, gerando prejuízos milionários para produtores e transportadoras. “Para combater esse problema, medidas como o monitoramento em tempo real das cargas, rastreamento via satélite, escolta armada e parcerias estratégicas com seguradoras têm sido cada vez mais adotadas. Além disso, a implementação de protocolos de segurança mais rigorosos e a capacitação dos profissionais envolvidos no transporte também contribuem para reduzir a vulnerabilidade das operações logísticas”, explica Cristiane, da Lourenço Transporte.
A combinação de investimentos em infraestrutura, tecnologia e gestão estratégica é fundamental para garantir a eficiência e segurança no transporte de commodities na safra 24/25. O fortalecimento do setor logístico não apenas reduz custos e riscos, mas também contribui para a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado global, garantindo maior previsibilidade e sustentabilidade para toda a cadeia produtiva, completa Priscila, da mesma empresa.
De fato, lamentavelmente, tem havido muitos ataques ao transporte de commodities, especialmente grãos e farelos, e algumas medidas têm sido tomadas para evitar as ações dos ladrões. Em Paranaguá, no Paraná, por exemplo, a autoridade portuária, em conjunto com as exportadoras e os operadores portuários, tem substituído a carga dos caminhões que chegam no porto carregados de farelo por areia. “Outra solução que as empresas estão adotando é contratar apenas caminhões que possam ser rastreados em tempo real para indicar algum desvio de trajeto ou alguma parada não programada para com isso identificar os prováveis momentos em que esses veículos são interceptados para que a troca da mercadoria ocorra. Mesmo no transporte ferroviário há, na chegada ao Porto de Santos, no momento em que as composições trafegam com velocidade bem reduzida, saque aos vagões, o que gerou uma reação da ANTF – Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários em cooperação com as autoridades públicas para combatê-los”, comenta Favacho, da Santos Neto Advogados.
A análise desta questão por parte da ABAG também inclui o risco de acidentes que, juntamente com o roubo de cargas, atingem todos os tipos de produtos. “No caso do agro, um ponto de atenção para os roubos está nos polos do setor, como as regiões Sul e Centro-Oeste. Muitas empresas recorrem às escoltas de caminhões, o que contribui para o encarecimento do frete e consequentemente do comércio das commodities.”
Anacleto, da Albatroz MGA, também relaciona as ações que estão sendo tomadas para combater o roubo de mercadorias, como aquelas coordenadas entre seguradoras, transportadoras e autoridades policiais. O gerenciamento de risco, com cadastros rigorosos e integração com forças de segurança, torna-se indispensável para mitigar esses incidentes. A tecnologia tem sido uma grande aliada. As empresas vêm implementando monitoramento em tempo real, rastreamento via GPS e parcerias com forças de segurança. Além disso, regras mais rígidas para a contratação de mão de obra, baseadas em análises detalhadas de ocorrências passadas, ajudam a reduzir fraudes e riscos operacionais.
Tecnologia
Certamente, como em outros setores da economia, inteligência artificial, big data, blockchain e outras tecnologias estão ajudando a otimizar a roteirização, o monitoramento de carga e o gerenciamento de riscos também no agronegócio.
Luiz Almeida, mestre em Engenharia Agrícola e diretor de Operações Agro na EEmovel Agro, lembra que a inteligência artificial e o big data permitem uma roteirização mais eficiente, reduzindo custos logísticos e riscos operacionais, pois essas tecnologias utilizam múltiplos parâmetros durante a análise. O monitoramento em tempo real, com o uso de sensores IoT, melhora a segurança da carga ao mitigar riscos e fornecer informações sobre condições específicas de transporte.
Além disso, o blockchain garante maior transparência e confiabilidade nas transações e contratos, sendo especialmente útil para validações de compliance e atendimento às legislações de importadores de commodities brasileiras, minimizando riscos.
Silva, da Lourenço Transporte, também destaca que o uso destas tecnologias e outras inovações está proporcionado reduções significativas nos custos operacionais e aumentos na segurança e confiabilidade do transporte, criando uma estrutura robusta para a gestão de riscos. Ferramentas como IA e big data estão otimizando a roteirização ao analisar grandes volumes de dados em tempo real, como condições climáticas, tráfego e restrições de carga. Algoritmos preditivos ajudam a identificar as rotas mais rápidas e econômicas, enquanto o aprendizado de máquina aprimora essas rotas com base no histórico de entregas. Além disso, o uso de sensores IoT, GPS e blockchain no monitoramento de carga tem sido fundamental. Sensores IoT medem variáveis como temperatura e umidade, essenciais para o transporte de commodities sensíveis, enquanto o blockchain garante a integridade e a segurança das informações de carga, diminuindo riscos de fraudes. A análise de big data também permite prever falhas e melhorias na visibilidade da cadeia logística, aumentando a segurança e a eficiência operacional.
Segundo Nicolau Ramalho, Chief Commercial Officer (CCO) da Noleak Defence, e como se pode perceber, essas tecnologias não apenas aprimoram processos, mas também elevam a segurança e a eficiência operacional.
“A inteligência artificial tem o papel de potencializar o trabalho humano. Quando aplicada a processos bem estruturados, ela otimiza decisões e procedimentos”, explica Ramalho. Um exemplo disso é o rastreamento veicular: sistemas de IA conseguem identificar automaticamente se um veículo saiu da rota devido a uma interdição e, ao se integrar a mapas atualizados, recalcular o melhor trajeto sem necessidade de intervenção humana.”
Outra aplicação crucial está na análise do comportamento dos motoristas. Com base em dados de georreferenciamento, sensores de aceleração e histórico de direção, a IA pode detectar padrões de condução e identificar alterações que podem indicar riscos, como direção sob coerção.
O big data, por sua vez, atua diretamente na coleta e processamento de um grande volume de informações. “Estamos falando de milhares de dados sendo analisados simultaneamente para oferecer respostas rápidas e precisas”, afirma Ramalho. Ao unir a IA ao big data, é possível prever falhas mecânicas, otimizar trajetos e reduzir custos operacionais.
O blockchain complementa essa revolução ao garantir rastreabilidade e segurança nas transações. “Com contratos inteligentes, podemos automatizar processos como o pagamento de fretes. Se uma carga for entregue dentro dos padrões estabelecidos, como temperatura adequada e trajetória correta, o sistema libera automaticamente o pagamento, sem burocracia”, exemplifica o CCO.
Ao integrar essas tecnologias, o setor logístico ganha em agilidade, segurança e eficiência. Empresas que adotam essas inovações estão na vanguarda da transformação digital, reduzindo custos e aumentando a confiabilidade em toda a cadeia de transporte.
Seguros e contratos futuros
No setor do agronegócio, a proteção contra imprevistos é essencial para garantir a segurança financeira das empresas envolvidas no escoamento da safra. Os seguros e contratos futuros surgem como ferramentas fundamentais nesse contexto, permitindo mitigar riscos relacionados a perdas de carga, avarias, roubos e acidentes no transporte.
Segundo Marcus Araújo, gerente de negócios da SS Seguros, empresa do grupo Vtech, o seguro é uma ferramenta financeira contratada para cobrir eventos não previstos no dia a dia das transportadoras. “No escoamento da safra, os principais riscos incluem acidentes, roubos e perdas de carga. Para mitigar esses riscos, as empresas precisam adotar uma gestão eficiente na contratação de motoristas e na manutenção de suas frotas”, explica.
A contratação de motoristas qualificados e a implantação de sistemas de monitoramento, como rastreadores veiculares, são práticas que contribuem para reduzir a exposição a sinistros. “A gestão de risco deve ser parte da cultura organizacional. O seguro cobre prejuízos financeiros, mas a prevenção minimiza a ocorrência de eventos adversos”, destaca Araújo.
Os contratos futuros também desempenham um papel crucial na segurança do agronegócio. Eles permitem que produtores e transportadores travem preços com antecedência, reduzindo a vulnerabilidade às oscilações do mercado e evitando perdas inesperadas devido a mudanças econômicas ou climáticas.
Entretanto, mesmo com seguros e contratos futuros, algumas perdas podem estar além da cobertura prevista. “O seguro cobre a carga, mas não cobre o veículo ou eventuais perdas humanas. Além disso, há impactos secundários, como atrasos na cadeia logística, multas contratuais e a impossibilidade de atender clientes internacionais”, alerta o especialista.
Para minimizar esses impactos, Araújo recomenda que transportadoras adotem um plano de gestão de risco robusto, garantindo não apenas a segurança da carga, mas também a continuidade operacional e a confiabilidade da empresa no mercado. “O objetivo principal é garantir que a mercadoria saia do ponto de origem e chegue ao destino sem imprevistos. O seguro é uma garantia financeira, mas uma boa gestão de risco é a chave para evitar prejuízos maiores”, conclui.
Favacho, da Santos Neto Advogados, também destaca que nem sempre o seguro cobre outros danos, como a multa ou a indenização pela não entrega do produto ao comprador. No mercado de commodities, essa situação é resolvida na força de pagamento da diferença entre o preço contratado da mercadoria e o seu preço no mercado spot (cláusula washout) e, para se proteger deste risco, a utilização de contratos futuros é um recurso interessante, além de fornecer um hedge para o risco financeiro da operação como um todo.
Já o conselho de Reginaldo Catarino, gerente de Inteligência da Overhaul, é que, para um uso estratégico, é fundamental realizar um mapeamento detalhado dos riscos enfrentados pela empresa, levando em consideração fatores climáticos, de mercado e operacionais. Com base nesse diagnóstico, pode-se definir quais produtos financeiros são mais adequados para minimizar impactos negativos e proteger o escoamento da safra de forma sustentável e investir em ferramentas de tecnologia para otimização de roteiros, monitoramento da carga e o gerenciamento de risco eficiente.
Os representantes da Lourenço Transporte também destacam que os seguros e contratos futuros são fundamentais para proteger as empresas contra imprevistos no escoamento da safra brasileira 2024/2025.
O seguro de transporte de carga, por exemplo, garante cobertura para danos ou perdas durante o transporte, seja por acidentes ou roubos. Já o seguro agrícola protege contra eventos climáticos extremos, como secas e granizo, que podem impactar a produção. A adesão aos seguros é uma estratégia fundamental para reduzir os riscos de perdas irreparáveis que poderiam afetar tanto a capacidade operacional do transporte quanto a viabilidade da safra.
Já os contratos futuros são um tipo de instrumento financeiro que permite que os produtores travem os preços das commodities, como soja e milho, com antecedência, protegendo-se contra oscilações de mercado, eliminando o risco futuro da variação desfavorável do preço das commodities e proporcionando previsibilidade no escoamento da safra, garantindo estabilidade mesmo diante de volatilidades climáticas ou econômicas. “Isso é particularmente importante no Brasil, já que o mercado externo e a taxa de câmbio influenciam diretamente as vendas da safra. Além disso, as flutuações climáticas, como secas ou chuvas excessivas, podem impactar a produção, tornando esses contratos uma ferramenta essencial para mitigar os riscos financeiros e operacionais relacionados ao escoamento da safra e garantir a sustentabilidade e lucratividade no longo prazo”, diz Priscila.
Para maior eficiência, as empresas devem diversificar apólices, adotar estratégias de hedge e monitorar continuamente o mercado para ajustar suas posições conforme as variações. Além disso, é essencial identificar as melhores datas de compra e venda das commodities, garantindo operações mais seguras e rentáveis, aconselha Almeida, da EEmovel Agro.
Políticas governamentais
As políticas governamentais e as regulamentações fiscais desempenham um papel crucial no transporte de commodities durante a safra 2024/2025. O Plano Safra 2024/2025, com um orçamento de R$ 508,59 bilhões, destina recursos significativos para a melhoria da infraestrutura logística e a modernização do setor. A ampliação das linhas de crédito para investimentos, como a aquisição de novos equipamentos de transporte e a adoção de tecnologias de escoamento mais eficientes, tem um impacto direto na eficiência logística.
Além disso, prossegue Silva, da Lourenço Transporte, a Reforma Tributária, com a suspensão de impostos sobre produtos agropecuários destinados à exportação, representa uma oportunidade para aumentar a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional. Essas políticas são essenciais para melhorar a competitividade do transporte de commodities e reduzir custos operacionais.
Também para Catarino, da Overhaul, o sucesso da safra 24/25 dependerá não apenas da produtividade no campo, mas também de uma cadeia de transporte eficiente e segura. “Acredito que o Brasil pode reforçar regulamentações ambientais, como a redução das emissões de gases de efeito estufa, incentivando o uso de biocombustíveis. O governo pode ampliar os incentivos fiscais para a modernização da frota e adoção de tecnologias que melhorem a logística como sistemas de rastreamento e inteligência artificial.”
Em termos de infraestrutura, prossegue o gerente de Inteligência da Overhaul, investimentos em rodovias, ferrovias e hidrovias, aliados a parcerias público-privadas (PPPs), serão cruciais para melhorar a eficiência logística e também evitar roubos de cargas. Como já visto, o Brasil tem um alto índice de furtos e roubos de mercadorias, e isso tem relação direta com mudanças de comportamento de consumo, questões macroeconômicas, avanço da produção agrícola, falta de infraestrutura nas estradas e paradas seguras. “Regulamentações relacionadas a frete, infraestrutura e emissões impactam diretamente os custos e prazos logísticos. Incentivos fiscais voltados à modernização da frota e investimentos em ferrovias e hidrovias podem melhorar a competitividade do setor. Além disso, políticas de crédito agrícola têm grande influência sobre a demanda por transporte, uma vez que há uma correlação direta entre o incentivo à agricultura e o volume de commodities escoadas”, acrescenta Almeida, da EEmovel Agro, também se referindo a de que que forma políticas governamentais, regulamentações e incentivos fiscais podem influenciar o transporte de commodities na safra 24/25.
“Em artigos que escrevi ao longo dos últimos anos, tenho enfatizado que o setor de transporte pode e deve ser regulamentado para trazer segurança aos operadores e embarcadores, como é o caso da Lei do Motorista, de 2024, e, antes dela, a Lei do Transporte Rodoviário de Cargas, de 2007. Regulamentação políticas de governo, como o Moderfrota – Programa de Modernização da Frota, são essenciais para garantir a segurança dos transportes, assim como o investimento nas rodovias, ferrovias e aquavias. Mas o que é mais difícil, senão impossível, é regular o mercado de demanda e oferta em si e os preços do frete. Sabemos que o transporte responde às necessidades das safras de cada produto e que, muitas vezes, algumas commodities competem entre si pelo espaço das transportadoras, como o açúcar e os grãos, e nesses momentos o frete fica muito mais caro, enquanto em outros momentos, nas entressafras, a demanda decresce e os fretes tendem a ficar mais baratos, com as transportadoras trabalhando no limite de seus custos apostando em frete de retorno – fertilizantes e outros insumos – para não pararem. Nesses casos, o histórico de tentativa de intervenção do estado resultou desastroso”, completa Favacho, da Santos Neto Advogados.
Falta de mão de obra qualificada
A escassez de motoristas qualificados tem sido um desafio crescente para o setor de transporte rodoviário de cargas, especialmente em momentos de pico de demanda, como na safra de 2024/2025. Este cenário se agrava pela aposentadoria de motoristas mais experientes e pela falta de novos profissionais ingressando na profissão. Além disso, com o avanço das tecnologias, a necessidade de profissionais especializados em ferramentas como big data, blockchain e IA tem se tornado cada vez mais evidente.
Uma estratégia que tem sido adotada pelas empresas é investir fortemente em programas de capacitação, como os oferecidos pelo SEST SENAT, e na inclusão de novos perfis profissionais, como as mulheres no setor. Diversas empresas já estão contratando motoristas do sexo feminino e realizando campanhas de recrutamento para atrair mais talentos, destaca Priscila, da Lourenço Transporte.
A valorização da profissão, com melhores salários, benefícios e melhores condições de trabalho, também se apresenta como uma estratégia para reter os profissionais existentes e atrair novos.
Outra alternativa para lidar com essa escassez está na contratação de motoristas estrangeiros. “Embora essa medida ainda dependa de mudanças nas políticas governamentais, como a facilitação na obtenção de vistos e autorizações de trabalho, ela começa a ser vista como uma solução viável caso a situação se torne mais crítica.”
Essas ações visam não só resolver a falta de mão de obra qualificada, mas também melhorar a imagem da profissão e garantir que o setor continue operando de maneira eficiente e competitiva no transporte de commodities, destaca a diretora Administrativa e Financeira.
Almeida, da EEmovel Agro, também relaciona as ações que as empresas estão tomando para superar a escassez de profissionais:
• Capacitação interna e progressão de carreira, preparando novos profissionais para atender às demandas do setor;
• Utilização de outros modais para reduzir a dependência do transporte rodoviário;
• Melhores condições de trabalho, incluindo benefícios e planos de carreira para retenção de talentos;
• Tecnologias que aumentam a eficiência, como veículos automatizados e sistemas de telemetria.
Essas estratégias ajudam a atrair e manter profissionais qualificados, garantindo um transporte mais eficiente e seguro, completa o mestre em Engenharia Agrícola.
Catarino, da Overhaul, também diz que programas de capacitação são adotados para formar novos motoristas e atualizar o conhecimento dos profissionais já atuantes. Além disso, a tecnologia vem sendo utilizada para compensar a falta de motoristas qualificados, por meio da automação de processos logísticos e do uso de sistemas avançados de gestão de frota. E a retenção de talentos também se tornou prioridade, com empresas oferecendo melhores condições de trabalho, remuneração competitiva e pacotes de benefícios atrativos.
Sustentabilidade
O transporte de commodities enfrenta desafios significativos quando se trata de sustentabilidade, mas também apresenta oportunidades para redução da pegada de carbono e adoção de práticas mais eficientes. De acordo com René Ellis, consultor da Control Loss Prevention e diretor administrativo do CIST – Clube Internacional de Seguros de Transporte, sustentabilidade no setor não se limita ao meio ambiente, mas envolve também a viabilidade do próprio negócio.
“O maior fator de impacto ambiental no transporte de cargas é o uso do diesel, derivado do petróleo. Não há como operar um caminhão sem consumir combustível e emitir CO2. No entanto, as empresas podem compensar essa emissão por meio de diversas estratégias, como o plantio de árvores, que, ao longo de 20 anos, podem absorver uma tonelada de carbono”, explica Ellis. Essa compensação de carbono, diferente dos créditos de carbono, visa neutralizar diretamente os impactos gerados pela atividade de transporte.
Além desta, outras medidas podem ser adotadas para mitigar os impactos ambientais, como manutenção regular da frota, descarte adequado de óleos, pneus e resíduos industriais. Empresas especializadas oferecem consultoria para estruturar e implementar programas eficazes de compensação de carbono.
Os desafios principais envolvem a implementação de programas de redução de emissões e o custo associado a essas iniciativas. No entanto, segundo Ellis, há também vantagens competitivas. “Empresas que adotam práticas sustentáveis podem se destacar no mercado, conquistando contratos com grandes multinacionais que priorizam fornecedores alinhados com suas políticas ambientais. Assim como aconteceu com a certificação ISO no passado, hoje, transportadores que possuem um programa de compensação de carbono têm preferência em muitos contratos.”
No setor de seguros, algumas companhias já oferecem apólices voltadas para proteção ambiental, especialmente para transporte de cargas perigosas. Mesmo commodities agrícolas, como a soja, podem representar riscos ambientais em caso de acidentes, demandando medidas adequadas de mitigação e limpeza.
Completando, Ellis destaca que sustentabilidade no transporte não é apenas uma questão ambiental, mas também de eficiência operacional e responsabilidade social. “Um transporte sustentável reduz acidentes, melhora a segurança nas estradas, otimiza custos e fortalece a imagem da empresa no mercado. Adotar essas práticas não é apenas uma obrigação ambiental, mas um diferencial competitivo cada vez mais valorizado no setor.”
O que se pode notar é que a sustentabilidade é uma preocupação crescente no setor de transporte de commodities. A alta dependência de combustíveis fósseis e a necessidade de modernização das frotas são desafios que as empresas enfrentam para reduzir sua pegada de carbono. No entanto, as oportunidades para tornar as operações mais sustentáveis também são abundantes.
Tecnologias de monitoramento de emissões, treinamento de motoristas em eco condução e o uso de indicadores ambientais são algumas das soluções adotadas pelas empresas para reduzir impactos ambientais e melhorar a eficiência operacional. “A Lourenço Transporte, por exemplo, tem investido na utilização de plataformas como EcoVadis para monitoramento das emissões de CO2 e implementado programas como o Despoluir, que garantem que sua frota opere dentro dos padrões ambientais exigidos. Essas práticas não apenas ajudam a reduzir o impacto ambiental, mas também proporcionam uma vantagem competitiva no mercado, pois consumidores e parceiros estão cada vez mais exigentes em relação à responsabilidade ambiental das empresas”, diz a analista de Qualidade e Meio Ambiente da empresa.
Por outro lado, esta dependência do transporte rodoviário, e a necessidade de redução da pegada de carbono na matriz logística brasileira, tem levado as empresas a diversificar o modal de transporte, buscando a ferrovia e a hidrovia para substituição, na medida do possível, não só como meio de redução de custo, mas como solução de sustentabilidade. Na perna logística em que o transporte rodoviário ainda é imprescindível – assegura Favacho, da Santos Neto Advogados –, algumas empresas já estão investindo em veículos movidos a biocombustíveis em substituição aos veículos movidos a diesel e algumas já experimentam, inclusive, caminhões elétricos. Aquelas que ainda não tem acesso a esses veículos em sua frota investem em revisão de rotas, manutenção de seus veículos, treinamento de seus motoristas, como medidas para diminuir o consumo de diesel e, consequentemente, a emissão de CO2 na atmosfera.
Mas, para Catarino, da Overhaul, também existem as pressões por boas ações ambientais. As empresas enfrentam uma pressão regulatória para reduzir a pegada de carbono e adotar práticas mais sustentáveis, enquanto os governos estão implementando políticas e regulações mais rígidas para limitar essas emissões e proteger o meio ambiente.
O desenvolvimento de novas tecnologias, como veículos elétricos, combustíveis alternativos e sistemas avançados de gestão de frotas, abre caminhos para reduzir o impacto ambiental do transporte de commodities. “Inclusive, temos um sistema que consegue rastrear as emissões e, assim, é possível criar estratégias para reduzir este impacto.”
A adoção de princípios da economia circular, como a reutilização e reciclagem de materiais, contribui para a redução da geração de resíduos e do consumo de recursos naturais. A logística reversa e a gestão sustentável da cadeia de suprimentos são elementos-chave dentro desse conceito. A implementação de sistemas de gestão de frotas avançados ajuda a otimizar as rotas, reduzir o consumo de combustível e minimizar as emissões de poluentes. Além disso, o uso de inteligência artificial e big data melhora o planejamento e a eficiência da cadeia de suprimentos, tornando o transporte mais sustentável e mais seguro, completa o gerente de Inteligência da Overhaul.
Estudo da Macroinfra mapeia os desafios da logística do agronegócio em granel
Um panorama sobre os desafios da logística brasileira no agronegócio, quando o assunto é o transporte de produtos em granéis, ou seja, em grandes quantidades e no estado natural, como soja, milho, açúcar e farelo de soja, foi desenvolvido pela Macroinfra – empresa de consultoria estratégica especializada nos mercados de infraestrutura e logística de transporte. Entre os principais apontamentos do trabalho, estão as análises feitas com base nas projeções que mostram que o Brasil deve passar a exportar 58,8 milhões de toneladas adicionais de granéis agrícolas nos próximos 10 anos, o que gerará sérias implicações nas necessidades de investir na infraestrutura de transporte e logística.
O estudo, entre outros aspectos, apresenta um histórico do segmento de transportes e mostra como está o crescimento das exportações de granéis no Brasil. “O país está cada vez mais exportando, em um cenário de crescimento incessante, seja por ferrovias, hidrovias, rodovias e portos. Mas, ao mesmo tempo, a velocidade de investimento nos projetos existentes de novos corredores logísticos não está acompanhando a dinâmica do crescimento de produção e exportação do setor, ressalta Olivier Girard, sócio-diretor da Macroinfra.
“Se pensarmos que hoje já estamos com a infraestrutura saturada, a perspectiva de que vamos enfrentar um grande problema muito em breve aumenta e muito. Esse estudo é importante, pois também mostra a necessidade de o país investir no desenvolvimento e execução de projetos na sua infraestrutura de transportes para evitar os riscos de um apagão logístico no curto prazo. De fato, a demanda de exportação de granéis agrícolas do Brasil atingirá a capacidade atual dos principais portos exportadores até 2028, sendo que a demanda já ultrapassou o limite de segurança operacional de 85% da capacidade. Já existe uma série de projetos em desenvolvimento, tanto portuários quanto ferroviários, porém muitos ainda estão na fase embrionária e precisam ser acelerados para terem mais chances de sair do papel e se tornarem realidade até 2033”, explica Girard.
Outro aspecto importante do levantamento da Macroinfra trata da evolução das exportações de soja em grãos por portos de cada região do país, de 2014 a 2023. Os números mostram que as exportações brasileiras de granéis agrícolas estão migrando das regiões Sul e Sudeste para o Arco Norte, e tal migração deverá se acentuar na próxima década. Só em 2023, mesmo com a seca histórica que atingiu a bacia hidrográfica amazônica, houve um crescimento de 18,8% de movimentação nos portos da região.
Outra análise relevante diz respeito à capacidade portuária para a movimentação de granéis agrícolas. O estudo ressalta que, diante dos projetos portuários em desenvolvimento, a capacidade portuária do Arco Norte tem potencial para crescer mais que a capacidade atual dos portos do Sul e Sudeste. No entanto, estes últimos ainda devem representar a maior parcela da capacidade portuária potencial projetada para 2033.
Alguns dos principais projetos de corredores logísticos em desenvolvimento, segundo o levantamento, estão com a sua implantação muito atrasadas, como a ferrovia Ferrogrão entre Sinop e Miritituba, localizada nos estados do Mato Grosso e Pará, e as melhorias nas principais hidrovias do Arco Norte.
Segundo a Macroinfra, no Brasil existem 17 principais projetos nos modais ferroviário e hidroviário considerados como de importância para a implantação de novos corredores logísticos para granéis agrícolas. Catorze deles são pertinentes ao modal ferroviário, além de três principais projetos hidroviários em andamento. Entre eles, destaque para as novas ferrovias em implantação FICO e FIOL, assim como para Ferrovia TLSA, entre Eliseu Martins, no Piauí, e Pecém, no Ceará.
Como conclusão, o estudo destaca que é imperativo acelerar os investimentos em novos corredores logísticos competitivos e de baixo custo e em novas estações de transbordo de carga e terminais portuários, sobretudo na região do Arco Norte. Além disso, os especialistas da Macroinfra alertam que a infraestrutura de transporte tem um processo de idealização, projeto, licenciamento, financiamento e construção muito longo até a sua operacionalização, que leva normalmente mais de uma década.
Participantes desta matéria
ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) – Entidade formada há mais de 30 anos, congrega quase uma centena de empresas, consultorias, entidades e escritórios do segmento do agronegócio nacional.
Albatroz MGA – É a primeira MGA no Brasil dedicada exclusivamente ao ramo de transporte. Através de sua plataforma digital, otimiza a operação de uma seguradora, atuando na subscrição e precificação, liquidação de sinistros, desenvolvimento e gestão de produtos, além de operar como intermediário entre corretores e assessorias.
CIST (Clube Internacional de Seguros de Transportes) – Tem como principal objetivo capacitar profissionais, difundir o conhecimento e trazer para o debate as partes que se dedicam à prestação de serviços na gestão dos riscos e seguros para a cadeia de suprimentos. O público alvo reúne embarcadores, transportadores, Operadores Logísticos, academia, corretores de seguros, seguradoras e resseguradoras, além dos serviços relacionados ao setor, como Consultoria em Gestão de Riscos, Consultoria Jurídica, Agentes de Carga, Gerenciamento de Carga e Regulação de Sinistros.
Control Loss Prevention – Promove soluções na prevenção de perdas na gestão da segurança, movimentação de cargas e logistica, para transportadoras, embarcadores e seguradoras, com metodologias e ferramentas modernas, consolidando, em um único banco de dados, as informações referentes às atividades estratégicas e táticas, gerenciando as rotinas operacionais de segurança e riscos.
EEmovel Agro – Datatech especializada em soluções inovadoras para o agronegócio. Com mais de 7 milhões de propriedades agrícolas mapeadas em todo o Brasil, atende grandes players do mercado financeiro, concessionárias de máquinas e revendas de insumos, fornecendo dados estratégicos sobre propriedades rurais.
Lourenço Transporte – Pioneira no setor de transporte de carga no Vale do Paraíba, em São Paulo, oferece serviços de transporte de produtos químicos, derivados e materiais da indústria do agronegócio.
Noleak Defence – Empresa brasileira, em parceria tecnológica com o Canadá, dedicada ao desenvolvimento de soluções baseadas em Inteligência Artificial para as áreas de defesa e segurança.
Overhaul – É a única empresa multinacional de software de gerenciamento de riscos e visibilidade da cadeia de suprimentos independente de dispositivos e líder global no gerenciamento de riscos da cadeia de suprimentos em trânsito.
Santos Neto Advogados – É um escritório full service de advocacia empresarial.
SS Corretora de Seguros – Uma das suas especialidades é a de seguros de grandes riscos. Conta com uma área exclusiva para Gerenciamento de Riscos.
VLI – Engloba as ferrovias Norte Sul (FNS) e Centro-Atlântica (FCA), além de terminais intermodais, que unem o carregamento e o descarregamento de produtos ao transporte ferroviário, e terminais portuários situados em eixos estratégicos da costa brasileira, como em Santos, SP, São Luís, MA, e Vitória, ES.