Uma logística mal executada pode não apenas comprometer a imagem e a competitividade das empresas envolvidas, como, principalmente, afetar a vida dos pacientes que dependem desses produtos, sejam equipamento, artigo descartável, prótese ou medicamento.
A logística da área hospitalar é constituída pela gestão de materiais, equipamentos e medicamentos nas unidades de saúde, conforme explica Thiago Amaral, vice-presidente comercial da RV Ímola (Fone: 11 2404.7070). “A logística nessas instituições requer um conhecimento profundo não apenas de transporte, armazenamento e gestão desses itens, mas, também, na área da saúde, que exige cuidados específicos”, explica.
Vitor Tamarozzi, sócio-diretor da Stralog (Fone: 11 4619.2385), salienta que o segmento é extremamente exigente em relação às Boas Práticas de Fabricação, Armazenagem e Distribuição. “E não é por menos, pois qualquer falha, seja ela relacionada à produção ou à distribuição, pode causar sérios danos em toda a cadeia, incluindo o paciente.”
Para evitar estes danos, Tamarozzi orienta seguir uma série de normas, que envolvem a total rastreabilidade de lotes, o controle da validade e do ambiente (limpeza, temperatura, controle de pragas), sem falar no cuidado em manter as perfeitas condições de armazenagem e manuseio que garantam a integridade dos produtos, inclusive estéreis e refrigerados.
Outra característica desse mercado, citada por Wanderley Rodrigues Soares, diretor presidente da Unicargo Transportes e Cargas (Fone: 11 2413.1700), é a operação com estoques baixos, seja pela durabilidade curta – peculiar dos produtos hospitalares consumíveis – seja pelo alto valor agregado, seja pelo espaço limitado para armazenar produtos termolábeis (sensíveis a condições extremas de temperatura), o que torna alta a frequência de embarques com menor volume.
Os cuidados necessários no setor, segundo o profissional, são: seguir os padrões de qualidade exigidos pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária no transporte e manuseio, mesmo que seja apenas no cross-docking, e manter as temperaturas seguindo as exigências do embarcador. “Além, é claro, dos cuidados com a segurança, pois são produtos visados. Por isso, a área de gerenciamento de risco deve ser muito atuante em cada etapa do transporte.”
Em segurança também fala João Paulo da Fonseca, gerente de logística da UPS do Brasil (Fone: 11 5694.6600). “A saúde é um segmento complexo, que necessita de expertise em segurança, tanto para prevenção de roubo de cargas quanto na área sanitária”, expõe.
Para ele, uma peculiaridade e também desafio é a diversificação do setor, devido às patentes e regulamentações complexas do governo, que passam por mudanças frequentes. “Em suma, podemos apontar como gargalo a burocracia, que dificulta a obtenção de licenças dos produtos e os alvarás para cada fronteira.”
Entre os cuidados na logística hospitalar, Marcio Schelmam Velten, CEO da VeltenLOG (Fone: 27 3064.7450), cita o manuseio dos medicamentos, pois eles nunca devem estar em contato direto com o solo, além de que o transporte precisa ser realizado por veículos sempre em boas condições de uso e higiene.
“O medicamento não pode ficar exposto a temperaturas acima de 30º C. Produtos termolábeis precisam ser transportados em veículo refrigerado que siga a especificação do fabricante. Os veículos devem conter paletes de plásticos; os armazéns só podem manusear a carga em cima de paletes e também devem manter a temperatura até 30º C. Por fim, é necessário ter na empresa um farmacêutico em, pelo menos, um período de 4 horas”, ressalta.
Desafios
A cadeia logística de produtos para saúde é ampla e repleta de variáveis, explica Tamarozzi, da Stralog, sendo que muitas fogem do controle, como fatores climáticos, condição de estradas e rodovias e dependência de muitos órgãos de fiscalização ao mesmo tempo.
“Para que se possa ter um bom desempenho logístico, o que fará a diferença será a velocidade de resposta operacional quando alguma dessas variáveis começar a impactar na gestão e metas das empresas. Portanto, o grande desafio é a rápida tomada de decisão, com informações e ações ágeis, eficientes e seguras para avançar com os negócios mesmo com algum imprevisto”, expõe.
Para Soares, da Unicargo, cumprir os prazos garantindo a integridade dos produtos é o maior desafio. “Os materiais destinados à saúde são, em sua maioria, sensíveis e de temperatura controlada, o que requer estrito cumprimento dos prazos”, destaca.
Alto índice de roubo da carga, canibalismo nas tabelas de frete, alta burocracia do setor público nas liberações das documentações exigida para realizar a atividade e dificuldade em cumprir as exigências impostas pela ANVISA são os maiores desafios na opinião de Marcio, da VeltenLOG.
Consequência de uma logística mal feita
Uma logística mal feita, segundo Tamarozzi, da Stralog, pode ocasionar danos irreversíveis tanto a clínicas e hospitais quanto aos seus pacientes. “Entregas em atraso ou de produtos errados, por exemplo, podem comprometer um procedimento cirúrgico, colocando em risco a vida de uma pessoa. Além disso, estoques mal geridos podem aumentar custos e fazer com que o fabricante ou distribuidor perca competitividade”, expõe.
Falhas na logística, como cargas danificadas e atrasos na entrega, comprometem a imagem do fornecedor, acrescenta Fonseca, da UPS. “No setor farmacêutico, por exemplo, produtos sensíveis e de alto custo necessitam de embalagens especiais para garantir sua integridade e prevenir prejuízos”, conta.
Para ele, definir o caminho mais eficiente até o consumidor final resulta em uma combinação de fatores como custo, tempo, confiança e visibilidade. “As empresas devem olhar para a sua operação de transporte e logística como um aliado para o sucesso do seu negócio”, complementa Fonseca.
Referente a medicamentos, Amaral, da RV Ímola, lembra que eles representam grande parte do valor material das unidades hospitalares. Dados da OMS – Organização Mundial de Saúde apontam que o desperdício de remédios representa entre 20% a 40% do total de gastos com saúde no mundo todo. No Brasil, segundo a consultoria McKinsey, erros de medicação ocorrem em até 33% das internações.
“A má gestão pode acarretar em prejuízo financeiro enorme aos hospitais e, principalmente, aos pacientes, que podem ter a sua saúde colocada em risco pela falta de remédios”, afirma.
Além disso, ainda de acordo com Amaral, a boa gestão permite a liberação dos recursos para investimento em outras áreas do hospital, que consegue também melhorar a negociação junto aos convênios para aumentar o atendimento e a lucratividade.
Por sua vez, Marcio, da VeltenLOG, salienta que o manuseio mal feito por falta de treinamento ou empresas aventureiras neste ramo de atividade que resulte em perda ou avaria do produto pode elevar os custos para reposição a mais de 300% do frete inicial, sem contar com os processos que a transportadora poderá sofrer junto com o fornecedor.
Escolhendo o parceiro
As empresas da área de saúde devem priorizar parceiros logísticos com experiência na área, que conheçam o dia a dia de um hospital e ofereçam estrutura física, tecnologia e profissionais capacitados, na opinião de Amaral, da RV Ímola.
“Segundo instrução da ANVISA, no prazo de quatro anos, todos os remédios em curso dentro do país deverão ser rastreados. A medida valerá para todas as áreas: armazenamento, transporte e hospitais. Sendo assim, as unidades de saúde precisam correr contra o tempo para se adequar à norma. Por isso, contar com parceiros logísticos que investem em tecnologia é fundamental”, acrescenta.
Tamarozzi, da Stralog, cita que é preciso verificar se o Operador Logístico tem todas as licenças e autorizações obrigatórias para trabalhar no segmento médico-hospitalar; possui um processo operacional implantado e seguro que garanta a integridade física dos produtos sob sua responsabilidade, assim como rastreabilidade de lotes, validade e demais dados logísticos pertinentes; preza por uma parceria de longo prazo, na qual ambos devem buscar a eficiência da cadeia logística como um todo, com foco na redução de custos e no ganho em qualidade; tem um bom controle de informações, com respostas ágeis e seguras para tomadas de decisão; monitora e controla seus processos com indicadores de produtividade, desempenho e custos, visando ações para a melhoria contínua da operação.
“É fundamental que o parceiro conheça e entenda toda a cadeia logística do seu cliente, desde o fabricante até a utilização ou consumo dos produtos que estarão sob sua responsabilidade, seja um equipamento, artigo descartável ou prótese”, acrescenta.
Soares, da Unicargo, resume: “É necessário que o Operador Logístico possua práticas e processos muito bem definidos e registros íntegros, garantindo sempre a máxima transparência de seus atos”.
De acordo com Fonseca, da UPS, é importante que as empresas avaliem o Operador Logístico como parceiro do negócio, que mapeie suas necessidades e a partir disso desenvolva soluções especializadas e um planejamento eficiente para toda a cadeia. “O que a empresa contratante deve priorizar está muito ligado aos objetivos do negócio e de suas necessidades”, declara.
“Ao escolher um parceiro logístico, as empresas devem priorizar a garantia da qualidade que está sendo oferecida, pois estamos falando de vida humanas, não é somente um produto”, encerra o assunto Marcio, da VeltenLOG.
Atuação
RV Ímola: A empresa atua em toda a cadeia de suprimento para a saúde, de ponta a ponta, abrangendo o transporte de matérias primas para a indústria farmacêutica, o armazenamento e a distribuição de medicamentos para todo o Brasil e a gestão pública de medicamentos em estados e municípios. Na área hospitalar, acompanha o manejo de cada remédio utilizado nessas unidades até a entrega ao paciente. A companhia tem como clientes indústrias farmacêuticas, laboratórios, secretarias de saúde de estados e municípios e hospitais, atuando 10% no setor aéreo, 80% no rodoviário e 10% no fluvial.
Stralog: Tendo como clientes os fabricantes e distribuidores de produtos para saúde, a empresa oferece serviços de armazenagem, que compreendem receber, conferir, etiquetar ou rotular e estocar os produtos, garantindo a rastreabilidade de cada lote e sua respectiva data de fabricação e validade, bem como os processos de separação, montagem de kits, etiquetagem e expedição. Atua, também, na distribuição, que envolve o transporte dos produtos até o destino final, sejam hospitais, clínicas, distribuidores, varejistas ou consumidor. Os modais utilizados pela Stralog são rodoviário, aéreo e courier.
Unicargo: A companhia oferece transportes emergenciais, por via aérea, com serviço convencional ou expresso, de acordo com a necessidade do embarcador, o produto e a região de destino. O tomador do serviço normalmente é o fabricante ou o importador do produto. A empresa utiliza o modal aéreo na grande maioria, sendo complementado com a coleta e a entrega rodoviária. Em alguns casos, para atender cidades localizadas na região Norte, é necessário o uso do modal fluvial.
UPS do Brasil: O setor de saúde é prioridade para a empresa, que está investindo na consolidação dos seus serviços de logística para os subsetores da área, como farmacêutica, biofarma, hospitais, clínicas e empresas de dispositivos médicos. Seu processo de planejamento da logística e de Supply Chain envolve: fornecimento, armazenamento, distribuição, seguros por meio da UPS Capital e compliance. A empresa conta, inclusive, com um departamento de desembaraço aduaneiro dedicado ao setor, para auxiliar os clientes nos trâmites burocráticos de importação e exportação. Outro destaque é o investimento em uma instalação de 16.000 m² dedicada ao segmento, em Cajamar, São Paulo. A instalação possui controle climático para produtos sensíveis, atendendo aos padrões da ANVISA. “Além disso, Cajamar atende a diversos players do segmento, estocando e entregando produtos de saúde, principalmente para empresas farmacêuticas e de dispositivos médicos”, ressalta Fonseca. A UPS do Brasil atua com transporte rodoviário, aéreo e marítimo, em níveis nacional e internacional.
VeltenLOG: a companhia presta serviços de armazenagem, coleta e entrega para fornecedores de produtos para a saúde utilizando o modal rodoviário e, em breve, o aéreo.