Com o recente aumento das tensões no Oriente Médio, o controle dos principais canais e estreitos comerciais do mundo voltou ao centro das atenções. A escalada do conflito entre Israel e Irã colocou o Estreito de Ormuz sob os holofotes após o anúncio do Irã de fechar temporariamente a passagem, essencial para o fluxo de petróleo do Golfo Pérsico.
O Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo, Jackson Campos, destaca que canais como Suez e Panamá e estreitos como Malaca e Ormuz são muito mais do que rotas logísticas: são ativos geopolíticos estratégicos. “Controlar uma dessas rotas não é só questão de logística, é estratégia global. Os países que detêm ou influenciam esses corredores podem barganhar mais facilmente com outros mercados e ditar o ritmo do comércio”, afirma Campos.

Quase 50% de todo o comércio marítimo mundial passa por pelo menos um desses pontos, o que explica o interesse global em controlar essas passagens. Quando há distúrbios em qualquer um deles, toda a cadeia logística é impactada, aumentando custos de frete e preços finais de produtos.
No Canal de Suez, os ataques de grupos rebeldes Houthis no Iêmen têm levado companhias a contornar a África, ampliando tempo e custos das viagens. Já o Canal do Panamá é foco de tensão entre Estados Unidos e China, com os EUA tentando retomar influência sobre a rota estratégica, vital para conectar as costas leste e oeste das Américas e reduzir semanas no tempo de transporte entre Ásia e Europa.
Campos ressalta que a logística global está vulnerável a pressões políticas e militares. “Não se trata apenas de rotas de navios, mas de linhas vitais de suprimentos que, se interrompidas, impactam economias inteiras”, alerta.
O especialista aponta que países com presença militar próxima a essas passagens adquirem poder de influência desproporcional. “Quem controla essas rotas impõe suas regras ao comércio global, transformando-as em prioridades geopolíticas e alvo de disputas abertas ou silenciosas”, reforça Campos.
No Estreito de Ormuz, a recente ameaça de fechamento interrompeu temporariamente o tráfego de grandes petroleiros, elevando os preços do barril de petróleo. Países como China e Índia precisaram rever estoques e buscar rotas alternativas, enquanto os EUA reforçaram a presença militar para garantir a liberdade de navegação.
“Uma paralisação total provocaria efeito dominó na economia global. O preço do barril poderia disparar, elevando custos de combustíveis, fretes e produtos. Para o Brasil, isso significaria alta na gasolina, diesel e até em alimentos, além de atrasos nas importações e exportações”, explica Campos.
Diante desse cenário, a diplomacia se torna a única alternativa sustentável para manter a fluidez do comércio. “Essas regiões são como artérias do sistema circulatório do comércio. Se uma entope, o corpo inteiro sofre. Manter o diálogo, garantir a segurança das rotas e buscar soluções diplomáticas é vital para toda a economia global”, conclui Campos.









