Como formar um bom profissional para atuar em logística? O que se exige dele no mercado de trabalho hoje?

30/06/2022

O profissional precisa compreender as cadeias produtivas, as relações entre cliente e fornecedor, a economia de mercado, os marcos regulatórios e a infraestrutura disponível, de modo a escoar a produção da melhor forma possível, abrigar o melhor modal e as melhores condições de armazenagem.

Logística é uma disciplina de largo espectro que perpassa muitas outras. Ademais, no contexto amplo, ela se subdivide em muitas outras atividades de suporte.

“Quando estava iniciando minha vida profissional, na década de 90, e a logística representava, preponderantemente, transporte, armazenagem e distribuição, ministrávamos, nas universidades de Administração com Habilitação em Comércio Exterior, a disciplina Transportes e Seguros, a única que tratava do assunto em todo o curso com duração de cinco anos. O mundo globalizava-se celeremente e precisávamos de profissionais preparados para se comunicarem com as pessoas de outras nações, com diversidades culturais e em diferentes idiomas. Junto a tudo isso, a tecnologia e a transformação digital sinalizavam virem a ter protagonismo em breve, dada a escalada crescente das transações e a necessidade de se cumprir a função chave de integração e conectividade com precisão e segurança a baixo custo.”

Ainda segundo a análise de Carlos Cesar Meireles Vieira Filho, da Talentlog, Conselheiro TrendsInnovation e colunista do Portal Logweb, um bom profissional de logística precisa conhecer de sistemas, de processos (melhores práticas), de legislação e de pessoas, pois lidará com stakeholders de toda ordem, de todos os níveis culturais e profissionais.

“A visão global, espacial, as conectividades pela infraestrutura, o ecossistema no qual atuará, são requisitos fundamentais. Como solucionar este problema? Capacitação! Desde a existência de um curso superior de logística que abranja todas as competências necessárias para preparar um(a) profissional para o mercado, até os imprescindíveis estágios, incluindo visitas técnicas, são requisitos fundamentais para que se forme um bom profissional em logística”, acrescenta Vieira Filho.

Para a professora Dra. Sandra Lilian de Oliveira Façanha, coordenadora do Curso de Administração do Centro Universitário FECAP, uma das maiores deficiências do profissional de logística hoje tem a ver com uma formação aquém daquilo que seria o ideal, considerando o início de carreira para um profissional que atua em logística. E, em boa medida, a profusão de cursos de graduação, tanto bacharelados, caso do curso de Administração, uma fonte (entre outras) relevante para os profissionais da área, como os cursos superiores tecnológicos (CST) em Logística, colaboram para um nível de qualidade abaixo do que seria desejado!

“Digo isso porque, segundo dados do INEP de 2019, considerando-se somente os CST em Logística no Brasil, temos mais de 600 cursos presenciais e outras dezenas, talvez centenas, de cursos EaD que, juntos, oferecem cerca de 350 mil vagas. Um ponto específico da formação em cursos CST, que não ocorre nos cursos de bacharelado em Administração, por exemplo, é o fato de você entender como a logística se encaixa, influencia e pode ser influenciada pelas demais áreas de uma organização, seja ela com ou sem fins lucrativos, privada ou governamental.”

Uma forma de solucionar tal problema, naturalmente – segundo Sandra –, envolve a escolha de um curso que possa oferecer não apenas essa visão holística, mas muita qualidade ao longo dos anos de ensino. “Vale destacar que o mercado sempre busca especialistas, mas somente os especialistas que entendem como o negócio funciona como um todo, não partes do negócio!”

Já a análise de Aline Gomes, sócia-diretora da Conquer In Company, unidade de negócios da Escola Conquer focada em treinamentos corporativos, leva em conta que existe um ponto que engloba qualquer segmento, e isso se aplica também à logística. “Se formos pensar no gap de um profissional ‘comum’ para um profissional de destaque, encontraremos principalmente características que vão além da capacidade técnica de, por exemplo, criar relatórios em Excel e ter boa prática com ferramentas de TMS e WMS. Isso, com boa orientação e alguma prática, pode ser aprendido rapidamente.”

Profissionais desejados pelo mercado são notados pelas suas qualidades comportamentais, ressalta Aline. As empresas perceberam que a maior deficiência dos profissionais não está na falta de prática de algum software, mas em questões como adaptabilidade, negociação e criatividade para solucionar problemas, pois este é o verdadeiro cerne da profissão. São essas características que vão ajudar o profissional a lidar melhor com imprevistos e com pessoas, não as ferramentas.

“Então, se fosse sugerir como solucionar a questão, diria para os profissionais e empresas equilibrarem a educação técnica com treinamentos de soft skills. É dessa forma que formaremos profissionais mais completos, preparados e antifrágeis. Treinar o lado operacional, mas também comunicação, liderança e habilidades emocionais. Essa é a minha dica.”

Exigências

Falando sobre o que é exigido, hoje, de um profissional de logística para atuar no mercado de forma satisfatória, Vieira Filho, da Talentlog, diz que, primeiramente ele precisa ter visão sistêmica, integrada! É preciso ser curioso, estudar tendências, estar atento às inovações tecnológicas. Logística é, fundamentalmente, integração e conectividade; escala e alimentação dos sistemas sem interrupção, da primeira à última milha, promovendo maior produtividade, segurança e controle, sempre buscando custos competitivos.

O profissional precisa compreender as cadeias produtivas, as relações entre cliente e fornecedor, a economia de mercado, os marcos regulatórios e a infraestrutura disponível, vis-à-vis àquela capaz de escoar a produção da melhor forma possível, aquela que possa abrigar o melhor modal, as melhores condições de armazenagem. “Desse profissional irá ser requerido entendimentos diversos, como aspectos locacionais, relacionamento com os seus stakeholders, tecnologias de controle e rastreabilidade, as questões ambientais, de compliance e governança. Ética, o meu julgo, é default!”, diz o sócio-diretor da Talentlog.

Para a professora Dra. Sandra, do FECAP, cada vez mais está sendo exigido especialistas que entendam do negócio como um todo! Sendo assim, os melhores profissionais são aqueles que possuem uma visão do tipo “360 graus”, capacidade crítica e analítica, conhecimento razoável sobre tecnologia da informação e comunicação (sistemas cada vez mais automatizados e integrados, inteligência artificial, blockchain, realidade aumentada, realidade virtual, etc.) e, a bem da verdade, o domínio da língua inglesa.

Além disso, pensando de forma específica no desenvolvimento de cada profissional em uma organização, algumas características que o/a distinguem das “máquinas” são muito apreciadas, como iniciativa, criatividade, habilidades interpessoais, teamwork ou trabalho em equipe, adaptabilidade e resiliência, completa a coordenadora do Curso de Administração do FECAP.

Pelo seu lado, Aline, da Conquer In Company, destaca que em um mercado dinâmico como é o de logística, principalmente quando a demanda por entregas aumentou muito por conta da pandemia, o profissional precisa estar conectado com o momento e com a visão estratégica da empresa. Perguntar-se: qual é o meu papel estratégico na missão da empresa? E quanto a qualidade do meu processo logístico representa a qualidade que a empresa quer estabelecer com seus clientes?

“O profissional e suas práticas precisam de três componentes principais: agilidade, qualidade e resiliência”, acentua Aline.

Vários níveis

Quando a questão é se poderíamos classificar o profissional de logística em vários níveis, dentro da categoria, e quais seriam estes níveis e a função do profissional em cada um deles, dois dos participantes desta matéria especial respondem que sim.

Vieira Filho, da Talentlog consideraria os níveis mais usuais academicamente falando: o nível estratégico, o tático e o operacional. Em cada um desses níveis iremos encontrar profissionais e seus estágios de especificidades, de proficiência e responsabilidade! “Penso que os níveis superiores já estão de alguma forma supridos de recursos suficientes para prepararmos a alta gestão. Dispomos no Brasil de bons cursos MBA, especializações latu senso e universidade de primeira linha com programas stricto sensu para a formação de lideranças. Há, ainda, as formações internacionais em universidades e instituições de excelência no exterior que dão o grau ainda mais sofisticado à formação profissional da liderança. Firmo aqui a minha preocupação na capacitação inicial e universitária, pois ainda não temos consolidado no Brasil um curso de nível superior (+ 3.600 horas) que reúna disciplinas fundamentais de exatas e humanas para a formação de um profissional de logística. Somente aqui caberia mais uma razoável fala a respeito.”

Já Sandra ressalta que existem níveis básicos em termos de conhecimento e vivência na área, mas também existem diversos segmentos para o profissional de logística, porque trata-se de um campo muito amplo de atuação. Além dos segmentos usuais relacionados a transporte, armazenagem e afins, tanto para o mercado interno quanto para exportações ou importações, hoje temos novos campos de atuação, como é o caso do e-commerce e/ou startups.

Em cada um desses segmentos existem funções diversas em diferentes níveis que demandam, usualmente, um determinado conhecimento. Em nível operacional – atividades básicas do dia a dia, foco no curto prazo –, temos os cursos técnicos em logística e/ou CST em logística, produção ou comércio exterior. Em nível tático – atividades de supervisão de primeira linha, foco no médio prazo –, temos os mesmos CSTs anteriormente mencionados, bem como alguns cursos de bacharelado, como é o caso de administração e engenharia da produção. Por fim, em nível estratégico – atividades relacionadas ao planejamento de longo prazo da área e da empresa –, temos os cursos de bacharelado e, eventualmente, cursos de pós-graduação e/ou mestrado profissional.

“A pessoa interessada deve se capacitar de forma pertinente conforme o objetivo profissional dele ou dela, em estrito alinhamento com o nível desejado de atuação no mercado e, dependendo do segmento, existem ainda diversos cursos de curta duração que também podem ser exigidos, como é o caso do conhecimento de uma linguagem de programação para atuar em startups”, completa a coordenadora do Curso de Administração do FECAP.

Reconhecimento da profissão

No contexto de como fazer com que a profissão seja reconhecida pelos ministérios da educação e do trabalho e quais os caminhos, o colunista do Portal Logweb diz que somente a sociedade civil e acadêmica podem requerer o que acreditam lhes ser necessário e benéfico para o desenvolvimento da profissão. Terceirizar essa responsabilidade para o Estado é tergiversar sobre algo que a todos nós é tão caro. As entidades de classe precisam se unir, tanto aquelas que representam as prestadoras do serviço logístico (Operadores Logísticos, portuários, transportadoras, etc.), quanto aquelas que representam a indústria, a agroindústria e o comércio (embarcadores), para debater o assunto.

“Ao meu julgo, é a iniciativa privada que deve puxar essa discussão através de suas confederações, federações, associações, institutos e centros de estudos e pesquisas. Para tanto, é imprescindível ter a academia e o Estado nessa mesa de discussão. Realizar estudos e benchmarking no exterior faz-se mister. A vantagem é que tanto Operadores Logísticos, portuários, armadores, transportadoras, quanto embarcadores, têm aqui unidades de empresas multinacionais e podem contribuir bastante para esta troca de experiência. As universidades de primeira linha no Brasil, idem, quase todas têm convênios de cooperação técnica no exterior”, completa Vieira Filho.

Já temos, há mais de 20 anos, a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), parte integrante do atual Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) cujo intuito é “expor, com a maior fidelidade possível, as diversas atividades profissionais existentes em todo o país, sem diferenciação entre as profissões regulamentadas e as de livre exercício profissional (https://empregabrasil.mte.gov.br/76/cbo/)”.

Na lista da CBO encontramos diversas funções relacionadas à logística, como por exemplo: tecnólogo em logística, supervisor de logística, analista de logística, diretor de logística, etc. (Veja o box)

No entanto, complementa Sandra, do FECAP, cabe ressaltar que não há uma regulamentação para a atuação do profissional em logística, mas só o fato de ela existir na CBO já é suficiente para elevar sua visibilidade e importância, o que pode contribuir para a formulação de políticas públicas.

Formação dos profissionais

Cada uma das instituições mencionadas tem sua parte de responsabilidade na formação de profissionais qualificados, segundo a coordenadora do FECAP. “Eu diria que as escolas são responsáveis por uma base inicial robusta, e por ‘robusta’ entendam o que foi mencionado anteriormente. Já as empresas e/ou consultorias são responsáveis pelo aprimoramento dessa base inicial robusta na medida em que o profissional de logística pode amoldar a base obtida na escola à realidade do mundo dos negócios.”

Além das instituições mencionadas, Sandra diz que há um outro ponto relevante, que é o próprio profissional, responsável pelo seu desenvolvimento profissional, incluindo aí o famoso “lifelong learning” ou aprendizado por toda a vida. Como tudo evolui, se você obteve sua formação há cinco ou mais anos, talvez já esteja na hora de voltar para a escola fazer uma pós-graduação, se inteirar a respeito de novas ferramentas, conhecer novas pessoas, etc.

Para a coordenadora do Curso de Administração do FECAP, todos têm a sua parcela de responsabilidade: academia, prática e o próprio indivíduo, mas ela crê que resta ao último a maior parcela de responsabilidade, na medida em que – de fato – ele ou ela é a pessoa que faz as escolhas, certas ou não, ao longo da vida. Ele ou ela, de certa forma, tem que assumir a responsabilidade pela escolha de uma boa escola para se formar e, na sequência, escolher um bom emprego – por mais que tenhamos um mercado de trabalho bastante competitivo – para evoluir e, de forma simultânea, buscar continuamente seu próprio desenvolvimento através de um aprendizado constante (lifelong learning).

“Além da pessoa, se considerarmos de forma isolada somente a academia e a prática (o mundo ‘real’), creio que resta ainda uma parcela maior na academia, na medida em que, dependendo da qualidade de ensino, ao invés de aprender e aplicar na prática, a pessoa terá que desaprender para fazer diferença no mundo ‘real’.”

Já para Vieira Filho, da Talentlog, a formação de um profissional é dever de muitos, assim como é a formação educacional de um cidadão de um modo geral. Ainda que caiba ao Estado, através do Ministério do Trabalho (ou órgão que o substitua) a necessidade da elaboração da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), esta precisa, primeiramente, ser dinâmica, atualizada e permitir mudanças que tragam ao profissional e à profissão a definição mais clara e atual do mercado. Ocorre que muitas dessas classificações estão atreladas a normas universais, o que termina por dificultar atualizações e independência nas suas definições próprias a cada nação, região e setor.

“Desta forma, empresas jactam-se a preparar seus profissionais, com uma seleção mais criteriosa de seus candidatos a vagas de estagiários e treinees, buscando competências e habilidades ao aprendizado para atuarem no desenvolvimento e operações de sistemas e softwares, com habilidade em idiomas, boa comunicação (verbal e escrita), proficiência matemática, sensibilidade para as tendências, desenvolvimento tecnológico, inovação e visão sistêmica de processos.”

Por fim, mas não menos importante, cabe às escolas (universidades) desenvolver seus cursos, os mais atuais possíveis, mas dentro das linhas do Ministério da Educação (ou órgão que o substitua), ou desenvolvendo cursos de pós-graduação, MBA e outros de especialização. “É na fase universitária que a vocação se fortalece e se identifica. Sem uma graduação muito bem estruturada e aplicada com as disciplinas de fato voltadas ao mundo da logística, continuaremos a ter hiatos importantes na formação dos profissionais de logística no sentido mais completo”, acentua Vieira Filho.

É interessante notar que, para obter melhores resultados, muitas empresas com atuação em logística passaram a prover treinamentos internos. Veja a seguir.

Programas Internos

São vários os motivos que levaram as empresas participantes desta matéria especial a desenvolverem os seus programas internos de treinamento. Eles vão desde a formação de mão de obra necessária para impulsionar o negócio, até aqueles voltados ao aprimoramento dos seus colaboradores (veja mais no final desta matéria).

Afinal, como diz Fabiana Pauli, Head de Pessoas do Freto – logtech que une caminhoneiros a cargas, criando uma relação ganha-ganha entre transportadores, embarcadores e motoristas – a logística é abrangente, os profissionais desse setor necessitam de atualização constante e o principal desafio é se atualizar com base no acompanhamento tecnológico. “Por se tratar de um setor com diferentes oportunidades e evolução contínua, nem sempre os profissionais estão atualizados na velocidade que o mercado espera. Acompanhar a tecnologia e se antecipar é o desafio não só dos profissionais de logística, mas do mercado como um todo.”

Já Vinicius Callegari, co-fundador da GaussFleet – considerada a maior plataforma de gestão de máquinas móveis para siderúrgicas e construtoras –, ainda no contexto das necessidades do profissional de logística hoje para atuar no mercado, aponta o raciocínio lógico e a visão de negócios, além das suas atividades.

“Devido à carência de profissionais qualificados no mercado, as empresas têm se preparado para formar a própria mão de obra e, com isso, as deficiências podem ser corrigidas com programas de treinamento e qualificação interna. Desta forma, o setor acaba enfrentando maiores desafios na conscientização dos profissionais para trabalharem com segurança, bem como treinar e qualificar mão de obra para picos sazonais de volume e acabar perdendo rapidamente essa mão de obra para o mercado concorrente”, lamenta Cleiton Alves de Jesus, diretor de Recursos Humanos da ID Logistics – grupo internacional de logística de contratos com uma carteira de clientes equilibrada entre os setores de varejo, indústria, detail picking, saúde e e-commerce.

No caso da DP World Santos – empresa responsável pela operação de um dos maiores e mais modernos terminais privados multipropósito do Brasil, instalado na margem esquerda do Porto de Santos, SP –, a análise das deficiências do profissional do setor é diferenciada.

Alcino Therezo, diretor de Pessoas da empresa, alega que é preciso entender que o perfil do trabalhador do Porto mudou.  O Porto do trabalho braçal quase não existe mais e a sofisticação tecnológica, bem como a introdução de equipamentos de ponta nas operações demandam que as equipes sejam mais qualificadas. Para se ter uma ideia – continua Therezo –, todas as áreas, da operação ao administrativo, passaram por transformações, como a adoção de inteligência artificial, computação em nuvem e automação, que exigem cada vez mais profissionais para atuar em todos os tipos de projetos, em especial na segurança aduaneira, patrimonial, de dados, de carga, entre outras subdivisões. A transformação digital, que já estava na pauta das empresas, e a chegada dessas tecnologias fazem com que as equipes de TI sejam cada vez mais demandadas para projetos. 

“Além disso, é fundamental que os profissionais que atuem com comércio exterior tenham um segundo idioma, como o inglês e o espanhol”, completa o diretor de Pessoas da DP World.

Exigências – Falando sobre o que é exigido, hoje, de um profissional de logística para atuar no mercado de forma satisfatória, Danilo Guedes, presidente da ABC Cargas – especializada em transporte rodoviário de carga internacional e de veículos comerciais – diz que, não apenas na sua empresa, mas no mercado como um todo, o profissional precisa estar sempre disposto a aprender e se reinventar, tendo habilidade para lidar com mudanças e situações adversas.

Hoje, como em todo o mercado de trabalho, o profissional de logística, além das habilidades técnicas, tem que ter um bom desenvolvimento de suas soft skills, ou seja, é importante ter características comportamentais que estejam adaptadas à nova realidade do mercado de trabalho pós-pandemia. Estas habilidades estão focadas em como a pessoa lida com diferentes situações e com seus colegas de trabalho.

“Em nosso terminal – continua Therezo, da DP World Santos –, não adianta ter a habilidade necessária, trabalhar bem e ser devidamente qualificado se há falhas comportamentais. Logo, um de nossos desafios é encontrar profissionais que estejam alinhados a nossa cultura.”

Além disso, é essencial que o profissional tenha uma visão 360°, conhecendo o negócio da empresa, sendo flexível, e saiba trabalhar com as novas tecnologias. “Temos tido o cuidado ainda maior de selecionar trabalhadores com propósito, que se identifiquem com a posição, a carreira e com o Porto. Buscamos sempre pessoas que desejem verdadeiramente se qualificar e que queiram se desenvolver, pois no Porto os equipamentos, as operações e a gestão estão em rápida e contínua evolução”, completa o diretor de Pessoas da DP World Santos.

Também para Fabiana, do Freto, o que se exige hoje do profissional de logística é, além de capacitação técnica, atitudes que estejam alinhadas aos valores e à cultura organizacional e profissionais que buscam a inovação contínua e que tragam soluções inteligentes, acompanhando as novas tendências e tecnologias no cenário atual.

Callegari, da GaussFleet, também aponta raciocínio lógico para resolver os problemas e desafios que surgem diariamente, dinamismo para lidar com a pressão de múltiplas coisas importantes, e as vezes urgentes, resiliência para não ser engolido pela rotina caótica, capacidade de liderança, independente de ser formal ou não, para se relacionar com as pessoas e conseguir coordenar as mais low profiles.

“As exigências acabam sendo de acordo com o nível de função dentro das empresas, sendo assim, no geral, a empresa tem buscado insistentemente o engajamento dos profissionais no trabalho com segurança, no respeito à diversidade e inclusão, na inovação e na excelência operacional. Esses são quesitos que permeiam todos os níveis e posições hierárquicas das empresas”, completa Cleiton, da ID Logistics.

Rotatividade – Também é interessante notar como é a rotatividade na logística, sob a ótica das empresas que mantém seus programas internos de treinamento.

Por exemplo, Guedes, da ABC Cargas, falando em motoristas prestadores de serviço (categoria MEI), a rotatividade é bem alta, visto que eles possuem o “controle” da sua rotina e podem escolher as viagens que desejam e também ficam abertos a novas oportunidades de trabalho.

Já com relação aos motoristas contratados no regime CLT, essa rotatividade já é bem menor. Nesse sentido, diz o presidente da ABC Cargas, a empresa que investe e apoia o desenvolvimento e a qualificação dos profissionais acaba se tornando referência no mercado, ampliando seu poder de atração e retenção de talentos, o que certamente refletirá em desempenho diferenciado e melhores resultados.

Na ótica de Callegari, da GaussFleet, a rotatividade em operações logísticas (Centros de Distribuição, portos, fábricas, usinas, obras) é maior do que no planejamento de logística pela própria natureza das atividades. Um gerente ou diretor de operações logísticas que está na ponta tem muito menos glamour do que o executivo que está na Faria Lima (importante centro comercial e financeiro de São Paulo, SP). A rotatividade acaba sendo alta também, principalmente, em funções mais operacionais, como de recebedores de materiais, separadores de mercadorias, etc., justamente pela severidade do trabalho, acredita o co-fundador da GaussFleet.

“A rotatividade normalmente é a consequência de uma concentração de empresas do mesmo setor, numa mesma região, visto que há uma busca de profissionais qualificados em empresas do mesmo segmento, uma vez que temos dificuldade em buscar profissionais qualificados em instituições de ensino para qualificação profissional”, acrescenta Cleiton, da ID Logistics.

Fabiana, do Freto, lembra que o turnover faz parte de qualquer área de atuação, muitas vezes até ajuda a acelerar processos e trazer novos perfis e novas ideias. Mas, o principal, para diminuir a rotatividade, é estar com uma gestão preparada e alinhada à cultura organizacional, onde cada vez mais os profissionais buscam estar aderentes ao que acreditam e valorizam nas organizações onde atuam.

“Para mitigar a rotatividade, uma boa preparação da liderança é fundamental, junto de investimentos em atualização técnica, desenvolvimento comportamental, suporte organizacional adequado e estar em linha com o que o mercado vem praticando em termos de remuneração e oportunidade. Todos esses pontos fazem parte do processo de retenção e diminuição de turnover.”

Ainda de acordo com a Head de Pessoas do Freto, as empresas precisam reavaliar seu processo de contratação para se adequarem à nova realidade, entendendo: qual é o propósito das pessoas? O que elas buscam? O que oferecemos de diferencial na nossa experiência e jornada? Com essas simples perguntas é possível reavaliar o modelo de contratação e fazer de forma mais humanizada o processo do começo ao fim.

“Hoje, as pessoas buscam trabalhar em lugares onde a transparência e comunicação caminhem juntas. Aqui optamos por colocar todos na mesma página, através de uma rede social interna onde comunicamos todas as informações relevantes do Freto, sendo o mesmo local onde os profissionais podem se expressar e compartilhar as comunicações das suas áreas. A nossa responsabilidade é compartilhada nesse sentido e aqui todos somos comunicadores e temos fácil acesso às informações, o que garante clareza e transparência”, completa Fabiana.

Já no caso da DP World Santos, o turnover está abaixo da média do mercado global (1,27% versus 1,4%). Isso é resultado de uma série de ações em curso para engajar e reter os seus talentos, diz Therezo.

“Temos o nosso programa de recrutamento interno através do qual, em 80% das oportunidades de vagas que abrimos, damos preferência ao público interno, antes de iniciar uma busca por um profissional no mercado. É uma forma de acelerar o crescimento de carreira. Integrantes que estão há mais de um ano na empresa têm a oportunidade de participar do processo seletivo interno e concorrer às vagas disponíveis.”

Além disso, a empresa também oferece programas de qualificação aos funcionários, para prepará-los para as novidades que chegam ao setor.

A DP World Santos também possui um calendário de ações que valorizam os integrantes, suas famílias, promovem interações sociais e a participação deles. Por fim, a cada dois anos, o grupo DP World aplica em todas as suas unidades uma pesquisa de clima chamada “My World Survey”, para avaliar critérios como engajamento sustentável, liderança, cultura, sustentabilidade, segurança, comunidade e felicidade.

Resultados da má formação – Atrasos em entregas importantes devido a erros no controle de estoque ou relacionamento com transportadores, extravio de produtos, atraso em mobilizações pré-acordadas, falta de assertividade para reagir aos erros rapidamente, impactando o cliente o mínimo possível. Estes são os erros mais comuns, segundo Callegari, da GaussFleet, em razão da má formação do profissional de logística, e que a empresa já se deparou.

“Se considerarmos os motoristas, a má formação e a não reciclagem desses profissionais podem causar avarias e acidentes, resultando muitas vezes em grandes prejuízos e perdas não apenas para a empresa e para os clientes, mas para o trabalhador e para toda a sociedade. Por isso, investir em qualificação é mais do que necessário, é fundamenta!”, completa Guedes, da ABC Cargas.

A Head de Pessoas do Freto destaca que a falta de busca pelo autodesenvolvimento muitas vezes limita esses profissionais a contribuírem de forma diferenciada. Hoje, as empresas buscam profissionais não só qualificados tecnicamente, mas que estejam em busca constante e curiosa por antecipar novas tendências de negócio e sair na frente de forma competitiva. “No Freto, somos uma plataforma tecnológica a serviço da logística. Com isso, temos profissionais que conhecem tanto de logística quanto de tecnologia, a ideia é sempre unir as duas vertentes, avançando na melhoria contínua.”

Outro ponto relevante é que ainda vivenciamos um cenário na logística onde predomina a figura masculina. Nesse contexto, os profissionais precisam acompanhar cada vez mais o tema da diversidade, estando abertos a esse processo de transformação relacionado a temas de inclusão. “No Freto, estamos abrindo uma frente exclusiva de ESG visando oportunidade de tratar temas relevantes nesse contexto”, conclui Fabiana.

Para Cleiton, da ID Logistics, os maiores problemas com formação normalmente estão ligados à velocidade de formação que é exigida, uma vez que não há muitos profissionais qualificados no mercado e, com isso, as empresas acabam tendo uma grande necessidade de contratar e treinar rapidamente os profissionais para liberarem para operação.

“Esse pequeno tempo de treinamento e qualificação que normalmente é utilizado para formação dos profissionais gera problemas operacionais de procedimentos, baixa performance e, inclusive, avarias”, alerta o diretor de Recursos Humanos da ID Logistics.

Papel das empresas – Quando o assunto é o papel das empresas que atuam no setor de logística na formação de profissionais de logística, as respostas são diversas.

Callegari, da GaussFleet, acredita ser papel 100% das empresas, tanto as que atuam no setor de logística, quanto as que entendem a logística como diferencial competitivo. “A partir do momento que as empresas criam programas próprios, elas podem moldá-los às suas peculiaridades, e inclusive buscar pessoas com maiores chances de vingar dentro da cultura da corporação.”

Já Fabiana, do Freto, acredita que seja um papel com responsabilidades compartilhadas, do profissional, da empresa e da liderança.

Para a Head de Pessoas, a capacitação e formação não devem ser apenas atreladas a um curso específico ou formação e, sim, ao acompanhamento e desenvolvimento diário, com aplicação de feedbacks contínuos para mapear as principais dificuldades, gaps, oportunidades e elaborando um plano de desenvolvimento individual estruturado com ações diversificadas que aceleram o desenvolvimento de cada profissional.

“Um ponto de destaque nesse processo é aprender com os erros. No Freto, queremos pessoas que tomem riscos e ousem, porque quem ousa, cria. Então, não demitimos ninguém por errar e sim por não tentar. No dia a dia do Freto, todos os nossos freteiros têm livre acesso à alta liderança com simplicidade, isso valoriza o trabalho e as relações de cada um. Proporcionamos encontros específicos com a alta liderança, incentivando como empresa essa proximidade e troca de experiências. Não se trata de um monólogo e, sim, de um espaço de interação e abertura para novas ideias com diferentes níveis”, completa Fabiana.

Por seu lado, Therezo, da DP World Santos, falando sob a ótica de uma empresa com atuação nos portos, lembra que, hoje, os candidatos já chegam ao processo seletivo com algum nível de qualificação, tanto para funções operacionais quanto administrativas.

Isso acontece porque os principais players do setor desejam atrair profissionais técnicos, especialistas e generalistas que desejam prosperar no Porto, tornando o mercado de trabalho mais competitivo.

Para se diferenciar, um candidato deve buscar por instituições de ensino, públicas e privadas, reconhecidas para se capacitar e cursos relacionados a área em que deseja atuar, como, por exemplo, Gestão Portuária, Administração, Engenharia, Logística, Comércio Exterior, Relações Internacionais, entre outros. Conhecimento em um segundo idioma, preferencialmente o inglês, também é um diferencial, principalmente quando estamos falando de empresas globalizadas.

As empresas buscam, ainda, capacitar tecnicamente os profissionais. Nesse sentido, a DP World Santos também realiza treinamentos internos, de reciclagem e/ou opcionais, contribuindo com a busca pelo conhecimento, atualização e especialização.

Também falando sob uma ótica específica está Guedes, da ABC Cargas. Em relação aos motoristas, ele acredita que o treinamento oferecido seja imprescindível para que possam ser motoristas qualificados. “A empresa tem sua parcela, oferecendo oportunidades de capacitação, mas é importante que cada colaborador assuma também a responsabilidade pelo seu autodesenvolvimento, buscando sempre se qualificar como profissional.”

Realmente, os setores devem se preocupar com a formação de profissionais, visto que para o melhor resultado é necessário ser detentor de conhecimento das melhores práticas.

Ainda segundo Cleiton, da ID Logistics, as associações do setor, o Sistema “S” e o governo local têm a responsabilidade de unir forças para a capacitação de profissionais, visto que o país tem demonstrado em diversos municípios ou regiões a concentração de segmentos específicos, o que facilitaria direcionar programas setoriais de desenvolvimento de profissionais com boa qualidade técnica.

Programas internos – Veja a seguir os programas internos desenvolvidos pelas empresas participantes desta matéria especial.

ABC Cargas – Tem um programa de desenvolvimento dos seus motoristas, a Academia do Motorista, onde são abordados temas como: Atenção e ansiedade no trânsito; direção defensiva; gestão de combustível; saúde e segurança; riscos da estrada; sucesso do cliente.

DP World Santos – Desde que foi inaugurada no Brasil, em 2013, a empresa dedicou muita atenção e investimentos no sentido de capacitar os profissionais portuários. Em 2012, ainda na fase de obras, optou por formar sua própria mão de obra portuária. Foram contratadas pessoas sem experiência e a empresa investiu em treinamentos e programas de qualificação como uma das formas de motivá-los e engajá-los. Como exemplo, pode ser citado o “Programa Novos Operadores”, realizado em parceria com o Instituto de Capacitação Técnica Profissional (Incatep), de Santos, que teve o objetivo de capacitar profissionais para operar guindastes de cais e de pátio, contribuindo com a melhoria da mão de obra local. Para algumas vagas específicas, como operadores de portêiner e de transtêiner, os integrantes participaram de um intenso programa de qualificação fora do país, no Porto da DP World, em Callao, no Peru. Hoje, inclusive, alguns destes operadores se tornaram ATAPS (Advanced Trainer & Assessor Program), que é um Programa Global da DP World para multiplicar os aprendizados. Atualmente, vários operadores brasileiros são formadores de outros profissionais mundo afora, uma prática bastante importante e utilizada no Grupo DP World.

Freto – Hoje, a formação na empresa é pautada no desenvolvimento diário e acompanhamento dos profissionais baseado na confiança e na disseminação de experiência através dos talentos internos e Plano de Desenvolvimento Individual. Buscam no processo de recrutamento alinhar de forma clara as expectativas técnicas e comportamentais, em linha com o que o candidato busca em termos de propósito. O processo de recrutamento é pautado em perguntas exploratórias embasadas nos valores da empresa, buscando a todo tempo mapear se o candidato possui fit com o propósito e cultura do Freto.

GaussFleet – Na empresa é usado um programa desenvolvido pelo Walmart, quando ainda operava no Brasil, chamado “trainees de operações logísticas”. O programa contou com uma empresa externa para formatação de todas as etapas, que ia do preenchimento de testes de lógica e comportamentais, passando por dinâmicas em grupo e entrevistas individuais. Na época, a ideia era buscar talentos que não necessariamente tinham experiência em logística – embora já tivessem relevante experiência no mercado, até o nível analista –, mas que possuíam as soft skills necessárias para ser um futuro líder em médio prazo. Durante o programa, os trainees conheciam as diversas operações da empresa e suas peculiaridades, desenvolviam um projeto para uma operação designada, além de sessões de coaching individuais e em grupo. O programa tinha duração mínima de 8 meses e máxima de 12 meses, e após o período os trainees que obtivessem aprovação em um projeto 6 Sigma (todos passaram por formação greenbelt) desenvolvido em uma das centrais de distribuição da empresa, seriam contratados como gerentes de logística, equivalente a uma gerência Junior.

ID Logistics – Conta, internamente, com uma Universidade Corporativa que tem por objetivo desenvolver os seus profissionais em competências e qualificações técnicas, bem como comportamentais. Dentro dessa Universidade existem Academias de Liderança, Segurança, Finanças, Clientes, Compliance e Gestão de Estoques. Além da academia, há um programa de treinamento e desenvolvimento para o grupo operacional, chamado de “Excelência Operacional”, que tem por objetivo desenvolver os colaboradores da operação em atividades operacionais, procedimentos e reciclagem.

Qualificação dos profissionais dos transportadores ainda é um desafio

A capacitação profissional dos transportadores ainda é um desafio para as empresas de transporte rodoviário de cargas. O mercado de trabalho está cada dia mais exigente, buscando colaboradores capacitados em suas determinadas funções. Isso acaba impactando diretamente os trabalhadores desse setor, no qual muitos são resistentes a essas mudanças.

Os dados da pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes – CNT e do TruckPad, sobre o perfil do caminhoneiro, indicam que 15,6% dos motoristas de caminhão admitem que uma das ameaças do futuro da profissão está relacionada à falta de qualificação. E 49% dos entrevistados não fazem nenhum tipo de curso qualificado ou reciclagem ligados à profissão.

Regiane Amaral, coordenadora de treinamentos do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região – SETCESP, explica que a capacitação no mercado de trabalho vem se tornando requisito fundamental nas empresas. “O nível de competência de cada colaborador vem se transformando cada vez mais nas empresas, seja na área administrativa ou operacional, principalmente porque as empresas estão, aos poucos, se aprimorando em tecnologias para diminuição de custos. Tudo isso está ligado ao profissional para manter-se atualizado e apto às mudanças. A experiência não basta, é necessário sempre buscar atualizações e treinamento”.

A falta de eficiência pode dificultar os funcionários a alcançar objetivos de crescimento dentro de uma empresa. Com as capacitações corretas, juntamente com as tecnologias, é possível organizar uma equipe de excelência. O preparo auxilia o condutor a lidar com as situações de risco nas viagens, garantindo rapidez e qualidade nas entregas, bem como o aperfeiçoamento de áreas administrativas na gestão interna e externa da empresa e relacionamento com clientes e fornecedores.

“Para alcançar essa qualificação contínua, as empresas devem buscar treinamentos e cursos relacionados a todos os setores, atualizando-os constantemente de acordo com as inovações e modernidades do mercado. É preciso ter instrutores bem capacitados, sempre de olho nas demandas do segmento, cursos livres, rápidos e práticos, além de se adaptar entre modalidades presencial, on-line (ao vivo) e EAD (gravado), com uma programação bem elaborada para que cada profissional consiga conciliar com a rotina de atividades”, afirma Regiane.

Em um mercado que exige eficiência e segurança das transportadoras, ter trabalhadores preparados para encarar os desafios existentes nas estradas, leva as empresas a se destacarem pela oferta de um trabalho de alta qualidade e seguro.

“O SETCESP tem uma grande tradição em treinamentos, desde 1984, capacitando cerca de 1.000 profissionais por ano. É um importante caminho para obtermos um setor cada vez mais informado e preparado perante as atualidades que só tendem a crescer, principalmente, pelo avanço da tecnologia”, finaliza a coordenadora.

Logística on the job: profissão ou função?

Nesta sua análise sobre o profissional do setor, José Geraldo Vantine, fundador e presidente da Vantine Logistics & Supply Chain Consulting e também colunista do Portal Logweb, deixa claro que a profissão não é regulamentada por lei e que não há formação específica (à exceção do Tecnólogo).

“Na prática, para os que possuam cursos superiores podem se especializar em diversos níveis desejados com cursos existentes em Especialização, Pós-Graduação, MBA, Mestrado, Doutorado (aqui é possível encontrar subsídios no portal do MEC e procurar por CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior)”, diz Vantine.

O Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia também pode ser consultado no portal do MEC, e lá está regulamentado o “Curso Superior de Tecnologia em Logística” (1.600 horas). A FATEC oferece cursos com mais amplitude, com 1 ano a mais, cerca de 2.400 horas. Portanto, o graduado nesses cursos pode usar o título de “Tecnólogo em Logística”.

No entanto, ainda segundo o colunista do Portal Logweb, na esfera do Ministério do Trabalho, temos o CBO – Classificação Brasileira de Ocupação” (www.mtecbo.gov.br) e podemos encontrar diversos códigos de ocupação. Esses códigos são os que a área de Recursos Humanos das empresas deve registrar na Carteira Profissional. Portanto, aqui estão por exemplo: Analista de Logística (Código 2527-15), Auxiliar de Logística (Código 4141-40), Conferente de Logística (Código 4141-20) e até “Cargos” de nível “C”, como Diretor de Logística e Suprimentos (Código 1226-05).

Há poucos anos (2016), o Ministério do Trabalho incluiu a ocupação de “Engenheiro de Logística”, (Código 2149-45). Esse código 2149, chamado de família ocupacional, corresponde ao setor de Engenheiros de Produção, Qualidade, Segurança e afins e, por sua vez, pertencem ao Grande Grupo 2, que agrega as ocupações que compõem os profissionais das Ciências e das Artes.

“Parece complicado, mas é simples, embora não seja tão lógico”, comenta Vantine. E ele conclui: “Se você trabalha em qualquer atividade ligada à Operação e Gestão da Logística, em qualquer segmento, só se intitula ‘Profissional de Logística’ como ‘cargo’ ou ‘função’, salvo se tiver a função explícita de ‘Tecnólogo em Logística’ e ‘Engenheiro de Logística’ conforme o CBO.

Na prática a teoria é outra

Vantine vai mais além em seus comentários: “Como escritório de consultoria, somos um laboratório de avaliação da competência e experiência do profissional, atendo em processos de Logística. No recrutamento de consultor pleno, por exemplo, usando o Linkedin como busca, no máximo em três dias chegamos a receber 100 candidatos, sendo que 90% deles nem leem os requerimentos, e dos 10% restantes, com muito esforço conseguimos um ou dois candidatos para entrevista. Mas por quê? Porque são profissionais com baixo nível de preparação, mais focados em mostrar experiência, grande parte relacionada às suas atividades. Enfim, entre a Teoria e a Prática, a maioria só fica na Prática. Aliás, essa situação também pode ser observada nas inúmeras postagens nas redes sociais repletas de erros conceituais, o que demonstra o pouco interesse no estudo e nas leituras, especialmente com o uso da internet que traz o Mundo da Logística e a Logística do Mundo às nossas mãos.”

Não existe a categoria “Profissional de Logística” no aspecto de regulamentação como classe, mas os profissionais que atuam em algum setor, em alguma atividade do vasto mundo da Logística devem procurar a especialização, adverte o presidente da Vantine Logistics & Supply Chain Consulting. “Mas de bom nível, devendo o interessado consultar as ementas e os currículos dos professores.”

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