A importância da logística para o desenvolvimento econômico

Paulo Roberto Guedes, colunista do Portal Logweb, destaca, em seu novo artigo, que as operações logísticas eficientes fortalecem empresas e países, mas o Brasil ainda enfrenta gargalos estruturais, baixa multimodalidade e falta de investimentos. O autor reforça a importância da inovação, da ética e da sustentabilidade, alertando para impactos sociais da automação e para práticas como o greenwashing. Conclui que governos, empresas e profissionais precisam atuar juntos para garantir uma logística capaz de impulsionar crescimento, inclusão e estabilidade.

Considerando a importância do tema, permito-me, aqui, reproduzir partes do artigo que publiquei em novembro do ano passado (“A logística e o desenvolvimento”), como coparticipante do livro “Logística Viva” (Editora Lisboa).

É fato que, atualmente, em face de diversos problemas nos campos econômico, social, político ou militar, vivemos períodos de muitas incertezas, com muito maior frequência e impactos cada vez maiores para toda a sociedade. Há que se acrescentar, ainda e lamentavelmente, conflitos armados, crises pandêmicas, climáticas e ambientais que, diferentemente de outras épocas, parecem ser incontroláveis e geradoras de distúrbios também na área geopolítica.

A importância da logística para o desenvolvimento econômico

Por outro lado, mesmo que se mantenha a humanidade em condições mínimas de sobrevivência, mas considerando o crescimento populacional já agendado, não há qualquer dúvida que a necessidade de se produzir bens e prestar serviços econômicos será cada vez maior. E isto, ocorrendo em um mundo cujas integrações econômica e comercial se expandem de forma crescente, com maior complexidade e interdependência, sejam elas entre países ou empresas, exigirá que se realizem operações logísticas muito mais eficazes.

Portanto, se a busca pela eficácia passou a ser um dos motivos pelos quais a logística, ao longo do tempo, teve aumentada sua importância estratégica, há que se compreender que, além de ‘fundamental’ para o sucesso empresarial e de todas as atividades econômicas existentes, ela também se tornou ‘essencial’ para a melhoria do desempenho econômico e social das nações, posto que, quando bem realizada, viabiliza de forma eficiente os sistemas de abastecimento e de distribuição.

Sabe-se, vale ressaltar, que ao tempo em que a logística foi incorporada, de forma obrigatória, a todo e qualquer plano de desenvolvimento, empresarial ou governamental, importância cada vez maior tiveram os aspectos éticos e morais pertinentes ao exercício dessas atividades.

Como estudioso do assunto e executivo no setor, constatei que a atividade logística era, de fato, uma atividade de caráter estratégico e que, juntamente com recursos humanos, finanças, marketing e produção, por exemplo, contribuía definitivamente para a definição dos níveis de sucesso empresarial.

“Ao ocupar-se com tudo aquilo que envolve uma entrega do produto certo, na quantidade e qualidade contratadas, no momento certo e com preço adequado, e espera-se justo, hoje a logística não só precisa atender satisfatoriamente o cliente, interno ou externo, mas, entre outros benefícios, promover o aumento da produtividade e a correspondente diminuição de custos de movimentação e transporte de mercadorias”. Consequentemente, ao propiciar que as empresas alcancem, e passem a explorar, mercados consumidores ou fornecedores mais longínquos, a logística passou a agregar valores ao produto e à própria empresa.

Não foi difícil perceber, também, “que todos os benefícios obtidos por uma empresa, ao adotar as melhores práticas logísticas, também poderiam ser obtidos por um país, na medida em que obtém reais condições de realizar a movimentação de seus produtos, tanto no mercado doméstico como no mercado internacional, de forma muito mais eficiente, com menores índices de poluição e com menores custos, o que diretamente contribui para o combate à inflação” e a melhoria do processo de distribuição de bens e serviços.

“Ao compreender isso de forma mais objetiva, foi ficando claro que a logística, além de tudo, é um instrumento eficiente na busca do desenvolvimento econômico e social de um País. E que faz, diretamente, muito bem à política, pois na medida em que se consegue movimentar mercadorias eficazmente, isto é, eficientemente e alcançando os objetivos propostos, colabora-se diretamente para a estabilidade da economia e da sociedade”. A incorporação e a inclusão de ‘gente e regiões’ aos processos de produção e de consumo, seja porque o acesso físico aos mercados ficou mais fácil, ou porque os custos logísticos adicionados são menores do que os anteriores, resultam na melhoria de vida de toda a sociedade.

São muitos e diversos os depoimentos de executivos, empresários e políticos que enaltecem as qualidades do Brasil para a realização de negócios, destacando-se, vale frisar, o quão importante é a logística brasileira como facilitadora do comércio, nacional e internacional. É elevado, sem quaisquer dúvidas, o grau de confiança que esse setor inspira com relação à melhoria da economia como um todo.

“Entretanto, é necessário abordar os chamados ‘gargalos logísticos’ que tantos problemas têm gerado às atividades de movimentação de mercadorias, posto que ainda são realizadas em estruturas carentes e insuficientes se consideradas as dimensões do Brasil, e com baixa utilização da multimodalidade (e exagerada emissão de gases de efeito estufa – GEE, em face da maior utilização do modal rodoviário). Entraves burocráticos, principalmente nas fronteiras e nas atividades empresariais voltadas ao comércio exterior, falhas na coordenação e no planejamento e os baixos índices de investimentos em infraestrutura logística são outros fatores que impedem melhor realização da logística brasileira”.

Infelizmente, “aqui no Brasil, os investimentos em infraestrutura têm seus próprios e sérios problemas. Pelo lado do setor público a falta de recursos é, com certeza, o maior obstáculo. Entre outros, a baixa competitividade nas licitações, a baixa qualidade dos estudos e projetos elaborados e a morosidade nos licenciamentos das obras complementam a lista de dificuldades. Já o setor privado teme a insegurança jurídica dos contratos, o alto intervencionismo estatal e a ausência de planejamento estatal para o longo prazo”.

Reproduzindo o que já escrevi algumas vezes, “é imprescindível que o Brasil retome os investimentos, notadamente aqueles voltados à infraestrutura logística, e sempre com a decisiva e significativa participação do setor privado”.

Apenas como informação: os valores investidos em infraestrutura logística e de transportes no Brasil, desde 2014 e até 2022, estiveram em queda. Segundo dados da ABDIB (Associação Brasileira de Infraestrutura das Indústrias de Base – “Livro Azul da Infraestrutura 2025”), em 2014 foram investidos R$ 84,5 bilhões. Em 2010, dos R$ 68 bilhões investidos, 67,2% eram provenientes do setor público e 32,8% do setor privado. Já em 2024, com investimentos de R$ 67,9 bilhões, o setor público participou com apenas 38,7%, enquanto o setor privado contribuiu com 61,3%. Mesmo com as boas perspectivas para 2025 (investimentos de R$ 76,5 bilhões), o setor público representará apenas 30,1% do total, enquanto o setor privado alcançará 63,9% do total. Para que se tenha uma ideia, segundo a ADBID, seriam necessários investimentos, agora em 2025, equivalentes a 2,26% do PIB. Mas estes serão de apenas 0,61%. Essa defasagem – menos 1,65% do PIB – significa investimentos de R$ 206 bilhões a menos.

E quando se fala de meio ambiente é preciso reconhecer que, exceptuando-se os momentos de catástrofe, esse ainda não é um tema que faz parte da cultura dos brasileiros. Não faz parte das prioridades do Congresso Nacional e, até como consequência, de grande parte do empresariado nacional, setores de logística e de transportes inclusos. Infelizmente isso dificulta, sobremaneira, até a simples inclusão de técnicas mais modernas de combate, controle e diminuição dos níveis de poluição. O posicionamento do governo Trump, sem dúvida, não ajuda muito.

Observação importante: “com as ressalvas de sempre, muito se comenta sobre o fato de que são a propaganda e a publicidade os reais motivos pelos quais algumas empresas, inclusive as maiores, se propõem a realizar investimentos que diminuam os impactos gerados pela poluição. Lamentável sob qualquer ponto de vista, pois ao praticarem o chamado “greenwashing” (maquiagem verde) essas empresas, além de enganar a sociedade, estimulam que outros façam o mesmo”.

Outros fatores extremamente importantes, “e que devem permitir melhor desempenho da logística, são, sem dúvida, a inovação e a tecnologia. Itens importantes no conjunto de soluções de problemas, a necessidade de se inovar e buscar avanços tecnológicos é evidente. Não só com relação aos aspectos de segurança, posto que os roubos de cargas têm aumentado muito no País, mas também para racionalizar, dar maior transparência, informar, aumentar a produtividade das operações logísticas e combater a emissão de GEE”. 

“Complementarmente é preciso reconhecer que a utilização da tecnologia e da inovação exige certos cuidados. Nada contra, vale frisar, sistemas avançados, ferramentas, fluxos de trabalho e análises para planejar, gerenciar e controlar transações, fluxos de dados e informações de forma cada vez mais ágil e precisa.  “Machine Learning”, “Artificial Intelligence”, “Cognitive Computing” e outros são instrumentos de trabalho que serão, ao longo de um tempo cada vez menor, crescentemente utilizados”.

“Mas vale à pena atentar para o que tem acontecido nos países nos quais esses processos evolutivos já se fazem presentes de forma mais significativa: diminuição do número de empregos menos qualificados em proporção significativamente maior do que o aumento do número de empregos de maior qualificação, cujas exigências com relação ao conhecimento, à capacitação e à postura inovativa são bem maiores do que atualmente. Em países ainda em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, os impactos são ainda maiores, o  que contribui, efetiva e indesejávelmente, para a diminuição nos níveis de empregos”.

“Todos entendemos, e é bastante compreensível, que a busca de melhorias contínuas no desenvolvimento de processos automáticos e autônomos de coleta, inserção e, principalmente, de análise de dados em quantidades cada vez maiores, proporcionadas pela computação cognitiva e a inteligência artificial, exigirá aperfeiçoamento, aprendizado e capacitação constantes. Compreensível, também, que, além de profissionais cada vez mais capacitados, o trabalho mecânico e rotineiro, obviamente praticado por mão-de-obra menos qualificada, deverá ser substituído, em tempo muito menor do que se imagina, pela ‘máquina’ ”.

“Mas, confirmados os estudos realizados pelo economista francês Thomas Piketty (“O Capital no Século XXI”, publicado pela Editora Intrínsica em 2014) que, entre outras conclusões, reconhece que “a evolução dinâmica de uma economia de mercado e de propriedade privada, deixada à sua própria sorte, contém forças de convergência importantes, ligadas sobretudo à difusão do conhecimento e das qualificações, mas também forças de divergências vigorosas e potencialmente ameaçadoras para nossas sociedades democráticas e para os valores de justiça social sobre os quais elas se fundam” (grifos meus), há que se ter bastante cautela’.

“O professor da Universidade de Oxford Paul Collier, em seu livro “O futuro do capitalismo” (Ed. L&PM, 2019), não deixou por menos ao ressaltar que mesmo sendo “essencial para a prosperidade de massa”, e permitir que “as pessoas aproveitem o potencial de produtividade da escala e da especialização”, “as sociedades capitalistas, além de serem prósperas, precisam ser éticas” (grifos meus)”.

“O fato é que as economias que quiserem crescer de forma sustentável, com inclusão e operando em condições de “baixo carbono”, precisarão do envolvimento concreto e direto dos governos e do mundo empresarial. Se é verdade que os governos precisarão estimular e investir de forma efetiva, para que a inclusão e a sustentabilidade sejam valores incorporados na sociedade, não menos verdade é o fato de que para que a inovação seja acelerada, difundida e acessível a todos, a participação do setor privado torna-se imprescindível (site da McKinsey de 13/11/22: “Rumo a um futuro sustentável, inclusivo e crescente: o papel das empresas”)”.

“Acredito, aliás como já escrevi algumas vezes (“Os problemas do mundo, a geopolítica e as corporações empresariais”, artigo publicado dia 10.06.22 no Guia do TRC), que o momento atual exigirá que se adotem diversas providências fundamentais. Em face do tema aqui exposto, destaco três: a) aumento da geração de empregos; b) aumento das políticas e práticas que protejam o meio ambiente; e c) incentivo para que as empresas, via um “olhar mais holístico”, se ocupem e iniciem estudos geopolíticos que lhe correspondam”.

“São problemas que “extrapolam as fronteiras empresariais ou de uma só nação, e implicam em decisões de caráter geopolítico. São temas que afetam a humanidade e o mundo como um todo, não podendo se limitar, ainda que separadamente, às discussões acadêmicas, científicas, tecnológicas, empresariais ou governamentais”.

Como observaram “Klaus Schwab e Peter Vanham, em seu livro “Capitalismo Stakeholder” (Alta Cult Ed., 2023), “aquele tempo no qual uma organização tinha apenas seu próprio interesse em mente e o seguia sem considerar os interesses de seus ‘stakeholders’ acabou. Em uma sociedade tão interconectada e na qual o sucesso de cada ator depende de grande conectividade e interação com tantos outros atores, decisões só podem ser tomadas se houver um resultado positivo para o sistema inteiro” (grifos meus)”.

“Essa prioridade, inevitavelmente, exigirá muito trabalho, muita dedicação de toda a sociedade e respeito à ética e aos valores democráticos, cujos objetivos, entre eles o bem-estar da população, precisam ser preservados. A logística, como atividade indispensável que é, as empresas operadoras e usuárias da logística, bem como os profissionais que se dedicam a ela, precisarão, sem quaisquer dúvidas, estar preparados”.

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Paulo Roberto Guedes

Paulo Roberto Guedes

Consultor Empresarial

 

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