O setor já vem apresentando picos de vendas desde junho, já que, com as crianças em casa em virtude do cancelamento das aulas, os pais viram nos brinquedos uma forma de entretenimento para os filhos, o que gerou aumento na demanda. Que deve continuar neste final de ano.
O Natal ainda é a principal data do comércio brasileiro. Mesmo num ano atípico, com medidas drás ticas, fechamento de milhares de lojas e alta no desemprego devido à pandemia da Covid-19, as expectativas são altas. O Sindilojas-SP (Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo) – entidade sindical que representa 30 mil empresas do comércio lojista e 100 mil empresários da Cidade de São Paulo, estabelecidos em Shopping Centers e lojas de rua – realizou uma sondagem e traçou um panorama de como deverá ser o Natal desse ano de 2020.
O otimismo está em alta. Pelo menos é o que 65% dos entrevistados responderam quando questionados em relação ao aumento das vendas para o período – 20% deles estão indiferentes e 15% se sentem pessimistas.
“Nossa sondagem demonstrou o que nós, lojistas, estamos sentindo: otimismo em relação às vendas do período de final de ano, mas com cautela máxima em relação aos investimentos. Prova disso é que a minoria pretende contratar funcionários temporários. Além disso, estamos enfrentando a falta de mercadorias e de matérias-primas, como, por exemplo, embalagens para nossos produtos”, explica Aldo N. Macri, lojista e diretor do Sindilojas-SP.
Foram entrevistados 101 empresários do comércio da capital de São Paulo entre os dias 15 de outubro e 05 de novembro, dos quais 33% têm de 11 a 20 empregados; 22% têm de 1 a 5; 28% mais de 20 colaboradores; 13% entre 6 e 10 funcionários; e apenas 4% não possuem colaboradores.
Logicamente, colocamos esta análise na abertura desta matéria especial sobre a logística no setor de brinquedos tendo em vista que o Natal representa o momento de maior venda do comércio, nele se incluindo os brinquedos.
Mas, se grande parte do comércio está otimista, o que pensam os representantes dos Operadores Logísticos e das transportadoras que atuam neste segmento?
“Com a chegada do Natal a demanda cresce de forma natural, já aguardamos um crescimento natural de 25% em comparação ao ano anterior, conforme projeções realizadas”, pontua Anderson Perez, gerente Comercial Nacional da Alfa Transportes EIRELI.
Também para João Prada, diretor de Operações da DHL Supply Chain, há uma perspectiva positiva para o fechamento do ano, com crescimento nas vendas e expansão do canal digital. O que é importante ressaltar – diz Prada – é que o período de pico, que antes se concentrava no Dia das Crianças e Natal, tomou conta de todo o segundo semestre.
Também mantendo um certo otimismo, Thiago Menegon, diretor Comercial da TDB Transporte e Distribuição de Bens, lembra que se antes haviam previsto queda de 60% em relação a 2019, agora a projeção de queda está entre 20% e 25%, ou seja, o otimismo se reflete em menos queda nas vendas do que o esperado.
Giuseppe Lumare Júnior, diretor Comercial da Braspress Transportes Urgentes, por sua vez, avalia que o que mais chama a atenção neste final de ano é que as empresas, sob efeito do consumo represado, estão tentando “salvar o ano” em poucos meses, mas há um evidente gargalo logístico, além de falta de muitos insumos, como já apontado pelo Sindilojas-SP. “Assim, mesmo que o crescimento das vendas seja significativo, não parece que os clientes conseguirão efetivar e expedir as vendas recebidas, levando à triste constatação de que o aquecimento de vendas nestes meses não será suficiente para compensar as vendas perdidas durante a pandemia”, lamenta Lumare Júnior.
Tempos difíceis
Realmente, é bom não esquecer que estamos passando tempos difíceis em razão da pandemia – que, no fechamento desta matéria, ainda se mostrava presente e atuante em todo o país.
E que, no período mais acirrado da pandemia, muita coisa mudou e precisou ser adaptada no segmento de brinquedos, a exemplo do que aconteceu com os outros setores.
Perez, da Alfa Transportes, revela que, de modo geral, ocorreu um aumento na demanda em vários segmentos, em detrimento da pandemia, mas que foi possivel contornar de forma natural o volume de carga já esperado.
Quanto às mudanças ocorridas naquele período, e se elas são temporárias ou vieram para ficar, o gerente Comercial Nacional da Alfa Transportes acredita que, no segmento de brinquedos, as mudanças são temporárias, já que, com as crianças em casas em virtude do cancelamento das aulas, os pais viram nos brinquedos uma forma de entretenimento para os filhos, o que gerou aumento na demanda. Com o controle da pandemia, Perez acredita que a curva de crescimento acabará voltando ao normal.
“Só podemos considerar que houve crescimento das vendas de brinquedos durante a pandemia se isolarmos o fenômeno do e-commerce das vendas gerais do segmento, mas as vendas nesse canal ainda não são relevantes a ponto de influenciarem mudanças nos modos de transporte e logística”, diz Lumare Júnior, da Braspress.
Ainda na visão do diretor Comercial da Braspress, a mudança que mais chamou a atenção na época mais crítica da pandemia foi a disposição do consumidor de comprar pela internet, e as mudanças de comportamento deste consumidor têm gerado vendas unitárias, na medida em que ele compra um produto e paga o frete dessa compra. Talvez esse impulso venha a gerar necessidade de logísticas e transportes mais afins a estas necessidades.
Já na visão de Prada, da DHL Supply Chain, este mercado registrou um crescimento de movimentação de cerca de 15%, mas outra questão importante foi a antecipação e expansão do período de pico, que neste ano começou já em junho e se manteve. “Para dar conta, adiantamos planos logísticos que antes só era colocados em prática próximo às datas comemorativas.”
O diretor de Operações da DHL Supply Chain também lembra que, com a pandemia, a primeira preocupação da empresa foi manter as operações andando e a segurança de seus colaboradores. “Para isso, adotamos rígidos protocolos sanitários e executamos planos de contingência. Além disso, expandimos em 7% a 10% nossa equipe, a fim de dar conta do maior volume. Entendemos que a terceirização logística e a expansão do e-commerce vieram para ficar.”
Menegon, da TDB Transporte, aponta que, por conta da pandemia e do fechamento dos comércios de rua e dos shoppings, a operação ficou estagnada entre o final de março e o começo de junho – e agora está voltando, mas ainda não no mesmo patamar anterior. Ele também diz que houve uma migração das entregas de B2B para operações B2C.
Hora, como houve uma migração para o e-commerce neste período, logicamente ocorreram mudanças na logística para atender especificamente ao e-commerce. Ou não?
Perez ressata que, como o foco da Alfa Transportes ainda continua sendo empresarial e menos pessoa física, receberam mais cargas fracionadas, e no quesito volume perceberam um aumento.
Para Lumare Júnior, da Braspress, de fato, o crescimento do e-commerce foi exponencial, mas os brinquedos não foram, até o momento, o segmento de destaque. Perderam, com grande diferença, para os produtos eletrônicos, de informática e eletrodomésticos.
“Sim, houve um crescimento exponencial do e-commerce, três vezes maior do que o registrado no canal físico. É importante ressaltar que a logística do e-commerce traz grande complexidade, devido ao maior fracionamento da carga, o que requer também mais eficiência e visibilidade de ponta a ponta. Logo, fizemos esta migração com agilidade, do B2B para B2C, sendo que contar com um parceiro como a DHL foi fundamental, pois unimos ambas as experiências com grande capacidade operacional que pôde absorver com eficiência essas mudanças”, diz Prada, da DHL Supply Chain.
No caminho contrário, Menegon, da TDB Transporte e Distribuição, lembra que no seu negócio houve queda da demanda, pois neste segmento não operam no e-commerce por conta do nível de fracionamento dos pedidos.
E agora?
E agora, neste momento de “volta ao normal”, como está sendo a logística no segmento de brinquedos?
Perez, da Alfa Transportes, faz questão de destacar que nesta “volta ao normal” estão contando com um volume acima da média e a distribuição exige os cuidados de segurança, como o uso dos EPIs, como máscaras.
Neste contexto, Lumare Júnior, da Braspress, enfatiza que as vendas pelos canais tradicionais voltaram com força, logo é de se depreender que o segmento de brinquedos vive momento de aquecimento das vendas. Mas, nem por isso, há qualquer movimento de mudança nos processos de transporte e logística.
O diretor Comercial da Braspress também fala da frequência de reposição, e sobre o que mudou em relação ao que era antes e as mudanças no perfil da carga. “Em qualquer época, as frequências de fornecimento estão sujeitas às atrações da demanda, ou seja, se o mercado está comprador as frequências aumentam. É muito cedo para saber se haverá alguma mudança no longo prazo.”
Prada, da DHL Supply Chain, também fala como está sendo a logística nesta “volta ao normal”, ressaltando que com a pandemia, muitas famílias passam grande parte do tempo em casa ainda, o que mantém a demanda alta, assim como as vendas por e-commerce. “No nosso caso, não houve uma mudança de frequência na reposição, o que buscamos fazer foi trazer maior agilidade a estas entregas, a fim de atender ao aumento das vendas.”
No caminho contrário, Menegon, da TDB Transporte e Distribuição, destaca que, hoje, a demanda ainda não está elevada e que os fabricantes estão sofrendo por conta de escassez de matéria prima, principalmente de embalagens e plásticos. Ele também diz que ocorreu uma queda significativa na demanda e na distribuição, mesmo abaixo de 2019, mas ainda acima do que haviam previsto para este ano de 2020.
“O cenário de 2020 está muito indefinido – por conta da falta de matérias primas, os fabricantes estão conseguindo vender até os estoques antigos. Durante a pandemia, por conta das pessoas estarem em suas casas, jogos de tabuleiro tiveram aumento de demanda, por exemplo”, completa o diretor Comercial da TDB Transporte e Distribuição.
Peculiaridades
Até agora falamos das perspectivas e do comportamento do segmento de brinquedos nesta época em especial. Mas, quais são as características da logística neste setor?
Este segmento é bastante diverso, tanto em termos de produtos como nos valores mercantis envolvidos, criando baixa demanda e, por conseguinte, baixa oferta especializada, tanto na logística quanto no transporte.
Há uma variedade significativa de brinquedos, mas em linhas gerais eles se subdividem em didáticos e simplesmente recreativos. Também se pode aduzir sobre divisões em termos de valor-bem, pois, sobretudo, os brinquedos recreativos se destinam a várias faixas de consumo, dada a necessidade de atingir toda a sociedade. “É justamente por haver essa raiz ampla de destinação que o transporte e a logística não têm grande especialidade nesse segmento, não havendo demandas suficientes que impulsionam o interesse de investimentos no segmento”, completa Lumare Júnior, da Braspress.
Segundo Prada, da DHL Supply Chain, este mercado tem três características principais. Primeiro, ele se caracteriza por picos de demanda, tendo grande concentração de vendas no Dia das Crianças e no Natal. Segundo, é um mercado ainda muito voltado ao ambiente físico, no qual a experiência de tocar e manipular o brinquedo na hora da compra é muito importante. Isso vem mudando, ainda mais durante a pandemia, mas continua a ser uma característica marcante.
Por fim, grande parte do fornecimento de produtos desta indústria é importado, o que também traz consequências para a cadeia logística. É importante ressaltar também – segundo o diretor de Operações da DHL Supply Chain – que, com as famílias mais tempo em casa por conta da pandemia, houve um crescimento de vendas expressivo no setor em 2020.
Menegon, da TDB Transporte e Distribuição, também coloca a sazonalidade como a principal característica do segmento, pois cerca de 70% a 80% da demanda é concentrada no 2º semestre, sendo perto de 60% só para Dias das Crianças e Natal.
Sobre os principais desafios desta logística, Perez, da Alfa Transportes, diz que eles praticamente não existem. “A operação desse perfil é muito simples por se tratar de mercadorias de difícil avaria.”
O diretor Comercial da Braspress também destaca que não há desafios porque há pouco interesse de transportadores e Operadores Logísticos, assim, os demandantes ou se adaptam aos modos de transportes existentes ou, quando são grandes, geram certo interesse em pequenos transportadores. “Essa dificuldade se demonstra pela ausência de transportadores que tenham grande parcela de suas receitas no segmento.”
Já Prada, da DHL Supply Chain, aponta que lidar com picos de demanda certamente é o principal desafio. Isso traz muitas consequências na gestão de equipe, transportes e velocidade das entregas.
Outro movimento importante – ainda segundo o diretor de Operações da DHL Supply Chain – é a ascensão do e-commerce. “Essa migração vem crescendo de forma acelerada no setor e pode mudar as regras do jogo, com o desafio de administrar pequenos volumes com eficiência e ter uma entrega ágil. O nível de serviço no e-commerce é fundamental e terá um papel cada vez mais importante na experiência do consumidor.”
E Menegon, da TDB Transporte e Distribuição, destaca que o principal desafio é respeitar a prioridade de recebimento dos lojistas, pois grande parte das lojas possui espaço muito limitado de estoque e o agendamento das entregas acaba sendo essencial para que elas tenham a mercadoria necessária como prioridade.
Exigências
Apesar de parecer simples, a logística neste segmento exige certas ações por parte de OLs e transportadoras, como prazos competitivos e uma malha de atuação ampla para distribuição. “Menor nível de avaria também é importante, e informações em tempo real de qualidade são sempre fundamentais”, lembra Perez, da Alfa Transportes, ressaltando quem, sob o ponto de vista da sua empresa, a carga fracionada é a mais empregada no setor, tendo em vista a flexibilidade no transporte.
“Atuamos 100% em carga fracionada na distribuição”, ressalta Menegon, da TDB Transporte e Distribuição de Bens, lembrando que para operarem neste segmento as empresas precisam estar estruturadas para período de alta demanda com frota e mão de obra adicional.
O diretor Comercial da Braspress destaca que o transporte e a logística não se atraem pelo segmento de brinquedos em função dos baixos valores mercantis dos produtos e da necessidade de conceder condições tarifárias muito baixas, principalmente porque os produtos costumam ser bastante volumosos, gerando altos custos e baixa rentabilidade.
“O transporte de brinquedos não costuma gerar vendas tão concentradas que exijam o uso da carga completa, senão apenas nos casos dos destinatários serem distribuidores, os quais, em um segundo estágio de vendas, usam os modos de carga fracionada. Porém, o fenômeno do e-commerce tem mudado significativamente essa realidade, ainda sem representar grande parcela da demanda, mas com perspectivas de crescimento acelerado”, completa Lumare Júnior.
Experiência e capacidade operacional são exigências tradicionais, mas recentemente vem crescendo a demanda por visibilidade total na cadeia de suprimentos e por expertise no e-commerce. “Além do aumento significativo da demanda, notamos também um crescente interesse por parte de multinacionais de brinquedos em investir no Brasil e na América Latina, o que eleva ainda mais o nível de serviço exigido”, acrescenta Prada, da DHL Supply Chain, avaliando que o modelo de carga mais empregado é a completa, devido à importância das lojas físicas nesta área. No entanto, ressalta, vem crescendo a carga fracionada à medida que o e-commerce se desenvolve.
Terceirização
Como é a terceirização logística neste segmento? Quais tipos de empresas mais fazem esta terceirização e por quê?
O que se oberva, atualmente, é que ter a própria logística implica não só em ter própria frota de veículos, mas, também, mão de obra especializada, sistema de gestão, seguro e manutenção de veículos que, em longo prazo, geram altos custos que, se levados em conta, tornam inviável o processo interno. A terceirização quando bem avaliada é muito mais vantajosa para os players do mercado, explica Perez, da Alfa Transportes.
“A terceirização logística costuma ser incentivada pelo interesse em reduzir custos e/ou de melhorar processos, porém, há barreiras evidentes para que essas premissas estejam presentes no segmento de brinquedos: produtos baratos que, apesar de demandarem melhores processos logísticos, nem sempre podem arcar com os valores cobrados por Operadores Logísticos. Se pensarmos nessas barreiras, por óbvio, os brinquedos de alto valor agregado serão os candidatos mais propícios à terceirização logística”, explica, agora, Lumare Júnior, da Braspress.
Por seu lado, Prada, da DHL Supply Chain, destaca que, até poucos anos, a terceirização de serviços logísticos não era tão comum neste mercado, mas este movimento vem se acelerando, principalmente devido à chegada de multinacionais – que não possuem fábricas no País e buscam evitar a complexidade de gerir isso localmente – e a expansão do e-commerce que demanda mais expertise e capacidade operacional. Desta forma, prossegue o diretor de Operações da DHL Supply Chain, a indústria e varejistas nacionais também vêm migrando seus modelos. A terceirização traz muitas vantagens, como reduzir complexidade, aproveitar a escala e sinergias de um Operador Logístico, focar em sua atividade fim, conseguindo, assim, ganhos de eficiência e redução de custos.
E o diretor Comercial da TDB Transporte e Distribuição conclui destacando que, na área de transportes, por conta da sazonalidade, já está bem enraizada a cultura de terceirização – não é viável ao embarcador manter estrutura ociosa em período de baixa.
Com a palava, o embarcador
A Marppel Indústria e Comércio é uma empresa de injeção plástica que atua em diversos segmentos, como automação bancária e comercial, hospitalar, construção civil e brinquedos.
“Dentro do segmento de brinquedos temos uma linha de aproximadamente 50 produtos que são destinados a crianças de várias idades, sendo os principais o Super Parking, Fantastic Parking, Corpo de Bombeiros, Super Escavador, Pega Bebê, Kit de Blocos de Montagem e o Fantastic Trem”, diz Sérgio A. B. Canto, supervisor de Logística da Marppel e da Maptoy Distribuidora de Produtos.
Ele lembra que a logística da empresa utiliza uma frota própria para a distribuição dentro do Estado de São Paulo até um raio de 200 km do CD, e que para as demais localidades são empregados transportadores terceirizados com fretes CIF e, principalmente, com fretes FOB, representando cerca de 70% dos fretes. “Nossa operação utiliza 100% modal rodoviário para a distribuição dos produtos. E utilizamos cerca de três veículos diariamente para a distribuição de nossos produtos que estão disponíveis em mais de 850 pontos de venda espalhados por todo o território nacional.”
Sérgio também destaca que a empresa possui um CD de aproximadamente 1.000 m², com cerca de 300 posições-paletes, localizado ao lado do Shopping Internacional de Guarulhos, próximo às Rodovias Fernão Dias e Presidente Dutra, em uma localização bastante estratégica para o escoamento da produção.
Logística diversificada – Antes de falar da logística da empresa, o supervisor de Logística da Marppel destaca que estão há mais de 30 anos no mercado, atendendo diversos segmentos, como telefonia, automação bancária e comercial, hospitalar e elevadores. “Em 2007 entramos para o segmento de brinquedos lançando uma linha de apenas cinco produtos em plástico injetado. Naquela ocasião, o desafio de fabricar e distribuir nosso próprio produto foi muito grande, pois não tínhamos nenhuma experiência nesse segmento, mas aproveitamos uma boa oportunidade que surgiu. Com o passar dos anos aperfeiçoamos nossos processos internos e adequamos a logística para a distribuição, e hoje nossos produtos estão em cerca de 300 pontos de venda em todo o território nacional.”
Para que a empresa pudesse chegar a esta atuação, muitos processos logísticos tiveram que ser realizados: foram criadas padronização nas embalagens, além de um CD, bem como realizadas melhorias na movimentação interna de materiais, adquiridos novos veículos para a distribuição, implantado um ERP para otimizar o fluxo das informações e contratados profissionais voltados para a logística.
Na verdade, na Marppel são usadas várias soluções logísticas, como as citadas a seguir:
• Logística reversa de embalagens: Grande parte dos clientes é de pequenos varejistas que compram pouca quantidade com mais frequência, com isso semanalmente os veículos da fabricante visitam esses clientes e trazem de volta as caixas de papelão utilizadas no transporte dos produtos, evitando que sejam jogadas no lixo. Essa ação gera uma boa economia para a empresa, que reduziu a compra de caixas novas, além de contribuir com a preservação do meio ambiente.
• Terceirização de parte da distribuição: A distribuição dos produtos está dividida em 70% FOB e 30% CIF, ou seja, a maior parte dos produtos distribuídos pela empresa é realizada pelos parceiros de transporte de seus clientes. Quanto aos fretes CIF, cerca de 25% são realizados por transportadores contratados e o restante é realizado com frota própria, devido à maior concentração de clientes estar em São Paulo.
• Gestão integrada: A Marppel é uma empresa de pequeno porte e sua estrutura operacional é pequena, portanto, os recursos disponíveis para a execução do processo são bastante limitados. Dessa forma, os processos logísticos e as ações gerenciais e operacionais da empresa funcionam de maneira coordenada, favorecendo a simplificação das tarefas e o aumento da produtividade e visando a redução do volume de compras e dos estoques, tornando a produção e a distribuição mais dinâmicas, aliviando, assim, o fluxo de caixa.
• Mapeamento dos processos: Os processos logísticos são constantemente analisados para identificar possíveis falhas. Isso faz com que possam ser melhorados, corrigindo ou eliminando etapas desnecessárias que porventura estejam sendo executadas sem agregar valor ao processo. O mapeamento ajuda na otimização do fluxo do processo, tornando-o mais eficiente.
• Acompanhamento de indicadores: O processo logístico é monitorado por meio de indicadores de desempenho. Usam OTD (Percentual de pedidos que foram entregues dentro do prazo), OTC (Tempo total gasto entre os processos de recebimento do pedido e a entrega ao cliente), Custo do transporte em relação ao valor da venda (Percentual de frete sobre a venda), Giro de estoque (Indica a movimentação do estoque e quais são os produtos que mais saem do estoque) e Ocorrências (Indica o percentual de não conformidades na entrega em relação ao total de pedidos entregues).
• Investimento em tecnologia: Recentemente a empresa investiu em um novo ERP, mais robusto e que atende todas as demandas que os processos logísticos necessitam, integrando algumas atividades que no passado geravam retrabalhos dentro do fluxo de operações. Com isso foi possível otimizar o tempo de algumas atividades, deixando o processo mais ágil, reduzindo o lead time total. E também houve ganhos em qualidade nas informações necessárias para a tomada de decisões.
Desafios – Sérgio aponta também os maiores desafios logísticos enfrentados pela empresa, destacando que, neste segmento, existe um fator de sazonalidade muito acentuado no segundo semestre – a produção precisaria iniciar a montagem meses antes para garantir o abastecimento dos pontos de venda e atender toda a demanda dentro dos prazos estipulados, porém os brinquedos produzidos são grandes e necessitam de uma boa área para armazenamento, enquanto o CD é relativamente pequeno para essa operação. “Sendo assim, se trabalhássemos dessa forma não haveria espaço suficiente para armazenamento, movimentação e separação dos pedidos, e além disso temos a questão do enorme valor financeiro empenhado nessa operação, onde grande parte ficaria parada até o segundo semestre, sobrecarregando o fluxo de caixa da empresa.”
O enfrentamento desse desafio é diário – prossegue o supervisor de Logística –, pois a empresa optou por fazer um estoque estratégico com quantidade bem reduzida e uma produção extremamente dinâmica, produzindo lotes pequenos para atendimento das demandas diárias. As linhas de montagem são configuradas por tipos de produtos, de forma que possam mudar rapidamente de um produto para outro, fazendo lotes menores com maior frequência.
“Com isso, temos diariamente diversos pedidos prontos para serem distribuídos e por isso a logística precisa ser bastante eficiente. Dessa forma conseguimos atender as demandas com um lead time de até 7 dias, que é um prazo bem satisfatório para nossos clientes. Os produtos não ficam armazenados por muito tempo, e em alguns casos saem direto para a distribuição. Reduzimos bastante o volume de materiais comprados, evitando a sobrecarga do fluxo de caixa e melhorando o trânsito de materiais dentro do CD.”
Sérgio também revela a tecnologia da informação é uma aliada das operações logísticas dentro do setor, tanto na armazenagem quanto na distribuição. O controle das operações é extremamente importante para garantir um nível de serviço elevado, com isso a organização e agilidade no processamento dessas informações são vitais, tanto para embarcadores quanto para transportadores. “Na armazenagem podemos citar os sistemas WMS e a tecnologia RFID que auxiliam na localização, acuracidade dos estoques e inventários, já na distribuição o Cross Docking é muito utilizado, e a otimização e concentração das entregas com aplicativos de roteirização inteligente auxiliam muito na competitividade do segmento.”
Quarentena – Antes da pandemia, a Marppel atendia somente grandes redes e pequenos varejistas. Durante a quarentena, a empresa teve um aumento das vendas, principalmente para clientes de e-commerce, o que fez com que ampliasse a capacidade de transporte, adquirindo um veículo maior, a fim de otimizar a roteirização e ampliar o atendimento diário de clientes. Além disso, observando o crescimento do e-commerce, a empresa está abrindo sua própria loja virtual, ampliando o canal de vendas, e agora atenderá também os consumidores finais.
“Acredito que jamais seremos os mesmos diante de tudo isso que está acontecendo. A aderência à utilização da tecnologia já estava crescendo e se tornando indispensável para nossa vida antes mesmo da pandemia, agora muitos que possuíam estruturas físicas estão migrando para o mundo virtual e com isso a logística se torna fundamental para o sucesso desses novos negócios em um caminho sem volta, a meu ver.”