Negligência na amarração de cargas aumenta riscos no transporte rodoviário, alerta especialista da Acro Cabos

A amarração de cargas no transporte rodoviário brasileiro continua sendo um ponto crítico para a segurança no transporte. A negligência nesse aspecto representa risco permanente nas estradas, segundo o engenheiro Fernando Fuertes, desenvolvedor de novos negócios da Acro Cabos, empresa especializada em equipamentos para elevação, amarração e movimentação de cargas. Entre os principais fatores apontados estão a falta de capacitação de motoristas, a ausência de inspeções periódicas e a cultura do improviso.

“O cenário no país é muito preocupante, porque são poucas as transportadoras que dão a devida atenção a esse aspecto do transporte de cargas”, afirma Fuertes. “É visível que falta desde conhecimento técnico até uma gestão mínima dos equipamentos de amarração e fixação, que muitas vezes estão completamente fora das normas de segurança. Isso inclui uso inadequado, desgaste excessivo e até remendos improvisados.”

Negligência na amarração de cargas aumenta riscos no transporte rodoviário brasileiro, alerta especialista da Acro Cabos

Amarração de cargas e acidentes rodoviários

Dados da Polícia Rodoviária Federal mostram que, em 2024, ocorreram 73.156 acidentes em rodovias federais, resultando em 6.160 mortes. Veículos de carga estiveram envolvidos em 25,3% dos casos, mas concentraram 46,8% dos óbitos. Embora não haja estatísticas nacionais específicas sobre a influência da amarração de carga nesses números, a Comissão Europeia estima que cerca de 25% dos acidentes com caminhões resultam de mau acondicionamento do volume transportado.

Fuertes, que atua há mais de 17 anos como especialista, explica que existe uma transferência de responsabilidade para o condutor após o carregamento, tornando-o o único responsável pela amarração. “Muitos desses profissionais não receberam a capacitação técnica adequada para aplicar princípios como distribuição de peso, inspeção dos equipamentos, planejamento e avaliação dos pontos de ancoragem na carroceria e programação de reaperto do tensionamento ao longo do trajeto”, exemplifica.

Cultura do improviso e riscos invisíveis

A cultura do improviso agrava o problema. São comuns situações em que cintas rompidas são reparadas com nós, o que reduz em mais de 50% a capacidade de carga, ou remendadas com costuras, em desacordo com as normas. “Já fizemos inspeções nas quais das 40 cintas de amarração que compunham o conjunto de um caminhão, 38 deveriam estar condenadas”, relata Fuertes.

O fenômeno da “normalização do desvio” também contribui. Decisões fora do procedimento, quando não resultam em acidentes imediatos, passam a ser vistas como seguras, reforçando práticas arriscadas que acabam incorporadas à rotina.

Papel das seguradoras e embarcadores

Segundo o especialista, seguradoras e embarcadores têm se mostrado mais atentos aos riscos da amarração de cargas do que muitas transportadoras. “As seguradoras já têm uma visão clara dos riscos que a amarração de carga fora do padrão representa e, com o objetivo de prevenir perdas com sinistros, têm investido no desenvolvimento de ações para identificar melhorias em seus clientes”, destaca. Embarcadores também buscam treinamentos e manuais práticos para reduzir prejuízos e proteger suas mercadorias.

Normas do Contran e manutenção preventiva

A Resolução nº 945/2022 do Contran estabelece requisitos mínimos de segurança, como a proibição do uso de cordas (exceto para fixar lonas), a exigência de cintas, correntes ou cabos de aço com fator de segurança equivalente ao dobro do peso da carga e a obrigatoriedade de reaperto periódico durante o trajeto.

Para Fuertes, no entanto, seguir apenas a norma não é suficiente. Ele defende que os equipamentos de amarração sejam incluídos na programação de manutenção preventiva, com a mesma importância atribuída a pneus e freios. “É preciso que se desenvolva uma cultura de segurança, de inspeções preventivas, de avaliação de riscos e de disseminação de conhecimento técnico básico. A amarração de cargas ineficiente tem sido por anos um risco ignorado, quase invisível, mas que com pouco investimento pode reduzir acidentes e perdas. Basta criar conscientização em toda a cadeia do transporte rodoviário”, conclui.

Compartilhe:
615x430 Savoy julho 2025
Veja também em Transporte rodoviário
Sem Parar Empresas lança ferramenta de consulta em lote para o IPVA 2026 com parcelamento em até 12 vezes
Sem Parar Empresas lança ferramenta de consulta em lote para o IPVA 2026 com parcelamento em até 12 vezes
Raízen amplia programas de excelência operacional no transporte de cana e colheita
Raízen amplia programas de excelência operacional no transporte de cana e colheita
Pesquisa revela avanço na conscientização dos caminhoneiros e maior identificação de exploração sexual nas estradas
Pesquisa revela avanço na conscientização dos caminhoneiros e maior identificação de exploração sexual nas estradas
Prêmio NTC destaca os melhores fornecedores do transporte rodoviário de cargas do Brasil em 2025
Prêmio NTC destaca os melhores fornecedores do transporte rodoviário de cargas do Brasil em 2025
Concessões de rodovias em 2026 somam R$ 158 bilhões e ampliam segurança nas estradas, analisa Sinaceg
Concessões de rodovias em 2026 somam R$ 158 bilhões e ampliam segurança nas estradas, analisa Sinaceg
Mercedes-Benz do Brasil e Grupo Tombini lançam projeto de valorização de motoristas
Mercedes-Benz e Grupo Tombini lançam projeto de valorização de motoristas

As mais lidas

01

Sem Parar Empresas lança ferramenta de consulta em lote para o IPVA 2026 com parcelamento em até 12 vezes
Sem Parar Empresas lança ferramenta de consulta em lote para o IPVA 2026 com parcelamento em até 12 vezes

02

Label & Pack Expo estreia em 2026 e reúne tecnologias para embalagens industriais, automação e rastreabilidade
Label & Pack Expo estreia em 2026 e reúne tecnologias para embalagens industriais, automação e rastreabilidade

03

Fórmula E emprega tecnologia de ponta para os carros rodarem. E a ABB faz parte deste universo
Fórmula E emprega tecnologia de ponta para os carros rodarem. E a ABB faz parte deste universo