Apesar dos indicadores econômicos positivos que vêm sendo divulgados desde o início do ano, a verdade é que, em termos de consumo, a retomada continua lenta. Ou seja, podemos considerar que o pior da crise já passou, mas muitos setores produtivos continuam a sofrer os seus efeitos.
“Hoje, a logística enfrenta os problemas da crise, com certeza. Com a desaceleração do consumo, o pequeno varejo mercearil passou a comprar menos e com mais frequência. Isso trouxe custos adicionais para a realização das entregas. Os veículos de entrega, para serem mais produtivos, precisam sempre estar bem carregados. Para que isso continuasse e viabilizasse o processo logístico, foi preciso fazer mais entregas por veículo. Por isso, hoje se trabalha mais, se produz mais para ganhar o mesmo ou até menos. Essa situação trouxe complicadores, pois em regiões de baixa venda formar uma carga passou a ser um desafio, ocasionando atrasos nas entregas ou aumento de custos quando o caminhão viaja com meia carga. Por outro lado, um caminhão com mais entregas demora mais para retornar à origem e realizar nova viagem. Em resumo, a crise trouxe custos extras, redução de rentabilidade e incremento de trabalho. Fazer mais com menos é a regra.”
Esta análise da logística nos segmentos de Alimentos e Bebidas nos dias hoje é feita por Emerson Luiz Destro, presidente da ABAD – Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Fone: 11 3056.7500) para o biênio 2017-2018. Ele também atua como empresário do setor, sendo diretor geral do Destro MacroAtacado.
Sobre as tendências nestes segmentos, em termos de logística, considerando as questões econômicas e de mercado, Destro acredita que a terceirização é uma opção. “Claro que cada empresa deve analisar seus custos e comparar com os serviços de terceiros. Mas, em tempos de crise, pode ser uma saída para ter ganho de escala e manter a qualidade do serviço. Existem também opções sendo desenvolvidas no mercado para atender a essa demanda, como o modelo UBER. Acredito que em um futuro próximo essa possa ser uma solução rápida e barata. Contudo, existem riscos que precisam ser mitigados, como a questão da segurança caso a carga seja roubada, por exemplo”, aponta o presidente da ABAD.
Diferenciais e desafios
Destro também revela os diferenciais da logística nos segmentos de Alimentos & Bebidas em relação à de outros segmentos, Segundo ele, é uma logística dedicada. O caminhão sai da empresa carregado, entregando pelo caminho, e volta vazio. A agilidade no retorno para fazer nova carga/viagem é que traz o ganho de escala e produtividade para esse segmento. Normalmente, as rotas são fixas: o motorista toda semana faz entregas nos mesmos clientes. Isso aproxima a empresa do cliente e exige melhor qualidade no trabalho dos profissionais de entrega. Um boa entrega ajuda a vender mais.
Por outro lado, ainda de acordo com o presidente da ABAD, os maiores desafios logísticos enfrentados para operar nestes dois segmentos, de um modo geral, incluem: a gestão de custos (combustível, pedágios, seguros etc.), a segurança, a falta de linhas de crédito viáveis para renovação de frota e infraestrutura em geral.
A crise fez com que as empresas baixassem suas margens para manter sua frota em operação. Mesmo assim, nem todas conseguiram, muitas acabaram fechando. Os custos operacionais aumentam dia a dia, e o cliente/consumidor não está disposto a pagar esse preço. Isso dificulta a gestão do negócio. Com essa situação de custos em alta e rentabilidade em baixa, a frota está envelhecendo e o grande desafio é como renová-la. Sem lucro ou lucro baixo, as transportadoras precisam de linhas de crédito viáveis para realizar a renovação de suas frotas.
“Por fim, a questão da infraestrutura abrange desde a qualidade das estradas até os locais de parada, entre outros aspectos. O Brasil precisa investir em infraestrutura urgentemente. Este é um gargalo importantíssimo, que contribui enormemente para sermos o eterno ‘país do futuro’”.
Destro também ressalta que os produtos considerados perigosos e as exigências regulatórias envolvidas no transporte desses produtos também causam grandes dificuldades para a logística.
Vamos imaginar uma carga contendo produtos variados para diversos mercados de vizinhança – em uma carga de 6 toneladas, chega-se a levar entregas para 25 clientes, com aproximadamente 400 itens diferentes. Se os produtos não forem acondicionados conforme as normas, tudo pode ser apreendido e a empresa pode receber diversas multas. “Um desodorante em aerossol (considerado produto perigoso) junto com uma caixa de achocolatado, por exemplo, não pode. No carrinho do consumidor no supermercado pode, mas no caminhão de entregas, não…”
O presidente da ABAD também lembra que há ainda outras situações que ferem igualmente o bom senso: atualmente, não é permitido que se faça o transporte de uma embalagem de produto para consumo humano e o produto que será utilizado nessa mesma embalagem sem que haja separação por cofre, mesmo sabendo que, no destino final, o produto e a embalagem estarão juntos. Exemplo prático: a legislação entende que se deve segregar um sabonete líquido e seu “dispenser” (saboneteira); porém, ambos se tornarão um conjunto unificado quando na sua destinação final.
“É imperativo adequar essas normas à realidade. Normas regulatórias que geram custos adicionais para o prestador de serviço e afetam o preço dos produtos, sem fazer sentido quanto à proteção da saúde e segurança das pessoas, precisam ser ajustadas.”
Ações da ABD
Finalizando, Destro relaciona as ações da ABD que têm a logística como foco:
• Atuação política junto a órgãos do Poder Executivo e à Frente Parlamentar Mista em Defesa do Comércio, Serviços e Empreendedorismo, no sentido de aprovar alterações na legislação e em outros textos normativos que proporcionem maior racionalidade operacional e redução de custos de armazenagem e transporte de produtos. “Concretamente, temos buscado a aprovação de alterações no Decreto Federal nº 96.044/88 e nas Resoluções ANTT nº 3.665/11 e nº 420/04, em relação ao transporte de produtos perigosos”;
• “Defendemos, ainda no âmbito legislativo, a inclusão de equipamentos estacionários (que não possuem mecanismos eletromecânicos) entre os itens financiáveis pelo Finame, como é o caso das gôndolas dos supermercados e outros equipamentos fixos utilizados nos estabelecimentos dos setores de comércio e serviços, como paleteiras, expositores de madeira, estrutura portapaletes, etc.”;
• Oferta, por meio da Central de Negócios ABAD, de produtos e serviços voltados à logística, com preços e condições especiais (empilhadeiras, caminhões, combustíveis, pneus, embalagens etc.);
• Aproximação dos associados com fornecedores de produtos e serviços voltados à logística durante os eventos de relacionamento e negócios promovidos pela entidade.