Aeroportos sob pressão: os desafios e oportunidades no transporte de cargas gerais e farmacêuticas no Brasil

Como os aeroportos brasileiros podem superar gargalos de infraestrutura, modernizar a logística e integrar modais para se tornarem hubs globais no transporte de cargas gerais e farmacêuticas, com segurança, eficiência e compliance regulatório?

Enquanto o transporte aéreo de cargas ganha relevância estratégica em meio ao avanço do comércio global e à crescente demanda por agilidade logística, os aeroportos brasileiros ainda enfrentam entraves estruturais, operacionais e regulatórios que limitam sua plena eficiência. De um lado, o setor luta para superar gargalos históricos no escoamento de cargas gerais; de outro, cresce a exigência por infraestrutura altamente especializada para o manuseio de produtos sensíveis, como os farmacêuticos.

A integração entre modais, o uso de tecnologias inovadoras, a capacitação de equipes e a cooperação entre os agentes da cadeia logística tornam-se fatores cruciais para transformar os terminais brasileiros em hubs competitivos e seguros – capazes de atender tanto à complexidade das mercadorias convencionais quanto às exigências rigorosas do setor da saúde.

Como os aeroportos brasileiros podem superar gargalos de infraestrutura, modernizar a logística e integrar modais para se tornarem hubs globais no transporte de cargas gerais e farmacêuticas, com segurança, eficiência e compliance regulatório?

Desafios

O transporte aéreo de cargas no Brasil continua enfrentando desafios históricos que comprometem significativamente sua eficiência e competitividade. A infraestrutura aeroportuária é, em muitos casos, obsoleta e mal equipada para lidar com o crescimento da demanda, principalmente de cargas especiais, como produtos farmacêuticos.

“A existência de armazéns exclusivos operados por agentes logísticos únicos cria um ambiente monopolizado que limita a concorrência, eleva os custos e reduz a flexibilidade operacional, um modelo ultrapassado que precisa ser substituído com urgência por estruturas mais transparentes e competitivas. Como exemplo, remessas de importação estão sujeitas a taxas de manuseio e armazenagem que não têm relação proporcional com o valor dos serviços prestados, elevando os custos de forma desnecessária e diminuindo a competitividade do transporte aéreo.”

Esta avaliação dos principais desafios de infraestrutura que os aeroportos brasileiros enfrentam para otimizar o transporte de cargas é feita Marcelo Pedroso, diretor de Relações Externas da IATA, Associação que, segundo ele, defende a implantação de terminais de carga modulares e escaláveis, a digitalização dos processos e parcerias público-privadas para a melhoria da infraestrutura.

“Os aeroportos ainda carecem de mais investimentos em processos e estruturas para atender a demanda de cargas nacionais e internacionais. Nos períodos de alta demanda é comum haver gargalos para embarcar carga, o que gera atrasos e, consequentemente, custos extras em toda a cadeia”, acrescenta Carlos Buran, CEO da Temp Log.

Por outro lado, Otávio Meneguette, diretor da LATAM Cargo Brasil, diz que a sua empresa vê nos últimos anos que os aeroportos têm um olhar mais atento ao desenvolvimento de oportunidades de negócio e receitas complementares à atividade principal, o transporte de passageiros. Nesse contexto, os desafios de infraestrutura existentes envolvem a modernização de áreas de terminais, maior eficiência em acessos ou pátios para atender picos de operações e o cuidado com a segurança sob uma análise mais estrutural.

“Os desafios na logística aérea são constantes, principalmente no que tange à gestão de capacidade e eficiência quando falamos do terminal de carga, onde a urgência é fator decisivo para o modal”, completa Leandro Lopes, gerente Comercial da RIOgaleão Cargo.

Tecnologia e inovação

Apesar de alguns avanços, como a implementação do CXML (Commerce eXtensible Markup Language), protocolo baseado em XML desenvolvido para facilitar transações eletrônicas entre empresas (B2B), especialmente no contexto de compras eletrônicas (e-procurement), e de automações, o déficit digital entre os diferentes atores da cadeia logística continua sendo um problema crítico, diz Pedroso, da IATA. A falta de sistemas integrados entre operadores, terminais e órgãos reguladores compromete a rastreabilidade e a segurança operacional. No caso de cargas farmacêuticas, isso representa um risco sério à integridade dos produtos e à confiança dos clientes.

A IATA promove a adoção de tecnologias e inovações digitais por meio de iniciativas como o e-freight, ONE Record e Cargo iQ. “Essas iniciativas, aliadas à aplicação de padrões internacionais e melhores práticas, permitirão maior eficiência e processos mais ágeis para liberação de mercadorias em toda a cadeia logística.”

Também abordando a questão de como a tecnologia e a inovação estão sendo aplicadas para melhorar a eficiência e a segurança no manuseio e transporte de cargas gerais nos aeroportos, Geovane Medina, gestor Comercial do BH Airport, lembra que tecnologia é o grande motor da transformação logística.

Ferramentas como o WMS modernizam o controle e o armazenamento de cargas, reduzindo erros e aumentando a eficiência. Big data e sistemas de monitoramento geram inteligência para tomada de decisão e acompanhamento de desempenho em tempo real. A integração entre diferentes modais – especialmente rodoviário e aéreo – também se destaca como um pilar essencial, principalmente em estados sem acesso marítimo direto, como Minas Gerais. “Além da eficiência, essas inovações elevam a segurança e proporcionam uma experiência muito mais ágil, transparente e confiável para os clientes.”

Numa visão diferenciada, Ricardo Canteras, diretor Comercial e de Tecnologia da Temp Log, diz que o maior desafio das companhias aéreas está no planejamento dos voos e na alocação mais eficiente de carga em suas aeronaves devido à alta sazonalidade geral no mercado. “A utilização de tecnologias com inteligência artificial que usam algoritmos para simular a melhor alocação nos voos pode ajudar a otimizar o tempo de embarque e, por consequência, diminuir o volume de carga que fica ‘cortada’ em solo.”

Além disso, sistemas com maior rastreabilidade podem auxiliar toda a cadeia a saber o real “status” de cada minuta embarcada, o que ainda é um desafio, pois muitas vezes a real localização não condiz com o status do sistema.

A LATAM Cargo cada vez mais tem buscado soluções que tragam valor e eficiência aos seus clientes e suas operações. “Investimos em um novo sistema para nossa operação e, desde 2023, a LATAM Cargo conta com a plataforma ONLINE SERVICES by Croamis em operação no mercado doméstico do Brasil. Com ela, os clientes têm acesso a uma plataforma robusta que oferece mais ferramentas de autogestão. Já no último ano, foi apresentado ao mercado o novo portfólio de produtos da LATAM Cargo para voos domésticos no Brasil. Com quatro novos serviços (Reservado, Veloz, Estândar e éFácil) e a possibilidade de combinação com cuidados específicos, a companhia passou a oferecer mais opções e uma melhor experiência aos seus clientes que precisam transportar mercadorias dentro do País de acordo com suas necessidades”, explica Meneguette.

Em 2024, o RIOgaleão ampliou sua infraestrutura com a criação da primeira área alfandegada dedicada às remessas expressas, projetada para atender grandes operadores de e-commerce internacionais. O espaço conta com equipamentos de raio-x, portapaletes, áreas de inspeção para órgãos fiscalizadores e sistemas de controle compatíveis com os requisitos do programa Remessa Conforme. Além disso, a concessionária desenvolveu um processo customizado para o novo cliente, com treinamentos específicos para a equipe e adequações operacionais e legais.

“Em 2023, fomos referência na implementação do novo sistema de controle de carga e trânsito da Receita Federal do Brasil, que visa otimizar os processos e facilitar o comércio exterior. Fomos reconhecidos, inclusive, pela Organização Mundial das Aduanas pela implementação sem grandes impactos a clientes e cias aéreas. Essa conquista somente foi possível pela integração dos sistemas de gerenciamento de armazéns interno do RIOgaleão direto com APIs da RFB, além de equipe amplamente treinada nos processos do novo sistema. Os avanços anuais em melhorias contínuas se somam aos investimentos do terminal em eficiência, refletidos na redução de 9% no tempo médio de permanência da carga, que passou a ser de 31 horas e 5 minutos no último ano”, também comenta Lopes.

Diferentes modais

A falta de integração entre os modais de transporte, somada à precariedade da infraestrutura rodoviária, cria gargalos no fluxo de cargas de e para os aeroportos. Além disso, destaca Pedroso, da IATA, ações frequentes dos principais órgãos públicos, como Alfândega, Agricultura e Saúde, atrasam o desembaraço aduaneiro e prejudicam as operações de importação em todo o país. “Isso anula a vantagem do modal aéreo em termos de tempo, inviabiliza o conceito de just in time e obriga a indústria a manter estoques elevados, com aumento dos custos de capital.”

É possível melhorar esse cenário com a adoção de processos digitais baseados em padrões internacionais, como o One Record, para compartilhamento de dados em tempo real entre os diversos atores. “A IATA incentiva a cooperação governamental e o planejamento integrado para uma logística de carga ponta a ponta mais eficiente.”

Também focando o papel dos diferentes modais de transporte na conexão com os aeroportos para o escoamento de cargas e como essa integração pode ser aprimorada, Medina, do BH Airport, apresenta outra visão. Para ele, a integração modal é decisiva para acelerar o fluxo logístico e reduzir custos. Em estados como Minas Gerais, sem acesso a portos marítimos, a conexão eficiente entre modais rodoviário, aéreo e ferroviário amplia a competitividade das cadeias produtivas. Essa integração reduz o tempo de entrega (lead time), facilita o desembaraço aduaneiro e fortalece o papel dos aeroportos como hubs logísticos. Para aprimorar esse processo, é fundamental investir em infraestrutura intermodal, digitalização das operações e parcerias estratégicas com Operadores Logísticos, acredita o gestor Comercial do BH Airport.

“Os meios de transporte aéreo e rodoviário fazem parte da cadeia de distribuição de cargas. O transporte aéreo é fundamental para cargas urgentes e o rodoviário é fundamental para o escoamento de mercadorias dentro do território nacional, onde alguns acessos são mais difíceis de se alcançar”, acrescenta Priscilla Morroni Fortes, Air Product Coordinator da Allog.

“Nosso negócio funciona a partir da complementaridade entre modais, e nesse aspecto, combinamos de maneira muito eficiente com o rodoviário ou marítimo, que a depender da urgência e do valor agregado em sua cadeia, viabiliza o uso do transporte aéreo”, diz, agora, Meneguette, da LATAM Cargo Brasil.

Por sua vez, Lopes, da RIOgaleão Cargo, destaca que o modal aéreo é o mais ágil na conexão de cargas e por isso é o mais utilizado quando tratamos de cargas urgentes e sensíveis, como o caso de cargas de temperatura controlada. De acordo com ele, o escoamento dessas cargas que entram no país pelo modal aéreo se dá de maneira prioritária, seja via rodoviária para a entrega direta ao usuário final, ou até em conexão via voos domésticos abastecendo outros aeroportos que não possuem malha internacional relevante para o recebimento direto.

“Um país como o nosso precisa de diversos modais para chegar à última milha, especialmente nas operações mais centralizadas. Uma operação com modais integrados pode ser tão eficiente quanto a baseada em Centros de Distribuição. Vejo bastante oportunidade na integração entre sistemas e informações em geral para lidar mais rapidamente com os imprevistos operacionais e, também, com o alinhamento de processos entre os players da cadeia”, completa Buran, da Temp Log.

Entraves regulatórios ou burocráticos

O excesso de burocracia e a sobreposição de exigências entre diferentes órgãos reguladores – como Receita Federal, Anvisa e Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) – tornam o processo de importação e exportação lento, confuso e custoso. A comunicação ineficiente entre essas entidades agrava os atrasos e gera incertezas operacionais. Além disso, o sistema tributário brasileiro, complexo e não padronizado entre os estados, impõe obstáculos adicionais às empresas.

Outro fator crítico apontado por Medina, do BH Airport – com relação aos entreves regulatórios ou burocráticos que impactam o transporte de cargas nos aeroportos brasileiros – é a falta de integração e preparo de transportadores e agentes de carga, que muitas vezes desconhecem os procedimentos aduaneiros e, sem saber, travam o fluxo logístico. A ausência de visibilidade em tempo real das cargas destinadas ao recinto alfandegado compromete o planejamento, a alocação de recursos e a eficiência no armazenamento – comprometendo toda a cadeia.

Também para Priscilla, da Allog, um dos maiores entraves atualmente é a complexidade dos processos aduaneiros. O excesso de documentação exigida e a burocracia nas liberações de carga geram atrasos e aumentam os custos operacionais. “Além disso, ainda vivemos na ‘operação padrão’, onde não temos acesso diário aos fiscais para liberação de cargas urgentes, aumentando custos e atrasando a retirada da carga dos aeroportos.” 

Já o diretor da LATAM Cargo Brasil vê um avanço nos processos de forma geral, como a integração cada vez maior do cte e/ou no caso do internacional, com a implementação do Portal Único. “Por outro lado, a complexidade tributária comparativa entre modais ou federações influencia e muitas vezes inibe o uso do transporte aéreo como opção para alguns mercados ou inclusive aeroportos, pela morosidade ou complexidade documental para desembaraço ou liberação da carga para entrega ao cliente final.”

Lilian Françoso, gerente de Cargas da Motiva Aeroportos (novo nome da CCR Aeroportos), lembra que já estão em curso diversas ações de melhoria por parte do Governo Brasileiro, através dos Órgãos Reguladores, como a iniciativa da Receita Federal na implementação do sistema de Controle de Carga e Trânsito e a descentralização e atendimento remoto na inspeção de cargas pelos Órgãos Anuentes. “Estas iniciativas, entre outras, resultaram na redução do tempo de processamento das cargas nos aeroportos, mostrando que a simplificação e harmonização regulatória e a colaboração público-privada são fatores que trazem benefícios importantes para a sociedade”, celebra a gerente de Cargas.

Competitividade

Para aumentar sua competitividade no cenário internacional do transporte de cargas gerais, os aeroportos precisam investir em infraestrutura moderna, com terminais de carga eficientes e soluções tecnológicas para otimizar o processo logístico, aponta Priscilla, da Allog. Para ela, a redução de custos operacionais e o alinhamento com padrões internacionais de segurança e qualidade também são importantes. A implementação de hubs regionais para cargas específicas, como as farmacêuticas, pode ajudar os aeroportos a se destacar no mercado.

Já para Geovane, do BH Airport, para ganhar relevância global, os aeroportos brasileiros precisam colocar o cliente no centro da operação. Isso exige investir em uma jornada de carga fluida, previsível e confiável. Agilidade e clareza na comunicação com todos os agentes da cadeia logística, atendimento personalizado e foco na experiência do cliente são diferenciais que fidelizam e atraem novos parceiros. Outro passo essencial é revisar a estrutura tarifária, tornando os serviços aeroportuários mais competitivos frente aos hubs internacionais. Por fim, lembra o gestor Comercial do BH Airport, a adoção de tecnologias e automação também tem um forte potencial para transformar eficiência operacional em vantagem estratégica.

A verdade é que o processo de concessão de aeroportos acelerou a realização de investimentos na modernização de infraestrutura e tecnologia, pontos fundamentais para aumento de eficiência e redução de custos que são palavras de ordem dentro das Indústrias, lembra, agora, Lilian, da Motiva Aeroportos.

Além disso, afirma, o estabelecimento de parcerias colaborativas para desenvolvimento de novas rotas aéreas e o diálogo aberto entre os setores públicos e privado geram oportunidades para o aumento da competitividade.

Cargas farmacêuticas

O transporte de cargas farmacêuticas sensíveis à temperatura e ao tempo tem ganhado protagonismo nos aeroportos brasileiros, exigindo um novo patamar de excelência em infraestrutura, processos e atendimento.

Mas, também aqui, há requisitos específicos e dificuldades logísticas no transporte destas cargas.

Entre os principais desafios, na visão de Aline Trindade Bufalieri, farmacêutica da Aeroportos Brasil Viracopos, estão o controle rigoroso de temperatura, a rastreabilidade em tempo real, a agilidade no desembaraço aduaneiro e a minimização do tempo de exposição dentro da cadeia de frio – fatores cruciais para garantir a eficácia terapêutica dos medicamentos transportados.
“As maiores dificuldades incluem infraestrutura limitada, atrasos operacionais e tempo de liberação fiscal e/ou aduaneira”, acrescenta Meneguette, da LATAM Cargo Brasil.

Na visão de Buran, da Temp Log, a maior dificuldade é no manuseio e acondicionamento de medicamentos perecíveis. “Sofremos bastante com os cortes de voos e também escalas em hubs das companhias aéreas. Sentimos falta de um processo dedicado, com estrutura de acondicionamento, tratativas e treinamento para profissionais que lidam com esse tipo de carga. Muito se perde em extravio ou manuseio incorreto nos embarques aéreos.”

Embora existam avanços pontuais em tecnologia e automação, o déficit digital entre os diversos atores da cadeia continua sendo um grande desafio, aponta, agora, Pedroso, da IATA. A ausência de sistemas integrados entre operadores, terminais e reguladores compromete a rastreabilidade e a segurança. No caso de remessas farmacêuticas, isso representa um risco sério à integridade dos produtos e à confiança dos clientes.

Segundo as Temperature Control Regulations (TCR) da IATA e a certificação CEIV Pharma, a logística farmacêutica exige:

• Controle estrito de temperatura (2–8°C, 15–25°C ou congelado);

• Monitoramento em tempo real de condições como temperatura, umidade e exposição à luz;

• Embalagens e procedimentos de manuseio especializados.

Os desafios no Brasil incluem, ainda de acordo com o diretor de Relações Externas da IATA:

• Poucas instalações certificadas com cadeia fria (CEIV Pharma) em aeroportos secundários;

• Padrões de manuseio inconsistentes entre operadores de solo;

• Atrasos na alfândega, que comprometem entregas urgentes;

• Falta de pessoal treinado para o manuseio de cargas especiais.

Não somente nos aeroportos brasileiros, mas no mundo todo, um dos fatores críticos para o setor é controlar a temperatura que a carga será exposta durante todo o processo logístico, desde as fábricas até o consumo final, lembra Lilian, da Motiva Aeroportos.

Um dos elos da cadeia fria (“Cold Chain”) são os armazéns alfandegados nas zonas primárias, que são os portos e aeroportos. Estes armazéns desempenham um papel fundamental no comércio internacional, pois são instalações em que as cargas ficam armazenadas em estruturas preparadas para atender as especificações de cada natureza e sob supervisão do fiel depositário enquanto aguardam o cumprimento das formalidades legais.

“Em Goiânia, por exemplo, temos a intenção de implementar rotas cargueiras para que as cargas possam adentrar ao país diretamente pelo Estado de Goiás, mas os processos logísticos também permitem que as cargas cheguem por outros aeroportos e sejam transferidas de caminhão ou mesmo aviões domésticos para o aeroporto de Goiânia. Sempre em veículos climatizados ou mesmo em embalagens que assegurem a qualidade do produto”, explica a gerente de Cargas da Motiva Aeroportos.

Há de se lembrar, ainda, que é a Anvisa quem delibera sobre padrões e requisitos necessários para a operação das cargas farmacêuticas. Diversidades de faixas de temperatura, controles, segregação por natureza, equipe técnica dedicada e sistemas de energia com redundância são alguns dos pré-requisitos de boas práticas para o armazenamento de produtos farmacêuticos.

“É nesse contexto que reforçamos o papel do terminal de cargas do RIOgaleão na logística de medicamentos. Nossa infraestrutura, certificada pela IATA (CEIV Pharma) e reconhecida pela ANVISA com a certificação de Boas Práticas, segue protocolos internacionais e nacionais para assegurar a integridade de cargas de temperatura controlada como insumos e medicamentos acabados. Além disso, contamos com um complexo frio dedicado, monitoramento 24/7, e uma equipe farmacêutica especializada para garantir processos confiáveis e eficientes. No RIOgaleão atuamos com pré-alertas e priorização do recebimento de cargas de temperatura controlada, redundâncias de controles e temperatura e de sistemas de energia, além de docas climatizadas, garantindo o controle de temperatura até a entrada da carga no caminhão”, acrescenta Lopes.

Integridade e segurança

A complexidade logística aumenta à medida que a carga farmacêutica exige não só precisão, mas também respostas rápidas e customizadas. Isso envolve desde a disponibilização de câmaras frias modernas e monitoradas, até a atuação de equipes treinadas em protocolos sanitários nacionais e internacionais. A integridade da carga deve ser preservada desde a chegada da aeronave até a entrega ao cliente final – e isso só é possível quando o aeroporto atua como elo confiável e preparado dentro da cadeia.

“É nesse cenário que iniciativas como o Smart Pharma, desenvolvido pelo Aeroporto Internacional de Viracopos, surgem como referência. O programa oferece um canal exclusivo para gestão operacional das cargas farmacêuticas, com atendimento personalizado, soluções integradas e foco total em agilidade e segurança. Além disso, conta com diferenciais como a proximidade física entre o pátio e o complexo frigorífico – apenas 40 metros de distância – que reduz significativamente o tempo de exposição da carga fora da cadeia controlada”, diz Aline, quando o assunto é como os aeroportos podem garantir a integridade e a segurança das cargas farmacêuticas durante o armazenamento e o transporte.

Também respondendo a esta questão, Buran, da Temp Log, acredita que desenvolvendo linhas de serviço dedicadas, com soluções de embarque, acondicionamento temporário e treinamento específico para as equipes que manuseiam esses produtos. Além de investimento em sistemas, para que as informações sejam ágeis e confiáveis.

Neste contexto, a IATA recomenda o programa CEIV Pharma (Center of Excellence for Independent Validators in Pharmaceutical Logistics), que assegura conformidade com:

• Normas de Boas Práticas de Distribuição (GDP) e da OMS;

• Infraestrutura qualificada, incluindo salas com temperatura controlada, cool dollies para ULDs e sistemas de backup;

• Processos baseados em avaliação de risco para tratar desvios e excursões;

• Áreas seguras para prevenir violação e roubo.

Segundo Pedroso, os aeroportos brasileiros podem reforçar a segurança adotando:

• A certificação CEIV Pharma por todos os elos da cadeia de valor (empresas aéreas, operadores de solo, agentes de carga);

• Programas de capacitação para garantir que o pessoal cumpra os protocolos de manuseio.

“Somos o primeiro aeroporto das Américas certificado pela IATA com o CEIV Pharma, atestando nossa excelência em logística farmacêutica.”

Além do CEIV Pharma, Lopes diz que o RIOgaleão é certificado pela ANVISA em Boas Práticas de Armazenagem, que atesta, com base nas regulamentações nacionais, a excelência dos processos relacionados ao recebimento, armazenagem e entrega de medicamentos e produtos de saúde; pelo Bureau Veritas com a ISO 9001:2015, reconhecendo a conformidade dos processos baseada na gestão da qualidade, melhoria contínua e foco no cliente; e pela RFB no programa Operador Econômico Autorizado (OEA), que estabelece requisitos para gerenciamento de riscos, com foco na segurança em toda cadeia logística, abrangendo medidas como controle de acesso, segurança física e da informação.

Hub para cargas farmacêuticas

Mas, para se tornar um hub de excelência no que se refere a cargas farmacêuticas, o investimento vai muito além da infraestrutura física. Exige capacitação contínua de pessoal, obtenção de certificações como ISO 14001 e o fortalecimento da governança sobre processos críticos. “É a soma desses esforços que permite ao aeroporto atuar de forma proativa diante de auditorias, inspeções regulatórias e exigências internacionais como a CEIV Pharma, da IATA”, diz Aline, da Aeroportos Brasil Viracopos.

Também se referindo a que nível de investimento em infraestrutura especializada e em treinamento de pessoal é necessário para que um aeroporto se torne um hub eficiente para cargas farmacêuticas, Lilian, da Motiva Aeroportos, destaca que a preparação para o recebimento de cargas farmacêuticas exige um alto nível de investimentos, tanto em infraestrutura – armazém, tecnologia – sistemas de monitoramento e controle de temperatura, processos, acesso de pessoas e gestão de cargas, como no capital intelectual, com a contratação de pessoas especializadas e treinamentos constantes. Além disso, também há um investimento para atração de voos cargueiros que são importantes no ganho de eficiência.

Diferentes elos da cadeia logística

A colaboração entre os diferentes elos da cadeia logística – aeroportos, companhias aéreas, agentes de cargas, farmacêuticas – é fundamental para o sucesso do transporte de cargas farmacêuticas. Mas, para otimizar esse processo, lembra Priscilla, da Allog, é necessário estreitar a comunicação e a troca de informações entre os elos da cadeia logística. Esse acompanhamento é importante para minimizar os riscos de avarias ou extravio.

“Nenhuma estratégia é eficaz sem colaboração. A sinergia entre aeroporto, companhias aéreas, agentes de carga e indústrias farmacêuticas é essencial para mitigar riscos e melhorar a previsibilidade da cadeia. Plataformas colaborativas, troca de dados em tempo real e reuniões de governança operacional são algumas das ferramentas que vêm sendo utilizadas para fortalecer essa integração”, acrescenta Aline, da Aeroportos Brasil Viracopos.

O fato de a excelência no transporte de cargas farmacêuticas exigir alinhamento absoluto entre todos os elos da cadeia também é ressaltado por Medina, do BH Airport. A base para isso é uma comunicação fluida, transparente e em tempo real. É imprescindível que todos compreendam as exigências específicas dessas cargas – como controle rigoroso de temperatura e manuseio técnico – e atuem em sintonia para garantir a integridade dos produtos. Além disso, diz o gestor Comercial, a padronização de processos e o cumprimento de boas práticas de armazenagem, com certificações exigidas por órgãos como a Anvisa, asseguram qualidade e confiança. Fortalecer essa colaboração significa garantir medicamentos e insumos vitais com mais agilidade e segurança para a população.

“Dada a natureza do nosso transporte, combinado com a sensibilidade desse tipo de carga, é importante reforçar que quanto maior o tempo de transporte investido, maior será o custo nos movimentos (manuseio da carga, armazenagem, separação, recondicionamento) e risco da perecibilidade da carga. Por isso, trabalhar de maneira cada vez mais integrada, e com processos mais simples e ágeis, naturalmente trará benefícios direto à nossa sociedade, pois um menor custo e uma maior qualidade serão agregados à cadeia”, comenta Meneguette, da LATAM Cargo Brasil.

Perspectivas

As perspectivas de crescimento do transporte aéreo de cargas farmacêuticas no Brasil são promissoras, pelo menos para Aline, da Aeroportos Brasil Viracopos. Com o crescimento da demanda por medicamentos biológicos, vacinas e tratamentos de alta complexidade, a tendência é que o transporte aéreo de cargas farmacêuticas cresça a taxas superiores às demais categorias de carga. Aeroportos que estiverem preparados para atender com precisão, agilidade e flexibilidade certamente ocuparão uma posição estratégica nesse novo cenário.

“Viracopos já está nesse patamar. Com localização privilegiada, perto dos principais centros farmacêuticos do país, infraestrutura robusta e o diferencial de um serviço desenhado para as especificidades do setor, o aeroporto se preparou para ser o parceiro ideal das farmacêuticas”, completa.

Priscilla, da Allog, também ressalta que o transporte aéreo de cargas farmacêuticas no Brasil tem mostrado um crescimento constante, impulsionado pela expansão do mercado de medicamentos, vacinas e produtos biológicos. “Com a crescente demanda por vacinas e tratamentos especializados, especialmente após a pandemia de Covid-19, espera-se que esse setor continue a crescer nos próximos anos. Para atender a essa demanda, alguns aeroportos precisam investir mais em infraestrutura especializada, como locais exclusivos para cargas farmacêuticas, com controle rigoroso de temperatura (Cold Chain) e segurança.”

Outro otimista, Medina, do BH Airport, também destaca que o setor farmacêutico projeta crescimento sólido no transporte aéreo nos próximos anos, impulsionado pela demanda por agilidade, segurança e rastreabilidade. Mas, para acompanhar esse ritmo, os aeroportos precisam investir em infraestrutura especializada: terminais climatizados, áreas segregadas, automação e sistemas de monitoramento em tempo real são essenciais. Além disso, a obtenção de certificações internacionais, o treinamento contínuo de equipes e o fortalecimento das parcerias com agentes de carga e companhias aéreas elevam o padrão de serviço. “O futuro do transporte de cargas farmacêuticas no Brasil passa por aeroportos preparados, inteligentes e colaborativos.”

A Motiva Aeroportos realizou estudos que indicaram o potencial do Aeroporto de Goiânia para este tipo de serviço, uma vez que a indústria farmacêutica tem forte presença no Estado de Goiás. “O Terminal de Cargas Farmacêutico do Aeroporto de Goiânia, que será o primeiro do Brasil 100% refrigerado, vem contribuir para a cadeia logística do segmento. Fortalecer a operação em Goiânia será importante também para abrir as portas ao recebimento de aeronaves cargueiras, oportunizando que as cargas que hoje precisam entrar por São Paulo, Rio ou Brasília e realizam todo o trajeto de caminhão, possam entrar no Estado diretamente pelo próprio aeroporto, de forma mais rápida e segura”, explica Lilian.

Ela ainda diz que é importante destacar que o transporte aéreo de cargas farmacêuticas já acontece há algum tempo nos aeroportos da Motiva, especialmente em Curitiba, onde há toda a estrutura necessária para esse tipo de serviço, mas que também atende outros segmentos do setor produtivo, e também em Goiânia, onde já existe um terminal de Cargas concedido a uma empresa parceira. 

No RIOgaleão, a expectativa é de continuidade na trajetória de crescimento, com foco na expansão de capacidade e na manutenção dos altos padrões de eficiência operacional. “Prezamos pela integridade de cargas farmacêuticas com infraestrutura qualificada, processos de controle e redundância. Nesse sentido, estamos cada vez mais nos consolidando como um hub de carga aérea no país, tornando-nos uma alternativa para grandes indústrias de outros estados”, diz Lopes.

“Imagino que a reforma fiscal deve alterar bastante o cenário e abrir muitas oportunidades para embarques centralizados, especialmente em grandes centros urbanos. Vejo como fundamental investir em estrutura e aumento da capacidade de manusear esse tipo de mercadoria”, completa Buran, da Temp Log.

Já Pedroso, da IATA, diz que o Brasil precisa, com urgência, de uma modernização ampla – tanto na infraestrutura física quanto nos processos digitais. É essencial romper com modelos operacionais monopolizados, modernizar os terminais, promover uma concorrência saudável e garantir estabilidade institucional nos processos aduaneiros e regulatórios. “Sem essas mudanças, o setor de cargas aéreas continuará operando com altos custos, baixa previsibilidade e competitividade internacional limitada.”

Considerando o tamanho e o potencial de crescimento do mercado farmacêutico, além da posição geográfica do Brasil, o país deveria ser naturalmente a principal porta de entrada de medicamentos na América do Sul. Mas, para isso, são necessárias mudanças urgentes em sua legislação e nas condições operacionais, diz o diretor de Relações Externas.

Para atender a essa demanda, a IATA recomenda que os aeroportos:

• Invistam em infraestrutura certificada para produtos farmacêuticos e em corredores com cadeia fria;

• Ampliem a adoção da certificação CEIV Pharma para gerar confiança internacional;

• Implementem tecnologias inteligentes para garantir visibilidade em tempo real da carga;

• Colaborem com a indústria farmacêutica para prever a demanda e alinhar a capacidade disponível.

Participantes desta matéria

Aeroportos Brasil Viracopos – É a concessionária responsável pela administração do Aeroporto Internacional de Viracopos, localizado em Campinas, SP, um dos principais hubs logísticos e aeroportuários da América Latina. O aeroporto é o principal terminal de carga aérea do país em valor de mercadorias importadas.

Allog – Se destaca como especialista em importação aérea. Com expertise e soluções inovadoras, oferece suporte completo para otimizar os processos de importação aérea, especialmente no contexto do e-commerce.

BH Airport – Um dos principais hubs do país, desde 2014 é administrado por uma concessão formada pelo Grupo CCR, uma das maiores companhias de concessão de infraestrutura da América Latina, e pela Zurich Airport, operador do Aeroporto de Zurich, o principal hub aéreo da Suíça e considerado um dos melhores aeroportos do mundo, além da Infraero.

IATA – A Associação do Transporte Aéreo Internacional representa cerca de 340 empresas aéreas, que compõem mais de 80% do tráfego aéreo global.

LATAM – A LATAM Airlines e suas afiliadas são o principal grupo aéreo da América Latina. LATAM Cargo Chile, LATAM Cargo Colômbia e LATAM Cargo Brasil são as afiliadas de carga do Grupo, possuindo uma frota combinada de 21 aeronaves de carga.

Motiva Aeroportos – É uma divisão de negócios do Grupo Motiva que opera 20 aeroportos em quatro países. No Brasil, administra 17 aeroportos: Curitiba, Bacacheri, Londrina e Foz do Iguaçu, PR; BH Airport e Pampulha, MG; Goiânia, GO; São Luís e Imperatriz, MA; Navegantes e Joinville, SC; Teresina, PI; Palmas, TO; Petrolina, PE; Pelotas, Uruguaiana e Bagé, RS. No exterior, a empresa opera os aeroportos Juan Santamaria (Costa Rica), Quito (Equador) e Curaçao (Antilhas Holandesas).

RIOgaleão Cargo – É uma das principais portas de entrada e saída de cargas aéreas do Brasil. O terminal está preparado para atender aos mais diversos setores da economia, como o da indústria da aviação, farmacêutico, petróleo e gás e metal mecânico.

Temp Log – Considerada a única operadora logística de cadeia fria no Brasil especializada em produtos para a medicina estética, tem mais de 30 anos de atuação no armazenamento, fracionamento e transporte de produtos de alto valor agregado à saúde.

Compartilhe:
615x430 Savoy julho 2025
ILOS 2025
Logistique Logweb
Veja também em Aeroportos
Infraero e Itaipu Parquetec firmam parceria para modernizar aeroportos regionais no Paraná
Infraero e Itaipu Parquetec firmam parceria para modernizar aeroportos regionais no Paraná
BH Airport encerra 1º trimestre com recorde em movimentação de passageiros e carga
RIOgaleão promove ação de Black Friday no Embarque Doméstico
RIOgaleão reduz tempo médio de permanência das cargas em 16%; veja ganhadores do prêmio de eficiência logística 2023
Ethiopian Airlines inaugura primeiro centro de logística e e-commerce no Bole International Airport
Aeroporto de Curitiba tem nova rota cargueira da Europa

As mais lidas

01

Faleceu Roberto Schioppa

02

Com cartas de intenção de compra para mais de 100 unidades, Moya eVTOL realiza seu primeiro voo com sucesso

03

Vipal Borrachas concorre ao Recircle Awards 2023 em quatro categorias