A crescente frequência e intensidade dos eventos extremos no Brasil transformaram a volatilidade climática de um risco esporádico em uma condição estrutural e permanente. Essa mudança de cenário torna insustentável a manutenção de modelos logísticos tradicionais, que funcionam de forma reativa diante de crises. A análise é de Mario Veraldo, CEO da MTM Logix, que defende a transição para uma gestão de cadeia de suprimentos preditiva e apoiada por tecnologia como um passo indispensável para garantir a competitividade das empresas.
Dados recentes reforçam o alerta. As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul danificaram mais de 8 mil quilômetros de rodovias estaduais, afetando quase 40% das transportadoras locais e gerando prejuízos superiores a R$ 1 milhão para cada empresa atingida. No mesmo período, a seca na Amazônia reduziu em 9% a movimentação de grãos pelos rios do Arco Norte no início de 2025, mesmo em cenário de supersafra, o que gerou perdas bilionárias para a indústria e para o agronegócio.

“Uma década atrás, eventos climáticos eram vistos como choques raros. Hoje, o cenário é fundamentalmente diferente, e os líderes devem reconhecer que a volatilidade climática passou de uma disrupção ocasional para uma condição operacional permanente”, afirma Veraldo. Para ele, os furacões que se intensificam em poucas horas e enchentes que fragmentam malhas rodoviárias provam que o tempo de reação do modelo tradicional já não funciona.
Além das perdas diretas, os custos ocultos são significativos. Estudo da Bain & Company aponta que, apenas em 2024, o Brasil gastou US$ 2,3 bilhões em demurrage de contêineres, grande parte associada a paralisações climáticas. A isso se somam o aumento previsto de 11,5% nos prêmios de seguro de carga em 2025 e a necessidade de crédito por parte de 32,3% das transportadoras afetadas pelas enchentes para manterem suas operações.
Segundo Veraldo, “o modelo reativo — esperar o porto fechar para então buscar uma alternativa — foi construído para as cadeias de suprimentos de ontem, não para a volatilidade climática de hoje. Sua maior falha é o tempo de espera”. Ele ressalta que, diante do atraso, a capacidade de transporte alternativo já desaparece e os custos se multiplicam.
Com a logística preditiva, empresas podem integrar dados meteorológicos, informações de rastreamento de navios e alertas de portos em tempo real, acionando planos de contingência antes mesmo da crise se instalar. Isso inclui redirecionar cargas para outros portos, ajustar documentação alfandegária e recalcular rotas de transporte rodoviário automaticamente.
Veraldo conclui que a capacidade de transformar previsões em ação será o que definirá a resiliência empresarial nos próximos anos. “No futuro, a capacidade de gerenciar o risco climático não será opcional. As empresas avaliarão seus parceiros não apenas por custo, mas por ‘resiliência por real investido’”, afirma.









