O Governo brasileiro determinou o aumento no percentual de biodiesel adicionado ao diesel, que passou de 14% para 15% (B15). A medida, aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), entrou em vigor em 1º de agosto de 2025. O argumento oficial para a mudança envolve razões econômicas e ambientais.
Do ponto de vista econômico, a elevação visa reduzir a dependência do petróleo importado, cujo preço sofre impacto das tensões no Oriente Médio. Já no aspecto ambiental, a justificativa é de que a maior proporção de biodiesel contribui para a redução da emissão de poluentes, além de incentivar a produção nacional de biocombustíveis.
Apesar disso, entidades do setor de transporte rodoviário têm manifestado preocupação com os efeitos práticos da medida sobre a durabilidade dos caminhões e o aumento dos custos operacionais.

Em nota divulgada em junho, a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) apontou impactos negativos já observados com o uso de misturas anteriores. Segundo estudo técnico da entidade, o prazo para troca de filtros de combustível diminuiu, elevando em 7% os gastos de manutenção por veículo, o que representa impacto médio de 0,5% no custo total das operações de transporte.
Preocupações do setor de transporte rodoviário com o biodiesel
Transportadores argumentam que mudanças no percentual do biodiesel exigem planejamento detalhado e estratégias para adaptação das frotas. Entre os principais receios está o aumento das falhas mecânicas e da frequência de manutenção, o que compromete diretamente a operação.
Para Marcel Zorzin, CEO da Zorzin Logística e presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do ABC (SETRANS), a medida precisa ser avaliada com cautela. “Entendemos a intenção do Governo em reduzir a dependência de importações e buscar maior estabilidade nos preços internos, especialmente diante das incertezas internacionais. No entanto, qualquer alteração no percentual de mistura exige atenção quanto à sua aplicabilidade no transporte rodoviário de cargas. Na nossa realidade, mudanças como essa impactam diretamente a operação, especialmente no que se refere à manutenção dos veículos e ao desempenho dos motores”, analisou.
Riscos técnicos e manutenção de caminhões com biodiesel
Segundo o executivo, o aumento para B15 pode acarretar riscos técnicos como entupimento de filtros, oxidação acelerada e formação de borras nos sistemas de injeção, sobretudo em veículos mais antigos. Esses problemas resultam em maior necessidade de manutenção preventiva e corretiva, aumentando custos e reduzindo a disponibilidade da frota.
“Há riscos técnicos que precisam ser considerados. O aumento do teor de biodiesel, por exemplo, pode causar problemas como entupimentos em filtros, aumento da oxidação e maior formação de borras nos sistemas de injeção, especialmente em veículos mais antigos. Isso, inevitavelmente, leva a mais manutenções preventivas e corretivas, o que impacta tanto o custo quanto a disponibilidade da frota. Em muitos casos, as transportadoras — como é o caso da Zorzin Logística — já têm recorrido ao uso de bactericidas nos tanques de combustíveis dos caminhões para evitar a contaminação por combustíveis inapropriados. Por isso, é fundamental que o setor seja ouvido e que haja acompanhamento técnico contínuo dessas implementações”, afirmou Zorzin.
Medidas de adaptação adotadas pelas empresas
Diante da mudança, transportadoras já começam a adotar protocolos internos mais rígidos para acompanhar o desempenho dos combustíveis e reduzir os riscos. A Zorzin Logística, por exemplo, reforçou o monitoramento técnico junto a fabricantes, promove treinamentos adicionais para equipes de manutenção e ampliou o controle de qualidade dos combustíveis adquiridos.
“Estamos reforçando o acompanhamento técnico junto aos fabricantes, promovendo treinamentos com as equipes de manutenção e revisando os protocolos internos de monitoramento do desempenho dos combustíveis. Também intensificamos as análises de qualidade dos combustíveis adquiridos e o controle dos intervalos de manutenção, principalmente dos sistemas de filtragem e injeção”, concluiu o presidente da SETRANS.









