O transporte de produtos perigosos pelas malhas rodoviárias é uma tarefa desafiadora para as transportadoras que prestam esse tipo de serviço devido às inúmeras recomendações e protocolos a serem seguidos. Dados da Comissão de Estudos da Associação Brasileira de Transporte e Logística (ABTLP), divulgados no ano passado em relação à 2021, apontaram um total de 1.095 ocorrências (acidentes e incidentes), tendo em média de 91,25 episódios por mês. Esse número foi maior que os resultados de 2020, ano que teve um total de 939 casos, com média de 78,25 por mês.
Marcel Zorzin é diretor operacional da Zorzin Logística — empresa que atua há mais de 50 anos no transporte de produtos perigosos no Brasil e no Mercosul — e diretor da Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do ABC (Setrans). Segundo ele, os maiores desafios encontrados nessa atividade incluem: “saber qual equipamento será preciso para cada tipo de produto que será carregado. Hoje em dia, cada embarcador também necessita ter as ferramentas para fazer o levantamento disso e realizar os procedimentos de segurança para realizar esse transporte”.
Essa atividade exige uma série de cuidados aos quais é preciso estar atento justamente para que o embarque desses produtos seja feito corretamente e sem riscos, diminuindo as incidências nas estradas.
Para Marcel, tanto as transportadoras quanto o cliente precisam estar alinhados com as exigências, havendo consequentemente segurança no carregamento e no transporte da carga: “Esse serviço de transporte requer um protocolo de operação chamado ‘checklist’, cujo intuito é diminuir os riscos na movimentação de produtos perigosos. Esse checklist contém a listagem de todos os itens necessários para cada tipo de operação, considerando que cada produto tem suas especificidades e características em seu manuseio. Então, se tanto os clientes quanto os motoristas tiverem esse protocolo bem definido, as preocupações são menores”, descreve o executivo.
Nesse panorama, diversas iniciativas estão sendo implementadas para haver uma especialização maior das empresas e, principalmente, dos motoristas que trabalham com esse nicho de transporte. Um grande exemplo é a atuação das entidades do setor, que vêm auxiliando os condutores das transportadoras os oferecendo mais conhecimento na atividade.
A ABTLP disponibilizou recentemente em sua plataforma o Curso Teórico de Formação de Condutores para Combinações de Veículos de Cargas (CVC), procurando capacitar os profissionais a reconhecerem as diferenças de um conjunto convencional e todos os aspectos de segurança dessas composições.
Para Marcel, essas atitudes são primordiais pensando na segurança em geral. “É muito importante que existam cursos preparatórios que ajudem tanto a empresa quanto os colaboradores a saberem como prosseguir no carregamento e no transporte desses produtos. A ABTLP está sendo pioneira nisso, pensando totalmente na segurança, que às vezes é algo simples, mas que se não for bem-feito complica no final”, pondera o diretor operacional da Zorzin Logística.
Essa dedicação das entidades para estarem lado a lado com as transportadoras e ajudarem no desenvolvimento do transporte como um todo vem beneficiando cada vez mais na procura de zerar os acidentes e de contribuir com a sustentabilidade. Marcel acredita que esse pensamento precisa ser contínuo não somente nas entidades, mas que é crucial que as próprias empresas entendam a importância da especialização de seus motoristas para evitar dificuldades nas estradas. O que faz sentido: a lista da Organização das Nações Unidas (ONU) de produtos perigosos no Brasil está em constante avaliação e cada um tem cuidados específicos.
“As instituições cada vez mais vêm direcionando cursos e especializações para cuidar da segurança. Nos últimos tempos, muitos acidentes aconteceram com equipamentos desatrelando e carretas desengatando no meio da estrada, entre outros, o que causa preocupações. Então a especialização é fundamental, pois cada produto tem sua especificidade na embalagem, no transporte e na armazenagem, e os profissionais precisam ter o conhecimento”, finaliza o executivo.