Quando se fala em baterias para empilhadeiras, as de chumbo-ácido vão ficando para trás e todos olham para as de lítio. Será que isto corresponde à realidade do mercado hoje? Os participantes desta matéria especial respondem a esta questão e a outras.
A indústria no geral continua trabalhando em novas químicas e tecnologias, mas sem dúvida a tecnologia de íon-lítio é a principal geração para aumentar a eficiência da operação e esse mercado deve crescer de maneira significativa nos próximos anos. “A GNB foi um dos pioneiros no lançamento de baterias de lítio para classes I, II e III e já estamos na segunda geração de nossa linha. Recentemente também fizemos uma aquisição importante que nos permitirá seguir com a expansão na linha de soluções em lítio.”
No caso do lítio – ainda segundo Wilson Vizeu, diretor de Vendas e General Manager para América Latina da GNB Industrial Power –, as vantagens principais são a maior densidade de energia, menor tempo de carga, baixa manutenção e maior número de ciclos. A bateria de lítio também tem um sistema de gerenciamento interno que permite monitoramento constante das condições de operação e do estado da bateria. “Mas, a bateria de lítio requer um investimento inicial maior, por isso é importante um levantamento detalhado da operação para avaliar a demanda de energia necessária, entender quais são os indicadores de melhoria que o cliente está buscando e também considerar os custos indiretos da migração para uma nova tecnologia. Enfim, todos estes fatores são importantes para o levantamento detalhado da operação e vão ajudar no estudo de viabilidade técnica e financeira. A GNB tem as duas tecnologias disponíveis, então o nosso foco atualmente, com as ferramentas de telemetria e gestão que temos disponíveis em nosso portfólio, é de apoiar nossos parceiros e clientes com um estudo prévio de aplicação, fazer um monitoramento e estudo de 2 a 3 semanas na operação e ajudar com a melhor alternativa de custo-benefício.”
Por outro lado, prossegue Vizeu, sem dúvida alguma a tecnologia de chumbo-ácido continua dominante e seguirá com um papel muito importante, pois a alternativa de lítio não se justifica a todos os tipos de aplicações. “Neste sentido, temos focado bastante na oferta de acessórios de controle e monitoramento para baterias, que permitem controle no próprio site ou por via remota, ferramentas de gestão para a frota de baterias, possibilidade de definir limites de operação, carregador inteligente, etc. A tecnologia de lítio ainda representa um investimento elevado e não é a resposta para todos os tipos de aplicações, então justifica buscar alternativas para melhorar a performance e gestão das tecnologias existentes com um custo-benefício muito mais atrativo.”
No caso dos sensores e sistema para monitoramento da bateria, há a vantagem de ter o levantamento completo das condições de uso da bateria, como, por exemplo, a temperatura de trabalho, o consumo diário em amperes, o estado de carga e descarga, regime de uso, etc. Com o software de gestão é possível identificar áreas de oportunidade, implementar e melhorar práticas no uso, treinamento de operadores, remanejamento de equipamento, foco na manutenção preventiva, etc., completa Vizeu, destacando que estas avaliações também são aplicadas ao segmento de carregadores de baterias (veja matéria nesta edição).
Wilken Davidson Drumond, diretor técnico, e Andrea Lourenço Drumond, diretora financeira, ambos da AWM Manutenções Elétricas, admitem que a bateria de lítio veio para ficar, e enxergam não mais como tendência, mas uma necessidade, já que é uma bateria de fácil recarga e de baixa manutenção. Porém, ainda vem passando por melhorias e atualizações. “Também temos as baterias de chumbo puro que aparecem nesse momento de novas tecnologias e com muito destaque”, diz Wilken.
Segundo ele, as baterias de lítio e chumbo-puro trazem, realmente, uma economia imediata, já que uma bateria apenas, em uma operação bem planejada, chega a atender três turnos – “então, não temos mão de obra, reposição como água destilada, material de limpeza e uma economia expressiva de energia elétrica”, continua Wilken.
As baterias de chumbo puro NexSys® da EnerSys® aparecem com 10% mais energia e potência do que baterias ventiladas convencionais e 15% a mais do que baterias VRLA convencionais, ainda segundo o diretor técnico. A bateria NexSys® CORE possui densidade de energia extremamente alta, devido à espessura da placa de até 0,8 mm, que aumenta o número de placas (3 vezes mais placas que ventiladas e VRLA de mesmo volume). E atua com até 1500 ciclos a 60% DOD. “A mesma dispensa reposição de água, pois trabalha com tecnologia AGM (Mantas de fibras de vidro) e é regulada por válvula, o que gera emissões mínimas de gases. Por outro lado, as baterias de LiFeYPO4 têm uma vida útil superior a 1O anos, trabalham de 5.000 a 7.000 ciclos, inclusive em temperaturas de -40° a +85° C. A AWM Manutenções Elétricas já disponibiliza as baterias de ítrio fosfato de ferro Lítio (Li-Lion) montadas pela JLW Eletromax”, completa.
Por sua vez, Andrea, também da AWM Manutenções Elétrica, lembra que, atualmente, toda tecnologia está atrelada às atualizações e melhorias já existentes no mercado. “Mas, na minha opinião, a tecnologia que está despontando está basicamente concentrada ao redor das baterias de lítio (Li-Lion) montadas pela fabricante de carregadores tracionários JLW Eletromax. Também temos as baterias de chumbo-puro, NexSys® da EnerSys®, que vêm com solução para atender às demandas do mercado com a tecnologia TPPL (Thin Plate Pure Lead) com desempenho bem satisfatório, flexibilizando as operações com cargas de oportunidade, dispensando salas de baterias e sem reposição de água, enquanto as trocas de bateria são reduzidas ou eliminadas. Certamente teremos muitas novidades para este segmento em 2022”, diz a diretora financeira.
As baterias de lítio terão uma evolução já em 2025 com células de estado solido, há novas químicas prevista para 2030 e temos as células de hidrogênio. “Se olharmos para a história, temos uma mudança grande a cada 100 anos e agora, quando lutamos por fontes renováveis de energia, muitas surgirão nos próximos 30 anos. O Acordo de Paris, assinado pelos principais líderes do mundo, obriga os países a diminuírem a emissão de gás carbono, os veículos elétricos a partir de agora já são uma realidade, o Brasil por ter a maior floresta do mundo será beneficiado com créditos de carbono”, acredita João Carlos Waldmann, diretor da JLW Indústria de Aparelhos Eletro Eletrônicos.
Ele também informa que, buscando atender as necessidades do mercado, sua empresa optou por duas tecnologias para o mercado de empilhadeira: a lítio ytrio ferro fosfato, que pode trabalhar de -45° a 85º C, e a lítio ferro fosfato, que trabalha de -20° a 55° C. “Com um custo mais atraente, ambas são 100% seguras, sem risco de incêndio ou explosão, diferente de outras químicas. Lembrando que cada química tem uma aplicação destinta. Baterias de lítio não são todas iguais, no Brasil são poucas as empresas que detêm o conhecimento sobre esta tecnologia. Atualmente somos apenas dois fabricantes oficiais de baterias de lítio, o restante são clientes e importadores independentes que importam por conta e risco sem se preocupar com o descarte final do produto”, acentua o diretor da JLW Indústria de Aparelhos Eletro Eletrônicos.
Edison Refosco, diretor da Globalbat, aponta que, atualmente, existem inúmeros tipos de células para montagem de baterias. “Podemos citar algumas que estão mais presentes nas informações técnicas de publicações especializadas, como lítio-titanato, lítio-enxofre, lítio-ar, lítio-capacitor, bateria de sódio, etc. Cada bateria tem sua vantagem, como taxa de descarga, tamanho, tempo de recarga, peso, etc. É necessária uma análise global da aplicação e tipo de utilização de uma respectiva bateria para determinar qual o modelo, tipo e tecnologia a ser empregada na montagem do conjunto de acumuladores.”
Ainda de acordo com Refosco, as características técnicas, vantagens, desvantagens, número de ciclos de vida, performance, rendimento, etc. são totalmente diferentes, dependendo da tecnologia a ser utilizada para o processo de montagem de cada bateria. Portanto, cada aplicação e utilização da bateria devem ser avaliadas por um especialista para identificação da mais conveniente num produto final.
Ele completa este assunto ressaltando que surgem novas tecnologias todos os dias. Entretanto, após o surgimento de uma nova tecnologia em células e elementos para montagem de baterias, existem anos de desenvolvimento para o produtos serem aproveitados e chegarem ao mercado prontos para serem efetivamente utilizados na indústria.
2021
Já fazendo uma análise do desempenho do segmento de baterias para empilhadeiras em 2021, os representantes da AWM Manutenções Elétricas dizem que foi um ano pandêmico, com um cenário realmente atordoante em todo mundo. “Lamentamos por muitos ramos de negócios terem se deteriorado, milhões de pequenas e médias empresas terem ido à falência. Mas tenho que ressaltar que para a AWM Manutenções Elétricas foi um ano incrivelmente crescente no que se refere a baterias e carregadores tracionários. Crescemos 31% no auge da crise mundial, resultado da intensa movimentação de mercadorias por todo mundo, portanto aproveitamos tal momento e seguimos as tendências, aumentamos nossos estoques e mesmo assim não conseguimos atender toda a demanda de vendas, serviços e locações no Estado de Minas Gerais, onde estamos instalados. No nosso setor de serviços, as manutenções preventivas e corretivas aumentaram mais de 50%”, comenta Andrea.
Também no caso da Globalbat houve um significativo aumento no consumo de baterias de lítio para diversas aplicações, como empilhadeiras, robôs, AGVs, rebocadores, paleteiras, etc. “Existe uma estimativa de aumento em torno de 30% no faturamento sobre este tipo de baterias em relação a 2020”, completa Refosco.
A GNB Industrial Power também apresentou crescimento em 2021, tanto em termos de baterias como de carregadores. “Aumentamos bastante a nossa participação junto aos fabricantes de equipamentos originais (empilhadeiras) e também tivemos êxito na estratégia de crescimento regional (América Latina), explorando novos mercados e aumentando o foco nos clientes que de alguma maneira foram beneficiados pela pandemia, como as grandes redes de distribuição, indústrias de alimentos e farmacêuticas e de logística. Entendemos que o mercado teve crescimento, de maneira geral, mas ainda estamos analisando os dados para entender se esse crescimento é orgânico ou fruto de projetos que foram represados em 2020.”
Em relação a tecnologia – continua Vizeu –, “as nossas vendas foram principalmente com a linha tradicional de chumbo-ácido, mas vimos um crescimento representativo na venda de acessórios para monitoramento de operações, principalmente sensores instalados na bateria que permitem o monitoramento de temperatura, consumo diário de Ah, estado de carga/descarga, etc. Também tivemos um crescimento interessante na venda de baterias com a tecnologia de íon-lítio, o que nos obrigou a antecipar o lançamento da nossa segunda geração de produtos. Acreditamos que a tecnologia de chumbo-ácido continua como a principal linha de produtos, mas vemos uma clara preocupação dos grandes clientes e usuários de baterias (clientes finais ou empresas de locação) com a implementação de novas ferramentas para otimizar a operação e monitoramento a distância, com o objetivo de melhorar a performance, reduzir custos e prolongar a vida útil da bateria”.
Concluindo a análise do desempenho do setor em 2021, Waldmann, da JLW Indústria de Aparelhos Eletro Eletrônicos, ressalta que a sua empresa foi, ainda em 2017, a primeira do Brasil a investir na fabricação de baterias de lítio, e que desde aquela época as vendas vêm aumentando ano a ano. “Em 2021, mesmo passando por momentos delicados, como a pandemia, tivemos um aumento significativo nas vendas, por ser uma nova tecnologia.”
E 2022
Crescimento. Esta é a palavra-chave para o ano de 2022 no segmento de baterias. Mas com cautela.
Refosco, da Globalbat, acredita que podem chegar a um aumento de faturamento em torno de 40% a 50% sobre o ano de 2021, pelo potencial do mercado para novos negócios neste setor.
Outro otimista, Waldmann, da JLW Indústria de Aparelhos Eletro Eletrônicos, diz que esperam um aumento de pelo menos 100% com relação a 2021, já que o produto da empresa vem sendo sucesso junto aos clientes.
“A indústria está lidando com alguns desafios relacionados à normalização da cadeia de suprimentos, e sabemos que parte do consumo atual de equipamentos está relacionada com a programação de pedidos. Mas também avaliamos que alguns segmentos tiveram crescimento orgânico e nossa percepção é de que o mercado deve continuar em rota de crescimento em 2022”, completa Vizeu, da GNB Industrial Power.
Os representantes da AWM Manutenções Elétricas são mais cautelosos. “Acho que temos que ser otimistas, porém com muita cautela, até pelo menos passar o período do carnaval, a pandemia ainda não cessou. Estamos com uma nova cepa do coronavírus, que afeta a economia global. É preciso ter muito cuidado com os investimentos, pois poderá haver, em algum momento, paralisação da produção das indústrias e comércios por todo mundo, vindo a faltar capital de giro devido ao estoque parado por falta de insumos e/ou procura e demanda de alguns produtos”, avalia Drumond.
Pandemia
Já falando sobre o impacto da pandemia no segmento de baterias, Andrea, também da AWM Manutenções Elétricas, diz que ele foi realmente desconcertante. A alta nos insumos e dos produtos de pronta entrega fez com que houvesse falta de material para produção, causando uma procura maior por reparos parciais e serviços corretivos pela falta de baterias para entrega, que hoje ultrapassa os 70 dias. “Os preços dobraram, o prazo de entrega subiu de 30 pra até 70 dias, a matéria-prima está escassa e não atende todo o mercado. O impacto foi realmente um desafio para a AWM Manutenções Elétricas, tivemos que readequar projetos, fazer novas contratações e afrouxar as rédeas do mecanismo de crescimento da empresa que vínhamos segurando devido à instabilidade causada pela pandemia do coronavírus.”
Vizeu, da GNB Industrial Power, também relata que o segmento de transporte e logística, do qual fazem parte, foi um dos mais atingidos pela pandemia, ao mesmo tempo que demandas pontuais foram aumentadas. “Tivemos que lidar com a dispensa de funcionários, adaptar a estrutura e revisitar processos. Eu acredito que parte destas mudanças veio para ficar, como, por exemplo, a logística compartilhada, também acredito que uma das lições da pandemia foi a visão colaborativa entre fornecedor e cliente, uma parceria que foi vital entre as empresas para lidar com o cenário de crise. Também vejo mais agilidade nas decisões, um crescimento exponencial do comércio online, maior integração na cadeia logística e maior implementação de tecnologia e inteligência artificial. Ainda estamos lidando com alguns desafios trazidos pela pandemia, em uma ponta o consumo de alguns segmentos simplesmente disparou, mas a cadeia de suprimentos e logística ainda não se recuperou, junto com o fechamento de algumas empresas, o que acarretou em aumentos de preços e tempos de entrega. Como eu disse no princípio, isso nos obrigou a revisitar processos, primarizar algumas atividades, antecipar lançamentos, etc. Enfim, ainda estamos lidando com os desafios trazidos pela pandemia, mas no geral eu vejo como um processo de mudanças positivas.”
Waldmann, da JLW Indústria de Aparelhos Eletro Eletrônicos, faz uma análise diferenciada. “O Brasil tem uma diversificação de segmentos muito grande, o agro puxa a indústria de máquinas, o mercado online puxou as vendas, tornando um ano de crescimento para o segmento, mas com baixo resultado financeiro devido aos aumentos das commodities e do dólar. Temos a política onde o povo é só um detalhe, mas importante em ano de eleição, e um vírus que veio para ficar, prejudicando parte do comércio no Brasil, mas também deixando seus pontos positivos, como o crescimento de visibilidade online, permitindo que nosso trabalho seja conhecido globalmente.”
Na contramão destas análises está a de Refosco, da Globalbat. “Em 2021 não tivemos impacto da pandemia neste nosso setor de baterias. Por outro lado, temos notado que, como efeito da pandemia, inúmeros clientes e o mercado de mobilidade estão optando por bicicletas elétricas, scooter elétricas, skates elétricos e demais veículos elétricos como alternativa de locomoção, trazendo um aumento no consumo de baterias e seus acessórios.”