Impacto do tempo médio de descarga no custo das transportadoras

19/10/2018

Raquel Serini Economista do IPTC – Instituto Paulista do Transporte de Carga

 

Alguns dos processos mais comuns dentro da transportadora são a carga e a descarga de mercadorias, mas sabemos também que o longo tempo para a realização dessas atividades pode pesar no bolso dos empresários. Uma vez que não conseguem otimizar sua frota entre o tempo de deslocamento mais o período de descarga, devido a atrasos da agenda por parte do recebedor, problemas fiscais, conferência dos itens e devolução do canhoto, por exemplo.

A Pesquisa IER 2018 (Índice de Eficiência no Recebimento), realizada pelo IPTC – Instituto Paulista do Transporte de Carga, registrou que cada operação de carga e descarga em São Paulo durou, em média, 3 horas e 22 minutos, sendo que o Tempo Médio de Descarga (TMD) é contabilizado do momento da entrada da Nota Fiscal até a saída com o comprovante de entrega.

Já na edição de 2017, o levantamento mostrou que as operações eram realizadas em 2 horas e 52 minutos, uma diferença de 30 minutos apenas que faz com que os custos do veículo parado se elevem em 17%, na média. Veja a simulação para os veículos mais utilizados nas entregas em supermercados, home centers, magazines, atacadistas, centros de distribuição entre outros:

Se considerarmos os casos extremos em que determinados locais chegam a 12 horas ou mais de espera, atingimos uma diferença de quase R$ 300,00 a mais nos custos, no caso do VUC, por exemplo, muito utilizado nas operações de distribuição urbana, gerando cada vez mais prejuízos financeiros para a transportadora e, também, para empresa que contratou o frete.

Para apurar o custo de imobilização dos veículos de carga são considerados os custos fixos mensais do veículo utilizado, as despesas administrativas e as horas trabalhadas por mês pelo veículo. Sendo que os atrasos na descarga podem aumentar os níveis de hora extra desse motorista, em outros casos acarreta na abertura de novos turnos de trabalho ou até mesmo na alocação de mais pessoas na operação.

Outro agravante, também detectado na pesquisa IER 2018, é que um pouco mais de 50% dos estabelecimentos entrevistados não obedecem ao horário agendado, ou seja, é permitido o agendamento antecipado da entrega, o que é um facilitador para o planejamento operacional, mas o recebedor não consegue cumprir com a programação do dia. E, dentre os locais pesquisados, foram identificados, neste mesmo estudo, os cinco setores de atividades com maior tempo médio de descarga: centros de distribuição (5 horas e 14 minutos); atacadistas (3 horas e 24 minutos); home centers (3 horas e 17 minutos); seguido pelos supermercados (3 horas) e, por último, os magazines (2 horas e 47 minutos).

Portanto, todo este cenário colabora para o encarecimento na hora da composição do preço de frete e, não só por isso, sabemos que as transportadoras enfrentam todos os dias problemas que aumentam seus custos e que impactam na qualidade do serviço prestado. Mesmo assim, essas empresas têm se esforçado para alcançar melhores resultados, preservando a integridade da carga, prazos de entrega e o relacionamento com o cliente.

Por isso, o papel do recebimento é tão importante na gestão operacional, para garantir com rapidez e segurança a entrada de produtos no estoque, diretamente nas lojas, com eficiência. Mesmo que na prática isso muitas vezes não aconteça, não porque faltam recursos ou sistemas, mas sim pelas inúmeras variáveis que são necessárias gerenciar um único processo.

De qualquer forma, é importante que o sistema de custos e precificação das empresas esteja em constante análise e, se necessário, sofra ajustes para adaptar as externalidades à realidade do negócio. Equilibrar todos esses fatores é de grande responsabilidade e exige planejamento financeiro, gestão de pessoas, estratégia e organização. Pense nisso!

38 - coluna SETCESP

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