A partir do dia 15 de maio, a prefeitura de São Paulo vai incluir no rodízio de veículos todos os caminhões que circulam pelas Marginais do Tietê e do Pinheiros e pela Avenida dos Bandeirantes. A restrição valerá de segunda a sexta-feira, das 7 às 10 e das 17 às 20 horas, para os mesmos finais de placas dos carros. A medida, anunciada no dia 1 de abril pelo prefeito Gilberto Kassab, desagradou ao Setcesp – Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo e Região, que já prevê congestionamento nas rodovias de acesso à capital.
De acordo com dados da Secretaria de Transportes, diariamente trafegam por essas vias 210 mil caminhões. Com o rodízio, cerca de 42 mil veículos devem deixar de circular no horário de pico. Nas outras vias do centro expandido, os caminhões já tinham de respeitar a restrição. O presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego, Roberto Scaringella, explica que mesmo os caminhões de fora da capital e com placas de outros municípios terão de respeitar o rodízio.
Já o presidente do Setcesp, Francisco Pelúcio, não vê locais para que os caminhões estacionem durante o horário da proibição. “Vai viram um caos nos acostamentos das rodovias. A fila pode ligar São Paulo a Jundiaí e até Campinas”, alerta. De acordo com dados levantados pela consultoria da Protran Engenharia, a pedido da Dersa, só pelo Sistema Anhangüera-Bandeirantes entram diariamente em São Paulo 22.382 caminhões.
Além de incluí-los no rodízio, a prefeitura vai aumentar a restrição para carga e descarga de caminhões. A atividade será proibida de segunda a sexta-feira, das 5 às 21 horas, até mesmo para os VUCs – veículo urbano de carga, caminhões de até 6,3 metros – que hoje circulam livremente por qualquer área da capital paulista.
O que ainda precisa se definir é a área restrita. O grupo de trabalho formado por integrantes da Secretaria de Transportes, da CET e do gabinete do prefeito trabalha com duas possibilidades: manter o perímetro da Zona Máxima de Restrição de Circulação (ZMRC) – um quadrilátero de 25 quilômetros quadrados entre a Marginal do Pinheiros, a Rua Cardeal Arcoverde e as Avenidas do Estado, Brigadeiro Luís Antônio e Juscelino Kubitschek, ou ampliar a proibição para uma área de 100 quilômetro quadrados.
“A tendência é implementar na área maior”, adiantou Kassab. Ele ressaltou a necessidade de conciliar medidas que melhoraram o trânsito com a preservação do comércio da capital. Por isso, a área de 100 quilômetros quadrados exclui as regiões do Ceasa e a Zona Cerealista – medida que é apoiada pelo Setcesp.
Associações reclamam do rodízio
A Acta – Associação Comercial dos Transportadores Autônomos e a Apas – Associação Paulista dos Supermercados traçam estratégias para fugir da restrição de carga e descarga e do rodízio para veículos de cargas nas novas áreas estipuladas.
José Ribamar Brandão, presidente da Acta, reclama da ausência de debate antes do anúncio das medidas. “Vai haver filas de caminhões nos acostamentos das rodovias que chegam à cidade, esperando terminar o horário de rodízio”, diz. Com outras associações, ele solicita reunião com Kassab para protocolar carta com um pedido de revisão do rodízio.
Se não forem resolvidos com a prefeitura, os questionamentos serão levados à capital federal na próxima quarta-feira, dia 9, quando será realizado no Congresso Nacional o 8º Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas.
A preocupação maior, segundo Brandão, são os gargalos. Ele diz que um motorista de caminhão leva em média 1 hora e 30 minutos para cruzar a cidade de São Paulo, percorrendo a Avenida dos Bandeirantes. “São Paulo é um gargalo logístico do Brasil. E corre o risco de ficar ainda pior se obrigarmos os caminhoneiros a se enfileirarem nas estradas de acesso à cidade”, declara o presidente da Acta.
Já a Apas considera que para diminuir o impacto da restrição de rodagem de veículos de carga das 5 às 21 horas, os VUCs devem ser excluídos da medida. “O VUC é necessário, senão os transportadores podem optar por Kombis, aí o trânsito só vai piorar”, diz o vice-presidente de comunicação da entidade, Martinho Paiva Moreira.
Ele propõe que sejam instalados nas estradas da cidade, estações de transbordo – área onde os grandes caminhões possam parar para transferir a mercadoria para veículos menores, que fariam a entrega na capital. “Caso contrário, não há onde parar os caminhões ou como abastecer as lojas de São Paulo”, diz.
Moreira aponta para um aumento nos custos para os supermercados, no frete e na infra-estrutura para receber os produtos durante a madrugada. “As transportadoras que vêm de outros estados terão de parar seus caminhões em algum lugar no meio do caminho”.
As novas regras exigirão dos supermercados, ainda, uma estrutura para recebimento das mercadorias “24 horas”, segundo o vice-presidente de comunicação da Apas. “Para nós é o pior dos mundos, pois teremos mais custos operacionais, com pessoal para fazer a segurança, receber e fiscalizar a chegada dos produtos.” Moreira também fala em riscos de desabastecimentos pontuais nos supermercados.
A Apas oficializou a intenção de diálogo com Kassab em carta protocolada, mas ainda não recebeu resposta. “Queremos colaborar. Melhorar o trânsito é interesse de todo”, finaliza o dirigente.
(Fonte: O Estado de S. Paulo)









