Desculpem o trocadilho, mas não há melhor definição para a logística nestes dois setores, onde se opera com cargas de peso elevado e difíceis de serem manuseadas, requerendo, portanto, equipamentos específicos. Além disso, a segurança é requerida em níveis muitos mais elevados aqui do que em outros setores.
Existem diferenças cruciais na logística dos setores de siderurgia e metalurgia. A começar pelo fato de a siderurgia ser a matéria-prima, a base da metalurgia que, por sua vez, faz a transformação e o beneficiamento. “Ambos os setores trabalham com um alto volume de movimentação e transporte devido à característica de peso elevado dos insumos, por isso podemos destacar que são necessários equipamentos diferenciados para atender a estes segmentos. Por exemplo, há necessidade de pontes rolantes e talhas para a movimentação de bobinas de aço, não sendo interessante para os Operadores Logísticos investir em terminais adaptados para armazenar este tipo de material. Quanto ao transporte, existe a necessidade de veículos tipo bi-trem ou rodo-trem, que possuem uma capacidade de transporte de mais peso, e a aquisição de berços conforme o diâmetro de bobinas.”
A análise é de André Luiz Pereira, gerente da Unidade de Caxias do Sul do Centro Logístico Eichenberg e Transeich (Fone: 51 3023.1000).
Pensamento semelhante tem Rogério Loureiro, diretor superintendente da Transporte Excelsior (Fone: 24 3343.3115). Segundo ele, a diferença na logística nos setores de siderurgia e metalurgia em relação à de outros segmentos está nos equipamento utilizados, com tendência à especificação, em função do alto peso e da concentração das bobinas, consequentemente necessitando, também, de motoristas especializados, cintas e equipamentos especiais para amarração e acomodação
“A particularidade do setor de siderurgia e metalurgia é a densidade do produto. Esse fator exige alternativas logísticas mais elaboradas e a necessidade da operação de estruturas e equipamentos robustos para manuseio dos produtos, que precisam atender a rígidos padrões de segurança”, salienta Alessandro Rabelo, gerente comercial da JSL (Fone: 11 4795.7000).
Para Fernando Mio Lisboa, assessor de diretoria da Empresa de Transportes Martins (Fone: 31 3479.4600), a principal diferença está no planejamento da logística de transporte, principalmente por se tratarem de cargas de difícil consolidação e, na maioria dos casos, as operações de carga e descarga demandarem o uso de equipamentos/acessórios para manuseio. Essas situações prejudicam e dificultam a programação de viagens e, consequentemente, o atendimento ao cliente – Marco Cruz, gerente nacional de vendas da Transmagna Transportes (Fone: 47 3373.9300), também aponta como diferencial o máximo cuidado no manuseio, por se tratar de produto pesado e perigoso para o operador. A propósito, Daniel Fagundes, diretor da Linkers Logística (Fone: 21 2777.6930), alerta para a dificuldade de contratação de mão de obra, por ser muito especializada e exigir conhecimento em produtos siderúrgicos. Samir José Salomão, gerente comercial da Renascer Transportes Rodoviário de Cargas (Fone: 47 3435.1669), completa: a diferença está nas especificidades exigidas, principalmente nos quesitos de segurança e acondicionamento das mercadorias.
“Na realidade, a diferença normalmente é em função dos volumes, que são muito grandes, necessitando de uma integração muito grande entre as empresas de transporte e as siderúrgicas”, completa Hermano Lamounier, diretor comercial do Expresso Lamounier (Fone: 31 3555.5500.
Por outro lado, para Jolandir Jacinto, diretor comercial da SAGLOG Transportes de Cargas (Fone: 47 3405.8500), a diferença está na grande concentração de cargas lotação e o alto valor agregado.
Tendências
E quais as tendências na logística nestes dois setores analisados?
Segundo Pereira, da Eichenberg e Transeich, as tendências são as melhores possíveis, com excelentes perspectivas devido à visibilidade que o Brasil terá ao sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. “Devemos nos preparar para toda esta demanda que o mercado exigirá, buscando e retendo pessoas que irão garantir a qualidade e eficiência e, assim, sucesso que o mercado mundial exige nestes segmentos”, revela, com a anuência de Lisboa, da Martins, para quem, entretanto, tratam-se de setores sob forte ameaça dos mercados internacionais, principalmente o chinês. “Com o crescimento do Brasil, o aquecimento econômico e o crescimento da construção civil, estes são mercados em evidência e duradouros”, acrescenta Jacinto, da SAGLOG.
Outro otimista é Hermano, da Lamounier. Ele também vê uma tendência de grande crescimento, pois a expansão das siderurgias no país está muito acelerada e a competição mundial está cada vez maior.
Já a análise de Salomão, da Renascer, é feita sob outro enfoque: cada vez menor prazo de entrega, devido à necessidade de baixar e, algumas vezes, trabalhar sem estoque.
Por sua vez, Cruz, da Transmagna, não consegue prever mudanças significativas, quer seja em vendas, quer seja no perfil do produto. De acordo com ele, o mapa estatístico de 2010 deve se manter em 2011.
Por fim, Loureiro, da Excelsior, faz sua análise com base na logística: a tendência é por transportadora especialista, em função do alto investimento para operacionalizar, bem como equipamentos especiais e berços metálicos.
“Há duas tendências importantes no setor, que são o foco cada vez maior em segurança das operações e a mudança com relação ao fornecimento de produtos, que passa da venda em lotes para uma venda mais pulverizada, em menor escala, mas de maior freqüência, eliminando a necessidade de estoques pelos compradores.Isso implica na adoção de soluções logísticas mais flexíveis e ágeis pela indústria siderúrgica e no aumento da utilização de alternativas como a multimodalidade, o cross-docking e os hubs”, completa Rabelo, da JSL.
Problemas e soluções
Concluindo, vamos aos problemas dos setores de siderurgia e metalurgia e as soluções.
O setor logístico enfrenta o mesmo problema dos outros segmentos do mercado: uma falta de infraestrutura nos diversos modais que compõem a cadeia logística, tendo uma malha rodoviária precária em muitas regiões, não atendendo à demanda e ao fluxo de veículos. As que possuem boas condições geram um alto custo com pedágios. Os portos estão operando muito próximos de sua capacidade limite, não sendo ágeis em suas movimentações de carregamentos e descarregamentos comparados com portos de vários outros países, além de não oferecerem calado para atracação de embarcações de maior porte.
Após esta exposição, o gerente da Unidade de Caxias do Sul da Eichenberg e Transeich diz que a solução passa por mais investimentos em infraestrutura e uma maior pressão da classe empresarial para que estes investimentos sejam efetuados com urgência. “Estamos defasados. Os produtos brasileiros são competitivos até ser concluída a sua fabricação: a partir dai perdem muito de sua competitividade devido a uma matriz logística que está marcada pela falta de eficiência em suas operações. Vale ressaltar que esta falta de eficiência não ocorre por não haver prestadores de serviços competentes, mas, sim, por uma carga tributária elevada e uma infraestrutura historicamente defasada, agregando, assim, um alto custo logístico ao produto”, completa Pereira.
“Os maiores problemas estão no transporte de matéria-prima, assim como no escoamento de produto acabado”, complementa, Hermano, da Lamounier, dizendo que as soluções passam por melhoria de estradas, redução dos custos inerentes ao transporte e formação de mão de obra adequada.
Por sua vez, Lisboa, da Martins, diz que o que existem são problemas logísticos: moro-sidade logística nos clientes (demora para carga e descarga), alta exigência do nível de serviços e dificuldade de compatibilidade de cargas e consequente produção dos veículos. Ainda segundo o assessor de diretoria, cada empresa de transporte cria mecanismos (sejam tecnológicos ou a nível de equipamentos) para suprir as dificuldades encontradas e aumentar a produtividade de sua frota, melhorando seus resultados.
Para Fagundes, da Linkers, o maior problema é casar a produção com a demanda, o que exige um planejamento constante. Enquanto isso, Salomão, da Renascer, aponta como problema a dependência de preços estabelecidos pelas usinas siderúrgicas do aço, o que muitas vezes congela as vendas e faz o setor diminuir muito o seu ritmo de venda. “A solução envolve a concorrência entre as usinas e acabar com o oligopólio que existe atualmente.”
Jacinto, da SAGLOG, observa que a insegurança nas estradas e o alto índice de roubo de cargas também são problemas enfrentados nos dois setores, sendo que a solução passa pelo poder público, no sentido de “se preocupar um pouco mais com o transporte e a logística no quesito segurança e, ao invés de criar tantas tecnologias para multas, criar uma tecnologia e um banco de dados a nível nacional para deter o roubo de carga e caminhões”.
Cruz, da Transmagna, já aponta como problema a dificuldade no manuseio e na armazenagem do produto, pois raramente se oferece embalagem adequada a esta atividade. “Estes produtos podem e devem ser embarcados em canais especializados, onde as carretas abertas, movimentações por talhas e empilhadeiras equipadas para este fim e racks moldados à necessidade do produto em questão são amplamente aplicados.”
Loureiro, da Excelsior, também lista os problemas logísticos enfrentados nos setores de siderurgia e metalurgia: concentração de volume, tempo de carga e tempo de descarga alto nos clientes. “A solução passa por uma maior integração entre embarcadores, prestadores de serviços de transporte e clientes e contratos onde se permita um investimento com contrato guarda-chuva.
Para o gerente comercial da JSL, os principais desafios logísticos da indústria de siderurgia e metalurgia no país passam pela localização das plantas de produção, normalmente distantes do mercado consumidor, e pela baixa oferta de modalidades, como ferrovia, cabotagem e hidrovia, determinando a concentração das operações em um modal de mais alto custo, a rodovia. “Todos os desafios do setor estimulam a criação de soluções logísticas mais ajustadas, como o cross-docking, a utiização de hubs e o fracionamento da distribuição, já mencionados, além de parcerias mais sólidas com operadores logísticos que permitam agregar maior flexibilidade às operações e garantir a competitividade da indústria frente ao cenário de importações. A melhoria e o desenvolvimento dos modais ferroviário, hidroviário e da cabotagem contribuiriam para melhorar a oferta de soluções que agreguem diferencial competitivo para o setor”, completa Rabelo.
Randon: Logística tem alta representantividade no custo final do aço
O segmento metalmecânico depende muito da logística, a qual passa a ser o fator primordial para sobrevivência do mercado, dado a sua representatividade no custo final do aço.
Ainda segundo José Edinilson Valim, gerente de logística da Randon Implementos e Participações (Fone: 0800 512.158), a logística neste segmento, comparada aos padrões internacionais e com a sua evolução para o conceito de Supply Chain, depende, basicamente, de inteligência, tecnologias de informação e comunicação, estratégias de estocagem e distribuição, bem como de disponibilidade de infraestrutura de transportes, o que impacta diretamente no abastecimento e escoamento da produção.
“O primeiro fator está sob o controle empresarial: a siderurgia nacional tem demonstrado capacidade de acompanhar as tendências internacionais, buscando a modernização com técnicas e práticas logísticas, porém, a maior preocupação se concentra na indisponibilidade de infraestruturas de transportes que comportem tamanha demanda.”
Valim prossegue: as estradas estão em péssimas condições, refletindo em fretes caríssimos, comparados aos padrões internacionais; os portos também refletem a falta de investimentos; o transporte ferroviário, depois de anos sem investimentos, já esta com capacidade insuficiente e limitada; e a cabotagem está em fase inicial no Brasil.
O gerente de logística da Randon destaca que o setor necessita urgentemente de investimentos pesados, ou enfrentaremos novamente o apagão logístico vivido no passado. E o investimento neste setor é imprescindível para a competitividade da indústria brasileira.
Problemas
Ele também destaca que, devido aos altos custos absorvidos pelas empresas de logística, um dos primeiros problemas do setor é o próprio custo envolvido nas operações de abastecimento e escoamento.
Não se detendo somente a preços altos, mas, também, à ineficiência do sistema, o mercado brasileiro não acompanha as práticas mundiais de Suplly Chain, e o próprio bairrismo e a falta de investimentos refletem em perdas produtivas incalculáveis. “Nosso sistema de distribuição está sobrecarregado, em alguns momentos as usinas possuem o material pronto e os mesmos não chegam até as nossas empresas por falta de caminhões, ou até mesmo por falta de motoristas. Além disso, a estrutura logística está concentrada na região Sudeste, que acaba sendo a que atrai a maioria dos investimentos logísticos, enquanto a região Sul sofre com a falta de infraestruturas compatíveis com o exigente e dinâmico mercado consumidor”, avalia Valim. E completa: “na medida do possível, nossos transportadores e operadores acabam absorvendo estas demandas em termos quantitativos e financeiros, o que acarreta no aumento de custos que nem sempre é integralmente repassado à cadeia, o que resulta em perda da rentabilidade e descapitalização e falta da capacidade de investimentos”.
O gerente de logísica da Randon finaliza relacionando as tendências em logística nos segmentos de siderurgia e metalurgia: operar em condomínios logísticos e com estoques avançados, utilização de veículos especificamente para o transporte de aço, buscar a padronização de componentes e matérias-primas, trabalhar em alta escala, maximizar as parcerias logísticas com operadores regionais e terceirizar operações de baixo valor agregado.









