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Conteúdo 10 de setembro de 2003

Logística urbana de carga – Equívocos vêm sendo cometidos

O vôo de helicóptero sobre as avenidas marginais e sobre as rodovias de acesso a São Paulo, no início da noite, revela não só a linda estrela Vésper no horizonte, mas uma desesperada e infrutífera tentativa de dezenas de milhares de caminhões de alcançar objetivos tão díspares quanto incompatíveis com a capacidade humana de pensar no que fazer com eles.
Contrariamente ao que diz o senso comum, contudo, a complexidade do problema que aflige essa cidade, que é já a terceira maior do planeta (bem como a centenas de cidades a sua volta), não se resume a uma ou várias soluções de hardware (mais equipamentos), mas exige, sim, soluções de software (novos planos e programas), de ambientware (relações com o ambiente), de customware (atendimento aos consumidores) e de orgware (relações organizacionais), como ver-se-á adiante. Isso tudo passa por um novo conceito de logística.br>
O termo logística tem antigas origens militares, já
que dizia respeito ao abastecimento de tropas em linhas de frente
distantes. De fato, os grandes exércitos tinham o seu calcanhar
de Aquiles exatamente na dificuldade de receber alimentos, armas,
munições, energia, informações, etc.
E isso acabava, muitas vezes, decidindo as guerras. Nos dias de
hoje, a logística tornou-se uma ferramenta essencial para
os sistemas econômicos, que dela não podem mais prescindir.

Hoje, nenhuma empresa, cidade, região ou país consome
tudo o que produz. Nem produz tudo o que consome. Nos tempos de
just-in-time e de produção e comércio globalizados,
as atividades associadas à locomoção e armazenagem
(em essência) de bens, pessoas, informações,
energia etc. passaram a ser um elo fundamental do funcionamento
da economia, sem o qual a alocação de recursos, insumos
e produtos não tem a menor chance de ser competitiva no mercado.
Por logística estaremos entendendo a administração
e organização das relações entre os
fluxos e os lugares. Essa definição conceitual visa
a superar as limitações das demais definições
puramente instrumentais, que vêm sendo aplicadas em cursos
universitários e em programas de estudo de logística.
Ela se propõe, ao buscar o antigo – mas não
antiquado – conceito de cidade dos egípcios da época
dos faraós, resgatar as funções do transporte
para as sociedades humanas e para os nodos de produção
econômica que as caracterizaram.
A logística – arte e técnica tão antiga quanto as guerras e conquistas dos territórios pelo homem – está voltando a receber impulsos novos. Já quarentona no transporte de passageiros, agora é o transporte de carga, de informações, de energia, de bens e serviços quem faz dela uma verdadeira coqueluche. Renascida como um nenê, ela, contudo, voltou pequena demais, ainda. É preciso resgatar o próprio conceito de logística lá atrás, quando as cidades eram menos complexas. Ainda pequena demais, é preciso engrandecer a logística de nossos dias, para que não se continue a cometer os equívocos que estamos todos cometendo.
A circulação, o trânsito, o transporte e a logística
(que inclui todos esses aspectos e outros mais) pode melhorar muito
seu desempenho a partir de considerações de aspectos
como os aqui citados.
hardware inadequado (equipamentos muito
grandes, lentos e pouco flexíveis);
software não mais condizente (horários
de entrega coincidentes com os picos urbanos, logística terrestre
retrógrada);
orgware primário (motoristas mal treinados, despreparados
para a convivência com o trânsito infernal, com jornadas
pouco flexíveis e sem recursos técnicos para evitar
e combater sinistros e conflitos, sem assistência social condizente
com o longo tempo de afastamento do lar);
customware cativo dos interesses individuais
e pulverizados de cada empresário (não se usa o poder
de dissuasão dos grandes fabricantes e distribuidores para
organizar e racionalizar a distribuição de mercadorias);
e, finalmente,
ambientware desrespeitoso para com as condições de saturação dos centros urbanos (veículos poluentes, funcionando em marcha lenta, realizando operações arriscadas e invasivas do espaço, do tempo e do interesse público, cargas e operações freqüentemente perigosas).
Esses aspectos serão apresentados e debatidos em trabalho mais extenso, a ser apresentado no XIV Congresso de Transporte e Trânsito da ANTP, em Vitória, em outubro de 2003.

Laurindo Junqueira
– Consultor em Transporte e Trânsito

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