Leilão de terminais atrai donos de carga

09/12/2015

O leilão portuário que ocorre na quarta-feira irá atrair mais empresas donas de cargas, que precisam escoar sua produção, do que companhias que fazem apenas a operação portuária, aposta o mercado. A documentação dos editais vem sendo criticada por operadores portuários que estudam entrar na disputa. Eles enxergam riscos excessivos e altos recursos a serem desembolsados.

Serão licitadas três áreas em Santos (SP) – duas para celulose e uma para granéis vegetais – e uma em Vila do Conde (PA), também para granéis vegetais. Hoje as empresas entregam a proposta pelo arrendamento (que consistirá no maior valor de outorga a ser pago à União) e os documentos de habilitação na BM&FBovespa, em São Paulo, onde ocorrerá o leilão.

O Valor apurou que as tradings de grãos Cargill e Louis Dreyfus Commodities estão analisando os lotes STS04 e VDC29 (para grãos). A Ultracargo, que armazena e movimenta cargas líquidas, olha com cuidado o STS04, numa estratégia de diversificação dos negócios.

Os outros dois lotes, o STS07 e o STS36, para celulose, estão no radar principalmente da Fibria, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, e da Eldorado Brasil, produtora de celulose da J&F Investimentos. Ambas já têm terminal em Santos e estão em busca de mais espaço no porto para exportar.

O contrato de arrendamento atual da Fibria no cais santista vence em 2017 e não tem possibilidade de prorrogação – o que deve ser mais uma razão para a empresa entrar na disputa. E a estratégia da Eldorado é ter um terminal em frente ao cais. A região do STS36, próxima à unidade da empresa inaugurada neste ano na retaguarda do costado, já esteve sob sua mira em 2011, quando a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que administra o porto, pretendia abrir uma licitação para a construção de um terminal justamente dedicado à celulose. O processo não evoluiu.

Entre as companhias que não têm carga e avaliam entrar no leilão como operadores de terminal – para fazer o serviço de armazenagem e movimentação – há uma queixa de que os valores a serem desembolsados ficaram altos. O governo mudou o critério do leilão para o maior valor de outorga, no meio do ano, sem contrabalançar os valores fixos e variáveis a serem pagos pelo arrendatário.

“Com crise ou sem crise o vencedor vai ter de pagar um custo fixo enorme. Além disso tem o investimento necessário. O edital leva a duas consequências: valores de outorga muito baixos e concorrência menor, porque poucas empresas estão dispostas a ter um custo fixo neste patamar”, afirma Fabrizio Pierdomenico, sócio-diretor da consultoria Agência Porto, sobre a área para grãos em Santos.

“Pesou demais. Por que vou desembolsar R$ 500 milhões em um porto público? É preferível investir no porto privado, onde não há dor de cabeça e o ativo é do empreendedor para sempre”, diz um empresário.

Procuradas, Fibria, Eldorado, Louis Dreyfus e Ultracargo não quiseram comentar o interesse no leilão. A Cargill não retornou.

Outra interessada nos lotes para celulose, papel e carga geral é a Deicmar, operadora portuária que explora em Santos um terminal para veículos, carga geral e contêineres. Mas a empresa considera que as minutas contratuais trazem insegurança jurídica, o que pode ser um entrave à entrada no certame.

A principal crítica é em relação ao objeto contrato. Diferentemente das licitações passadas, as minutas desses contratos estipulam como objeto não o arrendamento da área ou das instalações, mas, sim, a prestação de “atividades”. Isso configuraria uma autorização precária ao arrendatário e sem amparo legal no marco regulatório portuário.

Além disso, há críticas à alocação excessiva de riscos e responsabilidades que o vencedor não pode gerenciar, à ausência de informações ambientais na forma prevista na legislação, e à assunção de passivos ambientais. Alguns armazéns que compõem o STS36, por exemplo, apresentam potencial grau de contaminação por armazenar sucata e cilindros com produtos químicos, diz o relatório de uma visita técnica feita por uma empresa.

Para Pierdomenico, as áreas são importantes não como ativos, mas como ferramentas, por estarem dentro de um porto que é o caminho natural da carga. “A produção agrícola que vai do Sul do Mato Grosso ao Norte do Mato Grosso do Sul necessariamente sai por Santos ou Paranaguá. É muito caro subir para o Arco Norte do país, hoje e sempre, mesmo com a ferrovia Norte-Sul ou com hidrovia.”

O governo estima arrecadar R$ 1 bilhão em outorga nos quatro terminais, que compõem o bloco 1 dos leilões portuários. A proposta pelo arrendamento não pode ser inferior a R$ 1,00. A licitação compreenderá a abertura das propostas, a classificação das proponentes e o leilão em viva-voz, no caso de o arrendamento receber duas ou mais propostas. Se houver empate entre propostas, o desempate será por sorteio.

Fonte: Valor Econômico

Compartilhe:
615x430 Savoy julho 2025
Veja também em Conteúdo
Pesquisa revela avanço na conscientização dos caminhoneiros e maior identificação de exploração sexual nas estradas
Pesquisa revela avanço na conscientização dos caminhoneiros e maior identificação de exploração sexual nas estradas
Prêmio NTC destaca os melhores fornecedores do transporte rodoviário de cargas do Brasil em 2025
Prêmio NTC destaca os melhores fornecedores do transporte rodoviário de cargas do Brasil em 2025
Grupo Lebes aposta em verticalização e logística avançada para sustentar expansão no Sul do país
Grupo Lebes aposta em verticalização e logística avançada para sustentar expansão no Sul do país
Diagnóstico inédito sobre seguros portuários revela entraves e riscos climáticos em terminais autorizados
Diagnóstico inédito sobre seguros portuários revela entraves e riscos climáticos em terminais autorizados
LTP Capital assume controle da ABC Empilhadeiras e amplia atuação na locação de equipamentos
LTP Capital assume controle da ABC Empilhadeiras e amplia atuação na locação de equipamentos
Fulwood conclui primeira fase de condomínio logístico em Pouso Alegre (MG) 100% locado
Fulwood conclui primeira fase de condomínio logístico em Pouso Alegre (MG) 100% locado

As mais lidas

01

Tendências que vão redefinir a logística em 2026: tecnologia, integração regional, sustentabilidade e novos fluxos globais
Tendências que vão redefinir a logística em 2026: tecnologia, integração regional, sustentabilidade e novos fluxos globais

02

Demanda global por transporte aéreo de carga cresce 2,2% em maio, segundo IATA
Demanda global de carga aérea cresce 4,1% em outubro e marca oito meses de alta

03

Concessões de rodovias em 2026 somam R$ 158 bilhões e ampliam segurança nas estradas, analisa Sinaceg
Concessões de rodovias em 2026 somam R$ 158 bilhões e ampliam segurança nas estradas, analisa Sinaceg