Dia das Mães, dos Pais e das Crianças, além da Black Friday e do Natal fazem com que as operações no varejo físico e e-commerce se intensifiquem mais e, assim, aumente a demanda logística, colocando em cheque as transportadoras.
Agora, no segundo semestre do ano, as datas sazonais com maiores movimentos, como Dia dos Pais, Dia das Crianças, Black Friday e Natal, fazem com que as operações no varejo físico e e-commerce se intensifiquem ainda mais e, consequentemente, aumente a demanda logística. Mas, as transportadoras não conseguem apresentar soluções estruturais ou planos de ação para eliminar os gargalos logísticos durante estas datas de alta demanda. Por que isto acontece?
Os desafios são diversos, e vão desde a necessidade de um planejamento mais robusto até o uso ainda limitado de tecnologia para otimização de processos e rotas. Contudo, diz Arnaldo Spinelli, diretor geral da BRX Cargo – Logística Internacional, um fator decisivo é a infraestrutura logística do país – estradas precárias e falta de integração multimodal acabam ampliando os gargalos. “Ainda assim, vemos que empresas que investem em planejamento colaborativo, análise de dados e parcerias estratégicas conseguem minimizar significativamente esses impactos.”
De fato, como pontua André Barros, CEO da eComex, de acordo com dados do LPI (Logistics Performance Index) do Banco Mundial, o Brasil ocupa a 51° colocação entre 139 países quando o assunto é eficiência logística.
Portanto, se o setor já está sujeito a inúmeros entraves no seu dia a dia – como problemas de infraestrutura, alta dependência de modais rodoviários, alto custo logístico, questões tributárias, falta de mão de obra qualificada, Centros de Distribuições concentrados em eixos específicos, entre outros –, em datas em que há um aumento exponencial de demanda, naturalmente, os desafios tendem a se intensificar.
Até porque, também sinaliza Barros, além de tais questões, outro fator atenuante que corrobora com esse cenário é a falta de acesso por muitas empresas a tecnologias robustas que as auxiliem não só a planejar e gerenciar melhor seus processos, como a tomar decisões mais assertivas baseadas, por exemplo, em análise de dados e inteligência de negócio.
O fato é que, enquanto muitas transportadoras não contam com tecnologias avançadas de planejamento logístico, outras ainda não dispõem de ferramentas capazes de prever com precisão os picos de demanda ou otimizar rotas de forma inteligente. “Essa limitação tecnológica dificulta o preparo antecipado e a alocação eficiente de recursos”, diz Glaucio Wathier, diretor de Produtos e Tecnologia da Mobiis.

Além disso, há uma subestimação recorrente da capacidade operacional. Com isso, algumas transportadoras assumem compromissos além de sua real capacidade de execução, resultando em atrasos, falhas na entrega e insatisfação dos clientes.
Outro ponto crítico é a falta de acesso à informação em tempo real, o que compromete a capacidade de resposta diante de imprevistos. Sem dados atualizados e integrados, torna-se difícil tomar decisões rápidas e realizar ajustes ao longo do processo logístico.
Esses desafios evidenciam a necessidade urgente de digitalização, planejamento estratégico e capacitação técnica. Superar esses gargalos é essencial para que o setor logístico brasileiro evolua e esteja preparado para atender com excelência mesmo nos momentos de maior pressão, enfatiza o diretor de Produtos e Tecnologia da Mobiis.
“Grande parte das transportadoras brasileiras ainda atua com baixa digitalização, pouca integração entre sistemas e sem um planejamento preventivo estruturado. A falta de análise de dados históricos e de uma malha logística flexível impede uma resposta eficaz em períodos de pico. Soma-se a isso a limitação de investimentos em infraestrutura, mão de obra e tecnologia, além de uma cultura operacional mais reativa do que estratégica”, mistura todas as causas o sócio-fundador da onBlox e diretor de Operações Thiago Cruz.
A questão de a maioria das transportadoras operar com malha rígida, dependente de processos manuais, baixa digitalização e pouca integração entre sistemas de estoque, picking e expedição também é destacado por Augusto Ghiraldello, CCO, CMO e cofundador da Invent Intralogística. Isso dificulta a adaptação rápida a picos de demanda.
Além disso, acrescenta, há uma limitação física de capacidade de frota, de terminais e de mão de obra qualificada, que não se resolve com comunicados, mas com planejamento logístico de longo prazo, tecnologia preditiva e investimentos em automação. O problema é sistêmico, não pontual.
“Não há como investir ‘momentaneamente’ porque há uma escassez de motoristas, implementos e mão de obra para atender à demanda e ao crescimentol do mercado. Portanto, os custos para as transportadoras não contemplam este investimento ‘pontual’ mesmo que ocorra ano após ano. Não há segurança contratual para tamanho investimento”, aponta Jansen de Jesus, diretor comercial do Mira Transportes.
O agravante é que a capacidade operacional limitada faz com que as transportadoras, durante períodos sazonais, como Natal, Dia das Mães, Black Friday, necessitem contratar mão de obra de emergência que, muitas vezes, é cara e ineficiente. Outro fato interessante é que a combinação de infraestrutura fragmentada, capacidade limitada de planejamento e baixa adoção de tecnologia ocorre, especialmente, entre os Operadores Logísticos de menor porte, pelo menos na visão de Guilherme Alvim, Head de Desenvolvimento de Negócios da Yango Tech. “Os picos sazonais expõem essas lacunas, já que a maioria das redes não é projetada para se adaptar significativamente a aumentos repentinos de demanda. Além disso, leis trabalhistas, restrições de tráfego em áreas urbanas e a falta de integração de dados em tempo real entre varejistas e transportadoras dificultam uma resposta rápida e eficaz.”
Desafios operacionais
Os principais desafios operacionais enfrentados pelas transportadoras em datas especiais estão relacionados a três eixos, descreve Ghiraldello, da Invent Intralogística: capacidade, previsibilidade e visibilidade. Primeiro, a capacidade operacional muitas vezes é insuficiente para lidar com o volume concentrado de pedidos em janelas de tempo muito curtas. Segundo a falta de previsibilidade, tanto por parte do varejo/e-commerce, quanto da indústria, compromete o planejamento de malha, rotas e recursos.
Por fim, a baixa visibilidade em tempo real sobre a operação dificulta a tomada de decisões ágeis. Isso resulta em atrasos, sobrecarga de Centros de Distribuição e falhas na experiência do consumidor final. “Em 2024, por exemplo, às vésperas da Black Friday e do Natal, o setor varejista brasileiro enfrentou atrasos significativos no envio e recebimento de cargas no Aeroporto Internacional de Guarulhos – que, por sinal, é um problema recorrente que se repete não só em aeroportos, como também em portos, sobretudo nos períodos de pico, como é o caso da Black Friday e do Natal, por exemplo.”
Quando falamos de logística terrestre – prossegue Barros, da eComex –, alguns desafios inerentes em períodos sazonais também podem ser exemplificados por uma necessidade de reforço no contingente de veículos, motoristas e uma infraestrutura logística reforçada, além de uma gestão rigorosa de prazos e SLAs, pois atrasos podem prejudicar a reputação e gerar multas.
“A dificuldade de contratar e treinar profissionais qualificados nesse período também é um obstáculo, assim como problemas com sistemas de gestão, rastreamento e plataformas de e-commerce, que podem comprometer todo o processo e impactar significativamente no aumento nos custos operacionais”, completa Barros.
A ausência de planejamento logístico por parte dos embarcadores também é um desafio, agora apontado por Wathier, da Mobiis. Essa deficiência, diz ele, acaba por transferir a responsabilidade dos gargalos operacionais para as transportadoras, que muitas vezes atuam como um “amortecedor” do problema, sendo responsabilizadas por falhas que não originaram.
A falta de organização começa na distribuição inadequada das mercadorias com alta demanda, sem considerar a capacidade real da cadeia logística. Em muitos casos, não há um planejamento prévio de rotas otimizadas, o que compromete a eficiência do transporte e aumenta os custos operacionais.
O excesso de filas para carregamento e descarregamento nos Centros de Distribuição também evidencia a má gestão das janelas logísticas, resultando em atrasos significativos e comprometendo a produtividade de veículos e motoristas.
“É comum o uso de caminhões como estoque temporário, prática que compromete o fluxo logístico. Quando os veículos ficam parados por longos períodos à espera de descarga, deixam de estar disponíveis para novas operações, reduzindo a capacidade de resposta da transportadora. Segundo dados da Associação Brasileira de Logística (Abralog), cerca de 30% do tempo total de um veículo de carga são perdidos em operações de espera, o que representa um impacto direto na eficiência e nos custos do transporte”, diz o diretor de Produtos e Tecnologia da Mobiis.
Para mitigar esses problemas, aconselha, é fundamental que embarcadores e transportadoras atuem de forma integrada, com planejamento colaborativo, uso de tecnologias de agendamento e visibilidade em tempo real, além de uma gestão mais estratégica da cadeia de suprimentos.
Num aspecto amplo, os recursos físicos limitados a que as transportadoras estão sujeitas não envolvem apenas veículos e Centros de Distribuição, mas também motoristas. E há, também, o aumento da complexidade nas entregas, especialmente nas grandes cidades. A sobrecarga nas etapas de separação, roteirização e última milha eleva o risco de atrasos, falhas e retrabalho. A contratação de equipes temporárias, sem treinamento adequado, também impacta diretamente a qualidade do serviço, comenta Thiago, da onBlox.
De fato, Jansen, do Mira Transportes, também lembra que durante esses períodos, em razão do aumento significativo no volume de encomendas, muitas transportadoras enfrentam dificuldades para contratar motoristas ou carros adicionais com qualidade e de forma emergencial. “Outro fator é a logística reversa, que também cresce com o número de compras e, consequentemente, as devoluções aumentam.” Completando, Alvim, da Yango Tech, também cita, na sua vião, os principais desafios que as transportadoras enfrentam durante períodos de pico como Black Friday e Natal: maior complexidade na última milha, especialmente em regiões com alta densidade de entregas ou difícil acesso; aumento do volume de solicitações para entregas no mesmo dia ou no dia seguinte; elevação das expectativas dos clientes em relação à rapidez e visibilidade das entregas; e gestão de devoluções, que aumenta após eventos de vendas e gera ainda mais pressão sobre as redes logísticas.
Aumento na demanda e seus impactos
O aumento expressivo na demanda do e-commerce e varejo físico em períodos sazonais pode se tornar uma oportunidade de crescimento para os negócios, ou um risco diante de inúmeros desafios que, se não forem bem geridos, podem resultar em falhas, atrasos, falta de mercadorias, multas e, principalmente, insatisfação e problemas com os clientes.
Com um volume maior de pedidos, diz Barros, da eComex, as empresas enfrentam desafios na gestão de estoques, na coordenação do transporte e na otimização das rotas, o que pode levar a atrasos nas entregas e ao aumento de erros ou danos durante o processo.
Além disso, a sobrecarga operacional pode comprometer a eficiência do atendimento ao cliente, reduzindo a capacidade de oferecer prazos confiáveis e um serviço de alta qualidade. “Para mitigar esses efeitos, muitas organizações investem em tecnologias de automação, melhorias nos processos logísticos e parcerias estratégicas, buscando equilibrar a capacidade operacional com a crescente demanda e manter a satisfação do cliente mesmo em períodos de pico”, diz o CEO da eComex.
Também se referindo a como o aumento expressivo na demanda do e-commerce e do varejo físico impacta os prazos de entrega e a qualidade do serviço logístico nesses períodos, Spinelli, da BRX Cargo, ressalta que o impacto mais comum é o aumento da pressão sobre os prazos de entrega, o que pode levar a custos extras com soluções emergenciais e aumento da margem de erro operacional. Empresas que conseguem antecipar cenários, trabalhar com planejamento preditivo e ajustar sua capacidade tendem a manter a qualidade do serviço, mesmo em momentos críticos.
A verdade é que o aumento expressivo da demanda pressiona múltiplos pontos da operação logística. As filas para carregamento e descarregamento tornam-se frequentes nos Centros de Distribuição, comprometendo o fluxo de veículos e a disponibilidade de recursos. Em paralelo, a escassez de mão de obra qualificada, especialmente em funções temporárias, agrava os gargalos operacionais.
Ainda de acordo com Wathier, da Mobiis, o aumento nos casos de logística reversa e devoluções, que exigem processos específicos, também representa um desafio recorrente. Como consequência, os prazos de entrega se estendem, afetando a experiência do consumidor final.
Esses fatores combinados resultam em uma queda significativa na qualidade do serviço logístico. Erros de separação e expedição tornam-se mais comuns, assim como o extravio e a avaria de mercadorias, por exemplo.
“Vale destacar que o impacto não se limita à operação, visto que a reputação da marca também é afetada. Afinal, o consumidor associa a falha na entrega à empresa vendedora, mesmo quando o problema ocorre na etapa de transporte”, acentua o diretor de Produtos e Tecnologia da Mobiis.
Segundo ele, os embarcadores e Operadores Logísticos devem investir em planejamento antecipado, automação de processos, capacitação de equipes e integração de sistemas. A adoção de tecnologias como WMS, TMS e o rastreamento em tempo real são decisivos para manter a qualidade do serviço, mesmo sob alta pressão.
Thiago, da onBlox, também pondera que, nesses períodos, os Centros de Distribuição operam acima do limite, a roteirização fica mais lenta e o tempo de entrega cresce, o que afeta diretamente a percepção de qualidade do consumidor final. A falta de visibilidade em tempo real e de comunicação efetiva com o cliente final contribui para aumentar a insatisfação em caso de atrasos.
“Muitas operações logísticas não são dimensionadas para lidar com um volume dois ou três vezes maior em um curto espaço de tempo. Isso gera gargalos nos centros de triagem, rotas de entrega sobrecarregadas e maiores taxas de erro – entregas não realizadas, produtos danificados etc. Como resposta, alguns varejistas limitam os horários de entrega ou estendem os prazos, mas isso pode gerar insatisfação dos consumidores se não for bem comunicado”, completa Alvim, da Yango Tech.
Estratégias eficazes
Diante dos desafios elencados, existem estratégias, além do envio de comunicados, que se mostram eficazes para mitigar os impactos da sobrecarga operacional.
Por exemplo, o planejamento colaborativo com clientes e parceiros, aliado à automação de processos, tem se mostrado bastante eficaz. “Mais do que informar, é preciso construir soluções junto ao cliente, mapeando suas necessidades e antecipando demandas. A automação em processos rotineiros também é fundamental para liberar a equipe para atividades mais estratégicas”, diz Spinelli, da BRX Cargo.
A execução de um planejamento antecipado permite prever grandes demandas e preparar recursos com base em previsões. Promover operações em fins de semana, feriados e turnos estendidos. “Combinamos o transporte rodoviário e aéreo, além de tecnologia e automação, com sistemas de gestão e monitoramento em tempo real. Além disso, usamos o portal do cliente e Inteligência Artificial para manter o cliente informado”, exemplifica Jansen, do Mira Transportes.
Sem dúvida, realizar um planejamento antecipado e estabelecer parcerias estratégicas com fornecedores e plataformas digitais, garantindo uma operação mais eficiente e segura nesses períodos de alta demanda, são o primeiro passo para mitigar possíveis impactos da sobrecarga operacional.
Do ponto de vista de planejamento para a Black Friday, por exemplo, o envio/recebimento de mer‑ cadorias concentra-se, usualmente, entre meados de setembro e de outubro, que é quando as mercadorias precisam chegar aos Centros de Distribuição para dar sequência às entregas.
Por isso – continua discorrendo Barros, da eComex –, dispor de redes de fornecimento compostas por ecossistemas dinâmicos e bem estruturados, gerenciados por plataformas digitais integradas, potencializa o uso de informações em tempo real. Isso possibilita uma administração ágil de fornecedores, transportes, depósitos e Centros de Distribuição, abrangendo toda a cadeia de ponta a ponta. “Essa abordagem é fundamental para tomar decisões mais rápidas e precisas, além de otimizar as operações.”
O escalonamento inteligente de pedidos, em que o varejista distribui promoções ou liberações de carga de forma faseada ao longo de vários dias, é outra prática que ajuda a diluir picos. “A integração antecipada entre embarcador, transportadora e Operador Logístico também permite criar planos de contingência mais robustos. Além disso, o uso de ferramentas de visibilidade em tempo real e roteirização dinâmica permite reconfigurar rotas conforme o comportamento da demanda.” Mas, na visão de Ghiraldello, da Invent Intralogística, a medida com maior potencial de impacto estrutural é, sem dúvida, a adoção de automação e tecnologia nos Centros de Distribuição. Isso permite absorver picos sem depender linearmente de mais pessoas ou mais espaço, rompendo com o modelo tradicional de escala.
“Essas soluções exigem investimento e planejamento, mas se pagam e são as únicas que realmente garantem resiliência e previsibilidade em operações de alto volume.” Como se pode perceber, é fundamental que embarcadores e transportadoras adotem uma abordagem estratégica baseada em planejamento, integração e visibilidade operacional. O primeiro passo é a antecipação da demanda, com base em dados históricos, tendências de mercado e comportamento do consumidor. A partir da análise desses dados, é possível identificar produtos com maior potencial de venda, regiões com maior concentração de pedidos e perfis de consumo. Isto desenha cenários logísticos realistas e a alocação adequada de recursos, a exemplo da frota, mão de obra e capacidade de armazenagem.
A integração entre os sistemas dos embarcadores e das transportadoras é outro fator essencial, ainda segundo Wathier, da Mobiis. Essa conexão garante o fluxo contínuo e preciso de informações, permitindo que todos os elos da cadeia logística operem com base em dados atualizados. “A ausência dessa integração compromete a visibilidade e dificulta a tomada de decisões em tempo hábil.”
Thiago, da onBlox, também afirma que a adoção de planejamento com base em dados preditivos, junto com o redimensionamento temporário da malha logística – como a criação de pontos de apoio regionais ou centros de transbordo temporários – ajuda a diluir a carga de trabalho. Outra medida eficaz tem sido o agendamento flexível de entregas com o consumidor final, reduzindo tentativas frustradas e aumentando a eficiência da última milha.
Alvim, da Yango Tech, também lista algumas estratégias que têm apresentado bons resultados: suavização da demanda, como o escalonamento de promoções e o estímulo às vendas antecipadas no mês; roteirização dinâmica e otimização dos horários de entrega com base em dados em tempo real; uso de estruturas temporárias de fulfillment, como hubs temporários (pop-up hubs) ou centros de microfulfillment; pré-separação de pedidos e descentralização de estoques, posicionando os produtos mais próximos dos consumidores antes do pico, com melhor roteirização; e Cross Docking para agilizar o fluxo de mercadorias.
Se preparando
Por outro lado, as já citada pré-venda e o fortalecimento do relacionamento com o cliente têm sido estratégias muito usadas para diluir parte da demanda antes dos picos e, por isso, também usadas pelos varejistas para lidar com a limitação da capacidade logística durante o segundo semestre, quando ocorrem datas como Dia dos Pais, Dia das Crianças, Black Friday e Natal. Além disso, de acordo com Spinelli, da BRX Cargo, ações como segmentação de ofertas e reforço dos estoques em pontos estratégicos ajudam a equilibrar o fluxo e reduzir riscos.
A estas ações, juntam-se as tecnologias voltadas para o planejamento de demanda, suprimentos e atendimento ao cliente, além de sistemas de Gestão de Armazenagem (WMS), Gestão de Transporte (TMS), Gerenciamento de Categoria (CATMAN) e de sortimento no varejo, por exemplo.
Além disso, continua expondo Barros, da eComex, também tem sido cada vez mais imperativo que as empresas consigam acessar uma base histórica que aponte os principais gargalos da sua operação, usando a tecnologia de análise preditiva, por exemplo, para controle de estoque e monitoramento de pedidos em tempo real, cotação de rotas alternativas, entre outras ações que se apresentam como caminhos possíveis para lidar com a limitação da capacidade logística em períodos sazonais.
Mas, Ghiraldello, da Invent Intralogística, acredita que boa parte do varejo já compreendeu que a logística se tornou fator estratégico, e não mais apenas operacional. No segundo semestre, com datas especiais, algumas empresas têm adotado estratégias mais maduras para mitigar a limitação de capacidade. Entre elas, estão os já citados planejamento antecipado de campanhas, o escalonamento de ofertas e promoções, a contratação de capacidade logística complementar com operadores flexíveis e o uso de hubs regionais para aproximação do estoque. Além disso, começa a crescer o investimento em automação logística dentro dos próprios Centros de Distribuição, com foco em picking, sorters e sistemas inteligentes de consolidação de pedidos.
“O objetivo é, justamente, romper com a lógica tradicional de que atender mais significa, necessariamente, ter mais espaço ou mais pessoas. As empresas que mais crescem no e-commerce são aquelas que passaram a tratar a operação logística como vantagem competitiva, e não como um gargalo inevitável. Exemplo disso é o investimento de 34 bilhões em 2025 no Brasil pelo Mercado Livre.” Além do planejamento antecipado, baseando-se em históricos de períodos sazonais anteriores, Jansen, do Mira Transportes, também destaca a comunicação realista, que informe os prazos reais e mantenha o cliente bem informado.
Um ponto positivo é que, a partir de um planejamento antecipado, que considera a previsão de demanda com base em dados históricos e na análise do comportamento do consumidor, os varejistas também negociam com transportadoras e Operadores Logísticos para garantir capacidade e eficiência, além de preços. Em paralelo, complementa Wathier, da Mobiis, a integração de soluções como TMS e WMS contribui para a otimização de rotas, estoques e prazos de entrega.
A adoção de um modelo logístico orientado por previsões, utilizando dados históricos de vendas e tendências de mercado para simular diferentes cenários de pico, inclui, também, segundo Alvim, da Yango Tech: abastecimento dos centros de fulfillment regionais com semanas de antecedência; lançamento de promoções antecipadas para reduzir os picos de pedidos de última hora; diversificação das opções de última milha, como lockers, retirada na loja e serviços de entregadores autônomos (gig economy) para absorver o excesso de demanda; e investimento em plataformas tecnológicas escaláveis que oferecem rastreamento em tempo real e orquestração das operações.
Minimizando os colapsos
Como já visto, investimentos em tecnologias preditivas, automação, análise de dados e parcerias estratégicas são medidas essenciais para as empresas do setor logístico minimizar os colapsos operacionais sazonais. A expansão da capacidade – seja por meio de terceiros ou de soluções inovadoras – e o foco em melhoria contínua permitem não apenas reagir, mas se antecipar aos desafios sazonais, diz Spinelli, da BRX Cargo.
Já Wathier, da Mobiis – também relacionando o que poderia ser feito pelas empresas do setor logístico, em termos de planejamento, tecnologia e investimentos, para minimizar os colapsos operacionais sazonais –, acredita ser indispensável o uso de ferramentas de monitoramento e rastreamento em tempo real, que alertem sobre falhas, desvios de rota ou atrasos. Essa visibilidade operacional permite ações corretivas imediatas, reduzindo impactos negativos sobre os prazos de entrega e a experiência do cliente.
Além disso, é fundamental a adoção de sistemas de agendamento de janelas logísticas, que organizam o fluxo de veículos nos Centros de Distribuição, reduzem filas e otimizam o tempo de carregamento e descarregamento, aprimorando a utilização da frota e, consequentemente, contribuindo para a redução de custos operacionais.
“Em um cenário cada vez mais competitivo, a eficiência logística não pode depender apenas da capacidade de transporte. Ela deve ser apoiada em dados, tecnologia e colaboração entre os agentes da cadeia, garantindo entregas mais rápidas, precisas e com menor impacto operacional.”
Também é necessário um avanço na profissionalização do planejamento logístico, com o uso de dados históricos e sistemas de simulação para cenários sazonais. Investir em integração tecnológica entre embarcadores, operadores e varejistas também é fundamental, acrescenta Thiago, da onBlox. Além disso, é preciso reforçar a infraestrutura física e humana, de forma escalável, e ampliar a capacidade de resposta por meio de parcerias estratégicas.
Alvim, da Yango Tech, acredita que, para reduzir as interrupções, as empresas de logística devem investir em tecnologias escaláveis, como otimização de rotas, rastreamento de frota e triagem automatizada; utilizar análises preditivas para se preparar para os picos de volume com maior precisão; fortalecer parcerias com varejistas para ter visibilidade sobre promoções e calendários de campanhas; expandir os bancos de mão de obra temporária e treinar funcionários para múltiplas funções; e melhorar a flexibilidade das redes de entrega, possibilitando a alocação rápida de recursos conforme as mudanças na demanda.
Mas, como destaca Barros, da eComex, primeiro de tudo é preciso ter em mente que se antes o foco das empresas era mais voltado para o bom funcionamento da operação, hoje também se tornou imperativo no mercado o investimento em estratégia, inteligência de negócio e inovação.
Porém, para isso, é preciso investir em ferramentas tecnológicas e capacitações que, além de otimizarem processos e gerarem economia, automatizam tarefas repetitivas, permitindo que os profissionais tenham mais tempo para focar na estratégia, planejar mudanças e trazer inovações necessárias para suprir os gargalos identificados
A adoção de soluções tecnológicas baseadas em big data, machine learning e Inteligência Artificial, por exemplo, podem ser um começo nessa jornada.
Sistemas de gestão e agentes digitais autônomos de IA, por exemplo, podem reduzir em até 70% o tempo gasto com tarefas operacionais, como gestão e digitação de documentos, permitindo que os analistas se dediquem a decisões mais complexas e inovadoras.
“Lembrando que a tecnologia não substitui a capacidade humana, mas a potencializa e impulsiona. Por isso, investir em desenvolvimento, por meio de capacitações e treinamentos, torna-se indispensável para profissionais que querem estar à frente das tendências”, aconselha o CEO da eComex.
Por seu lado, Jansen, do Mira Transporte, acredita que minimizar colapsos operacionais sazonais é complexo. Segundo ele, as empresas do setor logístico devem investir em reforço de equipes, por previsão de altas demandas pontuais. Os custos da distribuição num país como o Brasil afetam muito as transportadoras. “Mesmo com uso de tecnologias eficientes, automatizadas com monitoramento em tempo real, e Inteligência Artificial, ainda há grande dificuldade em alcançar níveis plenos de minimização destes problemas.”
Compartilhamento da malha logística
Como também já visto, o compartilhamento de malha logística entre empresas, a contratação antecipada de capacidade ou uso de soluções como lockers e pick-up points podem ser caminhos viáveis para aliviar a pressão nessas datas.
Porém, é preciso levar em conta as particularidades de cada empresa, diz Barros, da eComex. Antes de tudo, lembra ele, as organizações do futuro precisam entender a importância da inovação e da mudança de mindset nas empresas, nas quais a área de logística está deixando de ser vista apenas como um centro de custo e passando a ser um centro de resultados.
Apesar do avanço da transformação digital do segmento nos últimos anos, muitas organizações ainda desperdiçam muito dinheiro por falta de uma tecnologia que possibilite um olhar estratégico para a otimização nos processos e visibilidade de eficiência logística.
Prova disso é que muitas empresas ainda realizam processos de gestão, por exemplo, por meio de e-mails e planilhas de Excel, o que, além de consumir muito tempo do time com um processo que poderia ser automatizado, aumenta o risco de erros, lembra o CEO da eComex.
Wathier, da Mobiis, destaca que as soluções citadas são viáveis, mas não exclusivas. Sua eficácia demanda um planejamento logístico estruturado, integração entre parceiros, uso estratégico de dados e tecnologia e, sobretudo, uma mudança de mentalidade que valorize a colaboração e a agilidade.
Thiago, da onBlox, também acredita que o compartilhamento de malhas e ativos logísticos entre empresas pode reduzir custos e otimizar recursos, especialmente entre empresas com sazonalidades diferentes. A contratação antecipada, quando baseada em previsões realistas, permite um melhor alinhamento com os operadores. E o uso de pontos de retirada, tanto em lojas físicas quanto em estruturas de parceiros, é uma alternativa viável para aliviar a carga da entrega domiciliar em períodos críticos.
“No Brasil, a infraestrutura logística compartilhada vem ganhando força, especialmente entre varejistas menores que não conseguem manter frotas dedicadas. Lockers e pontos de retirada são alternativas econômicas para áreas urbanas densas, reduzindo falhas de entrega e o tempo ocioso dos motoristas. A contratação antecipada de capacidade garante que a força de trabalho esteja preparada e reduz atrasos na integração de novos colaboradores no período crítico.”
Ainda sob a ótica de Alvim, da Yango Tech, essas soluções, combinadas, ajudam a distribuir a demanda, reduzir a pressão operacional e melhorar a satisfação do consumidor.
Consumidor final
É óbvio que, com a falta de planejamento estruturado, o consumidor final acaba sendo afetado. Portanto, o que as empresas poderiam fazer para aumentar a transparência e gerenciar melhor as expectativas?
Afinal, como um dos principais pilares de qualquer negócio de sucesso, atualmente, a experiência do consumidor deve estar no centro da estratégia não só das organizações que atuam no varejo e na logística, mas de todo o ecossistema.
A falta de um planejamento estruturado por parte das empresas pode afetar diretamente o consumidor final, levando a atrasos, desinformação, insatisfação e até perdas financeiras. Quando a comunicação não é clara ou quando as expectativas não são bem gerenciadas, o cliente pode se sentir frustrado, o que prejudica a confiança na marca e compromete a fidelidade.
“Para mitigar esses impactos, as empresas devem investir em estratégias de transparência, mantendo o consumidor informado sobre prazos, possíveis imprevistos e etapas do processo.”
Além disso – continua Barros, da eComex –, é fundamental estabelecer canais de comunicação eficientes, treinando as equipes para oferecer informações precisas e empáticas.
Assim, ao gerenciar melhor as expectativas e proporcionar maior clareza, as empresas fortalecem a relação com o cliente, promovendo uma experiência mais positiva mesmo diante de desafios.
Spinelli, da BRX Cargo, também destaca que, pelo fato de o consumidor sentir diretamente os efeitos de atrasos ou falhas, o que pode impactar sua percepção da marca, a comunicação clara, transparência sobre prazos, políticas de garantia justas e uma boa gestão das expectativas são fundamentais. Mais do que evitar problemas, é importante que as empresas estejam preparadas para agir de forma proativa quando eles ocorrerem, diz ele.
Pode-se até aferir que, em um cenário de alta competitividade e exigência por entregas rápidas e precisas, o consumidor tornou-se o principal termômetro da eficiência logística. Wathier, da Mobiis, lembra quer falhas operacionais, especialmente em datas de grande apelo comercial, como Black Friday, Natal ou Dia das Mães, têm consequências diretas na percepção de valor das marcas. Inclusive, clientes insatisfeitos tendem a tornar pública suas frustrações, desenvolvendo um efeito cascata de danos à reputação das empresas vendedoras.
O consumidor, além de avaliador do serviço, é parte ativa do processo logístico. Neste sentido, problemas como endereços incorretos, ausência no momento da entrega ou falta de informações de contato atualizadas são fatores que impactam diretamente o desempenho das transportadoras.
“É fundamental que o planejamento logístico considere para além da operação interna, estruturando a interação com o cliente final. Antecipar-se a possíveis falhas, informar prazos realistas e manter o cliente atualizado sobre o status do pedido são ações que ajudam a alinhar expectativas e reduzir o impacto de eventuais atrasos. Um consumidor bem informado tende a ser mais compreensivo e colaborativo diante de imprevistos”, diz o diretor de Produtos e Tecnologia da Mobiis.
Além disso, o planejamento logístico orientado por dados é fundamental para lidar com os picos de demanda. Analisar o histórico de vendas, identificar produtos com maior relevância em períodos sazonais e ajustar os tempos de entrega conforme a capacidade operacional são práticas que aumentam a previsibilidade e reduzem falhas.
“A eficiência logística não depende apenas da tecnologia ou da infraestrutura, mas também da qualidade da comunicação com o consumidor e da capacidade de antecipar cenários críticos”, completa Wathier.
Além do que já foi sugerido como meio para aumentar a transparência e gerar melhor as expectativas dos clientes, Thiago, da onBlox, acredita ser importante oferecer canais de suporte acessíveis e opções alternativas de recebimento, o que contribui para manter a experiência positiva mesmo em contextos adversos.
“Quando o planejamento logístico falha, os consumidores enfrentam atrasos, janelas de entrega imprecisas e comunicação deficiente. Isso mina a confiança e prejudica a reputação da marca. Para mitigar esse impacto, as empresas devem comunicar de forma proativa e clara (status da entrega, atrasos, novas previsões); oferecer estimativas de entrega realistas já no checkout; disponibilizar alternativas como retirada na loja ou em lockers; e utilizar canais de pós-venda (chatbots, rastreamento em tempo real, follow-ups) para reduzir a ansiedade do cliente e reforçar o compromisso com o serviço”, finaliza Alvim, da Yango Tech.
Participantes desta matéria
BRX Cargo – Empresa de agenciamento de cargas que atua no mercado de importação e exportação. Alguns de seus serviços incluem: cargas multimodais (aéreas, marítimas, rodoviárias); cargas de projeto (Breakbulk, Ro-Ro); commodities especiais (perigosas, farmacêuticas, perecíveis); serviços de armazenagem (armazenagem doméstica, segregação, consolidação e distribuição); e desembaraço aduaneiro.
eCOMEX – É tida como líder em soluções de alta tecnologia para gestão, otimização e automatização de operações de comércio exterior e logística internacional.
Invent Intralogística – Empresa tecnológica brasileira especializada em intralogística, com foco na automatização de processos logísticos desde o armazenamento até a separação, embalagem e expedição de produtos. Oferece consultoria, engenharia e um portfólio de equipamentos em regime turn key, com projetos desenvolvidos de forma personalizada, flexível e escalável. Mira Transportes – Atua na prestação de serviços de transporte de cargas e encomendas, além de transporte aéreo de cargas. É considerada líder nas operações de transporte de cargas fracionadas e integração entre as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte.
Mobiis – É um ecossistema que conecta soluções SaaS em prol da cadeia logística, desenvolvida a partir da fusão das empresas Pathfind e Fretefy. Dispõe de soluções como TMS, YMS, DMS, WMS, roteirizador e outras.
OnBlox Software Logístico – É uma desenvolvedora de tecnologia para a gestão de armazéns e frotas. Se diferencia por deter aplicações modulares de TMS e WMS, permitindo uma implantação personalizada e escalável que se adapta às necessidades específicas de cada empresa, sem a necessidade de interromper suas operações.
Yango Tech – É parte da companhia global Yango Group, que opera em 30 países, incluindo a região da América Latina, com um ecossistema completo de soluções B2B baseadas em IA. A empresa acaba de desembarcar no Brasil com a meta de acelerar a transformação digital de diversos setores, como varejo, logística e mobilidade.
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