Favela é “bola da vez” como mercado consumidor, mas logística é desafio

03/04/2024

As favelas são, cada dia mais, reconhecidas como potências econômicas e mercado consumidor dos mais diversos tipos de produtos e serviços. De acordo com o IBGE, o Brasil possui hoje mais de 6,5 milhões de domicílios em favelas, que abrigam cerca de 17 milhões de pessoas. No entanto, muitas empresas enfrentam dificuldades quando tentam empreender na comunidade, esbarrando na logística de entrega, que é um aspecto fundamental para operar, especialmente nessas localidades.

Segundo levantamento recente do Data Favela e do Instituto Locomotiva, cerca de 36,2 milhões de pessoas em comunidades de todo o Brasil não recebem compras feitas pela internet e ainda têm acesso limitado a serviços essenciais devido à falta de CEP, o que dificulta muito o recebimento de encomendas. De acordo com Pedrinho Jr., CEO da Logtech Carteiro Amigo Express, a complexidade da logística urbana em favelas envolve alguns fatores peculiares, por isso, precisa ser muito bem planejada, e é fundamental, o tempo todo, considerar a possibilidade de imprevistos e dificuldades relacionadas ao acesso ao local de entrega, ou à identificação do destinatário.

Ao longo dos mais de 20 anos de operação do Carteiro Amigo Express – se considerarmos a fundação da empresa, em meados dos anos 2000, que originou a logtech que hoje investe fortemente em tecnologia e atua de forma modernizada, foram muitos desafios, que levaram a adquirir o know-how necessário para superar todos os percalços. “Considerando essa trajetória, alguns pontos são cruciais a se atentar para entregar com alto nível de eficiência dentro das comunidades”, comenta ele.

Acesso limitado e falta de infraestrutura

Ruas estreitas são uma característica comum dentro das comunidades, o que dificulta o acesso dos veículos de entrega. “Muitas vezes, essas vias não são mapeadas ou são mal sinalizadas, tornando a navegação ainda mais desafiadora. A frequente falta de infraestrutura básica – como pavimentação adequada, iluminação e serviços de água e esgoto- pode dificultar ainda mais as operações de entrega”, explica Pedrinho.

Além disso, a ausência de endereços padronizados pode impedir a localização 100% precisa dos destinatários.

Tecnologia de mapeamento ainda pouco disseminada

O uso de tecnologias de mapeamento avançado, como GPS de alta precisão e imagens de satélite, ajudam as empresas de logística a planejar rotas eficientes e precisas, mesmo em áreas com infraestrutura limitada. “O problema é que grande parte das comunidades não conta com esse tipo de recurso. Há projetos em curso para levar essa tecnologia a comunidades como a Rocinha, a maior do Brasil, onde vivem 17 milhões de pessoas, mas são iniciativas ainda sendo implementadas, e que não cobrem toda a extensão das favelas, nem todas as comunidades. Estimam-se que são mais de 10 mil favelas em todo o Brasil, então, o desafio nesse sentido é enorme”, opina.

Demanda por veículos especializados

O uso de veículos compactos e ágeis – como motos ou bicicletas de carga-, de forma geral, é o mais adequado para navegar pelas ruas estreitas das favelas, segundo Pedrinho. Além disso, veículos elétricos podem ser uma opção mais sustentável e econômica. “Entregar mercadorias em favelas apresenta uma série de desafios únicos para as empresas de logística, desde o acesso limitado até questões de segurança e infraestrutura precária”.

No entanto, com o uso estratégico de tecnologia, parcerias locais e abordagens sensíveis às necessidades da comunidade, é possível superar esses desafios e garantir entregas eficientes e seguras.

Barreiras Culturais e Sociais

As favelas muitas vezes têm estruturas sociais e culturais únicas, o que pode afetar as interações com os residentes locais. Compreender e respeitar essas diferenças é essencial para o sucesso das entregas.

“Costumo dizer que a comunidade, para quem não vive nela, é um ‘mundo à parte’. É preciso, antes de atuar dentro da favela, conhecer bem as regras e a sociedade local, para evitar desgastes e imprevistos nas operações. Conhecer bem a realidade local e os moradores, a dinâmica das relações sociais e do dia a dia da favela é o primeiro passo para qualquer operação nos morros ter mais chances de dar certo”, pontua.

Ao enfrentar todos esses obstáculos de frente, as empresas não apenas expandem sua capacidade de atender a novos mercados, mas também contribuem para o desenvolvimento econômico e social dessas comunidades, que costumam ser tão marginalizadas.

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