Petrobras anuncia novo duto de 2 mil km para transporte de biocombustíveis do Centro-Oeste até São Paulo

A Petrobras anunciou durante a Rio Pipeline & Logistics a construção de um novo duto de 2.030 quilômetros para ligar São Paulo ao Mato Grosso até 2030. O objetivo é atender ao crescimento acelerado da demanda por transporte de biocombustíveis no Centro-Oeste, impulsionada principalmente pelo avanço do agronegócio na produção de etanol de milho.

O anúncio foi feito por Daniel Sales Correa, gerente executivo de Comercialização no Mercado Interno da companhia, durante o painel “Desenvolvimento da Infraestrutura Dutoviária para o Centro-Oeste Brasileiro”.

Segundo o executivo, o projeto faz parte do plano de investimentos em logística da Petrobras, que soma US$ 3,6 bilhões até 2029. Apenas o novo duto receberá mais de R$ 2 bilhões em aportes, com cronograma de execução entre 2025 e 2030.

“A Petrobras quer ser parceira do agro, oferecendo mais uma rota para escoar a produção do Centro-Oeste”, afirmou Correa, lembrando que o milho é considerado matéria-prima estratégica para novos projetos de biorefino, como a produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF).

Petrobras anuncia novo duto de 2 mil km para transporte de biocombustíveis do Centro-Oeste até São Paulo

Capacidade atual dos dutos e desafios de expansão

A necessidade de ampliação da malha dutoviária foi reforçada por outros participantes do painel. Bruno Ebecken, gerente executivo de Manutenção, Integridade e Eficiência Operacional de Dutos e Terminais da Transpetro, explicou que o atual oleoduto OSBRA, com 962 km, foi dimensionado para o mercado de 1996 e hoje já opera no limite da capacidade entre Paulínia (SP) e Brasília (DF). “A produção de etanol de milho hoje está muito alta. Os volumes já superaram os de derivados”, disse Ebecken, citando taxas de crescimento anuais entre 8% e 11%.

O debate também abordou a expansão da infraestrutura de gás natural no Centro-Oeste. Helder Ferraz, diretor Comercial e Novos Negócios da NTS, destacou que o declínio da oferta boliviana pressiona o sistema atual, tornando necessário ampliar o transporte a partir do Sudeste. No entanto, segundo ele, isso depende de maior agilidade no licenciamento ambiental, modernização regulatória e novos investimentos.

Mercado de gás natural e biometano em transformação

O cenário do gás natural também foi discutido em painel do CEO Talks, que contou com Jorge Hijjar, diretor-presidente da TBG (Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil). Ele ressaltou que o setor vive um “momento ímpar”, com a redução da dependência do gás boliviano abrindo espaço para o gás de Vaca Muerta, na Argentina, e para o crescimento do biometano no Brasil. “Temos hoje 30 clientes potenciais que já assinaram contrato master para transporte de gás”, afirmou Hijjar.

A rota via Uruguaiana (RS) é considerada estratégica para a importação do gás argentino, com previsão de investimentos para ampliar a capacidade de entrega. Paralelamente, o biometano se consolida como nova fronteira energética, com projeções de produção que já superam o consumo em algumas regiões brasileiras, o que pode gerar excedentes para exportação.

Desafios regulatórios para energias renováveis

Especialistas também debateram os desafios do transporte de energias renováveis no painel “Regulatory and Strategic Aspects for Renewable Energy Transportation”. Marcello Portes da Silveira Lobo e Raphael Moraes, sócios do Pinheiro Neto Advogados, citaram estudo da Universidade Federal do Ceará que limita a inserção de hidrogênio em dutos de aço de alta performance a 3%, podendo chegar a 4% com adaptações.

Além disso, Lobo defendeu maior clareza regulatória da ANP em relação à intercambialidade entre gás natural, hidrogênio e biometano. Já Erick Sobral Diniz, da SEENEMAR, apontou a concentração da produção de SAF no Sudeste como um desafio logístico para abastecer aeroportos em todo o país.

Por fim, Alessandra Plaga, coordenadora de Assuntos Regulatórios da Diretoria de Transição Energética da Petrobras, ressaltou que ainda falta maturidade ao mercado para incorporar hidrogênio em dutos sob mandatos estabelecidos, reforçando a necessidade de avanços regulatórios graduais que assegurem previsibilidade para investidores e operadores.

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