Composta pelos considerados “nativos digitais”, a Geração Z, nascida aproximadamente entre 1995 e 2010, promete uma reviravolta no mercado de trabalho. Desde a contratação até a retenção na empresa, é preciso fugir dos padrões para atender aos anseios desses jovens que já ingressaram no século XXI com um smartphone nas mãos e o desejo de se manter conectado.
Quando se trata do segmento de logística, os desafios dos recrutadores são ainda maiores diante de um setor peculiar, que não parou nem mesmo na pandemia e que tem o desafio de trazer certa isonomia de tratamento entre os colaboradores do “back office” (administrativo, comercial, corporativo) e os colaboradores que estão no dia a dia da operação, movimentando e armazenando cargas. É o início de uma nova jornada em meio à chamada guerra de talentos.
O primeiro sinal de mudança, garantem as filiadas à Associação Brasileira dos Operadores Logísticos – ABOL, é visto ainda na primeira etapa de admissão: não são mais as companhias que escolhem os candidatos. Agora, o caminho é inverso, responderam todos os participantes da pesquisa inédita realizada pela ABOL. Os entrevistados corroboraram com a teoria apresentada pelo vice-presidente da Radancy, especialista em tecnologia com foco em recrutamento e seleção de talentos, Caio Infante.
“Antigamente, as empresas escolhiam os candidatos, isso há uns 15 anos, só que cada vez mais é o candidato que escolhe a empresa. Tem muito do ‘pra onde eu vou’ e ‘a próxima empresa que eu desejo trabalhar’, ou ‘a empresa onde eu decido ficar’. Frente a tudo isso, existem caminhos e há um conceito que é o employer branding ou gestão da marca empregadora, que é basicamente o marketing a serviço de recursos humanos”, explica. Isso significa, sobretudo, contar boas histórias relacionadas à empresa, desde que verdadeiras e baseadas na escuta ativa dentro da organização.
O publicitário realizou, recentemente, uma palestra para gestores de RH de Operadores Logísticos ligados à ABOL, trazendo questionamentos e soluções para quem pretende escolher o melhor time para a sua empresa. “O que é mais difícil, contratar ou reter um funcionário? Não existe uma resposta certa, mas para reter bem, é preciso contratar melhor ainda”, afirmou Infante na ocasião.
E reter a geração Z é exatamente uma das dificuldades encontradas pelos OLs, afirmaram 84,6% dos respondentes da pesquisa desenvolvida pela ABOL. O motivo principal está na busca constante dos jovens pelo novo. Mas essa não é a única característica que desafia as empresas. Na hora de contratar esses colaboradores com hábitos diferenciados, os recrutadores se deparam com dificuldade de interação pessoal, conhecimentos geral e técnico ainda superficiais, além de pessoas à procura de ambientes mais descontraídos, benefícios diferentes dos tradicionais, qualidade de vida e rápido crescimento profissional.
“As novas exigências têm levado as empresas a se adaptarem para atenderem esses candidatos que se destacam pela sua alta habilidade digital, fácil aprendizado, capacidade de inovar e criatividade. No entanto, essa geração também se destaca pelo alto nível de ansiedade, independência e individualismo. Por serem uma parcela considerável dentro dos OLs, é necessário que haja uma sintonia fina para que ambos os lados – colaborador e empresa – saiam beneficiados pela contratação”, diz a diretora executiva da ABOL, Marcella Cunha.
O levantamento feito pela entidade revela que 38,5% dos entrevistados têm entre 11% e 20% do seu time de colaboradores formado por indivíduos da Geração Z. Enquanto 23,1% possuem entre 21% e 30% dos cargos ocupados pela Geração Z, 15,4% têm entre 30% e 40% dos funcionários nessa faixa etária, outros 15,4% tem apenas 10% de colaboradores da Geração Z e 7,7% têm 40% de nativos digitais dentro da sua empresa. “O setor de logística se tornou porta de entrada no mercado de trabalho para muitos jovens”, menciona Marcella.
Diante do cenário, alguns OLs se mostraram atentos às novas tendências, com iniciativas que tornam a empresa mais atrativa aos olhos dessa geração. Uma das estratégias é o Job Rotation, um programa de aprimoramento profissional adotado por organizações que desejam potencializar o aprendizado e o aproveitamento máximo de seus funcionários dentro do ambiente de trabalho. Durante o processo, o colaborador passa por diversos departamentos da empresa para que possa conhecer as atividades e procedimentos específicos de cada um.
Horário híbrido, ascensão em curto espaço de tempo e dress code flexível para o time de tecnologia são outras flexibilidades oferecidas pelos OLs. Para o vice-presidente da Radancy, o mais importante é se atentar ao volume de informações à disposição dos candidatos em aplicativos e plataformas como o Linkedin e o Glassdoor, visto como o “Reclame Aqui” do mundo corporativo e cujo alcance é de 4 milhões de acessos únicos por mês. “Não há mais onde se esconder. Antes não se levava trabalho para casa, você terminava, desligava o computador e voltava no dia seguinte. Hoje, com o celular na mão, o trabalho está acontecendo e as pessoas se falam. Qual é o desafio? Descobrir o que faz a sua empresa ser única no mercado”, finaliza Infante.