Jogos de guerra

18/08/2008

Na semana passada a maior parte dos aparelhos de televisão do mundo estavam certamente sintonizadas na China, em função da abertura de início das competições esportivas dos jogos olímpicos. Mas repentinamente os telejornais substituíram quadras e piscinas por imagens da disparada de centenas de foguetes da pouco falada República da Geórgia na direção de uma ex-província completamente desconhecida da maior parte do mundo, chamada Ossétia do Sul, que declarou independência ainda nos anos 90. O território questão não é maior do que um bairro da cidade de São Paulo. Mas o barulho está sendo realmente grande.

Já que a maioria dos leitores certamente vem acompanhando os fatos, serei sucinto na descrição histórica: a Rússia se meteu na briga, enquanto o governo norte-americano fez cara feia para a intervenção do Kremlin. Daí, o bailado diplomático começou, ao mesmo tempo em que se difundem pela Internet depoimentos de refugiados, feridos e órfãos do grande e banho de sangue que vem ocorrendo, até prova em contrário, por questões de cunho étnico. Em outras palavras, o fato de um povo ter nariz maior do que outro ainda é motivo para  guerras. O dinheiro com armas gasto nesses de enfrentamentos seria, então, muito melhor aplicado pagando à parte do bisturi do Dr. Pitanguy.

Mas as rusgas em questão acabaram sendo muito maiores do que o desacerto entre vizinhos. O mundo de certezas que esperávamos ter logo após a queda do muro de Berlim, no início dos anos 90, foi completamente frustrado. Poucos anos após a dissolução da União Soviética, a Otan se via às voltas com a inevitável ascensão econômica e militar chinesa, além de uma nova dimensão das ações do terrorismo internacional.

E ainda mais: quando Putin assumiu o poder na Rússia, aquele povo estava mesmo pedindo por um governante com traços totalitários que conduzisse os escombros do império novamente a condição de superpotência. E alta do preço do petróleo ajudou os russos a restabelecer boa parte da infra-estrutura bélica existente até os anos 90.

Então, é de se acreditar que o atual primeiro-ministro da maior nação da terra achou fabulosa a ação militar da Geórgia, dando motivos para testar seus brinquedinhos de destruição em massa.

Enquanto isso, n o oposto do planeta, os norte-americanos se vêem às voltas com um sério contexto de desaceleração econômica, onde está em jogo a hegemonia do poder produtivo nacional, prestes a ser passado para a China, outro inimigo geopolítico de fato dos EUA.

E colocando as três grandes nações em paralelo, observamos que a Rússia quer mesmo reconquistar pelo menos os países europeus que estavam sob seu domínio antes do desmantelamento URSS. A Geórgia entra nesse contexto, assim como a Ucrânia, os países bálticos, dentre outros. Mas isso significaria uma séria ameaça ao domínio militar dos EUA que busca todas as maneiras de evitar o reerguimento do antigo império stalinista. Ao mesmo tempo, os norte-americanos estão também empenhados em não deixar o PIB chinês ultrapassá-los; e nesse ponto parecem estar perdendo a parada, sendo que governo mandarim também tem interesses inconfessáveis de expansão territorial.

Diante desse bastidor enlameado, as questões relativas ao comércio global parecem até maquiagem para disfarçar questões mais sinistras.

O futuro da questão ainda não dá para decifrar. Mas seria ingenuidade pensar que tudo continuará como está. No mínimo, é de se esperar uma nova polarização no mundo, pelo menos por alguns anos. A manutenção de algum equilíbrio depende das políticas de alianças. No momento atual, uma eventual parceria entre Rússia e China seria mais do que suficiente para mudar as regras do jogo do poder mundial.

E a Europa Ocidental, como vem acontecendo desde o final da segunda guerra, fica como o recheio de um sanduíche bastante amargo.

 

Eduardo Starosta: eduardostarosta@uol.com.br

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