A possível aplicação de medida antidumping contra a empresa Yiwu Huading Nylon Co., Ltd, fornecedora de fio de poliamida 6 para a indústria têxtil brasileira, levanta preocupações sobre riscos de desabastecimento, perda de competitividade e ameaça a milhares de empregos. O processo foi instaurado pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, por meio da Circular nº 78, de 19 de dezembro de 2024.
Segundo a SECEX, a investigação se baseia em alegações de que a Huading estaria exportando fios de náilon ao Brasil com preços abaixo do valor normal, caracterizando dumping. Caso confirmado, poderá haver sobretaxas, restringindo a entrada do insumo no país. A decisão chama atenção por ser a primeira investigação de defesa comercial direcionada a uma empresa específica, e não a um país como vinha ocorrendo.

Impactos da medida antidumping na indústria têxtil
A Huading é considerada a principal fornecedora de fios de náilon para o mercado brasileiro, atendendo malharias, tecelagens, confecções de moda esportiva, lingerie, uniformes profissionais e tecidos técnicos. Esse insumo não possui substituto local em volume e desempenho equivalentes. Uma eventual restrição pode resultar em aumento de custos, perda de rentabilidade e dificuldades para pequenas, médias e grandes empresas do setor.
Além disso, especialistas apontam que a medida poderia ampliar a entrada de produtos têxteis acabados importados, geralmente mais baratos, reduzindo ainda mais a competitividade da indústria nacional em um momento de recuperação da base produtiva.
Ameaça a empregos e polos regionais
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o setor gera 1,3 milhão de empregos formais no país, dos quais cerca de 230 mil dependem diretamente do fio de poliamida 6. Com a inclusão dos empregos indiretos, o número sobe para aproximadamente 1,4 milhão.
O impacto pode ser especialmente relevante em Santa Catarina, onde a Federação das Indústrias do Estado (FIESC) estima que o setor têxtil, confeccionista e de couro emprega mais de 178 mil pessoas. Apenas os elos diretamente ligados à poliamida 6 respondem por 31 mil empregos, e, considerando os indiretos, podem chegar a 192 mil. No estado, 1 em cada 23 empregos está no setor têxtil, enquanto no Brasil a proporção é de 1 em cada 80.
Inovação tecnológica e riscos regulatórios
Carlos de Souza, presidente da Del Rio, ressalta que a decisão também pode comprometer avanços sustentáveis: “o fio produzido de acordo com o processo Dope Dyeing já é utilizado no mundo todo. Trata-se do tingimento do polímero, incorporando a cor diretamente ao fio e reduzindo em até 90% o consumo de água no processo de tingimento. Assim, a importação de fios fabricados por meio deste processo produtivo reduz preços, diminui desperdícios e traz ao tecido outro nível de qualidade. Medidas antidumping como esta só vão causar aumento de preços e criar dificuldades nas exportações”.
Especialistas pedem cautela
Para Mohamed Amal, professor doutor em Negócios Internacionais e Economia da Universidade Regional de Blumenau, a investigação deve equilibrar comércio justo e preservação da cadeia produtiva: “É preciso ter muita cautela com o processo antidumping em curso. Embora a legislação preveja mecanismos de defesa comercial, no caso do fio de poliamida 6 há um risco concreto de se punir toda a cadeia produtiva nacional. Se o Brasil não dispõe hoje de escala e qualidade suficientes para atender à demanda interna, então a eventual aplicação de sobretaxas à principal fornecedora pode resultar em desabastecimento, aumento de custos e perda de competitividade frente a produtos importados já acabados”.





