As recentes tarifas comerciais entre Estados Unidos e China começaram a provocar reações em diferentes segmentos da economia global, e a logística brasileira já sente os primeiros reflexos. A imposição de tarifas de até 145% pelos EUA sobre produtos chineses — e a retaliação chinesa com taxas de até 125% — gera incertezas nas cadeias de suprimento e compromete decisões estratégicas no transporte de cargas.
Embora o Brasil tenha sido atingido com taxas menores, como os 10% sobre alguns setores e 25% sobre o aço — um dos principais produtos exportados para os EUA —, o impacto na cadeia logística nacional é concreto. No setor automotivo, por exemplo, a Stellantis paralisou temporariamente suas fábricas no México e no Canadá, o que pode afetar também a produção nos EUA e, por consequência, a demanda por peças e componentes transportados pelo Brasil.

Logística brasileira sob pressão com incertezas do comércio exterior
De acordo com Marcelo Zeferino, CCO da Prestex, empresa especializada em logística emergencial B2B, o momento exige cautela e planejamento. “Se de um lado, o maior parceiro para venda de produtos industrializados do Brasil são os EUA e com taxa de 10% deve-se perder em competitividade, do outro lado, está o maior concorrente da indústria brasileira que é a China, e que pode desviar sua produção para o Brasil, acirrando ainda mais a competição no mercado interno”, avalia o executivo.
Neste cenário de instabilidade, as operadoras logísticas brasileiras se tornam peças-chave. Elas precisam lidar com volumes flutuantes, prazos incertos e mudanças súbitas de rota. “O real impacto deste cenário só será mensurado quando os preços se estabilizarem. Nesse momento, a incerteza enfraquece a indústria e prejudica o mercado, que não sabe se precisa ser mais agressivo e fazer estoque ou esperar, contando com uma baixa das tarifas ali na frente”, complementa Zeferino.
Alta demanda por spare parts impulsiona logística emergencial
Segundo o executivo, um dos efeitos colaterais é a valorização da logística de spare parts, especialmente no setor automotivo. “A China não tem fábrica no Brasil, e a logística de peças de reposição se tornará muito relevante. O estoque será ainda mais just in time, demandando uma logística mais personalizada e assertiva”, afirma.
Com isso, operadoras preparadas para respostas rápidas e alta performance logística devem ganhar vantagem competitiva. “Algumas empresas americanas estão inclusive antecipando compras de produtos manufaturados do Brasil. As operadoras logísticas que estiverem preparadas para atender às demandas emergenciais, sairão na frente”, reforça o CCO da Prestex.
Modal aéreo ganha protagonismo na logística emergencial
A Prestex aposta no modal aéreo como solução estratégica, principalmente por sua agilidade, segurança e cobertura internacional. “Já temos aeronaves de sobreaviso e estratégias predefinidas para atender rapidamente às demandas das empresas. As próximas semanas serão decisivas”, aponta Zeferino.
Atualmente, o modal aéreo representa cerca de 3% do transporte de cargas no Brasil, enquanto em países desenvolvidos esse índice alcança 6%. A baixa participação do transporte aéreo por aqui ainda indica espaço para crescimento, especialmente em situações emergenciais como a atual.
Setor logístico representa 1,8% do PIB brasileiro
De acordo com a Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL), o setor logístico responde por 1,8% do PIB nacional e emprega cerca de 2,3% da força de trabalho do país. Assim, os impactos das decisões comerciais internacionais ultrapassam a esfera do transporte e atingem a economia de forma ampla.
A análise final de Zeferino resume o cenário: “A visão estratégica, combinada com tecnologia, flexibilidade e habilidade de se adaptar rapidamente, pode elevar o Brasil a um papel-chave na logística global, capturando os benefícios de um ambiente econômico em mudança”.









