Durante a campanha Maio Amarelo, voltada à segurança no trânsito, especialistas chamam atenção para um tema ainda negligenciado no Brasil: a ausência de um programa nacional de inspeção técnica veicular obrigatória. Embora prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a medida ainda não foi implementada de forma ampla no país.
Segundo Everton Pedroso, presidente da Federação Nacional da Inspeção Veicular (FENIVE), a falta de inspeção periódica permite que milhões de veículos circulem em condições inadequadas, o que eleva os riscos de acidentes com consequências graves.
“Infelizmente, é comum constatar ônibus ou mesmo caminhões que fazem transporte de carga trafegando com graves problemas mecânicos. Acidentes como esse poderiam ser evitados no Brasil se a inspeção veicular fosse obrigatória”, afirma.

Um caso emblemático ocorreu em novembro de 2024, quando um ônibus escolar caiu de uma ribanceira de mais de 100 metros na Serra da Barriga, em União dos Palmares (AL), resultando em 20 mortes e 27 feridos. A Polícia Civil concluiu que o acidente foi causado por falha mecânica, e relatos apontaram problemas no sistema de freios.
Atualmente, no Brasil, a inspeção veicular é obrigatória apenas para ônibus, vans, veículos modificados e caminhões que transportam cargas perigosas. A avaliação técnica verifica freios, pneus, iluminação e demais itens de segurança. Pedroso alerta que, em outros países, como Alemanha, Espanha e Japão, o procedimento é obrigatório e contribui para a redução de acidentes fatais.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entre 2010 e 2019, cerca de 392 mil pessoas morreram em sinistros de transporte terrestre no Brasil — aumento de 13,5% em comparação à década anterior. O impacto financeiro ultrapassa R$ 50 bilhões por ano, com gastos relacionados à saúde pública, previdência e danos materiais.
O diretor executivo da FENIVE, Daniel Bassoli, reforça a urgência de adoção da inspeção veicular. “Não se trata apenas de números, mas de vidas que poderiam ser preservadas com medidas básicas de prevenção. A inspeção veicular periódica é um instrumento técnico de segurança, que deveria ser obrigatório no Brasil”, afirma.
Bassoli acrescenta que a medida também poderia reduzir os custos do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2022, o SUS gastou mais de R$ 292 milhões com internações hospitalares decorrentes de acidentes de trânsito. “Continuar ignorando essa necessidade é permitir que tragédias anunciadas se repitam todos os dias”, conclui.









