A Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (ABOL) lançou o “1o Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) dos seus associados”, dados de 2023. O documento, elaborado em parceria com o Instituto Via Green, faz parte das ações da entidade para contribuir com as políticas ESG (Environmental, Social & Governance). É a primeira vez que uma entidade representativa do setor de Logística e Transporte desenvolve esse tipo de material.
A iniciativa busca auxiliar o processo de tomada de decisões relacionadas à redução de liberação de GEE na atmosfera. Uma das conclusões obtidas foi de que a queima de combustível fóssil, especialmente o diesel, é a principal fonte, representando 94,5% do total expedido durante as operações dos OLs. Além disso, o custo elevado e a necessidade de investimentos foram os maiores empecilhos apontados pelas 20 empresas participantes para a implementação de ações de redução de emissões.

“Com a realização da COP 30 no Brasil e a regulamentação do mercado de carbono previstas para 2025, a urgência para tratar questões climáticas se torna ainda mais evidente. O desenvolvimento de uma agenda focada em ampliar o conhecimento sobre inventários de emissões dentro do nosso setor de logística é essencial para entendermos o impacto de nossas atividades e identificarmos estratégias eficazes para reduzir a emissão de gases poluentes”, destaca a diretora executiva da ABOL, Marcella Cunha.
Diante do cenário, a ABOL cada vez mais tem avançado na construção de diagnósticos e orientações basilares úteis aos OLs. O foco é conscientizar os Operadores, já que a atividade de transporte responde por 15% das emissões globais de CO2, conforme o relatório AR6 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), de 2023. Entre 1990 e 2021, as emissões de GEE no setor tiveram alta de 65,7%.
O processo de desenvolvimento do inventário envolveu a definição dos limites e abrangências, o mapeamento das fontes de emissões e a coleta de dados para realização dos cálculos. Foram considerados os três escopos estabelecidos pelo GHG Protocol (Greenhouse Gas Control).
O Escopo 1 contempla as emissões resultantes das operações diretas dos Operadores Logísticos, como, por exemplo, dos modais de transporte utilizados para movimentar as mercadorias (caminhões, aviões, navios, etc.). O Escopo 2 considera as indiretas, provenientes da energia elétrica ou da refrigeração adquirida para uso próprio, e o Escopo 3 está relacionado ao movimento de mercadorias, matérias-primas ou componentes no sentido da cadeia de suprimentos, ou seja, dos fornecedores para as empresas. Esse escopo também contempla o consumo de energia envolvido na extração, produção, processamento e distribuição de combustíveis, até que estejam prontos para uso no veículo.
O resultado contabilizou um total de 973.987 tCO2e, incluindo 93.741 tCO2bio, provenientes de emissões biogênicas (de fontes naturais). O Escopo 1 concentrou 58,8% do total, enquanto o Escopo 3 representou 40,8% e o Escopo 2 somente 0,3%. A emissão relacionada à combustão móvel representou 59% do total, enquanto o transporte upstream (por terceiros), apenas 21%. O diesel se mostrou predominante, sendo responsável por 94,5% das emissões diretas no Escopo 1, seguido pela gasolina, com 4,9%, e o biocombustível etanol, com apenas 0,002%.
“O levantamento também deixou claro que conforme a perspectiva da proposta para o Mercado Regulado de Carbono no Brasil, recém aprovada no Congresso Nacional e que aguarda sanção presidencial, parte importante das associadas à ABOL estará sujeita à regulação e terá a obrigatoriedade de relatar suas emissões de GEE e/ou atender outras obrigações previstas em lei”, complementa Marcella.
Iniciativas
Em relação à redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas, 33,3% das empresas declararam possuir metas para os Escopos 1, 2 e 3, enquanto 22,2% possuem intenções apenas para os 1 e 2, e 44,4% não têm metas estabelecidas.
Além disso, 44,4% indicaram possuir um plano de adaptação às mudanças climáticas. Quanto às medidas de redução de emissões, 39% dizem não aplicar e, entre as que já as adotaram, o uso de energia renovável e a eficiência e otimização de processos são as mais comuns. O uso de combustíveis alternativos foi apontado por 50% das empresas, mesmo que em fase inicial, e inclui veículos elétricos, etanol, GNV e biometano.
Histórico Criado em 2021, o Grupo ESG da ABOL definiu um robusto cronograma de trabalhos junto aos representantes das áreas de Sustentabilidade e Recursos Humanos dos OLs. Em 2022, a ABOL se torna signatária do Pacto Global e, em 2023, realiza a sua Matriz de Dupla Materialidade junto às empresas associadas, identificando os 5 macrotemas que deveriam estar no topo das agendas do setor, CEOs e da Associação. São eles: “clima, eficiência e carbono”, “talentos e diversidade”, “saúde, segurança e bem-estar” e “ética, integridade, transparência e privacidade”. O resultado da matriz foi aplicado em uma mandala digital, que se conecta aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), do Pacto Global da ONU.